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EuPTCVHe1646-21222013000300014

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National varietyEu
Year2013
SourceScielo

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A influência da osteoartrose e da artroplastia da anca sobre a atividade laboral em doentes em idade ativa

INTRODUÇÃO A realização de prótese total da anca (PTA) é um procedimento eletivo comum nos serviços de Ortopedia. Segundo o registo português de artroplastias no ano de 2010 foram realizadas em Portugal mais de 6000 PTA (número apenas suplantado pela prótese total do joelho)[1].

Ao longo das últimas décadas a artroplastia total da anca tem demonstrado ser uma solução muito eficaz no controlo dos sintomas associados à osteoartrose da anca com um consequente aumento da qualidade de vida dos pacientes a qual se aproxima cada vez mais da normalidade[2,3,4,5].

Nos últimos anos a evolução dos implantes e da técnica cirúrgica, promoveu a evolução positiva do resultado funcional da PTA tanto no que respeita a qualidade como à longevidade da solução terapêutica.

Circunstâncias impensáveis nas primeiras fase de evolução da PTA tais como a prática desportiva ou de outras atividades físicas exigentes, passaram a ser registadas e exibidas com orgulho por cirurgiões em todo o mundo.

Por outro lado são cada vez mais os estudos que demonstram a grande longevidade da fixação biológica dos implantes, contrastando com a rápida degradação observada nas primeiras séries de PTA que utilizavam a fixação cimentada [6,7,8,9].

Na mesma linha a introdução nas superfícies articulares de materiais dotados de baixo atrito e grande resistência ao desgaste, veio expandir a duração das próteses da anca, mesmo em pessoas com elevado nível de atividade [10].

Apesar de ser uma cirurgia habitualmente realizada numa população idosa[6,11] e aposentada, os avanços recentes nos materiais, desenho dos implantes e segurança nos procedimentos de revisão, têm ampliado as suas indicações para incluir doentes cada vez mais jovens[12,13], os quais ainda se encontram numa fase profissional ativa.

Os escassos estudos que se debruçaram sobre o problema laboral em doentes submetidos a PTA, apontam taxas de retorno à atividade laboral muito díspares, e que variam entre de 33% e 92%[9,10].

Deste modo, o objetivo deste trabalho foi analisar, na nossa região, o impacto da coxartrose e da sua resolução pela artroplastia total da anca na atividade produtiva e status laboral do doente em idade ativa.

MATERIAL E MÉTODOS No sistema de segurança social Português a idade de aposentação está legalmente fixada nos 65 anos, contudo estão previstas reformas antecipadas por motivos de doença, para todos os cidadãos contribuintes que por motivos de saúde estejam incapacitados para o seu trabalho habitual.

É nesta situação de reforma antecipada por incapacidade física que se encontram muitos pacientes com condições patológicas das suas ancas, tanto antes como depois da sua resolução através da PTA.

Para estudarmos a forma como a solução artroplastica influência a relação com o mundo do trabalho, em pessoas com problema das ancas, selecionamos todos os 133 pacientes com idade atual 60 anos que realizaram artroplastia total da anca, no CHP-HSA entre 01/01/2006 e 31/12/2010.

 Destes 133 doentes (correspondentes a 158 artroplastias) foram excluídos: 5 doentes com PTA realizada após fratura do colo do fémur, 6 doentes que após a artroplastia inicial foram novamente intervencionados (2 por infeção, 3 por descelagem asséptica do componente acetabular e um por fratura peri-protésica) e 3 doentes que faleceram.

Foram enviados questionários e revisto o processo clínico dos restantes 119 doentes (146 PTA). Foi incluída a análise de diversas variáveis (sexo, idade, bilateralidade, tipo de artrose, tipo de prótese utilizada, tempo de paragem prévio à cirurgia e tipo de trabalho desempenhado) numa perspetiva de retoma ou manutenção da atividade laboral bem como ainda o tempo necessário para tal.

Paralelamente foram estudados os níveis de satisfação destes doentes com a cirurgia realizada.

Obtivemos respostas de 81 doentes (98 PTA), 52 do sexo masculino e 29 do sexo feminino, com idade média na altura da cirurgia de 47,04 anos (máximo de 57 anos e mínimo de 23 anos).

O follow-up médio deste estudo foi de 38,89 meses (máximo de 72 meses e mínimo de 13 meses).

As causas para realização da artroplastia foram: artrose idiopática em 38 doentes (44 ancas), artrose secundária a necrose avascular da cabeça do fémur (NACF) em 26 doentes (32 ancas), artrose secundária a doença reumatoide em 8 doentes (13 ancas), artrose secundária a doença displásica da anca em 5 doentes (5 ancas), artrose secundária a doença de Perthes em 3 doentes (3 ancas) e artrose secundária a artrite séptica em 1 doente (1 anca).

Em 39 doentes (49 artroplastias) foi utilizado haste femoral não cimentada de fixação meta-diafisários (Corail®, Cedior®, Versis®, Taperloc®), em 38 doentes (45 artroplastias) haste femoral de apoio exclusivamente metafisário (Próxima®), em 3 doentes (3 artroplastias) haste femoral não cimentada modular (S-Rom®) e em um doente (1 artroplastia) haste femoral cimentada (Ultima®).

 Num doente foi usado um implante acetabular cimentado, e nos restantes 80 doentes cúpulas hemisféricas não cimentadas. O par articular em 78 doentes foi constituído por polietileno altamente reticulado contra metal, e nos 19 restantes metal contra metal.

Dividimos as profissões dos doentes em três grupos, de acordo com o seu grau de exigência física (Quadro_I).

Quadro_I

Dos 81 doentes estudados, 64 foram intervencionados apenas a uma anca e os restantes 17 realizaram artroplastia bilateral. No caso de doentes com PTA bilateral considerou-se: - tempo de paragem prévio a cirurgia: os meses entre o inicio da paragem e a realização da artroplastia; -tempo para retoma de atividade laboral: os meses que mediaram a cirurgia e a retoma da atividade laboral. 

RESULTADOS Dos 81 doentes que responderam ao inquérito 27 (33, 33%) encontrava-se reformado antes da realização da artroplastia.

Dos 54 doentes (correspondendo a 63 PTA) que se encontravam empregados, 37 retomaram a atividade laboral após a realização da artroplastia.

Assim dos 81 doentes que completaram o estudo 37 encontram-se atualmente a trabalhar (Figura_1).

A demora média de retorno ao trabalho depois da cirurgia foi de 6,67 meses, variando entre um mínimo de 1 mês e um valor máximo de 27 meses.

A maioria dos doentes (32 dos 54 doentes) refere que este tempo de paragem foi recomendado pelo seu médico, e todos os reformados passaram por juntas médicas de qualificação de incapacidade (sendo que todos os doentes referem o seu problema da anca como um dos motivos da sua reforma).

Apenas cinco dos 37 doentes (13,51%) que retomaram atividade laboral modificaram as características do trabalho em função da cirurgia realizada.

Verificou-se que nenhum dos doentes reformados antes da cirurgia. retomou a atividade laboral, e que no grupo de doentes aposentados apenas 10 (22,73%) aceitaria retomar o emprego na condição de este ser fisicamente menos exigente.

Procuramos avaliar a forma como o sexo, a idade e a bilateralidade da doença articular, influenciam a retoma profissional. Os dados dessa pesquisa estão sumarizados na Quadro_II.

Quadro_II

Foi também avaliada a relação entre a origem da osteoartrose e a atividade laboral assim como entre tipo de haste femoral utilizada e emprego (Quadro_III)

Quadro_III

O Quadro_IV apresenta os resultados da influência da paragem do trabalho, da posição de chefia no emprego e do nível de exigência física do trabalho na atividade laboral dos 54 doentes não reformados antes da cirurgia.

Quadro_IV

Quando questionados sobre o nível de satisfação com a solução cirúrgica do seu problema, 74 doentes (90,24%) respondeu estar satisfeito com a cirurgia protésica e 79 doentes (97,53%) responde que repetiria o mesmo procedimento cirúrgico para solucionar a patologia da sua anca.

Se pergunta é se considera que a PTA realizada satisfaz ou poderia satisfazer para a atividade laboral que tem ou teve durante a sua vida apenas 37 doentes respondem afirmativamente (Figura_2).

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Verificou-se neste estudo que existe uma taxa muito alta de associação entre osteoartrose da anca e reforma numa idade ativa, a qual não diminui e antes pelo contrário tende a aumentar depois da cirurgia. Em contraste verificamos um alto nível de satisfação com a cirurgia realizada.

Estamos pois perante um problema cuja discussão nos parece ser pertinente no período atual, devido aos graves problemas sociais causados pelo desemprego e empobrecimento nesta faixa etária.

A prestação profissional em condições de saúde física subótimas depende de questões culturais, médicas, e da oferta de emprego que favoreça a mobilidade laboral necessária para permitir o ajustamento do trabalho às limitações físicas, mas parece ser licito questionar se na atualidade se deve aceitar uma taxa tão alta de abandono da atividade laboral em doentes com artrose da anca.

Na atualidade esta reflexão impõe-se pelo aprimoramento das técnicas cirúrgicas, pela introdução de novos implantes muito mais resistentes ao desgaste e ao sucesso nas técnicas de revisão[6,7,8,9,10], obrigando à necessidade de reformulação dos conceitos sobre a restrição à atividade medicamente impostos aos doentes após PTA que contribui para um processo de aposentação sem retorno.

Do mesmo modo que parece existir uma necessidade premente de modificar mentalidades e atitudes médicas, a mesma deve refletir-se nos doentes e entidades patronais de modo a modificaram a sua atividade produtiva após a cirurgia protésica pois pouco mais de 10% dos doentes modificaram a sua atividade produtiva após a cirurgia protésica e apenas cerca de 20% de todos os doentes reformados respondem que se sentiria capaz de retomar atividade laboral, mesmo que esta fosse fisicamente menos exigente.

Comparando os resultados obtidos com outros estudos realizados sobretudo dos países escandinavos, do Reino Unido e do Canadá [15,16,17] verificamos que a artroplastia realizada apresenta taxas semelhantes quanto à capacidade em manter os doentes empregados.

O presente trabalho demonstra igualmente que, a resolução da osteoartrose da anca através de PTA é compatível com empregos de baixa e moderada atividade física, pelo que os responsáveis governamentais deveriam promover mais a requalificação laboral dos trabalhadores através de empregos fisicamente menos exigentes; evitando a reforma precoce onerosa para os fundos públicos e prejudicial para as famílias.

Ao incidirmos a nossa análise sobre os 54 doentes empregados antes da realização da artroplastia verificamos que o grupo de doentes que interrompe o trabalho mais de 6 meses antes da cirurgia tende a não regressar ao emprego (55,55% vs 19,44% no grupo de doentes que não pararam ou o fizeram por 5 ou menos meses antes da cirurgia) e que demoram, em média, mais 10 meses a fazê-lo quando comparados com o segundo grupo (14 vs 4,65 meses). Realçamos ainda a existência de um importante número de doente[28] que pararam a sua atividade produtiva antes da cirurgia e, em média, esta paragem prolongou-se por cerca de 11 meses. Também a prontidão na resposta terapêutica, evitando longos períodos de absentismo laboral consumidos na espera pela cirurgia, parece ser influente na taxa de aposentação.

À semelhança dos estudos anteriores[16,18,19] a evidência de que os doentes que estão mais tempo sem trabalhar antes da realização da cirurgia tendem a não retomar atividade laboral ou a necessitar de muito mais tempo para voltar a uma atividade produtiva, reforça a necessidade de realizar esta cirurgia antes que a patologia da anca force os doentes a parar, para que a artroplastia realizada seja uma importante arma terapêutica com impacto económico positivo na sociedade.

O mesmo raciocínio pode ser feito para os doente com coxartrose bilateral onde importa resolver com prontidão o problema no seu todo, de modo a contrariar as altas taxas de doentes reformados antes e depois da artroplastia bem como a maior demora a retomar o emprego verificada neste grupo de doentes.

À luz dos resultados obtidos, a alta taxa de reformas por incapacidade física antes da implementação da terapêutica cirúrgica parece carecer de revisão conceptual por parte das autoridades competentes.

Outro resultado importante retirado deste estudo foi que homens e mulheres apresentam taxas de aposentação sobreponíveis mas as mulheres demoram mais tempo a retomar o emprego.

De igual modo observou-se que o grupo de doentes com menos de 40 anos quando comparado com os doentes com idade ≥40 anos apresenta maiores valores percentuais na retoma do emprego (81,18% vs 65,12%) mas demoram mais tempo a voltar à atividade laboral (7,88 meses vs 6,29 meses) e que quando comparados os doentes com artrose de natureza idiopática vs doentes com artrose a NACF verificamos que os primeiros têm menor número de doentes reformados antes da cirurgia e que voltam em maior número à atividade laboral após a artroplastia.

Verificou-se ainda que os doentes com PTA com componente femoral de apoio metafisário (Próxima®) quando comparados com os doentes com PTA com haste femoral convencional não cimentada (Cedior® + Corail® + Versis ® + Taperloc®) apresentam maior percentagem de doentes que retomam atividade laboral após a artroplastia (75,86% vs 60,87%) e que o fazem em menor tempo (5,50 meses vs 8,71 meses). Estes números parecem refletir melhores resultados com a uso de artroplastias com maior preservação do stock ósseo. Contudo podem apenas significar que os doentes selecionados para este tipo de implante apresentam maior nível de atividade prévio à cirurgia pelo que estudos posteriores utilizando grupos mais homogéneos de doentes são necessários para confirmar, ou não, estes resultados.

descrita como a cirurgia do século e com efeito positivo comprovado na qualidade de vida de doentes com artrose da anca diversos estudos reportarem o elevado nível de satisfação da PTA na população estudada[12,21,22]. Também neste estudo verificam-se níveis elevados de satisfação geral com a cirurgia protésica realizada, referindo a esmagadora maioria dos doentes que repetiria o mesmo procedimento cirúrgico para solucionar a patologia da sua anca. Em contraste com estes números, menos de metade desta população mostra-se satisfeita quando a pergunta é se considera que a PTA realizada satisfaz ou poderia satisfazer para a atividade laboral que tem ou teve durante a sua vida.

O facto de ser uma amostra numericamente limitada, e de um número importante de doentes selecionados não ter respondido ao questionário, constituiem as principais limitações deste trabalho.

Estudos longitudinais de acompanhamento destes doentes a longo prazo, são necessários para determinar quanto tempo mais é que estes doentes trabalham com a PTA implantada, como forma de um mais completo reconhecimento do problema laboral neste tipo de patologia[23].

Ainda assim este trabalho constitui um estudo importante incidindo sobre um tema poucas vezes relatado na literatura existente (e sem trabalhos descritos em Portugal) permitindo um melhor e maior conhecimento sobre o impacto da artroplastia da anca na atividade laboral desta população especial constituída por doentes jovens com PTA, descrevendo a nossa realidade e desafiando outros autores a realizarem estudos semelhantes de forma a poder ajuizar a nossa realidade relativamente a padrões internacionais.


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