Treino de Competências Sociais - Uma Estratégia em Saúde Mental: Técnicas e
Procedimentos para a Intervenção
Treino de Competências Sociais ' Uma Estratégia em Saúde Mental: Técnicas e
Procedimentos para a Intervenção
INTRODUÇÃO
Os programas de Ensino de Habilidades de Vida, propostos pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), consistem em desenvolver capacidades emocionais,
sociais e cognitivas que podem ajudar os indivíduos a lidar melhor com
situações stressoras do dia-a-dia. O departamento da Saúde Mental da OMS
considera cinco áreas básicas específicas em que as competências de vida são
relevantes em qualquer cultura, nomeadamente, a tomada de decisão e resolução
de problemas; o pensamento crítico e criativo; as competências comunicacionais
e interpessoais; o auto conhecimento e empatia; e mecanismos de coping para
lidar com o stress e com as emoções (WHO, 1999). Se nos reportarmos à área da
Enfermagem de Saúde Mental podemos afirmar que o foco prioritário é a promoção
da saúde mental e que o enfermeiro especialista nesta área tem subjacente um
conjunto de competências específicas, das quais salientamos "Assiste a pessoa
ao longo do ciclo de vida, família, grupos e comunidade na optimização da saúde
mental", onde se prevê que o enfermeiro coordene, implemente e desenvolva
projetos de promoção e proteção da saúde mental, em locais de trabalho e
escolas, esperando a redução de fatores de stress, a gestão de conflitos e a
implementação de programas de intervenção precoce (Ordem dos Enfermeiros
Portugueses, 2011, p.8670) pelo que, na nossa opinião, faz todo o sentido o
desenvolvimento de programas de treino de competências sociais como uma
estratégia de intervenção em saúde mental. O Treino de Competências Sociais
(TCS) teve a sua origem no campo da Psicologia Clínica e começou a ser
amplamente utilizado com sucesso, em conjunto com outras abordagens
terapêutica, no campo das perturbações psiquiátricas particularmente nas
perturbações depressivas, de ansiedade e fobia social quando o problema se
coloca ao nível do comportamento social; nas perturbações psicóticas quando o
problema se coloca ao nível das relações interpessoais. O objetivo desta
abordagem terapêutica é a promoção da competência social através do
desenvolvimento ou aprendizagem de um repertório de habilidades sociais eficaz.
Hoje em dia, o TCS tem um campo de ação que vai muito além da abordagem
terapêutica para se envolver numa abordagem preventiva e educacional em
variados contextos (familiar, escolar, profissional, social, ...) e nas várias
etapas do ciclo vital; as alterações próprias de cada etapa, com a consequente
modificação do indivíduo no seu processo de crescimento e desenvolvimento
pessoal, na aquisição de novos papéis e comportamentos sociais, pressupõem uma
aprendizagem e reforço permanente de competências sociais adaptadas aos novos
contextos de vida. Assim TCS apresenta um amplo campo de aplicação nesta dupla
vertente, quer em situação de saúde quer em situação de doença, e devido a esta
realidade, apesar de se ter originado no campo da Psicologia Clínica alarga o
seu campo de interesse hoje em dia a ciências como Antropologia, Filosofia,
Sociologia, Educação e Saúde.
Objetivos
- Contribuir para o desenvolvimento de programas de treino de competências
sociais no âmbito da enfermagem de saúde mental;
- Abordar conceptualmente o Treino Assertivo como aspeto basilar a ter presente
na prática dos enfermeiros de saúde mental;
- Apresentar algumas formas de avaliação, quer das competências sociais quer
dos programas de treino;
- Apresentar a estrutura e dinâmica das sessões de um programa de treino;
- Elencar algumas das técnicas e procedimentos habitualmente utilizados;
- Destacar o papel do enfermeiro enquanto terapeuta/formador, em particular do
enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiatria, no sentido de poder
orientar a sua prática clínica.
METODOLOGIA
Para a realização deste artigo recorremos sobretudo, à consulta de obras de
referência sobre a temática, no entanto a pesquisa bibliográfica recaiu também
sobre teses, artigos de revisão e artigos com resultados de estudos empíricos,
nacionais e internacionais. Para isso, utilizamos o motor de busca B-on em
variadas bases de dados, nomeadamente, EBSCO, Elsevier-Science Direct, Springer
Link, Taylor & Francis, ISI, Wiley. As palavras de pesquisa usadas foram:
social, skills, training, nursing, intervention. Também recorremos a documentos
legislativos, particularmente os respeitantes ao regulamento das competências
dos enfermeiros especialistas. Foi utilizada uma metodologia descritiva e
compreensiva.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Programas de Treino de Competências Sociais e Treino Assertivo
Estes programas surgem na década de sessenta a partir dos trabalhos de Salter,
Wolpe e Lazarus como uma evolução das terapias cognitivo-comportamentais e têm
como objetivos diminuir as dificuldades de comunicação, mais concretamente
desenvolver a comunicação interpessoal, praticar a assertividade, aprender
habilidades sociais, resolver problemas sociais, enfrentar situações novas, ser
capaz de resolver problemas. Existem vários modelos teóricos que procuram uma
explicação para o défice/dificuldades no desenvolvimento das habilidades
sociais, bem como a identificação de problemas e possíveis estratégias de
intervenção (Loureiro, 2011). Neste sentido, Gresham (2009, p.22) considera a
existência de dois tipos de deficits em habilidades sociais, os deficits de
aquisição e os deficits de desempenho. Os primeiros podem corresponder à falta
de conhecimento sobre como desempenhar uma determinada habilidade social, "à
inabilidade de apresentar fluentemente uma sequência de comportamentos sociais"
ou ainda dificuldade em discriminar qual é a habilidade social apropriada para
determinada situação. Relativamente aos deficits de desempenho a dificuldade
está em transpor para a interação uma determinada habilidade social. A
generalização de comportamentos novos, aprendidos vai permitir ao indivíduo a
adaptação a novas situações. Este objetivo é considerado por Spence (2003) como
o maior desafio através da utilização dos programas de TCS, pois espera-se que
se produzam mudanças ao nível do comportamento social, de tal forma que se
consigam ampliar do setting para as interações sociais do mundo real. Também
Gresham (2009) partilha desta visão, uma vez que para além de existirem
dificuldades de generalização das habilidades sociais treinadas também a sua
manutenção ao longo do tempo é muito difícil. Propõe como solução um sistema de
reforço positivo mais efetivo para os comportamentos sociais ajustados em
contraposição aos desajustados.
Caballo (2008a) considera como classes de resposta ou habilidades sociais:
iniciar, manter e finalizar uma conversa; falar em público; expressar amor,
agrado e afeto; defender os próprios direitos; pedir favores; fazer e recusar
pedidos; falar com uma figura de autoridade; fazer um convite; cumprimentar;
dar e receber elogios; exprimir desacordo; defender uma opinião; lidar com a
recusa; saber dizer não; lidar com as críticas; pedir desculpa ou admitir
ignorância; pedir mudança de comportamento; entre outros. Cada uma destas
classes/habilidades terá características diferentes tendo em conta a situação
específica vivenciada (formal, informal, lúdica, profissional, familiar,
escolar, ...) o tipo de pessoa com quem nos relacionamos (aspetos como a idade,
a posição social/profissional, o sexo) e as regras sociais vigentes. Por
exemplo, 'exprimir desacordo' pode ser diferente consoante se trate
de uma pessoa com dificuldades na expressão verbal ou com uma pessoa idosa,
assim como 'cumprimentar' será diferente se a situação for de
informalidade, na rua, com um colega ou numa situação formal com uma pessoa de
referência, por exemplo um conferencista convidado.
Dedicamos um espaço particular ao treino assertivo, pois apesar de integrar o
TCS, a assertividade é considerada uma das competências mais importantes e por
isso descrevemos sumariamente cada uma das formas de comunicação no
comportamento assertivo:
Relativamente às 'palavras expressas verbalmente' devem ser de
interesse para ambos os interlocutores, mantendo a atenção focada na interação,
deve existir condescendência e expressão de afetos positivos. Deve existir
congruência entre o verbal e o não verbal. A duração do tempo da fala não deve
ser em demasia nem de menos. Dar feedback e fazer perguntas mostra interesse
pelo outro e a clareza na mensagem esclarece equívocos.
No que se refere às características da comunicação 'não verbal' não
podemos esquecer que está impregnada de significados e também é uma forma de
expressão emocional. Na pessoa assertiva é importante o olhar e a sua
reciprocidade, a expressão facial e o sorriso, a postura corporal mais direita
e descontraída, a gestão do espaço relativamente à distância mantida na
interação, que deverá ser de proximidade e ao mesmo tempo confortável para os
interlocutores. Os gestos devem transmitir segurança e espontaneidade, os
movimentos de cabeça revelam interesse e atenção.
Por fim, a comunicação 'para verbal', que se refere a qualquer som
emitido que não as palavras, ou seja, o que acompanha a forma como falamos e
cujos componentes são o volume que deve ser harmonioso e sem oscilações, o tom
de voz uniforme e bem modulado, a velocidade das palavras que deve manter-se
constante, nem muito rápida nem muito lenta (Castanyer, 2004; Caballo, 2008b).
Convém relembrar que os aspetos aqui focados não são universais e mais uma vez
devem estar em consonância com as pessoas, o contexto em que a relação acontece
e com a cultura em que estão inseridas.
Galassi e Galassi (1977) consideram que o défice de assertividade pode ter por
base um conjunto de fatores que influenciaram na aprendizagem da pessoa não
assertiva, como a punição, o reforço, a modelação, a falta de oportunidade, a
incerteza ou desconhecimento em relação aos próprios direitos e as crenças
pessoais e os padrões culturais onde a pessoa se insere.
Os principais objetivos do treino assertivo passam por uma mudança efetiva de
comportamento através do desenvolvimento de um conjunto de respostas assertivas
aos vários níveis (verbal, não verbal e para verbal), pelo reconhecimento de
respostas dos vários estilos comunicacionais (passivo, agressivo, manipulativo
e assertivo), pela valorização dos próprios direitos e dos direitos dos outros,
pela identificação e modificação de pensamentos irracionais presentes em
situações específicas, pela identificação das situações em que a utilização do
comportamento assertivo é benéfica, pela promoção do comportamento assertivo
nos outros e pela diminuição da ansiedade em situações de interação social.
Na literatura consultada encontramos descritos resultados positivos sobre os
programas de TCS que englobam o treino assertivo. Da grande variedade dos
estudos desenvolvidos com crianças, adolescentes e estudantes universitários
podemos referir o desenvolvimento positivo ao nível das suas relações
interpessoais (Jones & Lavallee, 2009; Coplan, Schneider, Matheson &
Graham, 2010), na diminuição da agressividade e conflitos interpessoais, como
medida preventiva na adoção de comportamentos de risco (Matos & Equipa
Técnica Multidisciplinar, 2008; Qualter, Brown, Munn & Rotenberg, 2010), em
adolescentes com distúrbio de ansiedade (Fischer, Masia-Warner & Klein,
2004) na promoção do sucesso académico em estudantes universitários (Dias,
2010) e o desenvolvimento da assertividade e da auto estima em estudantes de
enfermagem e de medicina (Lin et al., 2004).
Avaliação de Competências Sociais
Considerando as formas de avaliação das competências sociais salientamos a
possibilidade de utilização de vários procedimentos, nomeadamente, a
sociometria, instrumentos de auto registo, escalas e/ou inventários, a
avaliação feita pelos professores, pais, ou outros significativos, registos de
observação de ocorrências, testes de desempenho de papeis, entrevistas e
avaliação fisiológica (Del Prete & Del Prette, 1999; Lemos & Menezes,
2002; Spence, 2003). Um só instrumento torna-se muito redutor na deteção de
deficits de habilidades sociais específicas e mesmo na avaliação da eficácia de
um programa de TCS. Dada a abrangência e a multidimensionalidade das
habilidades e competências sociais, tanto o tipo de instrumentos de avaliação
como a interpretação e análise dos resultados deve ter em conta as várias
dimensões garantindo assim uma avaliação mais rigorosa e completa. Caballo
(2008a) salienta a importância de quando avaliar um programa de treino, isto é,
em que momentos durante o processo a avaliação deva ser realizada. Propõe
quatro momentos: antes, durante e depois da implementação do programa e num
período de acompanhamento pós-programa. A avaliação antes serve para
identificar os deficits em HS. Na avaliação durante a implementação do
programa, vai-se fazendo uma análise de como o comportamento se vai ou não
modificando no sentido de minimizar os deficits identificados e de como a
própria pessoa avalia o seu progresso. Esta avaliação vai permitir perceber se
o programa pré-estabelecido está de acordo com o previsto ou se por outro lado
é necessários fazer pequenos ajustes e modificar a intervenção. Na avaliação
após o programa, ficamos com a ideia de quais foram as alterações verificadas
comparativamente com o início da implementação do programa. Na fase de
acompanhamento pós-programa, a avaliação permite perceber se as mudanças se
mantêm, se são efetivas e se houve a possibilidade de generalização a outros
contextos de vida diária, possibilitando avaliar a eficácia do programa e o
impacto do mesmo na vida da pessoa.
No que concerne à eficácia dos programas de competências sociais, vários
autores são da opinião que as estratégias comportamentais têm apresentado
resultados eficazes e melhorias a curto prazo em habilidades sociais
específicas (Gresham, 1981, 1985; cit. por Spence, 2003). Os autores são da
opinião que crianças mais pequenas respondem melhor à utilização de estratégias
comportamentais do que a estratégias cognitivas. Também Gresham e Nagle (1980
cit. por Del Prette & Del Prette, 1999) salientam a utilização de
'Instruções' como técnica mais efetiva em crianças mais pequenas e
o ensaio comportamental como mais eficaz em adolescentes. Já em estudantes
universitários, Caballo e Carrobles (1988 cit. por Del Prette & Del Prette,
1999) verificaram que a abordagem cognitivo-comportamental foi a mais efetiva.
Da investigação que vem sendo desenvolvida na implementação destes programas
encontramos na literatura resultados muito positivos no que se reporta a
promoção de competências pessoais e sociais em crianças e adolescentes (Durlak,
Weissberg & Pachan, 2010), na melhoria do auto conceito e resolução de
conflitos (Hay, Byrne & Butler, 2000) e no aumento na utilização de
estratégias de coping adaptativas (Correia & Pinto, 2008).
Estrutura e Dinâmica das Sessões de um Programa de TCS
Seguimos as orientações teóricas de Del Prette & Del prette (1999) e
Caballo (2008a) por considerarmos que apresentam estudos pertinentes e bastante
desenvolvidos nesta área. Os programas de TCS apresentavam no início, um
formato de abordagem individual, tendo-se implementando cada vez mais o formato
de grupo, com as vantagens e inconvenientes inerentes a cada uma das
abordagens. Abordaremos o formato grupal, cujas vantagens passamos a enumerar:
a situação social em que o treino ocorre é real, dada a existência de vários
participantes; os participantes sentem-se apoiados uns pelos outros e existe a
possibilidade de se iniciar o treino simulado com os outros elementos
facilitando a transposição do comportamento simulado para a vida real e maior
motivação e envolvimento de todos; economia de tempo do terapeuta (formador,
líder, animador, coordenador).
Relativamente à estruturação das sessões, o número de participantes por grupo
pode alternar de 4 a 15 elementos, a duração de cada sessão pode variar de 30
minutos a 2 horas, com frequência semanal ou bissemanal à qual pode
corresponder um período de 4 ou 6 meses de duração. O local de treino requer um
espaço suficientemente amplo para que os participantes utilizem cadeiras em
semicírculo e para que possam realizar os exercícios preconizados. O mobiliário
deve ser simples e suficiente para o desenrolar do programa (quadro branco,
cadeiras, mesas, colchões, projetor, aparelho de som) e outro material de
apoio: canetas, papel, (...). Relativamente à dinâmica das sessões, existe
alguma diferença consoante se trate da primeira, da última e das sessões
intermédias. A primeira sessão é muito importante, pois é o primeiro contacto
formal com o grupo e do grupo em si. É feita a apresentação do programa,
estabelecem-se as primeiras relações interpessoais, as normas de
confidencialidade e de compromisso pela participação no programa. É o ponto de
partida para uma mudança esperada e aceite por todos.
Na última sessão é feito o balanço de todo o trabalho realizado até aí,
nomeadamente quais os ganhos pessoais e as dificuldades superadas. É o momento
de autoavaliação, avaliação do programa e despedida. Como é propiciado um
ambiente de proximidade entre todos, por vezes verificam-se expressões de
tristeza pela finalização do programa e separação do grupo.
Aspetos comuns das sessões intermédias: cada sessão é constituída por três
partes ou momentos. No momento inicial é feito o resumo da sessão anterior,
apresentadas as tarefas de casa e são realizados alguns exercícios de
aquecimento ou jogos simples de 'quebra-gelo' para fomentar o
conhecimento e cooperação do grupo (5 a 10 minutos). De seguida é o momento de
desenvolvimento da sessão propriamente dita, em que se utilizam vários
procedimentos, de acordo com os objetivos da sessão. O último momento
corresponde à finalização da sessão. É pedido a todos os participantes que
avaliem a sessão, o terapeuta faz um breve resumo da participação dos elementos
com reforço positivo e revê o progresso alcançado. Estabelece as tarefas para
casa e dá por encerrada a sessão.
Técnicas e Procedimentos habitualmente utilizados em TCS
São essencialmente comportamentais, como o ensaio comportamental, o role
playing, a modelação, o reforço, o feedback, o relaxamento progressivo de
Jacobson e a técnica de controlo da respiração, tarefas para casa e
dessensibilização sistemática. A Técnica de Resolução de Problemas (TRP)
insere-se no paradigma cogitivo-comportamental. As técnicas cognitivas
utilizadas são a reestruturação cognitiva e as instruções/ensino. Vamos
caracterizar as técnicas referidas de uma forma sucinta tendo por base as
perspetivas de Caballo (2008a), Caballo (2008b), Del Prette e Del Prette
(1999).
Ensaio comportamental: Permite o desenvolvimento de novos comportamentos de
modo a encontrar formas mais efetivas de enfrentar situações problemáticas da
vida real. Espera-se a simulação de cenas reais relativamente a um problema
recente ou que possa verificar-se num futuro próximo. Tem a vantagem de
permitir ao terapeuta a observação direta do comportamento, o que melhora os
níveis de segurança e confiança da pessoa na intervenção. O número de ensaios
pode variar de 3 a 10.
Role playing: Pede-se à pessoa que represente ou desempenhe determinado papel.
É importante o terapeuta fornecer informação acerca do comportamento esperado,
a aceitação da pessoa para participar, compromisso com o comportamento a
representar e reforço pelo esforço manifestado.
Modelação: Tem a sua origem em Bandura, em que a aprendizagem é feita através
da observação do desempenho de outra pessoa (terapeuta). Este método revelou-se
mais efetivo quando o modelo tem idade mais próxima e é do mesmo sexo do
observador. Tem a vantagem de evidenciar os componentes 'não
verbais' e 'para verbais' da comunicação. Os resultados
mostram que tempos mais longos de exposição ao modelo produzem resultados mais
permanentes.
Reforço: O reforço positivo deve utilizar-se logo no momento em que a pessoa
conseguiu realizar um comportamento ou fez determinados progressos. O auto
reforço deve também ser utilizado como uma forma de auto compensação e deve ser
feito por auto verbalizações positivas. Nas sessões importa iniciar pelos
aspetos mais positivos, conquistas, sucessos e posteriormente passar para os
aspetos mais negativos.
Feedback: Proporciona informação e promove o entendimento sobre o modo como a
pessoa levou a cabo determinado comportamento. Esta informação deve ser
detalhada, positiva e direta destacando-se o elogio, a aceitação e o estímulo
como influências positivas na modificação da conduta social.
Técnicas de relaxamento: Relaxamento Progressivo de Jacobson é utilizado quando
a pessoa experiencia níveis moderados ou elevados de ansiedade. Propõe a
diferenciação entre as sensações de contração/descontração muscular e a
concentração na respiração. Deve realizar-se um grupo muscular por sessão, até
conseguir alcançar a totalidade dos grupos musculares. Espera-se que a pessoa
consiga identificar quando está com sintomatologia ansiosa e quais os músculos
mais tensos para ser capaz de se auto relaxar. A Técnica de Respiração
Abdominal tem como principal objetivo passar de uma respiração torácica,
superficial e involuntária para uma respiração abdominal e mais profunda,
requerendo para isso um controlo voluntário da respiração. Estas técnicas visam
diminuir a atividade do sistema nervoso simpático que se encontra ativado em
situações de stress.
Tarefas para casa: Proporciona à pessoa, generalizar em contexto de vida diária
o que foi aprendido nas sessões. Permite a prática dos novos padrões de
comportamento em privado, sem limitações de tempo ou espaço, resultando um
maior auto controlo. Estas tarefas devem ser planeadas com o próprio servindo
de mote para finalização das sessões e início das sessões subsequentes. É
importante o registo em fichas ou memorandos servindo para lembrar qual o
comportamento a ter e como ocorreu em pormenor.
Dessensibilização sistemática: Baseia-se no princípio de que um indivíduo pode
superar a ansiedade mal adaptativa provocada por uma situação ou objeto através
da aproximação gradual às situações ou objetos temidos, num estado
psicofisiológico que iniba a ansiedade. Das três etapas definidas para esta
técnica o treino de relaxamento faz parte da primeira etapa. Na segunda etapa a
pessoa deve fazer uma lista ou hierarquia de situações em ordem crescente de
ansiedade. Por fim, na terceira etapa a dessensibilização do estímulo, em que a
pessoa se vai confrontando pela imaginação, com os cenários menos provocadores
de ansiedade até aos mais provocadores. Quando conseguir imaginar a cena que
lhe causa mais ansiedade experimentará pouca ansiedade na situação real.
Técnica de Resolução de Problemas: é um processo cognitivo-comportamental
estruturado, que envolve cinco etapas e cujo fim é encontrar uma solução eficaz
para uma determinada situação que no momento é encarada como fonte de stress ou
como problemática. Depois de encontrada uma resposta possível ao problema, vai
colocá-la em prática, sendo este o resultado de todo o processo de resolução de
problemas. Neste processo a pessoa vai aprender a ter disponível uma variedade
de respostas alternativas, aumentando assim a probabilidade de selecionar a
resposta mais efetiva de entre as possíveis. Vai adquirir habilidades para o
levantamento de informações relevantes, entendendo e avaliando as consequências
e implicações de cada ação. A TRP é um ato voluntário, com uma abordagem lógica
e sistemática e cujas etapas são: Orientação para o problema (quais as
situações cuja avaliação pelo próprio desencadeiam respostas problemáticas
imediatas aos níveis cognitivo, afetivo e comportamental. Identificar crenças e
expectativas); Definição e formulação do problema (reconhecer o problema,
clarificar e compreender para uma avaliação mais precisa. Identificar
dificuldades e estabelecer objetivos realistas de resolução); Levantamento de
alternativas (desafio à criatividade elencando um conjunto de possíveis
soluções); Tomada de decisão (avaliar, comparar, julgar as opções disponíveis e
escolher as que parecem ser mais efetivas); Implementação e verificação (pôr em
prática as soluções escolhidas e avaliar os resultados em termos de eficácia).
Nesta técnica parte-se dos problemas mais simples para os mais complexos
(D'Zurilla & Goldfried, 1971 cit. por Caballo, 2008b).
Técnica de reestruturação cognitiva: Tem como principal objetivo corrigir ou
substituir cognições que impedem o funcionamento social. Das várias técnicas
conhecidas destacamos a Terapia Racional Emotiva Comportamental de Albert
Ellis. Defendia que tanto as emoções como os comportamentos são consequência
dos pensamentos e crenças individuais, ou seja, partiu do pressuposto de que
não são as situações ou circunstâncias que perturbam as pessoas mas a avaliação
que fazem das situações, pelo significado que lhes atribuem. Se esses
significados ou avaliações se basearem em crenças irracionais que distorcem a
perceção da realidade vão provocar perturbações emocionais que por sua vez vão
determinar comportamentos destrutivos que geram dificuldades nas relações
interpessoais. Geralmente estas crenças têm um carácter absolutista e rígido.
Assim, interessa a substituição desses pensamentos ou crenças irracionais por
outros mais adaptativos e saudáveis. O modelo de Ellis é bastante simples,
identificou-o como o modelo A ' B ' C ' D, em que A são todos os acontecimentos
adversos ou ativadores, B são os pensamentos ou auto verbalizações baseadas num
sistema de crenças e as avaliações das situações, C as consequências que podem
ser cognitivas, emocionais ou comportamentais e D o desafio às crenças
irracionais pelo debate filosófico. Apesar do esquema ser linear tanto os
pensamentos, como as emoções e o comportamento estão inter-relacionados numa
perspetiva sistémica devendo por isso ser trabalhados em conjunto.
Instruções/Ensino: As instruções fazem parte de um conjunto de informações que
para além dos aspetos específicos e gerais dos programas de treino, abarcam
explicações claras e objetivas de como a pessoa se deve comportar numa situação
específica de relação interpessoal, por exemplo quero que pratique olhar
diretamente para a outra pessoa quando está a falar com ela. O ensino, também
denominado feedback corretivo, consiste na informação dada à pessoa acerca de
como foi o seu comportamento tendo em conta critérios pré estabelecidos, por
exemplo o seu contacto ocular foi muito breve, aumente-o.
O Papel do Enfermeiro enquanto Terapeuta/Formador
No sentido de poder estabelecer uma compreensão mais aprofundada sobre as
competências pessoais e profissionais dos enfermeiros, enquanto terapeutas/
formadores no âmbito da sua prática clínica iremos debruçar-nos sobre os
aspetos teóricos que alicerçam estas competências. Centramos a nossa abordagem
em três teorias de enfermagem - Teoria da Relações Interpessoais, Teoria do
Cuidar e Teoria das Transições - que, neste âmbito concreto do saber fazer,
mais contributos teóricos fornecem para a prática de cuidados dos enfermeiros.
A Teoria da Relações Interpessoais de Hildegard Peplau tem como fontes teóricas
Sullivan, Maslow e Miller, centra-se na relação enfermeiro/doente e é
construída nos diferentes estádios do desenvolvimento pessoal. Tem subjacente
uma mudança de paradigma, na qual o doente passa de uma visão meramente objetal
e dependente dos cuidados do enfermeiro, para uma visão de igualdade, ao
conceptualizar o doente como parceiro nos cuidados (Peplau, 1990). Aqui o
conceito de enfermagem está relacionado com um processo dinâmico, terapêutico e
interpessoal, cujas ações dependem da participação de duas ou mais pessoas que
crescem com esta intervenção. O objetivo da enfermagem é o de produzir mudanças
no cliente de modo a influenciar positivamente a sua saúde. O conhecimento e a
compreensão dos aspetos cognitivos, psicossociais e morais ligados ao
desenvolvimento de uma personalidade saudável, permitem aos enfermeiros um
planeamento e implementação de cuidados de qualidade.
A Teoria do Cuidar de Jean Watson preconiza que os cuidados de enfermagem devem
ser desenvolvidos numa perspetiva humanista tendo por base conhecimentos
científicos. Para Watson (2002) a essência da enfermagem é o outro e constrói-
se pela relação com ele. A humanização na relação enfermeiro/doente através de
uma visão holística da pessoa permite olhar para o outro como um ser único e
especial. A enfermagem não é uma mera conduta ou um conjunto descritivo de
intervenções, é sobretudo a compreensão do outro, do significado da vida humana
sob uma perspetiva fenomenológica e existencial. Watson seguiu esta perspetiva
alicerçada na psicologia e nas humanidades o que contribuiu para apresentar a
enfermagem como uma ciência humana. Salienta as qualidades interpessoais do
enfermeiro no processo do cuidar, tais como, senso de coerência, empatia,
compreensão, respeito caloroso e interesse genuíno e enfatiza os aspetos
psicossociais das pessoas (enfermeiros e doentes) que se desenvolvem pela
maturação do pensamento, pela reflexão interior, pelo crescimento pessoal e
pelas capacidades de comunicação.
Teoria das Transições de Meleis cujo conceito chave, transição, é considerado
uma passagem de uma fase da vida, condição ou estado, para outro. As transições
referem-se ao processo e resultados das complexas interações pessoa-ambiente
(Chick & Meleis, 2010). Esta teoria considera três domínios que
correspondem, nomeadamente, à natureza das transições (tipos, padrões e
propriedades), às condições de transição (tanto ao nível da pessoa como da
comunidade e da sociedade) e aos padrões de resposta (indicadores de processo e
de resultado). A identificação dos indicadores de processo pelo enfermeiro
permite-lhe avaliar como a pessoa está a vivenciar o seu processo de transição
e consequentemente poder delinear uma intervenção direcionada à obtenção de
resultados positivos em saúde. Por outro lado, os indicadores de resultado
abrangem essencialmente a mestria, que corresponde ao desenvolvimento de
competências e de comportamentos necessários para lidar com as novas situações,
e a integração fluida da identidade, que corresponde ao desenvolvimento de uma
nova identidade com uma dinâmica própria resultante de uma mudança positiva.
Meleis propõe uma teoria em que dá ênfase ao cuidado transacional no sentido da
vivência da transição como um acontecimento positivo de desenvolvimento e
maturidade pessoal. Os cuidados de enfermagem centram-se na pessoa, mais
concretamente na compreensão acerca do conhecimento que a pessoa tem e do
significado que a pessoa atribui á vivência experienciada, o que permite ao
enfermeiro identificar os indicadores de processo que permitem uma avaliação
correta da situação. O objetivo é implementar intervenções direcionadas às
necessidades identificadas contribuindo assim para indicadores de resultado
positivos para a pessoa.
Um marco conceptual igualmente importante para a Enfermagem foram as ideias de
Carl Rogers concretizadas na sua Teoria da Abordagem Centrada na Pessoa com
base numa Relação de Ajuda que influenciaram as perspetivas teóricas de Peplau
e Watson, integrando e concebendo a prática da relação de ajuda baseada em
modelos interacionistas. De salientar o papel do enfermeiro, pela utilização de
si próprio como ferramenta terapêutica e de ajuda, e como um modelo de mudança.
É assim indispensável que o enfermeiro consiga desenvolver a capacidade de
compreender-se a si próprio para poder ajudar o outro, quer na identificação
das suas necessidades quer no seu crescimento pessoal. Assim, destacamos as
competências do especialista em enfermagem de saúde mental em que o enfermeiro
"(...) para além da mobilização de si mesmo como instrumento terapêutico,
desenvolve vivências, conhecimentos e capacidades de âmbito terapêutico que lhe
permitem (...) mobilizar competências psicoterapêuticas, socioterapêuticas,
psicossociais e psicoeducacionais. Esta prática clínica permite estabelecer
relações de confiança e parceria com o cliente, assim como aumentar o insight
sobre os problemas e a capacidade de encontrar novas vias de resolução" (Ordem
dos Enfermeiros, 2011, p.8669).
A capacidade de ouvir sem julgar, a descodificação correta dos silêncios ou do
que é dito de forma indireta, acreditar que as pessoas são capazes de mudar
comportamentos menos saudáveis e manter comportamentos de saúde positivos são
competências e crenças, que o enfermeiro deve ter desenvolvidas no âmbito da
sua prática dos cuidados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em interação social cada tarefa requer uma sofisticada capacidade de
relacionamento interpessoal com o propósito de conseguir um resultado positivo
nessa interação, pois todos as aspetos da comunicação humana vão determinar
significativamente a impressão que deixamos nos outros e a sua reação para
connosco. Todos os estudos relativos ao treino assertivo e TCS revelam a
importância do comportamento assertivo como preditor de um desenvolvimento
saudável e de uma vivência social apropriada com bons níveis de auto estima e
auto confiança. As características pessoais e competências profissionais do
terapeuta/formador são fatores importantes na determinação do sucesso deste
tipo de intervenções. Assim, o TCS revela ser uma boa estratégia ao nível da
promoção da saúde mental e de comportamentos saudáveis. É necessário que este
tipo de intervenção seja divulgado entre os profissionais de enfermagem e que
estes a utilizem de forma sistemática na sua prática clínica. Da revisão
bibliográfica realizada, podemos concluir que o conhecimento científico aliado
a uma prática de cuidados de qualidade são os alicerces para o processo do
cuidar em enfermagem. O enfermeiro ao assumir o papel de terapeuta/formador,
concretamente em TCS, ajuda a pessoa ao responsabilizá-la e capacitá-la para a
tomada de decisão sobre a sua situação de saúde. O conhecimento mais
diferenciado e a utilização de técnicas que se revelaram eficazes em contextos
específicos remete-nos para cuidados de maior qualidade num contexto de
prestação que esperamos ser de excelência.