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EuPTHUAp0872-34192012000200007

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National varietyEu
Year2012
SourceScielo

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À frente do computador: a Internet enquanto produtora de dependência e isolamento

Introdução Entender como opera a Internet na vida quotidiana faz com que pesquisadores e empreendedores de todo o mundo dediquem horas e horas a fio de trabalho voltados à causa que tem (re)movido conceitos e vem construindo novas perspetivas. A frase utilizada como epígrafe deste trabalho, dita pelo jovem e visionário Mark Zuckerberg, criador do Facebook, no Web 2.0 Summit, em São Francisco (CA), explicita algo evidente ' mas que nunca será tão óbvio: a Web atua como um campo de possibilidades em que o indivíduo é o principal responsável pela sua sobrevivência. No evento, Zuckerberg falava sobre o lançamento de um novo aplicativo para o Facebook. No entanto, a frase encaixa- se perfeitamente na proposta deste texto. Aqui, a abordagem não será comercial, mas sim sobre o mundo promovido pela Internet e seus efeitos sobre o indivíduo. Ao fechar mais a análise, a ideia é abordar a perspetiva da Internet enquanto produtora de dependência e isolamento do homem. O resultado sobre a sedução pelo virtual e, por consequência, a autoexclusão do convívio social.2 A análise terá como pano de fundo os estudos de Internet Addiction (IA), liderados pela investigadora norte-americana Kimberly S. Young (1996, 1999), da St. Bonaventure University (NY ' USA).Young tem desempenhado, mais de dez anos, pesquisas sobre dependência em Internet e os meios de diagnóstico e tratamento. O assunto também tem sido refletido pela escola da psiquiatria.

Mesmo sendo considerada uma perturbação do controle dos impulsos que não envolve uma substância tóxica (Young, 1996: 237), o uso excessivo da Internet tem provocado colaterais desagradáveis na saúde e bem-estar dos indivíduos. Daí a relevância e a preponderância das pesquisas. No entanto, entende-se aqui que a ótica social que envolve o processo de dependência e isolamento também acaba por ser essencial na análise. A sedução pelo simbólico e os recursos semióticos aliciadores utilizados pelos meios para atrair o usuário à Internet realçam o fator de que o meio social e a necessidade crescente de contacto com os mediadesempenham um importante papel na dependência. Os estudos norte- americanos de telepresença e mediasocial, por exemplo, focam em tal fator e publicam, periodicamente, pesquisas a fim de comprovar a tese. Os trabalhos demonstram os efeitos sociais que os mediatêm sobre o indivíduo, operando, inclusive, na construção de uma nova identidade (Bracken e Skalski, 2010).

Isso porque o ser humano possui uma necessidade latente de ter contacto com os mediae agir sobre eles. Tal necessidade tem uma explicação sociológica na vertente dos estudos de Pierre Bourdieu. A partir de um pensamento estruturalista-construtivista, Bourdieu abarca o conceito de que existem estruturas sociais objetivas que operam sobre os indivíduos, dirigindo-os e atuando sobre suas representações (Bourdieu, 1987). Para Bourdieu, um certo processo interativo entre as pessoas e as tais estruturas. Os indivíduos, denominados por sujeitos, recebem os estímulos, codificam-nos, legitimam-nos e os reproduzem. Para ele, os sujeitos estão inseridos na estrutura e operam como força estruturante de um campo (Bourdieu, 1980: 70). Além de Bourdieu, outros autores abraçam a ideia de que o processo de sedução por meio dos estímulos é um forte denominador que influencia o contacto humano com o meio ' e, nesse caso, os meios. Os computadores (e a Internet) acabam por liderar a lista. Isso porque apresentam a possibilidade de novas e diferentes sensações aos usuários.

Sentimentos que, possivelmente, podem explicar os efeitos de dependência e, até mesmo, isolamento (em casos mais extremos). A descoberta do novo, da sensação indescritível de liberdade, a negação do eu, a criação de uma identidade virtual, o anonimato e a facilidade de se relacionar estão entre os fatores que atraem milhões de usuários para os computadores. Dos seios de suas casas (ou mesmo da rua), homens e mulheres, de todas as idades, experimentam a interatividade sem julgamentos externos ou políticas castradoras. E a necessidade de ter contacto com essas sensações acaba por se tornar excessiva.

Viciante. A psiquiatria entende, hoje, que a Internet promove dependência sim e busca soluções para catalogar e acordar protocolos de atendimento. Cruza os sintomas de dependência, impulsividade e compulsão com outros transtornos mentais, e propõe tratamento a partir de técnicas terapêuticas, intituladas Terapias Cognitivo- Comportamentais (TCC) (Pujol et al., 2009). Não o emprego de drogas no tratamento, mas pode viciar tanto como algumas drogas ilícitas. Pode alterar, inclusive, funções no sistema nervoso e provocar sintomas semelhantes aos da depressão. A reclusão e a perda gradativa do convívio sadio com amigos e familiares também são facilmente diagnosticadas nos chamados adictos. A relação viciante do indivíduo com o meio on-lineem detrimento do off-lineestá mais viva, latente, diária, corriqueira. Os usuários, muitas vezes em decorrência da veloz vida quotidiana, preferem os ecrãs dos computadores às pessoas e compartilham experiências muitas vezes com desconhecidos. Um processo que envolve um mundo paralelo ' virtual ' e que transforma as pessoas em seus próprios personagens, num processo de second life. Serão reforçados, aqui, os temas dependência e isolamento na Internet. A intenção é apresentar um cruzamento de ideias com relação à necessidade dos indivíduos em ter contacto com a Web. A análise circunscreverá o assunto à hipótese de que o indivíduo se abstém do convívio social (off-line) para dedicar-se ao mundo virtual (on-line). Para isso, serão analisados questionários dissertativos acerca do assunto, realizados por meio de fóruns na própria Internet.

A proposta será um passeio pelo mundo virtual através da reflexão dos verdadeiros atores.

1. Internet em foco ' dependência e isolamento Praticamente desde o aparecimento da Internet, nos anos 90, assuntos relacionados com os possíveis malefícios que o novo meio poderia acarretar no indivíduo começaram a surgir. Uns dos primeiros alertas foi levantado pelo jornal norte-americano New York Times, em março de 19953 . A partir de então, estudos começaram a ser recorrentes e temas como dependência e isolamento, discutidos por pesquisadores de todo o mundo. No entanto, tratar de temas como esses, sem cair no campo da psiquiatria, acaba por ser um grande desafio por parte dos pesquisadores das ciências sociais. Aqui, a abordagem proposta visa navegar pelos dois campos. Isso porque, nos estudos sociais, não dissociações dessa natureza. Entende-se o indivíduo como um todo e sua relação com o meio social. A dependência é um sintoma estudado profundamente pela psiquiatria e psicologia. No entanto, é preciso frisar que os estudos estavam voltados à dependência que advém de um fator químico. E essa é a grande questão das pesquisas que envolvem a Internet. A psiquiatria levou alguns anos para assumir a adição à Internet como distúrbio (Pujol et al., 2009), pois entendia- se que, cientificamente, era complicado relacionar uma dependência com fatores não químicos. A partir de então, o relacionamento foi para o campo da psicologia e as práticas comportamentais (behavior). E foi nesse metierque se encontram as pesquisas da doutora Kimberly S. Young, atual docente e pesquisadora da St. Bonaventure University (NY ' USA). Detentora do sítio de Internet www.netaddiction.com, Young publica periodicamente pesquisas acerca do tema e norteia os centros de estudos e tratamento em escala global. No Brasil, também um centro de pesquisa e tratamento de adictos à Internet, capitaneado pelo Prof. Doutor Cristiano Nabuco de Abreu, na Universidade de São Paulo. , os adictos têm acompanhamento psicológico e psiquiátrico. A adição à Internet é uma realidade crescente na atualidade e inúmeros fatores desencadeiam tal situação. Os defensores ferrenhos da Webfocam seus argumentos no facto de que, por não existir envolvimento de substâncias químicas, o contacto com a Internet pode também ser positivo (e, de facto, é). Mas o cerne do problema, na realidade, está no excesso. O contacto diário e excessivo com o meio virtual pode acarretar dependência e, com ela, o isolamento gradativo do indivíduo. Tal isolamento se em função da não interação do indivíduo com o meio social (face-to-face). O sujeito resguarda-se das trocas sociais não mediadas, pelas mediadas pelos ecrãs dos computadores. A família e os amigos, geralmente, são deixados em segundo plano. A relação com a Internet promove a criação de barreiras virtuais que circunscrevem a presença física dos usuários. O que acontece depois disso (e paralelo a isso) é a criação de identidades virtuais e processos de supervalorização do eu (Westerman e Skalski, 2010: 78-80). O indivíduo retira suas mazelas e recalques da vida quotidiana e os resolve no novo eu (ou na fragmentação do eu). No eu virtual. A promoção da dependência é silenciosa. O sujeito vai adquirindo-a, gradualmente, sem perceber (ou questionar). O isolamento ' enquanto causa resultante de todo esse processo ' também surge de forma natural. Isso porque o meio virtual estabelece padrões de convivência semelhantes ao da vida off-line. Indivíduo versuscomputadores é igual a indivíduos versusmeio social. Uma relação virtualmente idêntica (Reeves e Nass, 1996). Em suma, o sujeito é absorvido pelo meio virtual e, quando por si, está submerso. E essa submersão é o que gera a dependência. Com o objetivo de buscar as características desse indivíduo e propor maneiras de reversão do quadro de dependência, Young (1996) desenvolveu um critério de diagnóstico que visa mapear, por meios subjetivos, os adictos de Internet (ver quadro_1). São oito questionamentos livremente respondidos pelos pacientes, em posição de conforto. Em caso de cinco ou mais respostas positivas, configura-se dependência.

O isolamento está nos estudos de Young quando a pesquisadora comenta que as sessões de Internet chegam a ocupar cerca de 80 horas semanais ' com períodos de até 20 horas consecutivas (1999). Para complementar, outros efeitos nocivos surgem, inevitavelmente, como problemas familiares e laborais (1999). É o que Matthew Lombard (2010: 209-216) endossa ao elaborar sobre os perigos que o contacto com oespaço virtual pode oferecer. Os afetados chegam a perder seus empregos e, muitas vezes, colocam em risco os relacionamentos. Optam, seduzidos pelo meio virtual (e suas inúmeras possibilidades), por relacionamentos pautados na fantasia, em detrimento dos da realidade tradicional. Estabelecem os chamados cyberaffairs e desestruturam instituições familiares em processos de divórcio (Quittner, 1997). Os relacionamentos produzidos em chatsou outros sítios de Internet voltados aos relacionamentos cooperam com a ação desses cyberaffairs .O sujeito perde horas em frente ao computador, fantasiando momentos ilusórios e vende ' ao outro ' situações que, muitas vezes, são inalcançáveis por ele mesmo. A vida é construída por meio de uma rede social on-line, em que personagens são idealizados como reais (e vice-versa).

1.1. O viés social O tema que encerrou a primeira parte deste texto converge com um estudo elaborado pelos pesquisadores da Carnegie Mellon University, Robert Kraut e Sara Kiesler, entre outros (2002). Eles analisaram o impacto social e psicológico da Internet no ambiente social. O resultado apontou que uma utilização intensa de Internet está ligada à diminuição da comunicação familiar, da dimensão do círculo social e ao aumento da depressão e solidão dos participantes, como apresenta Manuel Castells (2011). No entanto, para Castells, o contacto com a Internet tem seu lado positivo. No entanto, o autor entende que a relação dos usuários com o meio on-linepode ter um tipo de laço fraco. Na Rede, segundo o autor, os laços são especializados e diversificados, à medida que os sujeitos constroem as suas próprias ‘pastas pessoais' (Castells, 2011: 470). O termo fraco, apontado por Castells, está relacionado ao movimento de troca de informações à baixo custo. As relações podem ser efêmeras e romper ao toque de um click (2011). Como abordado na introdução deste artigo, o indivíduo opera no meio social, interagindo. Ele é parte integrante de um processo, no qual atua como protagonista. E é através desse mecanismo que as relações virtuais se estabelecem. O sujeito recebe incontáveis estímulos da Internet (textuais ou não) e, sob o efeito constante e acelerado de codificação, acaba sendo seduzido pelo meio, promovendo a dependência. A palavra sedução, aqui, é empregada no sentido mais semiótico possível. Os modos de sedução, interação, ação e atuação envolvem o indivíduo, mostrando-o um novo mundo de possibilidades através da perspetiva do texto, apontadas pelas Análises dos Discursos Sociais (AD). Mundo este tão próximo ao que o sujeito almeja que deixá- lo para trás é uma questão pouco cogitável. A sedução pelo meio virtual está no campo do simbólico e, por isso, a oportunidade da criação de identidades virtuais e personalidades se compreende (Turkle, 1995). O usuário busca o real-ideal através da verossimilhança do meio. Ao se deparar com o mundo que sempre sonhou para si ' em que os desafios e oportunidades são comandados pelo próprio indivíduo, com total responsabilidade pela sua formação ' a necessidade de isolar-se do meio off-linecresce em larga escala.

2. Metodologia A linha mestra deste pensamento está desenvolvida sob o método hipotético- dedutivo, que visa comprovar a hipótese de que o indivíduo se abstém do convívio social para dedicar-se ao mundo virtual, causando dependência e isolamento. Para isso, elaborou-se um breve levantamento teórico (supracitado), que será cruzado com a sondagem realizada por meio de questionário on-line.

Trata-se de uma primeira análise empírica, utilizada apenas para fins de elaboração deste artigo. A ideia é criar um ambiente de conforto para aplicação do breve questionário4 . Para isso, a opção foi que os usuários estivessem em locais de eleição própria e em contacto com o computador para que as impressões coletadas estivessem latentes, no momento de imersão.

2.1. Objetivo Para fins de análise, foram realizados inquéritos aleatórios e randómicos, mediados pelo computador. As respostas, de cunho dissertativo, visam um levantamento quantitativo e qualitativo para a elaboração de uma análise acerca do tema proposto. O objectivo passa por, a partir dos resultados, fazer um cruzamento objetivo entre o fator dependência e a necessidade de contacto com a Internet.

2.2. Amostragem Os questionários contaram com três perguntas, de caráter anónimo, e a pesquisa foi realizada entre os dias 20 de Dezembro de 2010 e 30 de Dezembro de 2010. Os inquéritos foram enviados por e-maile postados em redes sociais. Do total, foram selecionadas 50 entrevistas para análise e o critério de exclusão baseou- se na tangibilidade das respostas arguidas.

Perguntas: 1. Você acredita que o indivíduo se abstém do convívio social para dedicar-se à Internet? Seja para relacionamentos, jogos ou estudos? Conhece algum caso? 2. Você se abstém (ou se absteve) do convívio social para ficar na Internet? 3. Para você, quais fatores fazem com que um indivíduo abandone o convívio social em prol de horas na internet?

3. A sedução pode promover dependência Como abordado, a pesquisa realizada para a elaboração deste texto teve o objetivo de comprovar a hipótese de que o indivíduo se abstém do convívio social ( off- line) em prol da Internet. No entanto, as respostas coletadas permitiram, não comprovar tal hipótese, como também geraram a possibilidade de elaborar sobre o fluxo da dependência pelo meio on-line. A análise contou com dois fatores principais: um quantitativo (ver quadro_2), a fim de mensurar, em números absolutos, a perceção acerca da abstenção; e outro qualitativo (ver quadro_3), no qual foi possível propor uma análise inicial sobre o processo de dependência pela Internet, a partir dos fatores coletados.

No âmbito do levantamento quantitativo, frisa-se que das 50 pessoas pesquisadas, 39 delas (78%) entendem que o indivíduo se abstém do convívio social ( off-line). Essa abstenção, segundo os pesquisados, é proveniente de inúmeros fatores de naturezas diversas. O curioso é que as nove pessoas que afirmaram que não háabstenção, apresentaram, da mesma forma, fatores de abandono do convívio social (pergunta 3). Ou seja, pode-se arguir que um certo grau de incerteza por parte desses entrevistados. Na verdade, a incerteza se devido ao facto de que, para os entrevistados, existem fatores de abandono do convívio social (off-line) que não simbolizam, necessariamente, total abstenção. Ao se trabalhar o viés qualitativo da pesquisa, propõe-se uma análise dos fatores apresentados pelos pesquisados (pergunta 3). Foram contabilizados 35 fatores (muitos deles elencados por várias pessoas diferentes), que foram subdivididos em três grupos (ver quadro_3), sendo cada grupo responsável por uma parte do processo de dependência. A ideia neste campo da pesquisa foi elaborar um raciocínio objetivo e lógico a fim de endossar a hipótese comprovada.

Cada grupo de fatores/palavras foi desenhado seguindo as óticas abaixo: Grupo_I Fatores inerentes à Internet no quesito atração dos usuários. Grupo_II Fatores que fazem com que os usuários acedam à Internet de forma constante. Meio_potencializante Três fatores apresentados que são entendidos como características corroborativas de aceleração da dependência. Grupo_III Fatores ocasionados pelo excesso do Grupo II. Características motivadas pela dependência (adição à Internet).

A partir de divisão proposta, o primeiro ponto observado é que os fatores apresentados pelos pesquisados estão mais focados no Grupo III. Isso demonstra que a dependência está no radar dos internautas e que pode, inclusive, fazer parte de suas vidas. A linha que divide os grupos II e III é muito ténue e, por isso, o tema tem gerado tanta preocupação por parte dos estudiosos. O que acontece, na verdade, é que a sedução pelo simbólico e a necessidade crescente de imersão por parte dos indivíduos fazem com que a passagem do Grupo II para o Grupo III ocorra de maneira veloz. As inúmeras possibilidades da Internet promovem sensações de poder e segurança. São modos subjetivos de interação entre as estruturas, que colocam o sujeito em posição de rendição. Um processo eficaz e altamente produtor de alienação. Com isso, a autoexclusão do convívio social (off-line) e a opção pela vida virtual (on-line) acontecem naturalmente. São possibilidades ao alcance de um click. Clique este que chancela independência e soberania. Um novo e paralelo mundo, onde literacia e código de ética próprios. Lugar onde viver com intensidade e verdade é essencial para o jogo e a partilha de emoções (Hartmann, Klimmt e Vorderer, 2010). E configura-se a sedução pelo virtual: uma arena em que é dada ao sujeito a oportunidade de conhecer o desconhecido. O modelo de representação dos grupos demonstra que existe um fluxo, de foro psicológico e social, para a adição à Internet. Os tratamentos propostos visam a (re)sociabilização das pessoas envolvidas e a promoção do autocontrole. Desafios da vida real para quem está excessivamente imerso na vida virtual.

Conclusão A crescente necessidade de contacto com a Internet em função da atratividade, novidade e descoberta tem preocupado grande parte dos pesquisadores pela promoção de dependência e isolamento dos indivíduos. No entanto, é facto que existe uma outra corrente de teóricos que entende a Internet como um grande e promissor campo para o franco desenvolvimento da sociedade. As correntes são congruentes e têm sua importância. Não se buscou neste texto fazer qualquer tipo de campanha negativa ou demonizar a Internet. Pelo contrário. Tencionou-se refletir e fazer um alerta com relação à saúde e bem-estar dos usuários pelo uso exagerado do meio on-line. Foi apontado aqui sobre a necessidade constante que os indivíduos têm de interagir com a Internet (Lévy, 1997b: 93-95) e realçou-se que este pode ser um dos fatores que gera dependência e promove o isolamento. No entanto, a pesquisa realizada demonstrou que questões de foro psicológico também são promotoras de dependência. A Internet, por sua natureza sedutora (pelo novo, moderno,...), pode estimular o acesso excessivo, mas, geralmente, ficam adictos os sujeitos psicologicamente propensos. Na realidade, entende-se que os fatores são externos. Esse facto é aceite pela psiquiatria. Essa também é a conclusão dos trabalhos de Young. A propensão está no indivíduo e não na Internet. O efeito é gradiente e não osmótico. A partir desse ponto de vista, entende-se a defesa de Pierre Lévy quando diz que a Internet é uma arena em que é permitida a coordenação das inteligências em tempo real e que atinge uma mobilização efetiva das competências (Lévy, 1997a: 34). Ou seja, para Lévy, a Internet surgiu para promover o desenvolvimento.

Notas 1 Jornalista licenciado no Rio de Janeiro (Brasil) e mestrando em Comunicação Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade Técnica de Lisboa (Lisboa, Portugal). E-mail: gustavosa2010@gmail.com 2Cabe ressaltar que a Internet também promove o convívio social. No entanto, para fins desta análise, entenda-se o termo convívio social como o contacto face-to-face. Ou seja, a interação direta do indívíduo com o outro sem a mediação do computador.

3 O artigo The Lure and Addiction of Life On Line, escrito por Molly O`Neill (1995), foi publicado no New York Times em 08.03.1995.

4 A opção pelo breve questionário (três perguntas) foi pautada em dois critérios: adesão dos usuários e otimização da análise. Pautou-se, principalmente, pela objetividade das respostas, assim como é realizado no Questionário de Diagnóstico (ver Quadro_1), elaborado por Young (1996).


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