Gestão ambiental do produto: Rumo à sustentabilidade industrial
Do ponto de vista industrial, as primeiras medidas adotadas para reduzir os
impactos ambientais foram de carácter curativo e restritas aos processos
produtivos, denominadas de soluções de «fim-de-linha» (end-of-pipe). A partir
destas evoluíram as medidas preventivas, focadas ainda no processo produtivo,
denominadas produção mais limpa (clean production) e eco-eficiência (eco-
efficiency).
As medidas curativas geralmente são mais dispendiosas e menos eficientes, pois
uma vez recolhida a contaminação, esta deve ser armazenada num local seguro e
em recipientes adequados, o que requer investimento e como consequência o
aumento dos custos de produção. Já as medidas preventivas atuam sobre as
origens dos problemas e tentam reduzir a contaminação ao longo do processo
produtivo através do uso mais eficiente da energia e dos recursos naturais.
Atualmente, vários estudos têm demonstrado que somente o melhoramento do
processo de manufatura não é suficiente para amenizar os problemas ambientais.
Estes estudos mostram que é preciso atuar na fonte do problema, ou seja,
considerar os aspetos ambientais dos produtos.
De acordo com Brezet e Rocha (2001, p. 244), o desenvolvimento de produtos com
foco ambiental provou ser mais efetivo em termos de resultados ambientais
porque consegue prevenir a poluição ao longo do ciclo de vida do produto e
identificar oportunidades de melhoria logo na primeira fase, na conceção do
produto. Segundo Charter e Tischner (2001a, p. 120), esta fase determina mais
de 80% dos custos económicos e dos impactos ambientais e sociais que ocorrem
durante todo o ciclo de vida do produto.
Apesar de mais eficiente, o desenvolvimento de produtos de menor impacto
ambiental é também uma tarefa mais complexa. Para Cramer e Schot em Brezet e
Rocha (2001, p. 249), algumas medidas devem ser adotadas para melhorar a
capacidade da empresa em produzir produtos com foco ambiental:
· Incorporar aspetos ambientais na estratégia de negócio de toda a empresa,
incluindo os departamentos responsáveis pela inovação (como por exemplo,
Investigação & Desenvolvimento, marketing, etc.);
· Criar condições na empresa para a partilha de informações entre os
responsáveis pelas funções ambientais e os responsáveis pelas funções
relacionadas à formulação das estratégias de negócio;
· Promover a cooperação entre a empresa e os seus colaboradores (fornecedores,
distribuidores e partes interessadas) através da troca de informações, bem como
da fixação de padrões de exigências.
Devido à complexidade que envolve o projeto de produtos de menor impacto
ambiental, medidas preventivas de gestão ambiental são geralmente uma pré-
condição para o seu desenvolvimento. Um estudo conduzido de 1995 a 1998 pelos
centros de inovação da Alemanha a 77 empresas de pequeno e médio porte confirma
a importância da Gestão Ambiental como disciplina base para a produção de
produtos de menor impacto ambiental. Este estudo demonstra que as empresas que
desenvolvem produtos ecológicos já tinham, muitas vezes, estabelecido um
Sistema de Gestão Ambiental parcial (Hemel, 2001).
Os principais regulamentos e normas para certificação de Sistemas de Gestão
Ambiental são o Regulamento n.º 1221/2009 do Sistema Comunitário de Ecogestão e
Auditoria (EMAS) e a Norma ISO 14001 da International Organization for
Standardization (ISO). De modo geral, as certificações de Sistemas de Gestão
Ambiental são destinadas a empresas e organizações que querem implementar,
avaliar ou melhorar o seu desempenho ambiental, assegurando uma conformidade
com a política ambiental por si estabelecida . Além de facilitar as relações
comerciais entre países, já que alguns mercados exigem a certificação de
produtos e processos, os regulamentos e normas ajudam as empresas a
demonstrarem as suas preocupações ambientais perante terceiros.
Gestão ambiental do produto
«Se as poluições geradas pela empresa em sítios de produção são geograficamente
delimitadas, o produto pode ser considerado como um poluidor nómada.»
(Kazazian, 2005, p. 34).
Com o intuito de incorporar os aspetos ambientais no desenvolvimento de
produtos e, ao mesmo tempo, aumentar a competitividade da empresa, destaca-se a
importância da gestão ambiental do produto (GAP).
O primeiro a discutir sobre as obrigações ambientais e sociais que envolviam os
responsáveis pelo desenvolvimento de produtos foi Victor Papanek no início dos
anos 1970. Segundo ele, no seu livro Design for the Real World, o Design
deveria centrar-se no Homem, na ecologia e na ética. Papanek criticava o
sistema industrial e o estilo de vida imposto pelo capitalismo.
A partir dos anos 1980, outros autores, como Ézio Manzini, apresentaram as suas
preocupações ambientais, porém, ao contrário de Papanek, eles não se opunham ao
modelo capitalista e ao sistema industrial em vigor. «É necessário, então,
enfrentar a questão ambiental de forma proposital e projetual [...] o ambiente
(na realidade) é um fator de inovação [...] este tem a ver com a dimensão dos
processos produtivos, e diz respeito também aos produtos e serviços, à
organização das indústrias e das instituições» (Manzini em Moraes, 2006, p.
119).
A incorporação de aspetos ambientais na conceção de produtos apresenta diversas
nomenclaturas, como por exemplo ecoconceção, ecodesign, green design, design
for environment, design sustentável, etc.. Aqui vamos considerar o termo gestão
ambiental do produto - GAP. Este termo tem como base a gestão ambiental, porém,
como o próprio nome refere, o seu foco está no produto. Trata-se de uma
disciplina que envolve as competências da gestão ambiental e do design de
produto.
Para Fiskel em Dias (2006, p. 55), o ecodesign é um conjunto específico de
práticas de projeto, orientadas para a criação de produtos e processos
ecoeficientes, respeitando-se os objetivos ambientais, de saúde e segurança
durante todo o ciclo de vida destes produtos.
Para Kazazian (2005, p. 36), considerar as questões ambientais no
desenvolvimento de produtos consiste em reduzir os seus impactos e, ao mesmo
tempo, conservar a sua qualidade de uso (funcionalidade, desempenho) para
melhorar a qualidade de vida dos usuários de hoje e de amanhã.
De forma resumida, podemos dizer que GAP é o conjunto de medidas aplicadas ao
processo de concepção, desenvolvimento e controlo do produto que objetiva a
minimização dos impactos ambientais ao longo do seu ciclo de vida (da extração
da matéria-prima até o fim da sua vida útil) aumentando a competitividade da
empresa assim como a satisfação das necessidades do utilizador.
Para Charter e Tischner (2001a, p. 120), os termos design de produto, ecodesign
e design sustentável são geralmente confundidos e não apresentam uma definição
clara. Desta forma, os autores apresentaram uma figura que nos ajuda a
distinguir as diferenças entre cada um deles (ver Figura 1).
Figura_1
A diferença entre Design de Produto, Ecodesign e Design Sustentável
A GAP ou ecodesign, além dos requisitos abordados pelo design de produto,
procura integrar os aspetos ambientais durante todo o ciclo de vida do produto.
Já o design sustentável é mais complexo do que a GAP, pois integra, além dos
aspetos económicos e ambientais, os aspetos éticos e sociais ao longo do ciclo
de vida do produto, ou seja, envolve todas as dimensões do desenvolvimento
sustentável.
Competitividade e preservação ambiental
«Nenhuma empresa que pretenda permanecer competitiva, aberta a novos mercados e
a novas oportunidades pode dar-se ao luxo de ignorar as exigências globais de
qualidade ambiental.» (Lewis et al., 2001, p. 28)
Alguns estudos mostram que, ao considerar as questões ambientais no
desenvolvimento do produto, as empresas acabam por aumentar a qualidade do
produto e do seu processo produtivo, melhorar a imagem do produto e da empresa
e, consequentemente, conseguir bons resultados económicos.
De acordo com Tischner (2001, p. 264), além da proteção do meio ambiente,
existem outras razões para iniciar e praticar o ecodesign.
Segundo este autor, o ecodesign:
· Reduz o consumo de energia e material bem como a quantidade de resíduos e
contaminação, ou seja, poupa dinheiro;
· Melhora a imagem da empresa e dos seus produtos tendo como consequência o
aumento das vendas;
· Reforça a conformidade legal e antecipa futuras exigências reguladoras
através da atuação voluntária e proativa;
· É um investimento no futuro da empresa porque aumenta a sua capacidade
inovativa e o sucesso das estratégias de longo prazo.
Para compreender como a GAP pode contribuir para a preservação ambiental e
simultaneamente aumentar a competitividade da empresa utilizam-se os princípios
da vantagem competitiva segundo Porter. Para Porter (1989, p.10), existem três
estratégias genéricas para se alcançar uma vantagem competitiva: liderança no
custo, diferenciação e enfoque. As estratégias de liderança no custo e de
diferenciação buscam a vantagem competitiva num amplo segmento de mercado,
enquanto a estratégia de enfoque visa uma vantagem de custo ou diferenciação
num segmento específico (ver Figura 2).
Figura 2
Três estratégias genéricas
Segundo Porter, as três estratégias genéricas podem assim ser descritas:
· A liderança no custo: a empresa centra os seus esforços na busca de
eficiência produtiva, na ampliação do volume de produção e na minimização de
gastos com propaganda, assistência técnica, distribuição, pesquisa e
desenvolvimento, sendo o preço um dos principais atrativos para o consumidor;
· A diferenciação: trata-se da diferenciação do produto ou do serviço oferecido
pela organização, criando algo que seja considerado único no mercado. Neste
caso, a empresa procura investir na qualidade, tecnologia, sistema de
logística, recursos humanos, Investigação e Desenvolvimento (I&D) e
pesquisa de mercado, com a finalidade de criar diferencial para o consumidor;
· O enfoque: identifica-se um alvo restrito, no qual, por meio da diferenciação
ou do custo, a empresa se especializará atendendo a segmentos ou nichos
específicos (grupo de clientes, um segmento da linha de produtos ou um mercado
geográfico).
A GAP, além de contribuir para a preservação ambiental, pode colaborar com as
empresas independentemente do tipo de estratégia adotada. Se uma empresa adotar
uma estratégia de liderança no custo, por exemplo, a GAP pode satisfazer as
necessidades primárias de uso, segurança e qualidade e contribuir com a redução
do custo de produção, a redução do número de componentes e de matérias-primas
do produto, a otimização do transporte e do armazenamento, etc. Se a empresa
adotar a estratégia de diferenciação, por exemplo, a GAP pode satisfazer as
necessidades primárias de uso, segurança e qualidade e também promover
identidade, personalidade e inovação ao produto.
Segundo Charter e Tischner (2001a, p. 121), as empresas que consideram aspetos
ambientais no processo de desenvolvimento de produtos conseguem reduzir custos,
produzir produtos mais inovadores e atingir um posicionamento mais seguro no
mercado em relação às empresas menos sensíveis aos problemas ambientais. Isso
comprova-se nas palavras de Lorraine Bolsinger, vice-presidente da divisão da
General Electric (GE), no artigo de Ullmann (2007) «Sustentabilidade - um fator
competitivo». Bolsinger afirmou que «os produtos e processos sustentáveis são
melhores para o ambiente e também mais rentáveis para os negócios». Ele se
referia à sua linha de produtos ecológicos, a Ecoimagination, que rendeu à GE,
no ano de 2006, uma faturação de US$ 10 bilhões (7,6 mil milhões, ao câmbio da
altura), valor que a corporação prevê dobrar em quatro anos.
Segundo Lewis et al. (2001, p. 27), empresas como Xerox, Electrolux, Bosch,
BMW, Philips, Volvo, AEG e Wilkhahn têm investido significativamente em novos
processos, sistemas, tecnologias de produção e métodos de design com o objetivo
de reduzir os impactos ambientais dos seus produtos porque:
· Gostariam de posicionar-se no mercado como empresas líderes e inovadoras;
· Preferem antecipar as mudanças reguladoras e de mercado ao invés de reagir a
elas;
· Reconhecem o surgimento de um terreno mais competitivo e de uma mudança de
paradigma para os negócios;
· Desejam agir de maneira responsável;
· Desejam influenciar a direção da regulação e da legislação através de
parcerias com o governo a fim de garantir os seus investimentos;
· Desejam reforçar as suas áreas de competência técnica e desenvolver novas;
· Gostariam de mudar ou melhorar a imagem corporativa da empresa.
De acordo com Charter e Tischner (2001b, p. 18), um produto que apresenta bons
conceitos ambientais pode não trazer à empresa novos negócios, porém um produto
que não possui um bom perfil ambiental ou não apresenta informações detalhadas
sobre os seus impactos durante o seu ciclo de vida terá como resultado a perda
de consumidores. Isso porque «se torna cada vez mais evidente o interesse dos
consumidores pelo histórico dos produtos que adquire. Eles querem saber como,
onde e por quem o produto foi fabricado.» (Klaus Töpfer, diretor executivo da
UNEP em Robins e Leeuw, 2001, p.52).
Situação atual e perspetivas futuras
De acordo com o Instituto Rathenau em Brezet e Rocha (2001, p. 247), os
esforços para introduzir aspetos ambientais no desenvolvimento de produtos
podem ser divididos em quatro tipos (ver Figura 3):
· Melhoramento do produto: envolve mudanças parciais e melhorias de produtos já
existentes no mercado. Geralmente o produto em si e as técnicas de produção
continuam as mesmas. Trata-se de uma mudança a curto prazo que consegue atingir
um grau de ecoeficiência entre os fatores 2 e 3;
· Redesign do produto: o conceito do produto continua o mesmo, porém os seus
componentes são melhorados de acordo com alguns critérios: utilizar materiais
não tóxicos, considerar o uso de materiais reciclados e recicláveis, facilitar
a desmontagem do produto, o reuso dos componentes, a redução de energia, etc..
Os benefícios ambientais deste tipo de mudança podem chegar ao fator 5 e pode
ser atingida em médio prazo;
· Inovação funcional: não se restringe ao conceito existente e procura novas
formas de efetuar a função do produto. Geralmente a mudança passa do uso de
produtos físicos para o uso de serviços desmaterializados. Desta forma,
consegue-se benefícios ambientais de fator 10 com uma perspetiva de longo
prazo;
· Inovação do sistema: propõe a reestruturação do sistema tecnológico,
incluindo o produto, a cadeia produtiva, a infraestrutura associada e a
estrutura institucional. Acredita-se que com este tipo de mudança é possível
chegar a um fator 20 de ecoeficiência, porém exige um período de tempo maior.
Figura 3
Quatro tipos de ecodesign
Atualmente a maioria dos esforços referentes ao ecodesign apresentam soluções
que recaem nos dois primeiros tipos: o melhoramento do produto e o redesign do
produto. Neste caso, as mudanças (curto e médio prazo) na estratégia do negócio
são pequenas, porém as empresas têm de se preparar para lidar com outro tipo de
informação, o meio ambiente. Por outro lado, a inovação funcional e a inovação
do sistema requerem um período de tempo maior e exigem mudanças na política e
na estratégia de negócio da empresa. Estas mudanças apresentam um contributo
significativo para o desenvolvimento sustentável, porém a sua complexidade é
maior. Neste caso, o envolvimento de todos os colaboradores e o empenho da
gestão de topo é fundamental.
O sistema produto-serviço é um exemplo de inovação funcional onde conceitos
como a desmaterialização e a intensificação do uso do produto são aplicados.
Para Manzini e Vezzoli (2002, p. 19), o sistema produto-serviço é um «conjunto
integrado de produto, serviço e comunicação com que as empresas se apresentam
ao mercado». Neste sistema, o utilizador não adquire somente o produto mas um
serviço associado a um produto. O consumidor paga um valor anual ou mensal
(dependendo do tipo de negócio) e tem o direito de usufruir do produto e dos
serviços associados (manutenção, atualização) e quando o produto chega ao final
da sua vida útil, o fabricante fica responsável pela recolha, desmontagem e
reutilização dos seus componentes e das suas matérias-primas. Desta forma, o
fabricante desenvolve uma relação mais próxima com o cliente e consegue a sua
fidelidade sem grandes investimentos em campanhas publicitárias.
O sistema produto-serviço é bastante defendido pelos estudiosos pois sugere a
passagem de uma sociedade de consumo, baseada em produtos, para uma sociedade
de uso cuja principal modalidade seria formada por serviços. A Tabela apresenta
as diferenças básicas entre o sistema económico atual (economia industrial,
baseada na venda de produtos) e um sistema económico que tem como base a
prestação de serviços (venda de desempenho).
Tabela 1
Diferença entre a economia de serviço e a economia industrial
Para Kazazian, (2005, p. 45), a duração de uso efetiva dos objetos é muito
inferior ao seu potencial. Segundo o autor, um berbequim apresenta uma vida
útil de 10 anos, porém só é utilizado na média de trinta minutos por ano. Ainda
segundo o autor, o automóvel fica em média 92% do tempo parado. Imagine agora
quantos produtos possui que raramente utiliza. Isto mostra que mudanças
significativas devem ocorrer. Deve-se intensificar o uso dos produtos e assim
diminuir a sua quantidade. O volume de matérias-primas e energias utilizadas
para a fabricação de produtos, que, na maioria das vezes, são mal aproveitados,
poderiam ser substituídos por sistemas de prestação de serviços que causariam
menos impactos ao ambiente.
Para Charter e Tischner (2001b, p. 18), o próximo paradigma do ecodesign irá
focar em três áreas:
· Na compreensão e comunicação dos benefícios económicos do ecodesign;
· Numa implementação mais abrangente de ecoprodutos nos sistemas
organizacionais;
· Na prorrogação desse pensamento às fronteiras éticas e sociais e às suas
implicações no desenvolvimento de produtos e serviços mais sustentáveis.
As palavras de Charter e Tischner revelam que a evolução do ecodesign ocorrerá
da sua transição para o design de produtos sustentáveis por este considerar
para além dos aspetos ambientais, aspetos éticos e sociais ao longo do ciclo de
vida dos produtos. Neste sentido, podem-se destacar dois modelos de
desenvolvimento de produtos sustentáveis: o princípio cyclic-solar-safe de
Datschefski (2008) e o princípio da eco-eficácia (eco-effectiveness) também
conhecido como cradle-to-cradle de McDonough e Braungart (2008).
Ambos os princípios representam o conceito de inovação do sistema, ou seja,
propõem a reestruturação do sistema tecnológico, incluindo o produto, a cadeia
produtiva, a infraestrutura associada e a estrutura institucional.
Estes princípios propõem:
· O desenvolvimento de produtos feitos a partir de materiais orgânicos
compostáveis ou de minerais que possam ser continuamente utilizados;
· A utilização de energias renováveis no processo de fabricação e utilização do
produto;
· O fim da liberação de qualquer tipo de resíduo tóxico no ar, no solo ou na
água durante a sua fabricação, utilização e eliminação;
· A valorização das potencialidades culturais e materiais do local.
A essência destes princípios é a substituição do modelo linear de produção (ver
Figura_1) para um sistema cíclico (ver Figura 4).
Figura 4
Sistema linear de produção
Segundo os autores citados, o sistema linear de produção consiste basicamente
em extrair a maior quantidade de recursos naturais, transformá-los, distribuí-
los, utilizá-los e descartá-los no menor espaço de tempo possível sem se
preocupar com a escassez dos recursos naturais, com a poluição gerada ou com o
descarte seguro dos produtos no final da sua vida útil. Os produtos descartados
muitas vezes possuem materiais nobres que poderiam ser reutilizados, materiais
biodegradáveis que poderiam ser melhor aproveitados e materiais tóxicos que
deveriam ter uma atenção especial. Na verdade, o produto final é só a ponta do
icebergue. Segundo McDonough e Braungart (2002, p. 28), «o produto em si contém
aproximadamente 5% de todo o material utilizado na sua fabricação e
distribuição».
Para os autores, o fator-chave para transformar o atual sistema linear de
produção num sistema mais sustentável é torná-lo cíclico (ver Figura 5).
Figura 5
Sistema cíclico de produção
Como disse Lavoisier, «na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma». A ideia é utilizar os recursos de maneira sustentável e aproveitar
ao máximo os subprodutos gerados, os resíduos de uma empresa, por exemplo,
podem ser a matéria-prima ou o combustível de outra.
Alguns pólos industriais já estão a ser criados tendo em consideração a
sinergia de algumas empresas com o intuito de reduzir o volume de resíduos
gerados e tornar o processo mais económico e eficiente. Algumas medidas começam
a ser adotadas para a incorporação de aspetos ambientais nos produtos, como por
exemplo a iniciativa da União Europeia sobre a Política Integrada dos Produtos
(Integrated Product Policy ' IPP) que é «uma estratégia de reforço e de
reorientação das políticas ambientais em matéria de produtos, com vista a
fomentar o desenvolvimento de um mercado favorável à comercialização de
produtos mais ecológicos e, por fim, promover um debate público sobre este
tema» (Comissão da Comunidade Europeia, 2011a).
Podem-se destacar os dois projetos-piloto realizados entre 2004 e 2006 com as
empresas Nokia e Carrefour. De acordo com a Comissão Europeia de Meio Ambiente
(2011b), estes projetos foram bem sucedidos ao demonstrar como a Política
Integrada dos Produtos pode reduzir os impactos ambientais relativos à produção
e ao consumo de produtos no que diz respeito ao uso de recursos, energia,
transporte e produção de resíduos. Outros exemplos de atividades incentivadas
pela Política Integrada dos Produtos podem ser vistos em países como Canadá,
Holanda, Japão e Suécia (United States Environmental Protection Agency, 2011).
Conclusão
A globalização provocou significativas mudanças no comportamento do mercado. As
empresas estão expostas a uma grande concorrência resultante da abertura
comercial, levando-as a um processo contínuo de busca de novas alternativas que
assegurem a sua competitividade. A manutenção e a conquista de mercados já não
dependem apenas da qualidade e do preço do produto. É preciso acrescentar
elementos e características que identifiquem e diferenciem a empresa dos seus
concorrentes.
Descobrir soluções positivas para a indústria, a sociedade e o meio ambiente é
o novo desafio da gestão ambiental do produto. O aspeto económico é fundamental
no contexto empresarial pois geralmente é o principal fator de motivação, porém
as questões ambientais e sociais não podem ser esquecidas. Os produtos devem
ser ambientalmente eficientes, socialmente responsáveis e economicamente
viáveis. Um produto eficiente no consumo de energia, por exemplo, é bom para o
ambiente pois poupa recursos e reduz a poluição, bom para a economia pois reduz
os custos de sua utilização e bom para a sociedade pois preserva os recursos
para as próximas gerações.
Atualmente, é possível satisfazer os nossos desejos e necessidades através de
processos industriais mais limpos e de objetos mais duráveis e assimiláveis
pelos processos naturais. Afinal todos nós precisamos de objetos, seja para o
transporte, comunicação, trabalho, entretenimento, vestuário, saúde, etc. E
todos precisamos também de um ambiente preservado. Logo, nada melhor do que
satisfazer as nossas necessidades e ao mesmo tempo preservar os nossos recursos
naturais.
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