Hiperplasia nodular focal múltipla: desafio diagnóstico
INSTANTÂNEO ENDOSCÓPICO
Hiperplasia nodular focal múltipla - desafio diagnóstico
Multiple nodular focal hyperplasia - diagnosis challenge
Margarida Eulálio∗, Arsénio Santos e Rui Santos
Serviço de Medicina Interna A, Hospitais da Universidade de Coimbra, Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
*
Autor para correspondência
A hiperplasia nodular focal (HNF) é o tumor benigno hepático não vascular mais
comum1. Ocorre em ambos os sexos, sendo mais frequente no sexo feminino dos 20
aos 50 anos de idade1. A maioria dos casos é assintomática, sendo identificada
de forma acidental em exames de imagem2. A apresentação múltipla é extremamente
rara e põe problemas de diagnóstico, pela dificuldade em caracterizar cada uma
das lesões3. Habitualmente, as lesões permanecem estáveis em número e dimensão,
mas em raros casos verifica-se progressão da doença3.
Os autores apresentam o caso de uma mulher de 40 anos, com evidência de
múltiplos nódulos hepáticos em ecografia de rotina. Antecedentes de toma de
contracetivos orais nos últimos 15 anos e sem hábitos alcoólicos. Apresentava-
se assintomática e sem alterações ao exame objetivo. Analiticamente,
evidenciava GGT - 87 U/L (valor de referência: < 38 U/L), aminotransferases,
fosfatase alcalina, bilirrubinemia, albumina e tempo de protrombina normais,
serologias do VHB e VHC e estudo da autoimunidade negativos, assim como CEA e
alfa-fetoproteína normais. Realizou TC que revelou hepatomegalia com múltiplas
formações nodulares hipervasculares dispersas pelos 2 lobos, as 2 de maiores
dimensões (6,7 e 6 cm) com uma pequena área hipodensa central (fig._1). Para
melhor caracterização dos vários nódulos realizou RM, que mostrou lesões com
comportamento sugestivo de HNF, e cintigrafia com Tc99m, na qual todas as
lesões tiveram comportamento sugestivo de HNF com exceção de uma (segmento VI/
VII) (fig._2). Contudo, a biopsia deste nódulo mostrando uma lesão constituída
por hepatócitos morfologicamente normais reforçou a hipótese de este ter a
mesma etiologia (fig._3).
Posteriormente, a doente realizou RM com contraste hepatoespecífico
(Primovist®), que evidenciou múltiplas formações nodulares, a maior com 6,1 cm,
que na fase hepatobiliar apresentam acentuada retenção do contraste, facto que
corrobora a sua natureza hepatocitária (fig._4).
A doente mantém-se assintomática, com GGT - 70 U/L e restantes provas hepáticas
normais, e todos os nódulos mostram estabilidade morfológica e dimensional em
exames sequenciais. Foi suspenso o contracetivo oral e realizou laqueação
tubar. Realizou posteriormente uma angio-TC cerebral que não evidenciou lesões
vasculares.
Com este caso pretende-se salientar a dificuldade diagnóstica da HNF face a uma
apresentação clínica com lesões múltiplas, levantando dúvidas quanto à natureza
de algumas delas e a utilidade do uso de contraste hepatoespecífico para o seu
esclarecimento, nomeadamente no diagnóstico diferencial com o carcinoma
hepatocelular.