Informação
O DICIONÁRIO
Información
Informação
Information
Information
Javier Barcenillas
Université de Lorraine - Metz UFR Sciences Humaines et Sociales - Metz Équipe
PErSEUs: Psychologie Ergonomique et Sociale pour l'Expérience Utilisateurs(EA
7312) Ile du Saulcy CS 60228 57045 METZ cedex 01 France
javier.barcenilla@univ-lorraine.fr
A noção de informação engloba aceções e âmbitos muito diversificados.
Nesta breve revisão da noção, vamos tentar definir com precisão o modo como foi
abordada em Psicologia e, mais concretamente, na Psicologia do Trabalho e na
Psicologia Ergonómica, e qual pode (ou pôde) ser o seu valor heurístico na
análise do trabalho.
Em Psicologia, a noção de informação assemelha-se frequentemente à noção de
conhecimento, a algo que nos comunica significado; já na teoria da informação,
o termo "informação" refere-se tanto à mensagem transmitida como aos símbolos e
sinais utilizados para codificar a mensagem.
Desde o início da Psicologia Científica tem havido interesse pelas questões
relacionadas com a informação, frequentemente designada por "estímulo" ou
simplesmente "sinal". Foram considerados principalmente dois aspetos desta
noção:
— por um lado, em que medida é que o ser humano é capaz de processar um sinal
em função da sua intensidade? Esta questão dará lugar aos primeiros estudos em
Psicofísica e ao desenvolvimento de metodologias de medição e avaliação de
limiares de deteção;
— por outro lado, em que medida o ser humano realiza com maior ou menor rapidez
um tratamento (proporcionar uma resposta) em função da quantidade de informação
transmitida?
Esta questão conduzirá à elaboração de metodologias para estudar o tempo de
reação a estímulos mais ou menos complexos (por exemplo, o método "subtrativo"
de Donders, 1969) que serão retomadas a partir dos anos cinquenta e que
marcarão o auge das metodologias designadas por "cronometria mental".
Assim, observamos no início da Psicologia Científica o aparecimento da
preocupação explícita em levar em consideração a noção de informação (sobretudo
no seu aspeto quantitativo), como uma variável explicativa da dificuldade ou
facilidade para realizar certos tratamentos.
A partir dos anos quarenta, dois acontecimentos sucessivos e complementares em
torno da noção de informação vão permitir levar a cabo numerosas investigações.
Em primeiro lugar, a teoria da informação de Shannon, uma teoria matemática
(probabilista), cujo interesse é possibilitar a quantificação da informação
transmitida por uma fonte e ver (em função da natureza do canal através do qual
circula), qual o processamento realizado pelo recetor.
Mais tarde, nos anos cinquenta, surgem as teorias cognitivistas chamadas "de
tratamento da informação simbólica" que consideram o indivíduo (tendo por
referência o funcionamento da informática emergente) como um sistema de
tratamento de dados. Rapidamente, tornou-se evidente para os psicólogos que
podiam estabelecer um paralelismo entre estes dois sistemas concetuais: o
sistema de informação de Shannon e o sistema humano de processamento da
informação, como mostram os diagramas de Edwards. (1971, pp. 42 e 44):
Figura_1
Figura_2
Quando se comparam os dois modelos, é possível reconhecer imediatamente a
sobreposição das suas componentes. A única diferença é a ausência de
representação das fontes de ruído no modelo humano. A ausência desta componente
revela-se problemática na análise do trabalho porque esta corresponde a todas
essas variáveis explicativas individuais e contextuais que podem alterar a
perceção do sinal por parte do recetor / operador.
Contudo, a teoria da informação vai fornecer aos psicólogos do trabalho e aos
ergonomistas a metodologia para medir a quantidade de informação transmitida
por um sistema técnico ou por um ser humano e para observar a utilização que o
operador / recetor dela fará. Tal acontece sobretudo nos casos em que podem
aparecer múltiplos sinais e quando a sua probabilidade de ocorrência não é
previamente conhecida (situações de controlo de objetivos num ecrã, ativação de
alarmes, acontecimentos imprevistos nos sistemas mais ou menos automatizados,
etc.), mas também nos contextos de apresentação de uma quantidade de informação
definida previamente em função de certas exigências (apresentação mais ou menos
rápida da informação, processamento simultâneo ou partilhado de estímulos
provenientes de várias fontes, etc.).
Duas noções fundamentais da teoria da informação serão operacionalizadas para
analisar o trabalho:
— a noção de "bit", que é a quantidade mínima de informação transmitida por uma
mensagem e que constitui a unidade de medida de base da informação processada
por um sistema técnico ou por um operador humano – quando o operador recebe a
informação correspondente a um acontecimento que tem uma oportunidade em duas
de ocorrer, processa um bit de informação; o mesmo acontece quando considera os
diferentes eventos que podem ocorrer como se estes tivessem a mesma
probabilidade de ocorrência.
— a noção de "entropia", que se refere à medida da incerteza sobre o tipo de
sinal que aparecerá num dado momento e que depende de três aspetos: o número de
eventos que podem ocorrer, a probabilidade da sua presença e a experiência
anterior do indivíduo neste tipo de situação.
Durante os anos sessenta e setenta, numerosos psicólogos utilizaram o quadro
metodológico da teoria da informação para analisar situações de trabalho. Em
França, esta abordagem foi desenvolvida sobretudo por Ombredane e Faverge
(1955), da qual é possível encontrar um estudo crítico no artigo de Cuny
(1982). De igual forma, a maioria dos trabalhos apresentados no livro de
Ochanine (1971) “L’homme dans les systèmes automatisés” seguem a mesma linha
teórica e metodológica. Estes trabalhos defendem a ideia de que o operador
humano pode ser considerado do ponto de vista de um determinismo probabilista.
Por outras palavras, quando se analisa o trabalho, a atividade do operador pode
ser prevista a partir de modelos matemáticos que têm em conta a quantidade de
informação a que o operador está exposto e a probabilidade de aparecerem os
sinais.
Esta abordagem da análise do trabalho deu lugar a várias investigações
experimentais e, em menor número, a investigações aplicadas. Num artigo de
Faverge de 1953 podemos encontrar uma apresentação destas metodologias, bem
como exemplos de possíveis aplicações no campo da Human Engeneering (estudo da
quantidade de informação memorizada com base no valor da entropia; quantidade
de informação recebida em função da quantidade transmitida no decurso da
aprendizagem de um sinal; estimativa do tempo para captar e utilizar uma
informação com base na informação transmitida; aprendizagem da probabilidade de
aparição em certos eventos; medida do limiar absoluto de deteção de um sinal
quando este implica vários valores próximos). Contudo, como assinala Cuny
(1982), estas investigações apresentam os seus próprios limites ao não
incluírem na análise do trabalho as caraterísticas individuais dos operadores:
“no essencial, as possibilidades concebidas no quadro da teoria da informação
estão subordinadas ao princípio que vincula a eficácia da conduta (do trabalho)
ao valor das mensagens que chegam ao operador. Segundo este princípio, tanto as
dificuldades e os erros como os sucessos no trabalho tendem a depender em maior
medida das modalidades de comunicação que produz esta mensagem do que das
aptidões e inaptidões, consideradas como componentes estáveis do indivíduo. O
valor da mensagem define-se, neste quadro, em termos de quantidade de
informação transmitida e mais concretamente em termos de captura da
"informação útil"” (p. 62, a partir da tradução livre do autor);
útil para a finalidade da tarefa em curso. Esta última noção, introduzida por
Ombredane e Faverge (1955), corresponde à informação efetivamente utilizada
pelo operador de entre o conjunto de informações (sinais) a que pode estar
exposto. Assim, o assunto sobre o qual se debruçaram os psicólogos do trabalho
e os ergónomos será o da compatibilidade entre as caraterísticas dos sinais
transmitidos através de um canal e as caraterísticas do operador que processa
as informações. As abordagens “Human factors” nos Estados Unidos, inspiraram-se
largamente nesta procura de compatibilidade para estudar a interação entre a
pessoa e a máquina.
No quadro da teoria da informação houve sempre um grande volume de trabalhos em
Ergonomia centrados no estudo dos limiares de deteção de sinais. A Teoria da
Deteção de Sinais (TDS) e as metodologias que a acompanham mostram que a
resposta do indivíduo exposto a uma série de estímulos não depende unicamente
da intensidade desses estímulos (possibilidade de codificar ou não), nem da
sensibilidade do indivíduo para discriminar os sinais do ruído (sinais
irrelevantes para a tarefa). Na verdade, a resposta depende também das
estratégias do operador que o levam a tomar uma decisão: uma estratégia
conservadora que o orienta no sentido de dar uma resposta correta apenas quando
tem a certeza de que detetou o sinal, ou uma estratégia arriscada que reduz os
critérios de incerteza na decisão e leva o operador a gerar um número mais
considerável de falsos alarmes (respostas incorretas). A teoria da deteção do
sinal foi amplamente utilizada em Ergonomia para estudar as situações de
vigilância em que se pretende detetar sinais que aparecem num ecrã de forma
mais ou menos esporádica, por exemplo.
Por último, a noção de informação, no seu aspeto quantitativo, deu origem a
literatura prolífica e a estudos abundantes em torno do conceito "carga mental
de trabalho". Nesta perspetiva, a carga mental dever-se-ia a uma sobrecarga
informacional. Esta ideia baseia-se sobretudo nos trabalhos de Broadbent (1958)
em que o autor propõe que o ser humano dispõe de um sistema de processamento
atencional da informação com uma capacidade limitada (o chamado "canal único de
processamento"), que ficaria saturado quando o indivíduo tem de processar
demasiadas informações, informações que se sucedem muito rapidamente ou que
procedem de múltiplas fontes. Uma das metodologias usadas para medir a carga
mental derivada desta conceção é a da "dupla tarefa". Esta consiste em pedir ao
operador que execute duas tarefas (uma principal e outra secundária) e em
saturar mais ou menos a sua capacidade de processamento com a execução
prioritária de uma das tarefas, determinando qual é a restante capacidade
residual para realizar a outra tarefa (aumento ou diminuição do número de
erros). A principal crítica feita a esta abordagem da carga mental prende-se
com o facto de considerar que a capacidade de processamento do indivíduo é uma
constante simultaneamente intra-individual e interindividual.
Outra variante explicativa da carga mental de trabalho menos exigente (já que
não postula uma capacidade de processamento constante) é a proposta de Wickens
(1984) em termos de "múltiplos recursos". Neste modelo, a capacidade de
processamento do operador é metaforizada como um depósito de recursos de
natureza distinta, correspondentes a diferentes modalidades de tratamento da
informação. Estes recursos podem ser solicitados simultaneamente desde que não
sejam incompatíveis na realização de uma tarefa (por exemplo, dois tratamentos
diferentes: visual e auditivo). Embora este modelo tenha em conta o aspeto
qualitativo da informação, o aspeto quantitativo ainda continua a ser
determinante (para mais pormenores sobre a noção de carga mental do trabalho,
consultar o artigo desta revista: Cánepa Díaz, C. (2013). Carga mental.
Laboreal, 9(1), 109-112. http://laboreal.up.pt/es/articles/carga-mental/.
Ainda que as metodologias baseadas exclusivamente na teoria da informação já
não sejam utilizadas atualmente para estudar o trabalho, no passado estas
permitiram certos avanços na análise ergonómica. Entre outros aspetos,
contribuíram para melhorar os postos de trabalho e a qualidade das interfaces
homem/máquina através da conceção de sistemas de sinalização que têm em conta a
qualidade dos estímulos apresentados, a conceção de dispositivos que consideram
a compatibilidade entre sinais e respostas e as estereotipias, a criação de
alarmes que assinalam as situações de risco, o acondicionamento de situações de
trabalho em que os trabalhadores ficam saturados com demasiada informação, etc.
No entanto, hoje em dia, o aspeto quantitativo já não é preponderante nos
modelos cognitivos do processamento da informação aplicados à análise do
trabalho. Na análise da atividade visa saber-se, sobretudo, qual é o
significado que os operadores atribuem ao seu trabalho: como raciocinam e
planificam? Porque adotam certas estratégias para processar ou não o sinal? De
que forma a experiência anterior influencia o processamento da informação? De
que forma as circunstâncias ambientais, o estado de fadiga do operador ou o seu
estado atencional atuam na situação de trabalho? Atualmente, interessar-se pelo
processamento da informação significa também interessar-se pelas caraterísticas
dos estímulos e pelos valores do "ruído", ou seja, pelas variáveis individuais
e contextuais que influenciam o processamento da informação.