Determinantes da política de dividendos: Evidência empírica para as empresas
não financeiras cotadas na Euronext Lisbon
A política de dividendos praticada pelas empresas assume um plano de destaque
nos estudos no âmbito das finanças empresariais. Esta problemática revela-se de
importância elevada, fruto dos dividendos distribuídos pela empresa
constituírem uma das variáveis que os investidores têm em consideração aquando
da sua decisão de investimento em acções no mercado de capitais. Por outro
lado, a política de dividendos praticada pela empresa afecta a sua política de
financiamento e de endividamento. Desta forma, na definição da política de
dividendos existe a necessidade de averiguar qual o nível óptimo de
distribuição de dividendos que permita maximizar o rendimento do investimento
efectuado pelos accionistas na empresa e, simultaneamente, permita adequar a
estrutura financeira da empresa tendo em consideração a sua necessidade de
autofinanciamento.
Apesar da problemática da política de dividendos conhecer os seus primórdios no
estudo de Lintner (1956), na literatura encontramos duas grandes vias seguidas
pelos autores que abordam esta mesma temática. Um conjunto de autores centra os
seus estudos sobre os factores que influenciam a política de dividendos
praticada pela empresa. Um outro conjunto de autores adopta outra metodologia
analisando a relação entre a política de dividendos praticada pela empresa e o
preço pelo qual as suas acções são transaccionadas no mercado de capitais. O
presente estudo encontra-se em linha com o primeiro conjunto de autores,
procurando dar um contributo para essa análise, não ignorando a possibilidade
de a política de dividendo da empresa poder ser explicada pelo preço das suas
acções no mercado de capitais.
A análise dos factores determinantes da política de dividendos das empresas tem
merecido um amplo destaque em estudos empíricos que versam sobre várias praças
financeiras, nomeadamente a norte-americana, a britânica, a francesa e a
espanhola. Porém, o mercado de capitais português tem merecido pouca atenção
nesses estudos empíricos, realçando-se os estudos de Benzinho (2004) e Benzinho
(2007) que versam sobre esta praça financeira. Por outro lado, os diversos
estudos empíricos que versam sobre os vários mercados financeiros
internacionais não apresentam resultados consensuais. Deste modo, no presente
estudo empírico, pretende-se efectuar uma análise dos factores susceptíveis de
influenciar a política de dividendos das empresas não financeiras que compõem a
Euronext Lisbon.
Pretendemos ainda efectuar essa mesma análise mas centrando-nos apenas nas
empresas não financeiras que integram o principal índice bolsista da Euronext
Lisbon, o Portuguese Stock Index (PSI) 20. Esta análise mostra-se interessante
em virtude da realidade distinta entre o grupo de empresas não financeiras que
compõem o PSI 20 e a generalidade das empresas não financeiras que cotizam na
praça financeira portuguesa.
O presente artigo encontra-se dividido em oito secções. A revisão da literatura
relevante que versa sobre a política de dividendos é efectuada na secção
seguinte. Posteriormente, procede-se à apresentação do modelo empírico do
estudo e das bases de dados e da amostra das empresas que vão servir de base ao
estudo empírico. A secção subsequente versa sobre as variáveis dependentes e
independentes. Depois especifica-se o modelo econométrico e apresentam-se os
resultados do estudo empírico e a sua correspondente discussão. Na última
secção expõem-se as principais conclusões do estudo efectuado.
Política de dividendos: revisão da literatura
A política de dividendos, segundo Procianoy e Poll (1993) e Vieira (2001),
traduz-se na decisão, por parte da empresa, entre a proporção de dividendos
pagos aos accionistas e os lucros que são retidos na empresa. Contudo, de
acordo com Lintner (1956), os dividendos distribuídos por uma empresa
relativamente a um determinado exercício económico encontram-se dependentes de
dois grandes factores: o resultado líquido gerado pela empresa nesse mesmo
exercício económico e os dividendos distribuídos pela empresa relativamente ao
exercício económico anterior.
A relação entre a política de dividendos e o valor da empresa tem gerado
opiniões contraditórias entre os investigadores que versam os seus estudos no
âmbito das finanças empresariais. O estudo de Miller e Modigliani (1961)
revela-se pioneiro na defesa da irrelevância da política de distribuição de
dividendos no valor da empresa. Contudo, esta irrelevância da política de
distribuição de dividendos no valor da empresa só será verificada se estivermos
perante um mercado de capitais perfeito e eficiente, onde não existam impostos,
custos de transacção e um conjunto de outras imperfeições no mercado.
A hipótese de mercado de capitais perfeito e eficiente é alvo de várias
críticas. Entre essas críticas surgem as referidas por Guzmán (2004),
salientando que vivemos perante a existência de mercados de capitais
imperfeitos, existindo informação assimétrica, custos de transacção, impostos e
os custos de agência susceptíveis de influenciar a política de distribuição de
dividendos praticada por uma empresa, assim como o preço pelo qual as suas
acções são transaccionadas no mercado de capitais. Os estudos de Lintner (1956)
e de Gordon (1959), ao defenderem a existência de uma relação entre a política
de dividendos e o valor das acções da empresa, surgem numa linha oposta à de
Miller e Modigliani (1961).
Pela literatura revista, constata-se que são vários os factores apontados como
influentes na política de dividendos da empresa. Entre esses factores podemos
enquadrar vários indicadores de cariz económico e financeiro, frequentemente
utilizados em vários estudos empíricos. O resultado líquido que a empresa gerou
num determinado exercício económico é apontado como um dos indicadores
determinantes da política de dividendos da empresa. Esta dependência resulta,
fundamentalmente, do facto de os gestores da empresa definirem o montante de
dividendos a distribuir pelos accionistas em função de uma determinada
percentagem desse resultado líquido gerado. Os estudos de Arrazola et al.
(1992) e Benzinho (2007) realçam o efeito positivo e estatisticamente
significativo do resultado líquido gerado pela empresa no exercício económico
sobre os dividendos distribuídos relativamente a esse mesmo exercício
económico.
A política de dividendos praticada estará também associada à necessidade de
existirem na empresa meios líquidos disponíveis para que os dividendos possam
ser pagos aos accionistas. Surge assim a tesouraria da empresa como susceptível
de influenciar a sua política de pagamento de dividendos. Vários estudos
empíricos recorrem ao cálculo do cash-flow no intuito de avaliar a tesouraria
da empresa numa vertente estática. Os resultados obtidos nos estudos empíricos
de Alli et al. (1993), Bagüés e Fumás (1995) e Papadopoulos e Charalambidis
(2007) sugerem a existência de um efeito significativamente positivo do cash-
flow da empresa nos dividendos por ela distribuídos.
A dinâmica de crescimento que a empresa apresenta e a sua estratégia de
crescimento futuro traduz-se em outra das variáveis susceptíveis de influenciar
a política de dividendos. Como referem Brealey e Myers (1999), algumas empresas
adoptam uma política de pagamento de baixos dividendos, fruto da perspectiva
optimista quanto ao seu crescimento futuro, pretendendo reter os lucros na
empresa para financiar a sua expansão. Deste modo, a política de dividendos da
empresa estará associada às suas decisões de financiamento e de investimento.
Os estudos empíricos não apresentam resultados consensuais relativamente ao
efeito da dinâmica de crescimento da empresa sobre a sua política de
dividendos. O estudo de Fernandez (1988) evidencia o efeito negativo, e
estatisticamente significativo, que a dinâmica de crescimento da empresa
apresenta sobre os dividendos distribuídos. Contudo, os resultados obtidos por
Niekel (1994) e Vera (2006) sugerem que a dinâmica de crescimento da empresa,
apesar de apresentar um efeito negativo sobre os dividendos distribuídos, não
se revela estatisticamente significativa na sua explicação. Por outro lado,
Naceur et al. (2006) evidenciam um efeito significativamente positivo da
dinâmica de crescimento da empresa nos dividendos distribuídos.
A estrutura financeira da empresa, medida pela sua autonomia financeira ou pelo
seu nível de endividamento, é apresentada como variável capaz de explicar os
dividendos distribuídos. Desta forma, torna-se necessária a análise da relação
existente entre o capital próprio e o capital alheio aplicado na empresa,
avaliando o seu nível de solvência. Os resultados dos estudos empíricos de
Fernandez (1988) e Niekel (1994) apontam no sentido de uma maior autonomia
financeira da empresa exercer um efeito positivo e estatisticamente
significativo no montante de dividendos distribuídos pelos accionistas.
A rendibilidade da empresa é apontada em vários estudos como uma variável de
cariz económico susceptível de influenciar a política de dividendos das
empresas. Os resultados obtidos nos estudos empíricos de Fernandez (1988),
Niekel (1994) e Naceur et al. (2006) evidenciam um efeito significativamente
positivo da rendibilidade do activo na definição da política de dividendos
praticada pela empresa. Porém, os resultados alcançados por Guzmán (2004)
parecem sugerir que os indicadores de rendibilidade, nomeadamente a
rendibilidade do activo da empresa, não se revelam estatisticamente
significativos na explicação da política de distribuição de dividendos.
Especificação do modelo de regressão linear múltipla
Tendo em consideração os objectivos do presente estudo, surge a necessidade de
especificar o modelo empírico a estimar. Deste modo, recorrendo a estudos
empíricos com objectivos similares, como os de Arrazola et al. (1992), Alli et
al. (1993) e Benzinho (2007), o modelo empírico a estimar terá uma configuração
onde os dividendos são uma função de um conjunto de variáveis específicas à
empresa, resultando num modelo em que os dividendos da empresa i num
determinado período, designados por Yi, são obtidos pela seguinte expressão:
Yi = a + Xi β+ ε i
com i = 1, 2, 3, , N, onde Xi representa o vector dos factores específicos a
cada empresa observados num dado momento e εi representa os erros do modelo.
Relativamente a α e β, representam os parâmetros desconhecidos do modelo que se
pretendem estimar.
Amostra e bases de dados
No estudo empírico efectuado utilizamos diferentes fontes de dados. Com vista a
obter informações sobre as empresas cotadas na Euronext Lisbon, recorremos ao
site na Internet desta mesma praça financeira. Deste modo, obtivemos uma
listagem das empresas que, em 31 de Dezembro de 2007, cotavam na Bolsa de
Valores portuguesa, assim como o respectivo valor da cotação das suas acções.
Esta mesma fonte de informação é utilizada em estudos empíricos que versam
sobre o mercado de capitais português, como Duque e Pinto (2005), Romacho e
Cortez (2005) e Romacho e Cidrais (2007).
Uma das atribuições da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM)
traduz-se na difusão de informação, principalmente das empresas cotadas em
Bolsa, através do seu site na Internet. Assim sendo, fizemos uso desta
atribuição recorrendo ao site na Internet da CMVM para obter os relatórios de
contas anuais das empresas que cotavam na Euronext Lisbon em 31 de Dezembro de
2007.
Estes relatórios de contas anuais das empresas contêm várias informações que
foram bastante úteis para o estudo, nomeadamente o balanço, a demonstração de
resultados, a política de distribuição de dividendos, assim como o número de
acções que a empresa emitiu. Tais informações, para além de se reportarem ao
ano de 2007, evidenciam ainda a situação da empresa em anos anteriores. Este
sistema de difusão de informação da CMVM é igualmente utilizado nos estudos
empíricos de Duque e Pinto (2004) e Romacho e Cidrais (2007).
Tendo por base as fontes de informação apresentadas, procedeu-se à selecção das
empresas a incluir na amostra sobre a qual incidirá o presente estudo empírico.
Assim, foram excluídas da amostra, à semelhança do efectuado nos estudos de
Benzinho (2007) e Papadopoulos e Charalambidis (2007), as instituições
financeiras que cotavam na Euronext Lisbon. Esta exclusão justifica-se pelas
especificidades que este sector de actividade apresenta, assim como pela sua
estrutura de contas que é distinta das restantes empresas. Para além destas
empresas, foram ainda excluídas da amostra as Sociedades Anónimas Desportivas,
em virtude das características específicas que apresentam. Deste modo, a
amostra final contém 38 empresas emitentes.
Variáveis utilizadas
● Variável dependente
A avaliação da política de dividendos colocada em prática por uma empresa pode
ser efectuada tendo em consideração múltiplas variáveis. Porém, no presente
estudo empírico, a nossa atenção centrou-se no montante de dividendos por acção
que a empresa distribuiu pelos seus accionistas. O montante de dividendos por
acção é utilizado como variável dependente em vários estudos empíricos com
objectivos similares ao presente, entre esses estudos destaca-se os de Lintner
(1956), Watts (1973), Arrazola et al. (1992), Bagüés e Fumás (1995), Escuer e
Cabestre (1995), Naceur et al. (2006), Benzinho (2007) e Sánchez (2007). No
estudo, considerou-se a variável dividendos por acção (DPA) como variável
dependente, consistindo no montante, em euros, que cada empresa distribuiu aos
accionistas sobre a forma de dividendos relativamente aos resultados gerados no
exercício económico de 2007.
● Variáveis independentes
Tendo por base a revisão de literatura efectuada, constata-se que são vários os
indicadores económicos e financeiros que se apresentam susceptíveis de explicar
a política de dividendos praticada por uma empresa. Iniciando pela variável RL,
esta traduz-se no resultado líquido, em milhões de euros, obtido por cada
empresa no ano de 2007. Com a introdução deste indicador de desempenho
empresarial no estudo empírico, pretende-se avaliar a sua influência na
explicação da política de dividendos praticada pela empresa.
A variável CF traduz o montante, em milhões de euros, de cash-flow gerado pela
empresa no exercício económico de 2007. No cálculo desta variável, procedemos à
soma do resultado líquido com as amortizações e as provisões de cada uma das
empresas que compõem a amostra. Com esta variável, pretendemos avaliar o efeito
que o fluxo financeiro gerado pela empresa no exercício económico exerce na sua
política de dividendos.
A análise do efeito do crescimento da empresa na sua política de dividendos é
efectuada pela introdução da variável CV no estudo empírico. Esta variável
consiste na taxa de crescimento das vendas da empresa no ano de 2007.
Ao criar a variável AF , pretende-se analisar o efeito que a estrutura
financeira da empresa apresenta na definição da sua política de dividendos.
Deste modo, esta variável consiste na autonomia financeira que a empresa possui
e é obtida pela relação entre o capital próprio e o activo, ambos os valores
reportados a 31 de Dezembro de 2007.
Para analisar o efeito da rendibilidade da empresa na sua política de
dividendos, introduzimos no estudo empírico a variável RA, que consiste na
rendibilidade do activo da empresa. Na obtenção do indicador rendibilidade do
activo, efectuamos a divisão do resultado líquido da empresa pelo seu activo
total, ambos os valores reportados a 31 de Dezembro de 2007.
Na literatura revista encontram-se estudos empíricos que avançam com a
possibilidade de a política de dividendos da empresa, relativamente a um
determinado exercício económico, poder ser explicada por essa mesma política
praticada nos exercícios económicos anteriores. Desta forma, para averiguar
essa hipótese, introduzimos no presente estudo empírico a variável DPAEA que
consiste no montante, em euros, que cada uma das empresas distribuiu aos
accionistas sobre a forma de dividendos, relativamente aos resultados gerados
no exercício económico do ano de 2006. Os resultados obtidos nos estudos
empíricos de Lintner (1956), Arrazola et al. (1992), Bagüés e Fumás (1995),
Escuer e Cabestre (1995), Benzinho (2007) e Sánchez (2007), sugerem a
existência de um efeito positivo dos dividendos distribuídos relativamente a um
determinado exercício económico nos distribuídos relativamente ao exercício
económico seguinte.
A variável COT consiste no preço, em euros, pelo qual as acções da empresa são
transaccionadas no mercado de capitais português no final do dia 31 de Dezembro
de 2007. Com a introdução desta variável no presente estudo empírico,
pretendemos avaliar o efeito que o preço das acções da empresa exerce na sua
política de dividendos. Deste modo, averiguamos se as acções transaccionadas no
mercado de capitais por um preço mais elevado permitem aos accionistas obter um
dividendo por acção superior ou, pelo contrário, se serão as acções que são
transaccionadas a um preço mais reduzido a proporcionar um maior dividendo por
acção aos seus accionistas.
Na literatura, são vários os estudos empíricos que analisam o impacto de a
política de dividendos no preço de mercado das acções da empresa. Contudo, no
presente estudo empírico, pretendemos averiguar se existe um efeito circular,
ou seja, se para além da política de dividendos influenciar o preço de mercado
das acções, conforme defendem Watts (1973), Asquith e Mullins (1983), Lang e
Litzenberg (1989) e Cabestre e Escuer (1996), o preço das acções influenciará
também a política de dividendos praticada pela empresa.
Na Tabela 1, apresentam-se as medidas de estatística descritiva das variáveis
dependente e independentes utilizadas no estudo empírico. Pela análise da
tabela, salienta-se o facto de, em média, o montante de dividendos distribuídos
pelas empresas que compõem a amostra, relativos aos resultados gerados no
exercício económico de 2006 e de 2007, cifrar-se nos cerca de 0,094 e 0,127
por acção, respectivamente. Refira-se ainda o facto das empresas em estudo
apresentarem um preço médio de transacção, na Euronext Lisbon, de cerca de
4,773 por acção à data de 31 de Dezembro de 2007.
Tabela 1
Medidas descritivas das cariáveis em estudo
Salienta-se o facto de as empresas consideradas no estudo, em média,
apresentarem um resultado líquido positivo relativamente ao exercício económico
de 2007, assim como a dinâmica positiva patenteada no crescimento das vendas.
Destaca-se ainda o valor relativamente elevado dos desvios-padrão da
generalidade das variáveis, mostrando que existe uma disparidade entre os
valores apresentados pelas empresas consideradas no estudo quanto a essas
variáveis.
Especificação do modelo a estimar
Tendo em consideração as variáveis, dependente e independentes, assim como o
modelo empírico especificado, construiu-se o modelo econométrico a estimar. A
metodologia econométrica adoptada traduz-se, tal como em Barbosa e Louri (2005)
e Ribeiro (2007), no método dos mínimos quadrados ordinários (OLS) com desvios-
padrão robustos. Este método revela-se adequado para colmatar eventuais
problemas de heteroscedastecidade, susceptíveis de surgirem em amostras
seccionais. Deste modo, o modelo econométrico a estimar traduz-se em:
DPAi= α + ß 1*RLi+ ß2*CFi + ß3*CVi + ß4*AFi+ ß5*RAi + ß6*DPAEAi + ß7*COTi + εi
onde o coeficiente a representa o valor da constante e os coeficientes ß 1, ß2,
ß3, ß4, ß5, ß6e ß7representam o efeito sobre os DPA da variação unitária de
cada um dos indicadores específicos a cada empresa. O termo de perturbações εi
representa a variação dos DPA não explicada pelos sete indicadores específicos
à empresa considerados neste estudo, mas antes por outros indicadores
específicos à empresa que não são observáveis.
Estimação do modelo e discussão dos resultados
Na presente secção, analisamos os resultados do modelo estimado, sintetizados
na Tabela 2. Pela análise do valor de R2, constatamos que as variações dos DPA
são explicadas pelo conjunto de variáveis independentes em cerca de 55,04%.
Este valor encontra-se em consonância com o obtido em estudos empíricos
similares que versam sobre esta mesma problemática.
Tabela 2 ' Resultados do modelo estimado
Analisando o efeito das variáveis independentes sobre a variável dependente,
relativamente à variável CF , apesar da reduzida dimensão da amostra, os
resultados parecem evidenciar um efeito significativamente positivo desta no
montante de dividendos por acção que a empresa distribui aos seus accionistas.
Deste modo, os resultados sugerem que quanto mais elevado for o fluxo
financeiro gerado pela empresa num exercício económico, mais elevado será o
montante de dividendos distribuídos relativamente a esse mesmo exercício
económico. Este resultado poderá derivar do facto de um maior fluxo financeiro
gerado pela empresa permitir que a mesma possua uma disponibilidade de meios
financeiros mais acentuada, utilizando os mesmos para o pagamento de dividendos
aos accionistas.
A variável COT parece apresentar um efeito significativamente positivo sobre o
montante de dividendos por acção distribuídos pela empresa. Deste modo, os
resultados obtidos parecem sugerir que o preço das acções no mercado de
capitais influencia a política de dividendos da empresa, sendo as acções
transaccionadas por um preço mais elevado no mercado de capitais de modo a
permitir aos investidores auferir um montante mais elevado de dividendos por
acção.
Relativamente às variáveis RL,CV, AF, RA e DPAEA há evidência estatística de
efeitos não significativos sobre o montante de dividendos por acção. Os
resultados obtidos sugerem assim que o resultado líquido obtido no exercício
económico, a dinâmica de crescimento demonstrada, a independência da empresa
perante terceiros e a rendibilidade do activo gerada no exercício económico não
influenciam significativamente a política de dividendos da empresa. Sugerindo
ainda que, contrariamente ao defendido em diversos estudos empíricos, os
dividendos distribuídos por uma empresa num determinado exercício económico não
estão dependentes dos dividendos distribuídos por essa mesma empresa no
passado.
Os resultados obtidos no presente estudo contrariam ainda os obtidos por
Benzinho (2004) que, incidindo igualmente sobre o mercado de capitais
português, constatou a existência de um efeito positivo, e estatisticamente
significativo, quer do resultado líquido do exercício, quer do montante de
dividendos distribuídos relativamente ao exercício económico anterior sobre o
montante de dividendos distribuídos pelas empresas não financeiras relativos a
um determinado exercício económico.
Procedeu-se a uma análise análoga, mas centrada apenas nas empresas emitentes
constantes da amostra e que integram o índice PSI 20 à data de 31 de Dezembro
de 2007. Este índice bolsista reflecte a evolução dos preços das acções das 20
emitentes com maior dimensão, liquidez e free float entre todas as emitentes
admitidas à negociação no Mercado de Cotações Oficiais. A realização do estudo
empírico, centrado apenas nas empresas que compõem o índice PSI 20, encontra-se
em consonância com o efectuado em vários estudos empíricos, como em Vieira
(1999), Duarte e Fonseca (2003), Caiado (2004) e Romacho e Cidrais (2007), que
versam sobre este mesmo índice bolsista. O objectivo da realização deste estudo
traduz-se na análise dos factores explicativos da política de dividendos das
empresas emitentes que integram o índice PSI 20. Os resultados obtidos
permitirão ainda uma comparação com os obtidos para a generalidade das empresas
emitentes cotadas na Euronext Lisbon.
Tendo por base a amostra das empresas sobre a qual incidiu o nosso estudo
inicial, excluímos dessa amostra as empresas emitentes que não compunham o
índice PSI 20 em 31 de Dezembro de 2007. Em virtude desta restrição, o estudo
empírico versa sobre uma amostra de 17 empresas emitentes. Os resultados da
estimação do modelo de regressão linear múltipla são apresentados na Tabela 2.
Entre os resultados obtidos salienta-se o valor de R2 que se revela bastante
mais elevado comparativamente com o obtido no modelo estimado para a
generalidade das empresas emitentes que cotizam na Euronext Lisbon. Deste modo,
constata-se que a variação dos DPA é explicada numa maior proporção pelo
conjunto das variáveis independentes no modelo estimado para as empresas que
compõem o índice PSI 20.
Relativamente ao efeito das diversas variáveis sobre a política de dividendos
das empresas que compõem o PSI 20, os resultados obtidos são similares aos
alcançados para a generalidade das empresas que integram a Euronext Lisbon.
A maior divergência situa-se ao nível da variável RL, que apresenta um efeito
negativo e significativo sobre o montante de dividendos por acção que as
empresas que compõem o PSI 20 distribuem pelos accionistas. Este resultado
parece reforçar a importância que a disponibilidade de meios financeiros na
empresa para o pagamento de dividendos apresenta comparativamente com o
resultado líquido que essa mesma empresa obtém, isto apesar de as conclusões
retiradas se basearem numa amostra de dimensão muito reduzida.
Conclusão
O presente estudo empírico permite averiguar quais os factores susceptíveis de
influenciar a política de distribuição de dividendos das empresas. Com esse
intuito, estudamos o efeito que um conjunto de indicadores exerce sobre o
montante de dividendos por acção que a empresa distribui pelos seus
accionistas, incidindo o estudo empírico sobre uma amostra de empresas não
financeiras emitentes cotadas na Euronext Lisbon.
Os resultados do estudo empírico efectuado sugerem a existência de alguns
indicadores que influenciam significativamente a política de dividendos
praticada pela empresa. Deste modo, denota-se a existência de um efeito
positivo do cash-flow gerado na empresa no exercício económico ao qual dizem
respeito os dividendos e do preço pelo qual as acções da empresa são
transaccionadas no mercado de capitais no final desse exercício económico sobre
os dividendos por acção que a empresa distribui. Por outro lado, sugerem que a
política de dividendos de uma empresa num determinado ano não é influenciada
significativamente pela sua política de dividendos em anos transactos.
O estudo efectuado apenas para as empresas não financeiras que integram o
índice PSI 20 parece reforçar o efeito positivo e significativo do cash-flow e
do preço pelo qual as acções da empresa são transaccionadas no mercado de
capitais sobre os dividendos por acção. Contudo, neste grupo de empresas
denota-se ainda um efeito negativo do resultado líquido obtido, no exercício
económico ao qual dizem respeito os dividendos, sobre os dividendos por acção
distribuídos pela empresa. Os resultados obtidos parecem assim indicar que não
será um montante mais elevado de resultados líquidos obtido pela empresa no
exercício económico a contribuir para uma maior distribuição de dividendos por
acção, mas sim os fluxos financeiros gerados pela empresa no exercício
económico ao qual dizem respeito os dividendos. Tal situação poderá resultar do
facto da empresa, para pagar os dividendos aos accionistas, ter necessidade de
possuir disponibilidades financeiras na sua tesouraria.
O estudo efectuado constitui um primeiro passo para averiguar quais os factores
susceptíveis de influenciar a política de dividendos das empresas. Contudo,
contém limitações que futuras investigações deverão tentar ultrapassar. A
reduzida dimensão da amostra sobre a qual incide o estudo, em grande medida
fruto do tamanho reduzido do mercado de capitais português, traduz-se na
principal limitação, inviabilizando a generalização dos resultados obtidos no
estudo.