Os senhores da crise
As crises não são obra do acaso nem constituem fatalidades inerentes ao
funcionamento do sistema capitalista. Ao contrário, elas são o resultado da
actividade de agentes económicos que, em determinados momentos, se encontram em
posição e dispõem de meios para se aproveitar das falhas do sistema, mesmo que
isso colida com a preservação do interesse colectivo.
Neste artigo, a primeira secção sugere que existe uma classe de pessoas, que,
aliás, constitui uma oligarquia, que, desde a formação do sistema capitalista,
está persistentemente associada à ocorrência de crises. Na segunda secção
expõem-se algumas das razões que levaram à desregulamentação dos mercados
financeiros e recordam-se as principais consequências que daí advieram para o
funcionamento desses mercados. A terceira secção mostra, resumidamente, como,
num ápice, se passou da prosperidade à recessão económica. A quarta secção dá
conta das reacções à crise, nomeadamente dos esforços desenvolvidos para
impedir o colapso do sistema financeiro e da economia mundiais. E, finalmente,
na quinta secção, sintomaticamente intitulada «O epicentro da crise», sublinha-
se o nefasto papel que as ideias liberais e o modelo de desenvolvimento dos EUA
desempenharam em todo este processo que deixou o mundo à beira do abismo.
OS BANKSTERS
Em inglês, a palavra bankster é um neologismo derivado da fusão dos
substantivos bankere gangster, duas palavras que denominam profissões/
actividades que, não raras vezes, mostraram ter inesperadas afinidades. Os
banksterssão banqueiros que se envolvem em dodgy dealings, ou seja, negócios
duvidosos, evasivos, questionáveis, suspeitos, incompreensivelmente complicados
ou mesmo ilegais
[2]
.
O termo bankstersapareceu nos EUA na década de 1930, no rescaldo do crash das
bolsas de valores, que levou à falência milhões de pequenos investidores e que
esteve na origem dos graves problemas económicos e sociais a que os
historiadores chamaram a Grande Depressão.
O termo terá sido inventado por Ferdinand Pecora, um conceituado advogado e
juiz americano que ficou famoso enquanto Chief Counsel do Senate Committee on
Banking and Currency durante as investigações sobre o papel desempenhado pelas
instituições financeiras de Wall Street no desencadeamento do crash.As
investigações de Pecora puseram a descoberto provas de incontáveis
irregularidades cometidas pelos tais banksters nos mercados financeiros que,
invariavelmente, tinham a particularidade de beneficiar um círculo
relativamente restrito de pessoas ricas e poderosas e de prejudicar um grande
número de investidores comuns.
Foi na sequência das investigações de Pecora que o Congresso aprovou o
Securities Act of 1933 e o Securities Exchange Act of 1934, duas leis federais
destinadas a disciplinar os mercados de títulos.
Em 1934, já depois de terminadas as investigações aos mercados financeiros, o
Presidente Roosevelt nomeou-o Commissioner da então recém-criada Securities and
Exchange Commission (SEC), instituição onde permaneceu pouco tempo, até Janeiro
de 1935, quando preferiu aceitar o cargo de juiz do New York State Supreme
Court.
Em 1939, Pecora escreveu um livro, ainda hoje considerado exemplar, intitulado
Wall Street Under Oath: The Story of Our Modern Money Changers, onde relatou a
sua experiência à frente do Senate Committee on Banking and Currency.
Os teóricos do conspiracionismo não desdenhariam da ideia de que os que hoje
são denominados banksters terão sido uma criação dos illuminati, que remonta ao
tempo das repúblicas italianas, quando a base financeira do sistema capitalista
começou a adquirir complexidade e poder. Tratar-se-ia de grupos de pessoas
especialmente habilitadas a lidar com questões financeiras e que estavam ao
serviço de sociedades secretas que se atribuíam a tarefa de gerir,
secretamente, os destinos do mundo.
Em 1816, ao declarar que «( )as instituições bancárias são mais perigosas do
que exércitos em armas( )», Thomas Jefferson pressentiu a presença nefasta dos
antepassados dos banksters no sistema financeiro de então e antecipou e
denunciou o papel negativo que estes poderiam vir a protagonizar na construção
do presente e na projecção do futuro dos EUA e do mundo
[3]
.
Os sucessivos «pânicos» financeiros ocorridos ao longo do Séc. XIX e no início
do Séc. XX, tanto nos EUA como na Europa, como no resto do mundo (1819, 1825 '
falência de vários bancos ingleses e quase falência do Banco de Inglaterra;
1837, 1857, 1869, 1873, 1882 ' crash da bolsa de Paris; 1884, 1893 e 1896,
1901, 1907, 1910 ' crise da bolsa de mercadorias de Shangai; 1929 ' crash da
Bolsa de Nova Iorque), com os seus infindáveis cortejos de crashes, falências
de bancos, recessões económicas e correspondentes problemas sociais, não
fizeram senão confirmar os receios de Jefferson de que o sistema financeiro era
dominado por banqueiros gananciosos e sem escrúpulos, exclusivamente motivados
pelos seus objectivos de enriquecimento pessoal, aos quais só faltava dar um
nome que, finalmente, lhes foi atribuído por Pecora no rescaldo da Grande
Depressão.
São estas pessoas cada vez mais ricas, mais poderosas, mais organizadas e mais
influentes (banksters e também especuladores internacionais e aventureiros) que
se encontram associadas umas vezes ao desencadeamento, outras vezes ao
desenvolvimento e quase sempre ao aproveitamento de crises financeiras mais
recentes, com destaque para o crash da Bolsa de Londres, subsequente ao aumento
dramático do preço do petróleo agravado pela greve dos mineiros e pela queda do
governo de Heath (1973-1974); a chamada crise da dívida da América Latina com
origem no México (1980); a célebre crise das Savings & Loans(S&L) nos
EUA, que levou à falência 747 entidades financeiras e custou aos contribuintes
americanos mais de 160 biliões de dólares (1989-1991); o colapso da bolha
especulativa no Japão, que provocou um longo processo deflacionista e ainda
hoje faz sentir alguns dos seus perniciosos efeitos (1990s); os ataques
especulativos a moedas do Mecanismo das Taxas de Câmbio do Sistema Monetário
Europeu (1992-1993); a crise económica do México, provocada por um violento
ataque especulativo ao peso mexicano, que conduziu ao incumprimento do serviço
da dívida do país e o deixou à beira da ruína (1994-1995); a crise financeira
asiática provocada por um sell-off especulativo generalizado, que teve
repercussões ruinosas na Tailândia, em Hong-Kong, na Coreia do Sul e mercados
adjacentes, levando a desvalorizações de moedas e a crises bancárias um pouco
por toda a Ásia (1997-1998); a crise financeira da Rússia, que provocou a
desvalorização do rublo e o incumprimento da dívida russa (1998); a crise das
dot-com, resultante do colapso da bolha tecnológica (2000); a crise económica
argentina, que provocou o colapso do sistema financeiro argentino, levou ao
incumprimento da dívida e destruiu a classe média argentina (1999-2002); a
chamada Correcção Chinesa, provocada por inesperados sell-offsque levaram a uma
queda significativa do Shangai Stock Exchange Composite Índex, que, por sua
vez, provocou a queda das bolsas mundiais (2007); e, finalmente, a crise que
estamos vivendo e cujo fim não se vislumbra, a chamada Crise Financeira Global.
Esta foi desencadeada pelo rebentamento da bolha imobiliária nos EUA, para cedo
se transformar numa crise do crédito a nível mundial, deixando os sistemas
bancários julgados mais sólidos à beira do colapso, o que abriu a porta a uma
recessão generalizada cuja evolução está longe de ser controlada e onde, em
lugar da tão apregoada «mão invisível», mais do que em qualquer outra grande
crise do sistema capitalista mundial, é notória a influência da «mãozinha
predadora» dos banksters e dos seus acólitos de ocasião (2007- ).
O QUE É BOM PARA WALL STREET É BOM PARA A AMÉRICA?
A seguir à Grande Depressão e ao longo dos anos, a Administração americana
adoptou várias leis federais destinadas a disciplinar a actividade das
instituições financeiras. O Glass-Steagall Act de 1933 e o Bank Holding Company
Act de 1956 foram das mais influentes. No seu conjunto, estas leis
estabeleceram um princípio de especialização de actividades que levou a uma
clara separação das actividades dos bancos, das companhias de seguros e das
empresas que transaccionavam títulos. O sector passou a ser constituído por
bancos de poupança, bancos comerciais, bancos de investimento, empresas de
corretagem, fundos mútuos, empresas hipotecárias e companhia de seguros, todos
eles operando no exclusivo contexto determinado pelas respectivas leis.
Durante várias décadas, o sector desempenhou satisfatoriamente as suas funções
e contribuiu para uma significativa estabilização dos mercados financeiros.
Desde o princípio dos anos 1980, porém, com a subida ao poder de Ronald Reagan,
as ideias liberais ganharam um novo fôlego. A crença na eficiência e na auto-
regulação dos mercados, associada a uma multiplicidade de factores de ordem
política, justificaram um impressionante processo de desregulamentação dos
mercados onde avultam: a insistência na liberalização dos movimentos de
capitais a nível mundial; a revogação das leis do tempo da Grande Depressão e
similares; a oposição do Congresso à regulamentação dos mercados de derivados,
com destaque para os credit-default swaps (o célebre caso Brooksley Born, que
abordaremos noutra sede); o significativo aumento do leverage permitido aos
bancos de investimento; a moderação da acção da SEC enquanto regulador dos
mercados financeiros; a promoção de acordos internacionais destinados a
conceder aos bancos competências na determinação do grau de risco das suas
próprias operações; e, finalmente, uma falha intencional de proceder à
actualização atempada das leis crescentemente incapazes de acompanhar o
impressionante avanço da chamada inovação financeira
[4]
.
Neste novo contexto institucional, progressivamente liberta das restrições dos
tempos da Grande Depressão, a indústria financeira começou por empreender um
imparável processo de concentração empresarial.
Numa primeira e prolongada fase, os alvos foram as pequenas empresas regionais
e locais (bancos de poupança, bancos comerciais, bancos de investimento,
empresas de corretagem, fundos, empresas hipotecárias e companhias de seguros),
que desapareceram na sua grande maioria absorvidas pelas grandes instituições
financeiras de Wall Street. O processo de concentração foi tão ostensivamente
assumido, que nem o conhecido escândalo das chamadas S & L, já referido
acima (que ocorreu entre finais dos anos 1980 e princípios dos anos 1990 e foi
o resultado da desregulamentação da actividade destas thrifts), serviu, ao
menos, para parar e pensar um pouco! Diga-se de passagem que a história das S
& L antecipou, no seu tempo e à sua escala, muitos dos problemas que
estiveram na origem da recessão em que o sistema mundial está mergulhado. Nunca
é de mais recordar que a actual crise começou por ser uma crise do sector
imobiliário, que cedo se transformou numa crise do crédito bancário, que deu
lugar a uma crise financeira, primeiro, localizada e, depois,
internacionalizada, que redundou numa recessão que se espera não passe disso!
Numa segunda fase, mais recente, nem algumas das grandes empresas escaparam ao
processo de concentração, como é o caso da Countrywide Securities e da Merril
Lynch, ambas engolidas pelo Bank of América (a última com a prestimosa e, ao
que parece, ilegal ajuda do Secretário do Tesouro Paulson) e do Bear Sterns,
que se diluiu no J. P. Morgan Securities. Isto para não falar da falida e
desaparecida Lehman Brothers, que foi uma notória vítima de todo este processo.
O que é um facto é que, em 1988, havia 46 primary dealerse, hoje, só há 16,
onde se destacam o Citigroup, o JPMorgan Chase & Co., o Bank of America, o
Goldman Sachs e o Morgan Stanley. Enquanto primary dealers, estas instituições
participam nas operações de mercado aberto do FED e são clientes habituais dos
seus leilões, onde habitualmente são convidados a subscrever montanhas de
títulos do Tesouro. Por outras palavras, sem estas poderosas instituições,
muito apropriadamente consideradas to big to swallow/to big to fail, a
Administração americana veria seriamente afectada a sua capacidade para captar
recursos destinados ao financiamento das suas actividades correntes.
Em paralelo com este processo de concentração, nos anos 1980, quando a
volatilidade das taxas de juro tornou o negócio das obrigações altamente
rentável, a indústria financeira, ao mesmo tempo que ganhava muito dinheiro,
desencadeou um vasto processo de modernização e inovação, inventando a
titularização, os swaps de taxas de juro e de créditos mal parados, as mais
variadas formas de produtos derivados e por aí fora. Por essa altura, os baby-
boomers, ainda eles, estavam ricos e, ao entrar na reforma, desataram a
investir em títulos, no que foram seguidos por outras largas camadas da
população americana mais abastada.
No seu conjunto, todos estes desenvolvimentos criaram enormes oportunidades e
generosos lucros no sector dos serviços financeiros, que se transformou numa
indústria altamente lucrativa.
O boomcomeçou nos anos de Reagan, mas só ganhou força nas Administrações de
Clinton e Bush e, claro, as grandes beneficiárias foram as instituições de Wall
Street. Senão vejamos: entre 1973 e 1985, o sector financeiro nunca ganhou mais
do que 16% dos lucros totais das empresas americanas; em 1986, este número
atingiu os 19%; nos anos de 1990, oscilou entre os 21% e os 30%; nesta década
chegou a atingir os 41%.
As compensações pecuniárias dos agentes do sector, bónus e golden parachutes
não incluídos, também evoluíram generosamente. Entre 1948 e 1982, elas variaram
entre 99% e 108% da média das compensações praticadas no total das indústrias
privadas americanas. Desde 1983, essa percentagem não cessou de crescer, tendo
atingido 181% em 2007
[5]
.
A enorme riqueza criada e acumulada pela indústria financeira americana nestes
últimos 25 anos, que no pico do sucesso terá atingido 50% da riqueza criada nos
EUA, constitui motivo de reflexão. Por um lado, ela demonstra que os mercados
desregulamentados detêm um elevado potencial de eficiência. Por outro lado, uma
vez que tudo acabou tão mal, também demonstra que, na ausência de regulação, a
eficiência dos mercados é efémera e que a sua auto-regulação é uma ilusão que
não funciona em tempos de instabilidade.
Do que não restam dúvidas é que esse processo de acumulação de riqueza concedeu
aos banqueiros um imenso peso político, cuja influência foi crescendo ao longo
dos anos. Nos nossos dias, essa influência faz-se sentir, inclusive, no
processo de reforma do sistema financeiro americano, que alguns observadores
atentos não hesitam em classificar como lento, pouco transparente e pouco
interessado em renovar a oligarquia financeira e moralizar os seus privilégios.
COMO SE PROVOCA UMA CRISE
O forte crescimento económico verificado a partir de meados da década de 1990,
mesmo depois do «9/11», criou em muita gente responsável a ilusão de que tão
favorável estado de coisas podia ser prolongado, consistentemente, por muitos
mais anos. Foi um período caracterizado por baixas taxas de inflação, baixas
taxas de juro e abundante liquidez. O volume de crédito subiu em flecha e,
naturalmente, os preços de todos os tipos de activos também subiram. Porém (e
aqui começam os problemas), como as taxas de inflação se mantiveram baixas, os
bancos centrais, especialmente nos EUA, não sentiram necessidade de subir as
taxas de juro e, nestas circunstâncias, os países, as empresas, as famílias e
os indivíduos transformaram o endividamento e a especulação num modo de vida
que parecia não ser arriscado
[6]
.
Nos EUA, quando o Presidente Clinton resolveu ajudar as famílias de mais baixos
rendimentos a possuir casa própria, o crédito hipotecário, sobretudo o tal sub-
prime (porque concedido sem grandes preocupações de avaliação do risco
inerente), disparou e criou as condições que faltavam para que se começasse a
formar uma perigosa e generalizada bolha imobiliária. Como os preços das casas
continuavam a subir por força das facilidades e do correspondente aumento da
procura, milhões de pessoas passaram a dedicar-se à especulação imobiliária
comprando casas que tencionavam vender mais tarde realizando, supunham elas,
chorudas mais-valias.
O fenómeno agravou-se com a entrada em cena da imaginosa inovação financeira.
Apesar de os níveis de liquidez serem elevados, as instituições financeiras
começaram a titularizar tudo o que era dívida, sobretudo a hipotecária, mas
também o crédito ao consumo. Para esse efeito, converteram os seus empréstimos
a terceiros em MBS/ABS (mortgage or asset backed securities), subsequentemente
transformadas em CDO/CDS (collaterised debt obligations or escurities), que
eram produtos financeiros de alto risco e de alto rendimento, que, por terem
muita procura (Wall Street comprava tudo sem sequer querer saber do que se
tratava), foram posteriormente vendidos em todo o mundo, frequentemente através
dos chamados SPV (special purpose vehicles), instituições subsidiárias
destinadas a isolar o risco de certas operações ou negócios e dos SIV
(structured investment vehicles), uma espécie de fundos mobiliários inventados
pelo Citigroup em 1988
[7]
. Deste modo, os lenders iniciais não corriam riscos. E, uma vez que quanto
mais vendiam mais ganhavam, naturalmente, fizeram explodir o crédito. No
preciso momento em que emprestavam o dinheiro aos incautos, vendiam as dívidas
aos bancos, sobretudo aos bancos de investimento, que as «empacotavam» em
produtos «complexos», não raras vezes constituídos por várias camadas de CDO/
CDS que, depois de devidamente «abençoados» pelas sociedades de rating, se
tornavam altamente apetitosos
[8]
. Estes produtos foram vendidos por uma miríade de redes de agentes das
empresas de Wall Street, quando não por elas próprias, nos mais recônditos
lugares do mundo. Foi a maneira como este modelo originate-to-distributese
desenvolveu que subverteu a relação tradicional entre os devedores e os
credores. No pico da euforia todos deixaram de se preocupar com as dívidas para
se concentrar na evolução dos preços das casas e dos produtos complexos.
Deste modo, a enorme liquidez derivada da venda dos produtos complexos veio,
assim, juntar-se à liquidez já existente, reforçando o processo especulativo
que, entretanto, se tornou imparável.
A «brincadeira» durou até 2004. Nesse ano, Greenspan, o presidente do FED,
percebeu finalmente que tinha de fazer qualquer coisa. Ele que, ao longo dos
anos, foi um dos principais responsáveis pela desregulamentação dos serviços
financeiros e que, mais recentemente, se tinha negado, inclusive, a admitir que
havia uma enorme bolha imobiliária em formação, teve de mexer nas taxas de
juro.
Quando a taxa de referência passou de 1% em 2004 para 5,35% em 2006, o mercado
imobiliário ressentiu-se de imediato. As pessoas de baixos recursos, que já
tinham dificuldades em pagar as prestações das hipotecas quando as taxas de
juro eram baixas, viram-se impossibilitadas de honrar os seus compromissos. As
pessoas que se tinham endividado para comprar casas com intuitos especulativos
também ficaram em apuros, porque, entretanto, os preços das casas baixaram
substancialmente e as perspectivas de realização de mais-valias esfumaram-se.
Os investidores que tinham apostado nos produtos «complexos» começaram a sofrer
perdas significativas. Os bancos ficaram com montanhas de CDO por colocar. O
crédito malparado subiu em flecha. Os bancos começaram a desconfiar uns dos
outros e deixaram de emprestar dinheiro uns aos outros. Foi a fase do credit
crunch.
Entretanto, o impacto da crise fez-se sentir de imediato fora das fronteiras
dos EUA, sendo o Reino Unido o país mais afectado. Os bancos de investimento
sofreram perdas astronómicas. Numerosas firmas cancelaram a venda de produtos
financeiros «avaliados» em biliões de dólares.
O FED e o BCE tentaram animar os mercados monetários disponibilizando fundos de
curto prazo em condições favoráveis, sem, contudo, obter os resultados
pretendidos. O FED e o BofE e, bastante mais tarde, o BCE começaram a baixar as
taxas de juro na esperança de encorajar os bancos a emprestar dinheiro uns aos
outros e às empresas do sector produtivo, no que também não são foram bem
sucedidos.
Os fantasmas da deflação e da recessão começaram a povoar o imaginário dos
media.
O Northern Rock, um pequeno banco inglês especializado no crédito imobiliário,
não conseguiu obter um empréstimo vital para a sua sobrevivência e foi vítima
de uma corrida aos seus balcões (a primeira em 140 anos no Reino Unido), que
culminou com levantamentos da ordem dos 2 biliões de libras. Posteriormente, o
banco foi nacionalizado (noutra sede veremos como os problemas do Northern Rock
se repercutiram em numerosos bancos americanos, tais como o Citigroup e o
Merril Lynch). Nos EUA, o quase colapso do Bear Sterns agravou a crise de
confiança no sector financeiro americano e anunciou o fim dos bancos de
investimento.
A crise atingiu o auge quando o Lehman Brothers abriu falência em Setembro de
2008. Nessa altura, soaram os alarmes e o Secretário do Tesouro Paulson, sem
saber muito bem o que fazer, tirou da cartola o célebre Troubled Assets Relief
Program 'TARP, que, depois de um parto difícil, mostrou ser um grande flop.
No Reino Unido, o governo lançou um vasto programa de intervenção em oito dos
maiores bancos ingleses.
Por todo o lado, os governos das economias afectadas pela crise do crédito
desdobraram-se em iniciativas para aliviar os problemas.
Os bancos centrais dos principais países industrializados, numa atitude sem
precedentes para combater a crise, decidiram baixar as respectivas taxas de
juro em meio ponto percentual.
E assim por diante
As coisas só acalmaram na Cimeira do G20 de Londres, em Abril deste ano de
2009, quando os responsáveis das vinte maiores economias mundiais declararam
estar dispostos a não olhar a meios para estabilizar o sistema financeiro
internacional e para reanimar a economia mundial.
Menos de três meses depois da Cimeira do G20, porém, os progressos alcançados
são modestos. Outra coisa não seria de esperar. A menos que as astronómicas
quantidades das dívidas dos países, dos bancos, das empresas, das famílias e
dos indivíduos, quer se trate das dívidas declaradas, quer se trate das dívidas
escondidas, se tenham evaporado, os problemas vão continuar e estão para durar.
Um indicador indesmentível deste estado de coisas é o comportamento das bolsas
de valores mundiais, que, depois de terem desvalorizado mais do que 40%,
encetaram um processo de recuperação, mas continuam a evidenciar muito
nervosismo e muita volatilidade.
E convém não esquecer que a economia real está em recessão. O consumo estagnou.
O investimento regrediu. O comércio internacional está em perda. O flagelo do
desemprego atinge todos os países. As pressões sobre os sistemas de segurança
social são generalizadas. O espectro do proteccionismo é cada vez mais real. E,
para ajudar, só faltava mesmo a epidemia da «gripe mexicana».
E aqui está, muito resumida e simplificadamente, como, em apenas dois anos, se
passou de uma descuidada euforia a uma crise generalizada e profunda, cuja
solução não está à vista.
REACÇÕES À CRISE
Nunca esteve em dúvida que os principais países responsáveis pela criação,
desenvolvimento, aprofundamento e alastramento da crise foram os EUA e, em
menor medida, o Reino Unido. Não admira, portanto, que tenha sido nestes países
que o esforço financeiro público mobilizado para evitar o colapso dos
respectivos sistemas financeiros tenha sido o mais significativo. Adoptando uma
política de quantitative easing, ambos os países atiraram dinheiro «às
pazadas», por vezes sem critério, para cima dos problemas, não hesitando em
recorrer a medidas drásticas, tais como imprimir grandes quantidades de moeda»
[9]
.
Segundo contas da BBC, que nos parecem algo conservadoras, no fim do primeiro
trimestre de 2009, os EUA e o Reino Unido tinham mobilizado, respectivamente,
9437 biliões de dólares e 1240 biliões de libras, assim distribuídos:
_________________________________________________________________________
|___________|___Moeda____|_____PIB_____|__Apoios/Bancos___|___Estímulos__|
|EUA________|_____$______|___13_800____|______8_500_______|______937______|
|Reino_Unido|_____£_____|____1_400____|______1_224_______|______20_______|
Em matéria de apoios a bancos, os EUA disponibilizaram a astronómica verba de
8500 biliões de dólares, que representam cerca de 62% do PIB americano: 5800
correspondem a empréstimos concedidos pelo FED, garantias de crédito e esquemas
de aquisição de activos, 2000 biliões provêm de outras fontes e 700 biliões
constituem o envelope do atribulado Troubled Assets Relief Program, mais
conhecido por TARP
[10]
.
Estas verbas permitiram ao Tesouro americano adquirir posições temporárias de
capital em troca de injecções directas de capital no CITI, no Bank of America,
na AIG, na Fannie Mae e na Freddie Mac. Serviram, ainda, para financiar a
controversa aquisição da Merryl Lynch pelo Bank of America, em que o então
Secretário do Tesouro, Paulson, parece ter tido uma conduta indevida. Só não
serviram para impedir a incompreensível falência da Lehman Brothers,
acontecimento que teve um papel decisivo no aprofundamento e no alastramento da
crise a nível mundial.
No que respeita aos estímulos directos às empresas, incluindo reduções de
impostos e financiamento de projectos, os EUA tinham gasto 937 biliões de
dólares.
As autoridades do Reino Unido concentraram a sua intervenção em apoios ao
sector financeiro, nos quais investiram verbas da ordem dos 1224 biliões de
libras, ou seja, cerca de 87% do PIB respectivo. Aos sistemas de protecção de
activos foram atribuídos 585 biliões de libras; as garantias de dívidas dos
bancos ascenderam a 300 biliões de libras; os empréstimos do Banco de
Inglaterra totalizaram 185 biliões de libras; as injecções directas de capital
nos bancos atingiram 94 biliões de libras; 50 biliões de libras foram afectados
a um programa do Banco de Inglaterra de apoio às dívidas das empresas; e um
fundo de apoio aos pequenos negócios recebeu uma dotação de 10 biliões de
libras.
No Reino Unido, os bancos beneficiários das injecções directas de capital onde
o Estado adquiriu participação foram o Royal Bank of Scotland (33 biliões de
libras) e o Lloyds TSB (5,5 biliões de libras). O Northern Rock (26 biliões de
libras) e o Bradford & Bingley (18 biliões de libras) foram nacionalizados.
E o HBOS (11,5 biliões de libras) e a Alliance Leicester foram absorvidos
[11]
.
Os pacotes de estímulos às actividades económicas no Reino Unido não foram além
dos 20 biliões de libras e parece que não tiveram grande procura por parte das
empresas.
Muitos outros países mobilizaram recursos para proteger os seus sistemas
financeiros dos efeitos nefastos da crise e para apoiar as actividades
económicas.
No primeiro caso, importa sublinhar os exemplos da Islândia, que, no meio de
grave crise política sem precedentes, foi salva da bancarrota, primeiro, pela
Rússia e, depois, pelo FMI; da Irlanda, que, num ápice, viu o seu apregoado
milagre económico ir por água abaixo; e da Bélgica, que teve de nacionalizar
bancos. E também os casos da Hungria e da Ucrânia, que tiveram de recorrer à
ajuda do FMI
[12]
. Aliás, os sistemas financeiros de vários países de Leste, onde as
instituições financeiras da União Europeia têm interesses consideráveis,
continuam a evidenciar grandes fragilidades.
No segundo caso, há bons exemplos de países que lançaram programas de apoio às
actividades económicas em tempos de crise profunda, sendo os mais expressivos o
da China, no valor de 586 biliões de dólares, e o da Alemanha, no valor de 81
biliões de euros. A União Europeia, através da Comissão, também dedicou 200
biliões de euros ao apoio às actividades económicas.
Aparentemente, o sistema financeiro português não foi muito afectado pela crise
financeira internacional. Descontados os casos do BPP, que é uma consequência
directa da crise financeira internacional, e do BPN, que não tem nada a ver com
a crise, a banca portuguesa aguentou-se e resolveu os seus problemas mais
prementes com uns aumentos de capital e com a utilização parcial das garantias
do Estado para obter empréstimos internacionais em condições relativamente
favoráveis, dadas as condições do mercado.
O Governo português deve ter sido o penúltimo (o último foi o da Alemanha) a
aperceber-se de que vinha aí uma crise. Como tal demorou a tomar medidas
adequadas. Só quando os responsáveis imaginaram que a crise podia ser posta ao
serviço do calendário eleitoral, o que, aliás, foi um rematado erro, é que o
Governo reagiu. O ministro das Finanças ainda chegou a dizer que a garantia dos
depósitos era de 20 mil euros para, logo a seguir, graças a Bruxelas, declarar
que, afinal, os depósitos individuais estavam garantidos até ao montante de 100
mil euros, o que foi um grande alívio para muita gente.
Logo a seguir, o Governo instituiu um fundo de garantia e apoio às actividades
do sistema financeiro que tem sido parcimoniosamente utilizado por alguns
bancos e anunciou um sistema de apoio às actividades das PME que parece não ser
entusiasmante. Louvavelmente, reforçou alguns aspectos das prestações sociais,
nomeadamente as que se aplicam aos desempregados e aos idosos.
Apesar das medidas adoptadas, a economia real, muito dependente de factores que
o Governo não pode controlar, continua a evoluir negativamente: desemprego;
quebra do consumo; retracção do investimento privado mal compensada por um mais
do que duvidoso programa de investimentos públicos centrado em grandes
projectos de infra-estruturas (TGV, novo Aeroporto, Auto-estradas, Barragens);
quebra acentuada das exportações; e pressões sobre a Segurança Social. Alguns
observadores, entre os quais me incluo, pensam que os efeitos da crise ainda
não se fizeram sentir em toda a sua plenitude porque estamos em ano de eleições
e o défice de 2008 permitiu amenizá-la. Em 2010 vai ser muito diferente. Logo
no primeiro trimestre de 2010, quando vier a primeira factura, ficaremos a
saber quanto custou o adiamento dos sacrifícios e qual a ordem de grandeza dos
sacrifícios futuros.
Em declarações recentes, o ministro das Finanças avisou que quando acabar a
crise temos de voltar à estaca zero, que é como quem diz, à correcção dos
défices. É verdade. O problema é que a crise, salvo melhor opinião, está para
durar, o que coloca o problema de saber a que distância fica a estaca zero, ou
seja, qual vai ser a verdadeira dimensão dos défices que vamos ter de
enfrentar!
O EPICENTRO DA CRISE
Aquela primeira semana de Dezembro de 2008 deve ter sido muito difícil para o
Secretário do Tesouro americano Henry Paulson. Ainda a recuperar do stress
causado pelas vicissitudes porque passou o seu já lendário TARP, que na sua
anedótica primeira versão de três páginas se propunha sacar 700 biliões de
dólares aos contribuintes americanos para livrar os bancos dos chamados
«activos tóxicos» «( ) with no strings attached and no judicial review of his
purchase decisions», foi nessa semana que o National Bureau of Economic
Research, um painel de excelência constituído por economistas de Stanford,
Harvard e MIT, anunciou ao mundo que a economia americana estava, oficialmente,
em recessão e que o governador do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, lhe
fez notar, há quem diga que com um sorriso algo amarelo, que «over-consumption
and a high reliance on credit are the main causes of US financial crisis» e que
«as the largest and most important economy in the world, the US should take the
initiative to adjust its policies, raise its savings ratio appropriately and
reduce its trade and fiscal deficits»
[13]
.
Mesmo sabendo que a economia americana estava em contracção desde há um ano
atrás, não deve ter sido agradável, sobretudo para um ex-CEO da Goldman Sachs,
confirmar a sua impotência face ao desenrolar implacável dos acontecimentos.
Mas menos agradável deve ter sido sentir-se admoestado por um alto
representante do Banco Central de um dos seus principais credores externos que,
seguramente, não quis imiscuir-se nos assuntos internos dos EUA, antes
pretendeu avaliar, na medida do possível, as intenções da Administração em
relação ao futuro.
Compreendem-se as preocupações do Sr. Xiaochuan. A economia dos EUA desde há
mais de uma década tem vivido mais à conta da expansão da dívida do que à custa
do crescimento do seu rendimento real. Como se pode confirmar em http://
www.usdebtclock.org os desequilíbrios financeiros dos EUA são impensáveis.
Presentemente, a Administração americana é incapaz de financiar as suas
operações correntes, necessitando recorrer cada vez com mais frequência aos
primary dealerse aos credores externos para vender as suas securities. Os juros
da dívida são pagos com o produto da venda de mais securitiese quando umas e
outras se vencem a Administração redime-as vendendo novas securities. Os
credores, sejam eles quem forem, não gostam de se ver apanhados neste tipo de
armadilhas, porque, a partir de certa altura, os problemas estão mais do seu
lado do que do lado do devedor. Mesmo sabendo que os EUA, pelas mais diversas
razões, são a nação mais poderosa do mundo, a única, aliás, que goza do
exorbitante privilégio de poder pagar as suas dívidas na sua própria moeda que
só ela pode emitir, esta situação não vai durar eternamente. Um dia, que não
deve estar longe, o Japão, a China, os países produtores de petróleo e todos os
demais clientes dassecuritiesdo Tesouro americano vão, no mínimo, querer
diversificar as suas aplicações. Os chineses não se cansam de falar em
aplicações alternativas e já estão a desviar uma parte significativa da sua
enorme poupança interna para a aquisição de outros activos financeiros e de
matérias-primas e para o seu próprio desenvolvimento.
Por agora, ao que consta, o Sr. Xiaochuan só quis saber se, no imediato, os EUA
estão em posição de honrar os seus compromissos sem recorrer a habilidades e
se, a prazo, estão ou não dispostos a mudar de vida, o que, diga-se de
passagem, não parece ser tarefa fácil.
O novo Secretário do Tesouro, o Sr. Geithner, já foi a Pequim tentar apaziguar
os ânimos. Depois disso, os chineses intensificaram a propagação da ideia de
que é preciso encontrar alternativas ao dólar enquanto moeda de reserva. Como
vamos sair disto? Ninguém sabe! É uma situação típica de Catch-22! Para já,
tanto nos EUA como na UE estão para ser anunciados os pacotes legislativos que
vão disciplinar os mercados financeiros. E, nos EUA, já se fala de um novo
round de ajudas ao sistema financeiro e à economia real. Parece que as dívidas
e os «activos tóxicos» dos bancos persistem. São como o colesterol dos humanos:
instala-se facilmente, dá cabo da saúde das vítimas e para sair é um problema.
Em face do descalabro das políticas liberais, bem no meio de uma recessão
mundial de grande envergadura provocada por essas políticas, tornam-se, agora,
mais audíveis as palavras do Professor Paul Samuelson, Prémio Nobel da Economia
de 1970, que, em entrevista recente, disse que: «Gostava que o Friedman ainda
estivesse vivo para testemunhar como o seu extremismo conduziu à derrota das
suas próprias ideias»
[14]
.
NOTAS
[1]
Advertência: Neste artigo, a terminologia adoptada para os números/valores é
uma versão em português da terminologia americanaque, como se sabe, é diferente
da terminologia portuguesa geralmente considerada inapropriada. A maior
confusão reside nobilião em portuguêsquecorresponde ao trilião americano. As
correspondências são as seguintes:
___________________________________________________________________________
|___Números/Valores___|__N.º_de_Zeros__|____Portugal_____|______EUA_______|
|________1_000_________|________3________|_______Mil_______|______Mil_______|
|______1_000_000_______|________6________|_____Milhão_____|_____Milhão____|
|____1_000_000_000_____|________9________|___Mil_milhões__|_____Bilião____|
|__1_000_000_000_000___|_______12________|_____Bilião_____|____Trilião____|
|1_000_000_000_000_000_|_______15________|___Mil_biliões__|___Quadrilião__|
[2]
O Googletem 716 000 referências alusivas ao termo banksters. Algumas delas são
divertidíssimas como esta do Urban Dictionary: «A portmanteau or blend word
derived from combining banker' and gangster'. Usually referred to in the
plural form banksters' to refer to a predatory element within the financial
services industry, such as those offering to good to be true' adjustable
mortgage rates for home buyers. The banksters just foreclosed on my mom's
Mcmansion, and now she is living in her SUV».
[3]
A frase de Thomas Jefferson era a seguinte: «I sincerely believe... that
banking establishments are more dangerous than standing armies, and that the
principle of spending money to be paid by posterity under the name of funding
is but swindling futurity on a large scale.»,Thomas Jefferson to John Taylor,
1816.
[4]
Cf. JOHNSON, Simon (2009), «The quiet coup». The Atlantic,May, p. 8.
[5]
Cf. JOHNSON, Simon, op. cit., p. 5.
[6]
Há quem chame a isto «economia de casino».
[7]
Estas instituições integram o chamado shadow banking system.As suas operações
não eram contabilizadas nos balanços das sociedades a que pertenciam. Foi nelas
que, quando as coisas começaram a correr mal, se acumularam montanha de dívidas
e toneladas de «activos tóxicos».
[8]
Ocorre-me dizer que as melhores notações das sociedades de rating , as
célebres «AAA», neste imbróglio da inovação financeira foram mais do tipo «Ah!
Ah! Ah!». Até agora, que se saiba, nenhuma dessas consagradas empresas foi
chamada a justificar os seus ratings e todas elas continuam em actividade.
[9]
Fazendo uma curiosa analogia com os tempos da Guerra, um conhecido analista da
BBC confrontado com a emergência das medidas tomadas não hesitou em afirmar:
«We are building the economic equivalent of bomb shelters and mobile
hospitals». Cf. PESTON, Robert (2008), «The new capitalism». BBC NEWS, 8/12.
[10]
Para termos uma ideia da ordem de grandeza dos valores em causa, basta
recordar que o valor total do Plano Marshal para a reconstrução da Europa do
pós-guerra corrigido da inflação seria da ordem de uns «modestos» 115 biliões
de dólares.
[11]
Entretanto o Bradford & Bingley foi adquirido pelo Santander.
[12]
Na cimeira de Londres de 2/4/09, os líderes do G20 chegaram a um acordo para
enfrentar a crise, adoptando medidas avaliadas em 1106 biliões de dólares assim
distribuídos: 500 biliões para o FMI emprestar a economias em apuros; 250
biliões para incentivar o comércio mundial; 250 biliões para a constituição de
uma nova overdraft facility; 100 biliões para os bancos internacionais de
desenvolvimento emprestarem aos países mais pobres; 6 biliões para o FMI apoiar
os países mais pobres.
[13]
Cf. PESTON, Robert, op. cit., p. 2.
[14]
Cf. «Celebrar a recuperação? Só em 2012», In Visão, n.º 835, 5 a 11 de Março
de 2009, pp. 52-55.