Conectando as conexões Luso-Brasileiras
Conectando as conexões Luso-Brasileiras
Introdução a um Quadro de Amnésia
Os últimos quinhentos anos de história são a maior evidência de existência de
conexões lusobrasileiras no âmbito das organizações e da gestão, mais
obviamente no Brasil e em Portugal. Assim como conexões costumam ser definidas
em sociologia (e.g., Cook & Emerson, 1978), as conexões luso-brasileiras
são tão frágeis quanto poderosas. Elas compõem um tecido histórico-geográfico
importante; porém, não são necessariamente visíveis, positivas, ou facilmente
codificáveis e decifráveis. Muitas dessas conexões são conhecidas, muitas
outras estão por serem descobertas. Algumas nos aproximam, portugueses e
brasileiros, outras afastam-nos.
No final das contas, sendo mais ou menos visíveis, codificáveis ou decifráveis,
não há dúvidas que tais conexões existem. Principalmente no Brasil, grande
parte daquilo que experimentamos ou entendemos como organização ou gestão está
relacionado a conexões luso-brasileiras que vêm sendo construídas,
reconstruídas e também destruídas ao longo de séculos. Em Portugal, o cenário
não é muito diferente. Estas conexões vão ainda mais longe, alcançando
Moçambique, Angola e Cabo Verde. Também nas subsidiárias de grandes corporações
dos Estados Unidos da América (EUA), Japão, Alemanha, China, México, Suécia ou
Índia, por exemplo, no Brasil e em Portugal, as conexões lusobrasileiras fazem
parte da realidade das organizações e da gestão.
Apesar disso, vivemos um inquietante e intrigante quadro de amnésia no Brasil e
em Portugal no que diz respeito às conexões luso-brasileiras. Existe um claro
descasamento entre a realidade das organizações e da gestão e o conhecimento
académico produzido nos dois países. Esse descasamento parece afectar ainda
mais os académicos e suas organizações do que os gestores. É muito provável,
por exemplo, que se algumas instituições não estivessem celebrando,
especialmente no Brasil, os duzentos anos da chegada da família real de
Portugal ao país em 2008, a chamada de trabalhos que antecedeu a publicação
deste número especial e esse número especial da Revista Comportamento
Organizacional e Gestãonão teriam ocorrido. Isto ilustra o poder deste quadro
de amnésia entre os acadêmicos de Portugal e Brasil.
Este tipo de amnésia tem-se vindo a ampliar nos últimos anos em diversos países
e regiões devido ao elevado poder alcançado pela tese do fim da história
(Fukuyama, 1992) e pela tese da convergência do capitalismo (Hall &
Soskice, 2001). Essas teses, amplamente difundidas pelos defensores dos
discursos do neoliberalismo ao longo das duas últimas décadas, ofuscam a
importância de abordagens plurais e multiculturais que vêm sendo defendidas por
aqueles que o nos lembram que história e geografia fazem parte da realidade
(Guillén, 2001; Caldas, 1997; Cabral Cardoso, 2006; Ibarra-Colado, 2006, Kelley
et al., 2006).
Devido ao extraordinário poder alcançado por essas teses em quase todos os
cantos do mundo, em especial no âmbito das organizações e da gestão, estamos
certos de que o inquietante quadro de amnésia no contexto luso-brasileiro não
será superado apenas por algumas iniciativas que venham a ser casualmente
catalizadas por instituições que venham a celebrar algum outro evento histórico
lusobrasileiro importante. Muitas outras iniciativas são necessárias para
alterarmos esse quadro de amnésia. Nossa iniciativa deve então ser vista apenas
como uma animada gota num oceano de possibilidades e responsabilidades.
Muitos outros esforços individuais e colectivos devem ser empreendidos para
reconhecermos e lembrarmos que, tendo em vista a extensão e a intensidade da
história luso-brasileira, é difícil agirmos nas organizações ou teorizarmos
sobre organizações e gestão nos dois países sem sermos influenciados por
conexões luso-brasileiras. Devemos ir um pouco além e reconhecer que as nossas
práticas contemporâneas não são apenas influenciadas por essas conexões
históricas; essas práticas também têm o poder de modificá-las, criá-las ou
mesmo destruí-las.
Não importa muito se somos capazes de lembrar, reconhecer ou compreender essas
conexões e as instituições correspondentes que as sustentam no tempo e no
espaço. De uma forma ou de outra, pela porta dos fundos ou pela porta da
frente, tais conexões e instituições - assim como história e geografia o
fazem na era da globalização, apesar do poder alcançado pelas teses do fim da
história e da convergência de capitalismos -se manifestam na realidade e
ajudam a moldar essa realidade (Chang & Clegg, 2002).
O poder latente dessas conexões - a maioria das quais menosprezadas,
esquecidas, ou desconhecidas - ajuda a explicar por que tanto decidimos
voluntariamente (pela força da História) quanto fomos levados a produzir a
chamada de trabalhos que resultou na publicação deste número especial da
Revista Comportamento Organizacional e Gestão. É correcto então afirmar que
instituições luso-brasileiras
- tais como aquelas que destacam a importância dos duzentos anos desde a
chegada da família real portuguesa ao Brasil - são tão ou mais
importantes do que nós, como agentes académicos individuais, para converter o
poder latente das conexões em realidade visível.
A nossa preocupação com as instituições, um traço tipicamente luso-brasileiro,
é explicada pelo entendimento de que conhecimento académico requer o apoio e o
reconhecimento de diferentes tipos de instituição. Uma das razões mais
importantes é o amplo domínio institucional anglo-americano no campo das
organizações e gestão. Esse domínio anglo-americano é sustentado por
organizações académicas, organizações internacionais (como Banco Mundial e
Nações Unidas, por exemplo), pela indústria editorial, pela mídia
especializada, por grandes firmas de consultoria e poderosos think tanks. Uma
outra razão é a posição institucional frágil deste importante campo em relação
a outros campos do conhecimento académico tais como economia, matemática,
engenharia ou sociologia -, especialmente no Brasil e em Portugal (Faria,
2008).
Um Impulso Institucional para Superar a Amnésia
Diferentes autores argumentam que somos influenciados pelas instituições, em
nossas práticas nas organizações. Somos influenciados também por instituições
que inexistem. A inexistência de instituições académicas luso-brasileiras
efectivas, ou a fragilidade das poucas instituições académicas luso-brasileiras
existentes, em relação ao grande poder e alcance de instituições académicas que
envolvem Brasil e Portugal com outros países - em especial a Inglaterra e
os EUA - ajudam a explicar, por exemplo, por que as conexões luso-
brasileiras ainda não receberam a devida atenção por académicos de gestão
desses dois países. É difícil concorrer com as poderosas conexões anglo-
americanas.
Também devemos reconhecer que as instituições académicas não existem (ou
inexistem) no vácuo. O quadro académico de amnésia a respeito das conexões
luso-brasileiras reflecte, em traços gerais, o panorama das ligações e conexões
económicas e políticas entre Brasil e Portugal e o quadro institucional mais
amplo correspondente. Com efeito, os intercâmbios económicos e políticos
ficaram, durante grande parte do último século, muito aquém do que os laços
históricos poderiam sugerir. O mesmo pode ser dito a respeito das instituições
que sustentam, permitem e promovem tais intercâmbios. Na realidade, "tão
próximos e tão distantes", seria uma boa descrição das relações entre os
dois países durante este período, não apenas no que diz respeito às vertentes
económica e política, mas também à vertente cultural (no sentido mais amplo).
Uma retórica de proximidade entre "países irmãos" revela-se afinal
em grande parte ilusória, quando é confrontada com a realidade de
distanciamento entre organizações e entre culturas. Trata-se de uma cultura
"irmã", mas afinal uma irmã tão distante em tantos aspectos, como
reconhecido até mesmo por Geert Hofstede (holandês de nascimento).
É possível afirmar então que o quadro académico de amnésia no contexto luso-
brasileiro está relacionado com um quadro institucional complexo, multifacetado
e poderoso. Apenas os esforços feitos por instituições académicas não serão
suficientes para alterar esse quadro de forma substancial. Obviamente,
entretanto, o Encontro Anual da ANPAD poderia introduzir uma área especial
focada nas conexões lusobrasileiras; o mesmo pode ser feito no âmbito do
LAEMOS, ou mesmo da Academy of International Business, do EGOS, ou da Academy
of Management.
Também é possível que periódicos académicos no Brasil sigam o exemplo da
Revista Comportamento Organizacional e Gestãoe produzam chamadas de trabalhos
especiais, focadas em tipos específicos de conexão luso-brasileira. Por
exemplo, o esforço pioneiro da Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão,
editada conjuntamente pelo ISCTE e pela Fundação Getulio Vargas há mais de
cinco anos, pode passar a ser reconhecido como de central importância pelas
instituições nacionais que classificam os periódicos em rankingsespecíficos.
Também é possível que o intercâmbio entre pesquisadores portugueses e
brasileiros no campo da gestão seja efectivamente valorizado pelas principais
instituições de pesquisa académica nos dois países, tais como o CNPq, a Capes e
a FTC.
Entretanto, não devemos esperar que um movimento académico que defenda o
resgate e reconhecimento das conexões luso-brasileiras nos âmbitos das
organizações e da gestão - tendo em vista o contexto institucional mais
amplo que ajuda a explicar o quadro de amnésia corrente - seja efectivo
em sua total potencialidade se não considerarmos a necessidade de que outras
instituições sejam mobilizadas. Na prática, a (re)conexão das conexões luso-
brasileiras exige que, primeiramente, as mesmas sejam valorizadas.
Em Busca da Valorização das Conexões
No Brasil e em Portugal as conexões luso-brasileiras estão associadas a três
conceitos fundamentais: paradoxo, ambivalência e ambiguidade. Reconhecer estes
conceitos e decifrar os seus significados específicos são actos ou movimentos
necessários não somente para compreendermos a importância de produção,
publicação e difusão de conhecimento académico focado nessas conexões, mas
também para sermos capazes de mobilizar outras instituições no sentido de
reconhecerem a importância e o valor das mesmas.
De facto, substituir o quadro de amnésia por um quadro de valorização das
conexões luso-brasileiras é importante não somente para académicos e
instituições académicas no âmbito dos estudos organizacionais e da gestão em
Portugal e no Brasil. É fundamental ressaltarmos que tais conexões são
importantes também para um grande número de analistas e profissionais -
de organizações privadas, públicas e não-governamentais - e diversos
outros actores e instituições dos países que constituem (ou podem constituir) a
complexa geografia luso-brasileira de organizações e gestão.
Além disso, as conexões luso-brasileiras não são importantes somente no Brasil
e em Portugal para organizações brasileiras e portuguesas, respectivamente. As
conexões luso-brasileiras são de crescente importância para organizações
portuguesas no Brasil e de organizações brasileiras em Portugal, tendo em vista
o crescente volume de investimentos directos estrangeiros feitos por empresas
portuguesas no Brasil e por empresas brasileiras em Portugal nos últimos dez
anos. Além do mais, essas conexões são muito importantes para a compreensão e
desempenho de subsidiárias num crescente número de países e regiões em que
empresas de Portugal e do Brasil passaram a operar na era da globalização.
Correspondentemente, tais conexões são muito importantes para a compreensão e
gestão de subsidiárias de empresas de todos os cantos do mundo que operam no
Brasil e em Portugal.
Em termos menos directos, a construção de um quadro de valorização das conexões
luso-brasileiras é importante também para explicar por que razão as teses de
fim de história e de convergência difundidas por poderosas conexões anglo-
americanas não são capazes, em termos gerais, de moldar as organizações e as
instituições na era da globalização, e, em termos específicos, de moldar o
campo do conhecimento académico em gestão.
Voltemos então aos três conceitos fundamentais. Paradoxo é o primeiro conceito
que emerge quando pensamos nas conexões luso-brasileiras. Tanto no Brasil como
em Portugal sabemos da importância do histórico intercâmbio entre os dois
países para a constituição, para o desempenho e para a gestão das suas
organizações. Paradoxalmente, entretanto, refletindo o estranho quadro de
amnésia mencionado anteriormente, não existe literatura correspondente no campo
da gestão. Contribui de forma decisiva para esse quadro paradoxal a
inexistência de disciplinas de história e de geografia no currículo dos cursos
de gestão nos dois países. Além disso, as disciplinas de gestão internacional
ou negócios internacionais, as quais poderiam reconhecer e explorar as conexões
luso-brasileiras, tornam esse quadro ainda mais problemático pelo facto de a
grande maioria dos livros-texto ser produzida nos EUA (Guedes & Faria,
2007). Ademais, temos que lidar com a crescente influência das conexões anglo-
americanas na definição dos curriculadas escolas de gestão e nos sistemas de
avaliação e acreditação. Finalmente, não podemos esquecer a fragilidade ou a
inexistência de intercâmbios luso-brasileiros e instituições correspondentes
que poderiam ser esperados em função da extensão e da intensidade da história
luso-brasileira.
Ambivalência é o segundo conceito. Uma teoria do âmbito das redes sociais
argumenta que o relacionamento entre dois actores não pode ser compreendido
apenas por meio da análise desse relacionamento específico. É fundamental o
reconhecimento das redes de relacionamentos para a compreensão de determinado
relacionamento, o relacionamento entre dois actores é afectado pelos
relacionamentos de cada um desses actores com outros actores. No final de
contas, relacionamentos são complicados porque os mesmos estão positiva ou
negativamente conectados entre si. Por meio dessa bagagem teórica podemos
afirmar que o relacionamento académico entre portugueses e brasileiros está
negativamente conectado aos fortes relacionamentos entre brasileiros e
americanos e entre portugueses e anglo-saxónicos. De facto, a extensão e a
intensidade desses outros relacionamentos ajudam a explicar a extensão e a
intensidade do relacionamento entre portugueses e brasileiros no âmbito dos
estudos organizacionais e da gestão.
Ambiguidade é o terceiro conceito. As conexões luso-brasileiras são tratadas de
forma ambígua, de acordo com a conveniência dos utilizadores. Por exemplo, no
Brasil a má gestão é pejorativamente chamada de 'gestão lusitana'.
Por outro lado, organizações e modelos de gestão mais 'humanos' são
explicados como sendo resultado das virtuosas influências culturais dos
portugueses. Corrupção na administração pública, por exemplo, sempre é
associada no Brasil à influência histórica dos portugueses. Ao mesmo tempo em
que as virtudes do procjeto de colonização portuguesa no Brasil são tidas como
responsáveis pela capacidade das organizações e instituições brasileiras de
lidar com paradoxos e multiculturalidade, é usual argumentarmos que o Brasil
teria sido um país muito mais desenvolvido se tivéssemos sido colonizados por
holandeses ou franceses.
Em termos mais recentes, o extraordinário êxito de alguns 'produtos
culturais' brasileiros em Portugal (incluindo, por exemplo, a telenovela,
a música e o futebol) é tido por muitos tanto como um claro exemplo do êxito de
determinado projecto de lusofonia bem como um inaceitável processo de
colonização da metrópole por uma ex-colónia. Isso é ainda mais grave porque a
posição 'arcaica' de Portugal no cenário contemporâneo de
globalização e pós-modernidade (Carioca, Diniz & Pietracci, 2004) costuma
ser atribuída ao passado de colonização por alguns analistas portugueses (Gil,
2004). No final das contas, o maior problema é que, em termos líquidos, a
faceta ou atribuição negativa predomina amplamente. As conexões concorrentes,
notadamente a anglo-americana, se beneficia desse quadro.
No entanto, a globalização, a imaterialização da economia e a integração das
economias portuguesa e brasileira em grandes blocos económicos - tais
como a União Europeia e o Mercosul - sugerem novos desafios e
oportunidades. Em termos de novos desafios há a crescente internacionalização
das organizações (ditada pela globalização da economia - iniciada pelos
portugueses a partir do século XV), que obriga a criação e o uso de modelos
contextualizados para diferentes circunstâncias geográficas e culturais.
Correspondentemente, podemos destacar a crescente internacionalização dos
académicos e da academia de gestão.
Em termos específicos de novas oportunidades, podemos destacar os programas de
intercâmbio universitário e académico, onde a experiência e o contacto entre
países como Portugal e Brasil, com experiências e contactos simultaneamente tão
semelhantes e tão díspares podem lançar as sementes para identificação e
resolução de problemas comuns, como seja a falta de identidade, a procura de um
role modelda gestão, ou os desafios das forças de neocolonização. Tais
intercâmbios podem não apenas levar-nos ao reconhecimento das conexões luso-
brasileiras, como também promover novas conexões. Enfim, podem permitir a
abertura de "novos mundos ao mundo".
"A visão de Portugal como passado do Brasil e do Brasil como futuro de
Portugal, condensada em expressões como 'Portugal, meu avozinho' de
Manuel Bandeira ou num destino anunciado em 'Fado Tropical' de
Chico Buarque e Ruy Guerra cede com o tempo ao simbolismo horizontal da
irmandade… deveríamos nos perguntar quais os interesses, os valores ou
objetivos comuns de que podem se valer Portugal e Brasil em um posicionamento
conjunto?" (Caetano da Silva, 2006)
Este pano de fundo ajuda a explicar porquê e como construímos a chamada de
trabalhos sobre 'conexões luso-brasileiras em organizações e
gestão'. A chamada foi norteada pelas seguintes questões: (a) O que são
conexões luso-brasileiras de organizações e gestão e como elas devem ser
investigadas? (b) Quais são as principais influências das conexões luso-
brasileiras em organizações públicas e privadas no Brasil, em Portugal e em
outros países em que operam organizações desses países? (c) Como a investigação
dessas conexões pode ajudar os dois países a promover a construção de
organizações e modelos de gestão mais adequados? (d) Até que ponto e como tais
descobertas podem ser úteis para desafiarmos a hegemonia do conhecimento
alcançado pelas conexões anglo-americanas? (e) Como a valorização das conexões
luso-brasileiras em um mundo globalizado pode ser útil para a promoção de
conexões mais sólidas com outros países e regiões?
Ao longo dos últimos meses recebemos um número surpreendente de consultas a
respeito da chamada, o que reflete em grande parte a natureza central do nosso
movimento: construir e legitimar um campo inovador de estudos no âmbito da
Gestão. Recebemos, por outro lado, um grande número de trabalhos interessantes
que não se enquadravam bem nos objectivos da chamada, apesar de serem trabalhos
que podem ser publicados por periódicos importantes nos dois países (incluindo
a própria Revista Comportamento Organizacional e Gestão!). Felizmente, um
razoável número de trabalhos igualmente interessantes alinhou com os objectivos
centrais da chamada.
A importância do movimento foi habilmente reconhecida pelo Director da Revista,
Prof. Jorge F. S. Gomes. Ao invés de publicar trabalhos que não correspondessem
bem aos objectivos centrais do número especial, fomos incentivados pelo
Director a adicionar aos trabalhos selecionados artigos da nossa autoria. Por
outras palavras, enquanto Editores, fomos conduzidos à responsabilidade de
impulsionar o campo em constituição 'pela porta da frente' enquanto
autores. Por essa razão, antes de apresentarmos os trabalhos que compõem este
número especial, e evitando algum efeito injustificado de amnésia, registramos
aqui nosso especial agradecimento à extrema paciência e competência do Director
da Revista, Prof. Jorge F. S. Gomes, para lidar com desafios institucionais que
este tipo de movimento ou projecto tem de enfrentar.
Os dois primeiros artigos desafiam a hegemonia do conhecimento académico em
estratégia de marketing e em negócios internacionais alcançado por conexões
anglo-americanas, para sustentar que a valorização das conexões luso-
brasileiras num mundo globalizado pode promover conexões mais sólidas com
outros países e regiões.
Assim, no primeiro artigo, Alexandre Faria, desafia investigadores do contexto
luso-brasileiro, em especial em Portugal e no Brasil, a promover a construção
de uma perspectiva luso-brasileira no âmbito da estratégia de marketing tanto
em termos domésticos quanto em termos internacionais, contra o argumento que o
âmbito da estratégia de marketing está obsoleto.
No segundo artigo, Ana Lucia Guedes descreve e analisa novas oportunidades no
âmbito dos negócios internacionais no contexto luso-brasileiro, sustentando que
a intensificação das conexões luso-brasileiras em termos de fluxos de
investimentos requer estudos interdisciplinares entre os âmbitos de economia
política internacional, negócios internacionais e gestão internacional.
Os dois artigos seguintes têm como preocupação dominante aprofundar compreensão
de semelhanças e diferenças entre gestores/empreendedores em Portugal e no
Brasil, comparação justificada pela intrincada história comum, na tentativa de
compreender um pouco melhor o poder latente dessas conexões luso-brasileiras.
Desta forma, no terceiro artigo, Maria Luisa Teixeira e Silvia De Domenico,
comparam a estrutura de valores relativos a sentido de vida de gestores
brasileiros e portugueses. No quarto artigo, Marco Monteiro da Silva, Manuela
Faia Correia, Marc Scholten e Luiz Autran, comparam as orientações
empreendedoras de empreendedores-proprietários de empresas em incubadoras no
Brasil e em Portugal.
Ambos os artigos mostram que somos influenciados pelas conexões históricas, mas
as nossas práticas também têm o poder de modificá-las, criá-las ou destruí-las.
Como um aperitivo para o leitor, o quinto artigo, por Caio Miralles, Luis Neto
e Valentina Schmitt, tem como objectivo analisar características inerentes à
gestão da marca "Vinho do Porto", destacando a perspectiva da
"marca-país" e relevância da gestão desta como vantagem
competitiva. Os autores estabelecem paralelismo entre a "marca-
país" de Portugal e as que poderiam ser "marca-país" do
Brasil. Salientando a importância da gestão de marcas carregar as
características reais do produto e de toda a realidade que o cerca, buscando
uma identidade única e o do papel dos arranjos produtivos enquanto provedores
de desenvolvimento numa economia local. Será este um primeiro passo para a
construção de uma perspectiva luso-brasileira no âmbito da Gestão, tanto em
termos domésticos quanto em termos internacionais?
Porque é nossa crença ser importante dar a conhecer neste tipo de plataformas o
que se vai produzindo na academia em Portugal e no Brasil, o sexto e o sétimo
artigos, apesar de fugirem ao escopo da chamada, foram incluídos. Assim, Rafael
Alcadipani apresenta um ensaio sobre a noção de governametalidade nas obras de
Michel Foucault e discute as possíveis contribuições dessa noção para a
compreensão das dinâmicas de poder em contexto organizacional. No sétimo
artigo, José Luís Nascimento, Albino Lopes e Maria de Fátima Salgueiro,
propõem-se a validar no contexto português o "Modelo das Três-
Componentes" de comprometimento organizacional de Meyer e Allen (1991,
1997).
Alexandre Faria1
Manuela Faia Correia2
Ana Guedes1
Clovis L. Machado-da-Silva3
Carlos Cabral-Cardoso4
1EBAPE-FGV
2 Universidade Lusíada Lisboa
3UnicenP-CEPPAD/UFPR
4Universidade do Minho