A Família com Criança Autista: Apoio de Enfermagem
A Família com Criança Autista: Apoio de Enfermagem
Vivência da Família com Filho Autista
As pessoas com autismo apresentam comportamentos particulares. Hockenberry,
Wilson e Inkelstein (2006), definem o autismo como "um distúrbio evolutivo
complexo do funcionamento cerebral acompanhado de uma ampla e gravidade de
défices intelectuais e de comportamento" (p.618).
São variadas as dificuldades, alterações e necessidades que podem ser sentidas
pela família, que tem, no seu núcleo, crianças com autismo e estas conduzem a
um conjunto de vivências, que irão afectar a família em geral, tanto positiva
como negativamente.
A partir desta constatação, questionamo-nos: quais as implicações que o autismo
traz à família? Esta questão serviu de orientação ao estudo que surgiu de uma
pesquisa, em que os objectivos foram:
• Identificar o impacto da família aquando do diagnóstico de autismo;
• Identificar dificuldades de uma família com um membro diagnosticado por
autismo;
• Identificar alterações sentidas a nível social e familiar;
• Identificar necessidades de uma família, em que um dos seus membros tenha
sido diagnosticado com perturbações autistas.
Para concretizarmos estes objectivos, procedemos à elaboração de um estudo
exploratório descritivo, com uma abordagem qualitativa, mais concretamente uma
história de vida.
A história de vida ou método autobiográfico leva os indivíduos a relatarem as
suas "pequenas vivências" com a presença e assistência do investigador.
Neste estudo, recorreu-se a uma mulher, com 48 anos, mãe de uma criança, com 15
anos, a quem foi diagnosticada perturbações autistas. A intenção, da recolha de
informação, era a de que esta mulher relatasse as suas vivências, isto é,
pretendíamos explorar as dificuldades sentidas e, em geral, os embaraços que
encontrou na comunidade/sociedade ao ter uma criança com distúrbio autista.
Estávamos interessados em fazer levantamento das inúmeras expressões da vida
desta mulher. Para isso, recorreu-se a entrevistas semi-estruturadas,
realizadas em dois momentos distintos, e posteriormente valendo-nos da técnica
de análise de conteúdo, baseada nos discursos da entrevistada, apoiando- nos em
vários autores.
A principal finalidade da apresentação dos dados é exibir, de forma
sistemática, as informações que obtemos. No quadro 1 (denominado sistema de
categorias e subcategorias) poderemos verificar vários aspectos, que esta
perturbação trouxe à sua vida/família.
Quadro 1 ' Vivência da Família com Criança Autista (Sistema de Categorias e
Subcategorias)
Impacto do Diagnóstico do Autismo na Família
O impacto do diagnóstico de uma doença crónica, como é o caso do autismo, será
a primeira dificuldade com que se confronta a família. Após terem comunicado,
que o filho sofria desta perturbação à família, mais concretamente à mãe, fica
em estado de "choque", dizendo: "Não é a mim que isto está a acontecer". Esta
fase de negação caracteriza-se por uma defesa temporária, que mais tarde é
substituída pela aceitação, ainda que parcial (Paúl & Fonseca, 2001). Com
este diagnóstico, a família tem que "viver" com uma doença que não tem cura.
Ao nível de aceitação do diagnóstico e da própria perturbação, a família
pareceu-nos, estar adaptada, apesar de ter referido que foi inicialmente um
processo complicado: "Eu aceito, seja ele autista, tenha um atraso, não tenha!
Tenha ele o que tiver! Ele é meu filho! Eu aceito-o tal e qual como ele é!" (A
mãe).
De acordo com Siegel (2008), após o diagnóstico de autismo, "para muitas
famílias, a aceitação da perturbação da criança é um processo gradual, nunca
concluído" (p.165). No entanto, o discurso, que obtivemos da entrevistada,
contraria esta situação, admitindo que aceita a doença do filho.
Apesar do diagnóstico já não ser uma preocupação, a mãe admite que "agora não
estou aflita com o diagnóstico". No entanto, ao longo da nossa conversa, foram
perceptíveis diversas preocupações e ansiedades: "A minha maior angústia e
preocupação é...quando morrermos... como quem é que ele vai ficar? Com que
condições? Até lá, enquanto formos vivos, o que é que podemos fazer por ele? O
que é que conseguimos obrigar o Estado a fazer, através da escola?".
Denota-se, assim, através destas afirmações, que as preocupações da família
estão na sua maioria relacionadas com o que poderão fazer, as entidades
públicas e/ou as privadas, para defender os direitos do filho e dar
continuidade aos cuidados. Segundo Telmo (2005), a maioria dos pais desejam
morrer depois dos filhos, pois não os querem deixar sozinhos. Este sentimento
aumenta ainda mais o sentimento de culpa e impotência.
Poderemos verificar-se, com a análise dos dados obtidos, que vários sentimentos
estão presentes e são apresentados sob a forma de revolta. Esta, na sua
maioria, está relacionada com a forma como foram tratados quando procuraram
ajuda, pela forma como tratam a doença, a criança autista e os próprios pais. A
revolta é sentida ao constatarem a não existência de apoios e verificarem que a
sociedade não se preocupa, ficando apática perante as dificuldades destas
famílias, além de sentirem que não há relevância para esta perturbação mesmo ao
nível de cuidados de saúde. Segundo Pereira (2005), o sentimento de revolta é
um dos muitos que se verificam nestas famílias, entre os quais se destacam a
desilusão, a raiva, a angústia, o protesto, a negação e a depressão.
A existência destes sentimentos de revolta e ansiedade estão relacionados não
só com a doença em si, mas também, como já se constatou, com dificuldades que
foram surgindo no seio familiar. Segundo Pereira (2005), a família tem de se
adaptar a uma nova carência. No ciclo de vida normal de qualquer família, terá
de se adaptar às dificuldades e incapacidades de um membro com autismo. Como
esta perturbação não tem cura, ainda se acentuam mais os sentimentos de
ansiedade decorrentes das vivências diárias.
Dificuldades Experimentadas pela Família
Este filho foi muito desejado pelos pais e, ficando o casal muito feliz com a
notícia da gravidez : "Foi uma gravidez desejada (...) havia muita vontade de
termos um filho logo no início da nossa relação". No entanto, desde cedo, na
gravidez, existiram vários problemas, incluindo a possibilidade de nado-morto:
"Um rasgão na placenta...E comecei a perder sangue, fiz uma ruptura de placenta
alta" e "vejo-a a ir lá fora e a comentar com a médica de serviço e com o
pessoal "liguem já para o bloco, dado que temos uma cesariana de emergência,
porque ela está com uma hemorragia interna. E os batimentos cardíacos do bebé
estão a baixar e não sobem, estamos a perder o bebé!" (A mãe). Apesar destas
dificuldades, a felicidade de ter, finalmente, um filho, tão desejado, não se
desvaneceu. No entanto, os problemas que ocorreram durante o nascimento do bebé
são também uma das causas de revolta da mãe, passível de se verificar na
seguinte afirmação: "Isso nunca, nunca perdoei ao pessoal de serviço".
A falta de informação sobre a doença, junto dos profissionais de saúde, foi
outra dificuldade manifestada. Esta família optou por procurar informação de
imediato para ajudar o filho: "Quando eu comecei à procura de informação...
sobre o autismo...A gente não conseguiu nada em português... Havia um site da
APPDA (Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e
Autismo)! Acho que do Norte...tinha muito pouca informação, limitava-se apenas
a dizer onde é que estava...e nada mais... E que estavam ali...Se a gente
precisasse para ir lá ter com ele" (A mãe).
Face ao diagnóstico, "os pais sentem a necessidade de agir de imediato, fazer
algo, e obter respostas o mais rapidamente possível" (Siegel, 2008, p.164).
A educação foi também uma preocupação da mãe. Educar uma criança com autismo
torna-se, muitas vezes, uma frustração para os pais. No caso desta família, a
criança não apresentava comportamentos, que demonstrassem falta de disciplina:
"Eu não o vejo gozar, nunca, com ninguém, eu não o vejo maltratar ninguém,
tirar satisfação do mal de alguém. Eu nunca vi o meu filho ter esse tipo de
atitudes" (A mãe). O relato da entrevistada é contraditório ao encontrado na
bibliografia. Segundo Siegel (2008), "há uma dinâmica básica que é estabelecida
muito precocemente em algumas famílias, que se centra no medo de que a criança
com autismo sinta qualquer forma de disciplina (...) Em algumas famílias, a
criança com autismo, na realidade, governa o sítio. Faz o que lhe apetece, aos
pais e aos irmãos, e destrói todo o tipo de artigos domésticos, no decurso do
seu "jogo" habitual. Este tipo de dinâmica não é positivo para o crescimento e
desenvolvimento da criança" (p.183). Esta dificuldade, sentida por algumas
famílias, em crianças com perturbações do desenvolvimento, acaba por não estar
presente nesta família.
Segundo Ozonoff et al. (2003), as crianças com autismo começam a apresentar
problemas de desenvolvimento, nos primeiros dois anos de vida, como aconteceu
nesta família, exigindo, segundo Pereira (2005), a família se adapta a esta
nova realidade, além das exigências normais presentes no ciclo familiar. Terem
que se adaptar a uma nova situação, a que não estavam habituados, constituiu,
outra dificuldade experimentada por esta família.
Neste caso, foram várias as dificuldades que encontraram, desde uma escola para
o filho, visto que, ninguém o aceitava, justificando que não tinham pessoal
especializado para lidar com crianças nestas situações. Não obstante, e
ultrapassadas as dificuldades iniciais, os pais conseguiram encontrar uma
escola com técnicas especializadas e meios próprios para poderem trabalhar com
estas crianças.
"Apesar de algumas das dificuldades experimentadas pelas pessoas com autismo
serem comuns a outras formas de deficiência, há dificuldades específicas
inerentes ao autismo que requerem compreensão e técnicas educativas
especializadas que não são geralmente disponíveis nos ambientes educativos
genéricos" (Telmo, 2005, p.114). Na verdade, e embora inicialmente, esta
família fora confrontada com diversas dificuldades a nível da escolaridade do
filho. Porém essas dificuldades começaram a ser ultrapassadas, ao encontrarem
uma escola preparada para o ensino de crianças com perturbações do
desenvolvimento.
Uma das dificuldades, mais exacerbada ao longo da entrevista, prendeu-se com
questões económicas: "Eu tenho um rendimento baixo, tenho muitas dificuldades"
(A mãe). Estas dificuldades acabam por influenciar todos os outros aspectos
relacionados com a doença. O facto de não terem recursos financeiros
suficientes impedem os pais de manterem o filho em consultas mais
especializadas e proporcionar-lhe a qualidade de vida de que gostavam.
Uma criança autista requer inúmeros serviços de saúde: médicos, suplementos,
terapia da fala, terapia física e ocupacional etc. Muitos são os gastos que nem
todos os pais podem suportar, com a finalidade de melhorar as competências
comunicacionais , comportamentais e os padrões sociais dos filhos.
Todas estas dificuldades acabaram por alterar a forma como viviam.
Alterações no Quotidiano Familiar
Foi evidente que ocorreram significativas alterações no quotidiano desta
família.
Foi possível verificar que a saúde e o bem-estar dos pais foram alterados. Além
de terem desmazelado a sua própria saúde, com as perturbações do filho, os pais
começaram a desenvolver problemas psiquiátricos. Pareceu-nos que a prioridade
era o bem-estar do filho, descurando a sua própria saúde.
Segundo a mãe, esta criança teve alguns problemas de saúde, que não foram
detectados, precocemente, devido às manifestações do autismo e à dificuldade
que existe em examinar estas crianças. Para Telmo (2005), as dificuldades para
examinar a criança existem, mas com criatividade podem-se ultrapassar essas
dificuldades. Acrescenta também que só se devem realizar os exames e consultas
necessárias, sem exagero e sem cair na omissão. Em relação à família,
considera-se necessário um bom acompanhamento psicológico.
A nível das relações familiares, e como referiu a mãe, "isto acaba por ter
influências a nível emocional, familiar". Em termos da relação pais-filhos e
entre os irmãos, denota-se que existe grande cumplicidade e carinho entre eles:
"Também não o faz com mais ninguém, eu lá tinha coragem de sair e deixar o meu
filho em casa? É impensável" e "Sei...que o irmão costumava tocar guitarra, às
vezes, eles brincavam, cantavam, dançavam... Foi a única pessoa com quem o vi a
dançar! Foi com o irmão... Lá no quarto, entre eles era uma animação...".
Todavia a relação conjugal, foi muito afectada, culminando com a separação: "Eu
e o pai estivemos separados em consequência de um acumular de situações, que se
vinham a arrastar... e para os quais já não tínhamos solução...porque chega a
um ponto que já não temos...durante muito tempo..." Este tipo de discurso vem
corroborar a opinião de Siegel (2008), que refere que embora sejam valores
difíceis de precisar, cerca de metade dos pais, com crianças autistas, acabam
por se separar, acontecimento que também ocorreu nesta família. Há um elevado
número de divórcios nas famílias com filhos autistas, uma vez que as relações
do casal passam por duras provas. No entanto, na bibliografia consultada, a
este respeito, refere-se que, a maioria das separações ocorre antes de o filho
ser diagnosticado, enquanto, neste caso, a separação ocorreu depois do
diagnóstico e devido aos problemas que esta perturbação acarretou na
conjugalidade.
Por último, a nível das relações sociais, verificou-se que a família deixou de
ter o mesmo envolvimento social, utilizando a internet para estabelecer
contacto com pessoas que não pertencessem ao seu agregado familiar. Pode também
verificar-se que a família se sentiu afastada pelos amigos e pela família.
Afastamento esse que culpabilizam pela falta de conhecimento que as pessoas têm
sobre este tipo de perturbações e pelo medo de se confrontarem com os filhos.
Segundo Siegel (2008), neste momento, supõe-se que as pessoas já saibam o que é
"politicamente correcto", devendo demonstrar uma atitude de aceitação em
relação a pessoas com necessidades especiais. No entanto, muitas vezes tal não
acontece sendo os pais ainda criticados por serem maus pais, podendo, a criança
ser evitada ou receber olhares de desprezo por ter aparência normal, mas ser
"mal comportada" ou ter comportamentos desadequados.
Verbalização das Necessidades
Ao longo da entrevista, verificámos que uma família com um filho autista
necessita de vários apoios. Segundo Telmo (2005), sendo o autismo uma doença
crónica do desenvolvimento, a família e o autista necessitam de uma protecção
diferente com vários níveis de apoio. Essas necessidades foram verbalizadas
durante a entrevista, quer ao nível de apoios governamentais, quer ao nível de
apoio dos profissionais de saúde e de educação.
A nível de apoio governamental, a entrevistada confessou considerando "o Estado
não dar grandes apoios, embora tenha obrigações para com todos os membros da
nossa sociedade". Segundo Telmo (2005), estas famílias desempenham um papel de
extrema relevância quanto à educação e inclusão social destas crianças, uma vez
que as autoridades públicas deveriam definir medidas adequadas às necessidades
das famílias, facultando-lhes o apoio necessário.
Ao nível de apoio dos profissionais de saúde e da educação, o mesmo se passou,
existindo uma maior ênfase em relação à Enfermagem. Nesta área sanitária, nunca
houve um envolvimento activo, no que diz respeito ao autismo e às consultas:
"Se podermos associar uma coisa a outra, da mesma forma que, se houver, mesmo
na escola, uma maior interacção entre a família e a escola, se calhar os
resultados aparecem. Pode até ser a passo de caracol, mas acabarão por
aparecer. Porque há um interesse, há um empenho" e "O elemento Enfermeiro, o
elemento Enfermagem nunca estiveram presentes. Nunca! Nem no centro de saúde,
nem na consulta externa, nem na consulta de autismo. Em lado nenhum eu vi um
Enfermeiro. Vi um pedopsiquiatra, vi pediatras, vi neurologistas, vi técnicos
de educação especial, mas não vi outros profissionais e saúde" (A mãe).
Embora o enfermeiro tenha sido um profissional que até ao momento não estivesse
relacionado directamente com a família, a entrevistada considera que a sua
presença e actuação, no que concerne o autismo, poderá ser relevante: "O
enfermeiro é a pessoa que está mais próxima da acção, da atitude, dos cuidados
primários. Mais próximo da família poderá ser uma ponte."
Estratégias Adoptadas pela Família
De forma a conseguir lidar com as dificuldades e alterações com que se
depararam, os membros da família adoptam algumas estratégias:
Uma das primeiras adoptadas pela família foi a criação de um blog, de forma a
colmatar a falta de informação, ajudar famílias que estivessem na mesma
situação e pela necessidade de encontrar alguém que os ajudasse a entender esta
perturbação e ajudasse o filho.
Segundo Giddens (2008, p.475.), "A internet (...), esbatendo fronteiras entre o
global e o local, apresenta novos canais para comunicação e interacção". Foi
este "quebrar" de barreiras, que esta família procurou, na tentativa de
encontrar soluções para o problema, com que se deparou na saúde do filho;
Outra das estratégias que utilizou foi a utilização dos meios de comunicação
Social, que entraram em contacto com eles, para transmitirem a sua experiência
e darem ênfase às necessidades das famílias que convivem diariamente com um
doente de autismo. Esta forma foi a encontrada para que conseguissem dar "voz"
às pessoas que não tinham oportunidade de o fazer e passavam pelas mesmas
dificuldades. Embora a mãe, como referiu ao longo da entrevista, fosse contra
os meios de comunicação, acabou por comparecer num programa televisivo,
evocando alguma atenção para estas perturbações e para as necessidades que
estas famílias sentem.
Por último, a família procurou diferentes profissionais de saúde, na tentativa
de encontrar soluções e formas de ajudar o seu filho a ultrapassar ou a atenuar
todas as manifestações do autismo. Segundo Siegel (2008), esta atitude, de
procura de diferentes profissionais, é uma estratégia que vários pais adoptam,
uns porque não querem aceitar o diagnóstico, outros porque reconhecem que o
diagnóstico de autismo é difícil. Naturalmente, querem certificar-se que não
existiram equívocos ou então querem descobrir se alguém lhes apresenta
diferentes formas de tratamento.
Atitude dos Profissionais de Saúde
Sendo os enfermeiros profissionais de saúde, considerou- se pertinente analisar
a atitude de todos estes profissionais, perante a família e a criança com
autismo. Nesta área, deparamo-nos com duas subcategorias: a negligência e a
desvalorização de queixas.
Uma das atitudes dos profissionais de saúde mais salientada foi a negligência.
A entrevistada julga que, e tendo conhecimento que não se sabe a causa do
autismo, os problemas durante o parto possam ter algum relacionamento com o
surgimento desta perturbação. Além disso, alguns comportamentos, que os
profissionais de saúde tiveram com o seu filho, foram considerados como
negligência: "Comecei eu a fazer-lhe o penso porque ele tinha feito uma
infecção. Eu só tinha consulta ao 15º dia após a intervenção. Antes não o viam"
e "Ainda estou à espera...que o chamem...para a consulta...E já estou aqui em
Coimbra" (A mãe).
Outra atitude que os profissionais de saúde tiveram com a entrevistada,
conforme a própria afirmou, foi a desvalorização de queixas: "Entretanto, o
pediatra disse sempre que não, que não era nada. Ele não era nada autista, ele
precisava era de ir para um infantário" e "Eu tentei chamar a atenção deste
aspecto que considero importante, junto de médicos e terapeutas e nunca ninguém
levou a sério, aquilo que eu dizia" (A mãe).
Esta mãe considerou que os profissionais de saúde nunca valorizaram as queixas,
assim como sempre encararam as suas opiniões e indicações irrelevantes para os
tratamentos. Nos últimos anos, tem-se vindo a verificar a necessidade de
incluir os pais como parceiros no tratamento destas crianças. (Ozonoff et
al.2003). Esta afirmação vai ao encontro do que a entrevistada procura, mas que
não se verifica na realidade.
Conclusão
Estas notas finais não devem ser interpretadas como uma "conclusão", como um
fim, mas devem ser encaradas como um impulso para a realização de mais
trabalhos no âmbito desta temática.
No decorrer do trabalho foi notório que são diversas as implicações que um
filho autista acarreta à família, salientando-se as dificuldades económicas, a
falta de apoios e a negligência da qual esta família acredita ter sido vítima.
Considerou-se, segundo a opinião desta família/mãe, que deverá ser talvez
necessário um maior interesse e empenho por parte dos profissionais de saúde,
para com as necessidades vivenciadas por estas famílias. O papel do enfermeiro
poderá ser relevante para estas famílias, podendo servir como ponte para uma
comunicação categórica entre a equipa médica e a família que nunca deverá ser
renegada. Além disso, o enfermeiro deveria assumir um papel mais relevante
nestas famílias, exigindo um lugar de destaque na comunicação e na interacção
com a família e a própria criança.
Julgamos que este estudo poderá contribuir para uma melhor compreensão do
sofrimento das famílias com criança autista. A Enfermagem poderá intervir de
forma mais eficaz, correspondendo às necessidades das famílias com crianças
especiais.