Solo agrícola e agricultura em espaço urbano: dinâmicas. O exemplo de Évora
1. Introdução
A afirmação económica da cidade foi desde sempre acompanhada por uma
significativa componente agrícola, assegurada nas áreas de maior proximidade ao
núcleo urbano, em situações mais baixas e assim mais frescas e em solos mais
férteis. Nas paisagens mais meridionais, entre esses espaços incluíam-se as
tipologias de hortas, pomares, ferragiais, olivais, vinhas e as quintas, onde
se produziam os produtos fundamentais para abastecer a cidade de frescos e
matérias primas, comercializados pela atividade mercantil. No presente, muitas
destas tipologias ainda perduram nos nossos espaços abertos, uma presença que é
ainda reforçada pela toponímia.
Mais recentemente, a agricultura em espaço urbano expressa-se com objetivos e
modos de realização distintos da agricultura tradicionalmente praticada nos
campos agrícolas ligados à cidade. Correspondem-lhe ocorrências espontâneas ou
organizadas, em espaços públicos ou privados, individuais ou coletivos e
localiza-se dentro do perímetro urbano ou na periferia, uma atividade agrícola
que inclui agricultores a tempo parcial ou total e com ou sem preparação
técnica e/ou científica.
O objetivo da investigação é melhorar o entendimento sobre o significado da
componente agrícola em espaço urbano para as sociedades e perspetivar
estratégias no sentido de promover o património solo agrícola e a permanência e
sustentabilidade do uso agrícola em espaço urbano.
Se, no passado, a componente agrícola urbana estava intrinsecamente ligada aos
domínios sociais e económicos, no presente relaciona-se ainda com os domínios
ecológicos e pedagógicos. Esta presença traduz-se assim numa maior proximidade
à natureza, como forma de procura de maior qualidade de vida urbana,
combinando-se com os anteriores domínios sociais e económicos, desde sempre
mais pronunciadas em tempo de crise.
Reconhecem-se que são muito diversas as dificuldades de implantação e
manutenção de atividades agrícolas em espaço urbano. Desde a não integração da
função produtiva agrícola no ordenamento e planeamento urbano (planos
diretores, planos estratégicos, planos de urbanização e planos de pormenor), às
dificuldade de acesso aos terrenos vazios (devolutos ou onde as anteriores
funções/atividades entraram em processo de decadência e/ou abandono), aos
obstáculos legislativos que se relacionam com a valorização dos solos com
maiores potencialidades para a produção de biomassa em espaço urbano e,
naturalmente ainda, aos conhecidos problemas relacionados com o acesso à água.
Argumenta-se nesta investigação a necessidade de legitimar a maior visibilidade
que a agricultura urbana tem vindo a ganhar, através de um enquadramento legal
que garanta maior operacionalidade desta função em espaço urbano. Assim, por um
lado lança-se o desafio da ativação de políticas públicas, que não só legitimem
a função produtiva na cidade, integrando-o entre as funções urbanas, como
favoreçam a sua reconversão funcional, fundamental no solucionar de alguns
problemas urbanos decorrentes de opções irracionais e/ou especulativas; por
outro lado, esse desafio sustenta-se no pressuposto da necessidade de dinâmicas
integradas, com articulação dos várias domínios que estão associados à presença
da agricultura em espaço urbano - os económicos, sociais, culturais e
ecológicos.
A metodologia de trabalho seguida compreende a análise da dinâmica de evolução
urbana, associada à presença da agricultura em espaço urbano, numa perspetiva
que inclui o seu significado nos domínios históricos, sociais, económicos,
ecológicos e estéticos. Uma pesquisa que é centrada no caso-estudo de uma
cidade antiga, de média dimensão, localizada no interior sul de Portugal
- a cidade de Évora.
2. Conceitos
A investigação assenta em três conceitos basilares - o de agricultura, o
de solo agrícola e o de urbano-rural -, noções que refletem o espaço, os
recursos, as atividades e os atributos que se envolvem e aprofundam na temática
tratada.
Agricultura compreende a atividade que consiste em cultivar a terra para dela
se obterem vegetais úteis ao Homem (frutas, legumes, hortaliças,...) e/ou à
criação de animais. Uma produção que pode ser de mercado ou de autoconsumo.
Solo agrícola é o recurso a que se associa a atividade agrícola ou a matéria
prima para o cultivo de alimentos. Compreende os solos com maiores aptidões
para a produção de biomassa e, simultaneamente, os solos particularmente
importantes sob o ponto de vista ecológico, económico e social, dado
constituírem o produto da dinâmica integrada entre agentes físicos e processos
humanos.
O conceito de urbano/rural(ou de cidade/campo), traduz dicotomias, e muitas
vezes oposições, relativas à paisagem, entendida enquanto espaço, cultura,
economia, tradições, modos de vida, etc. No rural (ou no campo) supõe-se ser a
agricultura o suporte principal da economia sendo o atributo cultural da
sociedade que se inscreve no território marcado pela atividade agrícola
(Domingues, 2011). Uma concepção que na atualidade é mais integrada ao verem-
se-lhe valorizadas outras funções (culturais, recreativas, proteção,...). O
urbano (ou acidade) envolve outras funções principais (económicas, sociais,
políticas, culturais), outras atividades dominantes (comerciais, recreativas,
educativas,....) e traduz sempre o domínio do ambiente construído, inerte e do
artificial, sobre as características naturais do território.Esta concepção é
cada vez mais contrariada pela teoria e pela praxis,em termos de planeamento da
paisagem urbanizada, ao se considerar o funcionamento dos espaços e estruturas
dentro de um sistema global integrado - natural e cultural - de que são
exemplificativos os trabalhos e/ou investigações de Hough (1995), Ruano (1999),
Forman (2004) Waldheim (2006) e, entre nós, os de Telles (1996), Magalhães
(2001) e Batista (2009). Em síntese, tratam-se de dois universos que nos
remetem para a ideia de transformação - são identidades mutáveis,
considere-se o rural ou o urbano (tradicional ou contemporâneo) ou o
metamorfosear do rural em urbano.
Globalmente, toda a abordagem ao tema agricultura em espaço urbano aprofunda-se
noutros dois conceitos - o de paisagem global e o de património -
dada a perspetiva de integração de espaços, de uso e de valores que rege a
leitura que fazemos. A paisagem global pressupõe a inexistência de barreiras
rígidas entre espaços urbanos e rurais, reconhecendo as interdependências entre
estes, com apelo à dissolução gradual da distinção cidade, periferia e campo,
incentiva a interligação entre elementos vivos e inertes e resgata o retorno à
ideia de continuidade da paisagem e à sua multifuncionalidade (Telles, 1996). O
conceito de património é explorado na perspetiva em que se valoriza o bem-
comum, associado ao recurso solo agrícola, à memória coletiva e à identidade da
paisagem. É com base nestes pressupostos que se procura legitimar a presença de
usos agrícolas em espaço urbano, através da integração e dinamização de uma
nova função na cidade, expressa na inclusão de áreas agrícolas no modelo de
desenvolvimento urbano.
3. O espaço urbano e a agricultura
As atividades agrícolas estiveram sempre presentes nas cidades e expressaram,
ao longo dos tempos, um importante significado económico (Marques, 1968;
Beirante, 1995; Donadieu e Fleury 2003). Correspondem-lhe produções de natureza
agrícola e pecuária, decorrentes de iniciativas das comunidades urbanas e
também das rurais envolventes à cidade; com efeito, nas cidades mediterrânicas
a economia urbana inclui a do seu espaço em redor (Beirante, 1995; Caldas,
1994; Donadieu e Fleury 2003). A cidade vernacular envolvia assim uma relação
complementar com a sua envolvente rural, onde imperaram os determinismos
naturais (derivados do meio natural) e os culturais (económicos, sociais e
históricos, de entre os quais se realça a disponibilidade de mão-de-obra).
Cultivavam-se então, no interior protegido da cidade bem como na sua periferia
(mais rural ou de carácter mais agrário), cereais, produtos hortícolas e
frutícolas e ocorria a criação de animais (bovino, ovino, suíno, equino,
caprino e aves, entre outros). Os produtos resultantes dessas atividades
agropecuárias - que expressam um carácter marcadamente intensivo -
eram usados para autoconsumo ou eram inseridos no mercado local, uma vez que a
cidade era um importante centro de consumo, consistindo o comércio desses
produtos uma importante fonte de rendimentos dos habitantes (Beirante, 1995).
A essa presença produtiva associa-se um padrão paisagístico singular que evolui
sob a ação conjugada de fatores naturais (topografia, solo, água, topo-clima e
vegetação) e humanos (os culturais, expressos na estrutura da propriedade, na
rede de caminhos/vias ou na ocupação do solo):
* no interior da cidade integram-se espaços da tipologia horto-pomar, que
asseguraram importantes funções produtivas e sociais ao longo do tempo. Esta
presença acompanha diversos elementos urbanos, seja na agregação e
organização dos lotes e edifícios em sistema fechado (os quarteirões)
deixando livre o interior privado ou semi-público (onde ocorrem hortos,
pomares e jardins), seja na construção de edifícios com logradouro (ou o
designado quintal, onde está presente a horta, o pomar e/ou o pequeno
jardim), ou ainda nas situações mais férteis, periféricas ao interior dos
recintos muralhados (Figura_1);
* fora do perímetro da cidade o padrão decorre das características naturais
(frequentemente situações mais aplanadas e baixas, por isso mais húmidas e
solos mais férteis) que se harmonizam com dois agro-sistemas singulares (o
agere o saltus) bem como com a estrutura da propriedade:
* o primeiro, na envolvente imediata da área urbana, desenhava um aro bem
delimitado de campos abertos, agrícola, compartimentado, onde se situam as
hortas, as quintas, os pomares, os ferragiais mas também frequentemente a
vinha e o olival. A esta área mais fértil e viçosa corresponde uma malha
densa e de pequenos prédios rústicos, de exploração agrícola e pecuária, onde
é comum a presença do edifício destinado à habitação. Nessa estrutura,
frequentemente murada ou simplesmente vedada, de proteção, dominavam as
culturas mimosas e de bom rendimento, aquelas que requeriam bastante mão de
obra e vigilância constante. Correspondem-lhe assim pequenas unidades de
cultura, intensivas, onde estavam presente os legumes, as frutas e também
algumas vezes os cereais (Figura_2);
* numa situação mais afastada à cidade, e imediatamente após o mencionado
primeiro aro, expressa-se um espaço mais amplo de malha mais larga, onde a
produção é assim extensiva e onde impera a produção de cereais, os prados e a
mata (Figura_2).
Só mais recentemente, a partir do processo de industrialização, é que esse
equilíbrio foi mais comprometido, resultado de um conjunto de novos valores,
fenómenos e dinâmicas. É assim a partir do final do século XIX que se inicia o
fenómeno de expansão contínua e mais acelerada da cidade, a que se associam
quebras significativas no mencionado equilíbrio, resultado de alterações muito
profundas a vários níveis (ecológicos, sociais, económicos e estéticos). Da
economia agrária passou-se a uma economia industrial, com consequente alteração
da paisagem, expressa nos valores, na emergência de novos fenómenos urbanos e
modos de vida; crescimento e dispersão de habitação e de atividades produtivas
e transformadoras, consumo em massa, explosão de serviços e de comércio,
crescente significado da mobilidade e afastamento das populações urbanas da
produção de alimentos e da natureza, encontram-se entre as principais dinâmicas
sentidas - mudanças que configuram a passagem de uma sociedade
predominantemente rural para uma outra, marcadamente urbana (Batista, 2009).
Tal reorganização económica e social deu lugar a configurações espaciais e
estruturais marcadas pela acentuada fragmentação, descontinuidade e mesmo
destruição da estrutura ecológica, mas também da estrutura cultural, expressos
numa significativa destruição dos solos e profunda alteração do seu uso, na
perda da biodiversidade da paisagem e eliminação de elementos e estruturas do
património urbano e rural.
Como antes referido, ainda que haja alguma especificidade quanto ao tipo de
atividades associadas à paisagem com características mais urbanas ou rurais, a
construção milenar da paisagem incluiu sempre uma certa diversidade de
atividades e funções, com consideração das suas especificidades e valores
- ao espaço urbano atribui-se um papel político-administrativo,
socioeconómico e cultural; e ao espaço rural é atribuído o papel de produção de
alimentos, que abastece o espaço urbano, em conjugação com outras funções, como
as de proteção e de recreio. A essas paisagens multifuncionais tradicionais
associa-se assim uma estrutura, um significado e uma certa ordem e equilíbrio.
Uma combinação que é resultante de processos naturais, que configuram a
estrutura ecológica que caracteriza um dado espaço (referimo-nos à matriz
geológica, hidrológica e biológica) e da manipulação e adaptação operada pelo
Homem nesse suporte, que configura a estrutura cultural (referimo-nos à matriz
histórica, arqueológica, social e económica) (McHarg, 1969; Magalhães, 2001).
Globalmente, a rápida urbanização das últimas décadas tem sido acompanhada por
problemas graves ao nível da transformação do território e da construção da
paisagem urbana - expressos numa artificialização antes impensável, numa
fragmentação do espaço edificado e não edificado, numa forte separação da
sociedade da natureza, numa quase total impermeabilização do solo, com
destruição dos solos mais férteis, no desemprego e pobreza, e numa diluição (ou
mesmo desvalorização) da imagem da cidade e da sua sustentabilidade.
Consequentemente, surgiram políticas de ordenamento e gestão do território que
promovem a organização do espaço concelhio e espaço urbano num determinado
horizonte temporal, designadamente os Planos Diretores Municipais (PDM) e os
Planos de Urbanização (PU). A que acrescem outros instrumentos que visam
proteger legalmente os solos de maior capacidade agrícola e outras áreas de
elevada importância ecológica. Em Portugal, essas preocupações determinaram a
publicação das leis relativas à Reserva Agrícola Nacional (RAN, 1982) e à
Reserva Ecológica Nacional (REN, 1983).[2] Pretendia-se que, em conjunto, estas
duas condicionantes ao uso do solo travassem a utilização desregrada de áreas
de elevado valor natural, levando a um maior respeito pelos seus valores. Foi,
no entanto, a partir de 1990 que estas condicionantes passaram a ter maior
força legal, ao ser determinada a obrigatoriedade de todos os municípios
aprovarem o seu PDM e integrarem nas cartas de condicionantes essas duas áreas
de Reservas. Contudo, como veremos adiante, nem sempre a sua eficácia foi (é)
visível, dada a imediata desafetação destas áreas daquelas reservas, sempre que
integrassem áreas interiores ao perímetro urbano (portanto a sua exclusão das
áreas que integram o PU).
Simultânea à mencionada urbanização das últimas décadas e às preocupações com o
que consideramos o bem comum solo, têm-se vindo a observar um ganho de
visibilidade (mais do que renascer do interesse) da agricultura em espaço
urbano.
A agricultura urbana envolve agora uma produção predominantemente de
autoconsumo, familiar e, com menor expressão, de base empresarial, mais técnica
e científica. Desenvolve-se de forma espontânea ou organizada, em espaços
públicos ou privados, individuais ou coletivos, com uma localização que é
sobretudo interior ao perímetro urbano, mas que também pode ocorrer na
periferia.[3] Praticada em áreas relativamente pequenas, realiza-se por
agricultores a tempo parcial ou total, com poucos conhecimentos técnicos, uma
vez que essa não é (ou não era) a sua atividade principal (Pinto, 2007). Estas
áreas são, agora, cada vez mais procuradas por parte das populações de
características urbanas.
Os argumentos invocados para o incentivo e incremento das práticas de
agricultura urbana incluem (e muitas vezes articulam) princípios ecológicos,
socioeconómicos e culturais. No essencial, decorrem das ideias que integram o
ambiente natural na cidade e de preocupações sociais, relacionadas com a
necessidade de obtenção de alimentos básicos a uma população específica.
Demonstram-no as preocupações ou argumentos umas vezes mais centrados:
* nos processos naturais e/ou biológicos, especialmente manifestados nas
questões ecológicas ou ambientais (manutenção da área permeável, redução de
combustíveis fósseis, aumento da fertilidade e biodiversidade urbana);
* outras em questões sociais e económicas (autoconsumo, combate à pobreza);
* e, mais pontualmente, relacionam-se com questões culturais (transmissão de um
saber fazer, de um modo de ser, identidade de um povo, espaço de refúgio e de
descanso, de observação dos ritmos da natureza, educação ambiental e na
procura de uma vida mais saudável, muitas vezes assente na produção
biológica).
4. A cidade de Évora
4.1 Agricultura e a cidade - dinâmica e evolução
Évora é uma cidade portuguesa antiga, de interior e de média dimensão,
essencialmente terciária, resultado de um processo de transformação que foi
ocorrendo ao longo dos séculos. O território em que se inscreve foi desde
sempre privilegiado com água suficiente para a exploração agrícola e a criação
de gado, reunindo assim boas condições para a criação de uma cidade. Apesar dos
muitos vestígios romanos, não é possível afirmar que o território se organizava
segundo uma trama ortogonal e regular romana, supondo-se que as terras se
organizavam de acordo com as atividades nelas desenvolvidas e delimitadas por
elementos naturais, determinando uma divisão de propriedade irregular, adaptada
à paisagem e ao valor do espaço. Coexistem a grande e a pequena propriedade
(esta sobretudo a norte) e a agricultura adquire particular importância (sendo
os cereais e a vinha as culturas dominantes) (Ramos, Sobral e Abreu, 1997).
A partir do século XIII, Évora começa a definir com maior precisão o seu termo,
respeitando os limites naturais - fluviais e orográficos. No que se
refere à cidade propriamente dita, constrói-se uma cidade de plano
radioconcêntrico, a partir do núcleo urbano mais antigo (Beirante, 1995).
Dentro da cerca urbana existem inúmeros espaços abertos privados -
almuinhas, hortas e ferragiais, espaços que "(...) constituíam parte
integrante da paisagem urbana e eram o complemento natural da economia
citadina. Sendo espaços de apropriação privada, não deixam de beneficiar toda a
comunidade, proporcionando-lhe abundância de frutos, frescura de águas e pureza
dos ares." (idem:117). Carapinha (1995:37-40) reforça esta afirmação ao
referir que "Hortas, pomares, vergéis e quintais distribuem-se
aleatoriamente pelo miolo das construções, embora se note uma maior densidade
de quintais e vergéis - espaços mais confinados -, no interior das
cercas velhas, do que no espaço delimitado pelas cercas novas, onde um espaço
mais amplo proporciona uma maior expressão dos elementos vegetais (...) Hortas
e almuinhas distribuem-se sobretudo nos recintos delimitados pelas cercas
novas" .
Como já mencionado, a afirmação económica da cidade é acompanhada pela
componente agrícola, especialmente assegurada nas áreas de maior proximidade
aos centros urbanos e complementadas por algumas áreas que lhe são interiores.
Também em Évora, a circundar o recinto urbano encontrava-se uma utilização
agrícola do solo que desenhava zonas agrícolas, concêntricas, de produção
distinta, onde as quintas representaram, juntamente com as múltiplas hortas,
ferragiais, vinhas e pomares, um importante meio de fornecimento de frutas e
legumes frescos à cidade (Beirante, 1995; Carapinha, 1995). Asseguravam-lhe
assim o abastecimento diário de produtos de consumo frequente e facultavam um
ambiente aprazível para o recreio dos habitantes da cidade, expressos nas
práticas de caça, no gozo de um espaço de refúgio no campo ou na procura de
momentos de convívio e contemplação (Carapinha, 1995).
Atualmente, esta zona concêntrica constitui uma "coroa" irregular
de pequenas propriedades, que se associam à agricultura, manifestada nas
quintas de produção e/ou recreio e nas hortas, a que se ligam algumas
construções dispersas sobretudo a norte, onde a dimensão da propriedade é menor
e significativamente antiga. É aí que se conservam os velhos solares do século
XVIII, onde ainda se encontram hortas, pomares, olivais, terras de sequeiro e
alguma vinha (Beirante, 1995).
Nos princípios do século XIX, Moniz (1995) refere a existência de duas zonas
distintas no território circundante de Évora: uma primeira zona imediata à
muralha, fértil, de pequena propriedade de culturas hortícolas, frutos,
legumes, vinhas e olivais, explorações destinadas quase exclusivamente ao
abastecimento da população citadina; a seguir a esta zona de quintas, segue-se
de imediato a área das grandes explorações, as grandes herdades (latifúndios).
Entre estas duas ocorrem quartéis e courelas, parcelas de pequena dimensão de
produção diferenciada.
No final do século XIX, a instalação da estação ferroviária a sul foi
determinante na estruturação da organização urbana, favorecendo a expansão de
novas áreas urbanas nessa direção.
Ocorrem também nesta altura algumas mudanças nos modos de exploração,
distinguindo-se duas formas:
* nas herdades localizadas na parte de relevos mais expressivos - onde
predominavam o montado e a charneca - a exploração centrava-se no
aproveitamento do azinho e sobro (gado, cortiça e lenha) e nas pastagens das
charnecas como invernadouros para o gado, sendo o cereal uma atividade
secundária;
* nas herdades situadas nas zonas de baixa, a produção organizava-se em duas
partes; uma cuja área de ocupação foi aumentando na segunda metade do século
XIX, era formada por terrenos que não entravam no afolhamento e eram
utilizados para hortas, pomares, e/ou vinha e olival; uma outra, de maior
superfície, submetida a afolhamento, sendo a principal exploração os cereais
e os legumes e onde a criação de gado era considerada uma atividade
industrial auxiliar, que aproveitava as pastagens de pousio.
Não obstante esta diversificação, a agricultura manteve sempre uma posição de
destaque durante o século XIX (Fonseca, 1996 inRamos, Sobral e Abreu, 1997). A
primeira imagem cartográfica do termo rural de Évora (segundo Daveau, 1995),
assim o evidencia (Figura_3). A ocupação do solo expressa, mais a oeste e norte
(na área assinalada com uma trama) o domínio das vinhas e dos olivais; mais a
sul e a este, dominam as culturas extensivas.
A expansão urbana para além das muralhas fez-se de forma muito lenta até meados
do século XX. É a partir daqui que a mecanização da agricultura, com a
consequente diminuição de mão-de-obra no campo, determina o deslocar da
população rural para a cidade, em busca de novas oportunidades de trabalho. São
assim criados os primeiros bairros (clandestinos e não planificados) em redor
da cidade, onde se replicam as características das povoações rurais de origem
(Carvalho, 1990; Ramos, Sobral e Abreu, 1997; Simplício, 2009) mantendo-se a
pequena agricultura, o cultivo de produtos hortícolas em quintais, hortas e
pomares, espaços intersticiais entre moradias e espaços vazios entre bairros.
As dinâmicas dos anos '70 do século passado levaram ao aparecimento de
outro tipo de bairros clandestinos, como resposta a uma procura de pessoas da
cidade e imigrantes. São criados lotes de maiores dimensões e com
características e tipologias de habitação diferentes. Associada a esta dinâmica
de procura, assiste-se também à compra de lotes para especulação imobiliária,
numa perspectiva da sua valorização com o tempo e não para construção imediata.
Verifica-se assim uma baixa densidade de construção, com a consequente criação
de vazios dentro dos bairros e muitos terrenos expectantes, a par do
parcelamento da propriedade na envolvente da cidade (Carvalho, 1990).
No final dos anos '70 do século XX, a elaboração do PDM[4] e consequente
elaboração do Plano Geral de Urbanização (PGU), determinaram regras concretas
de ordenamento concelhio. Nomeadamente o Plano Negativo da Área Urbana (peça
integrante do PGU), determina condicionantes à edificação do solo no sentido de
impedir a destruição de solos agrícolas protegidos, para o que identifica
"as áreas que não podem ver o seu uso alterado, as infra-estruturas
existentes e propostas e os elementos da estrutura natural indispensáveis ao
bom equilíbrio biológico da área urbana. Consideram-se, neste plano, (...)
áreas de solos de boa qualidade que se deverão reservar para a produção
agrícola; (...)" (Simplício, 2009:17). Por sua vez, o Plano de Usos dos
Solos da Área Urbana (também parte integrante do PGU) tem como princípio, entre
outros, a criação de uma estrutura verde penetrando até ao Centro Histórico
(idem). Estas determinações revelam desde logo a necessidade de travar um
processo de transformação acelerada da cidade, nomeadamente na envolvente à
muralha, com a consequente impermeabilização de vastas áreas, a destruição de
solos agrícolas e perdendo-se a diferenciação entre o espaço rural e o espaço
urbano - uma identidade até então marcada pelo respeito pelos valores
naturais e culturais.
Carvalho (2003:131-132) refere que esta diferenciação entre rural e urbano se
tornou mais ambígua ao longo do século XX, mesmo quando os perímetros urbanos
são definidos legalmente em Planos de Urbanização, indispensáveis à gestão e
administração municipal: "(...) o plano-zonamento não se mostra
suficiente. O caso de Évora demonstra-o bem. O Plano de Urbanização, elaborado
nos anos 70, foi respeitado e, no entanto, a Cidade não se mostra
suficientemente estruturada, exatamente porque cresceu por zonas, de forma
autónoma aos eixos viários estruturantes, antigas estradas sob as quais pendiam
servidões (...)". Tal atendeu a uma lógica de definição que fica muito
aquém da valorização do potencial do território e da paisagem em presença
(Freire e Ramos, 2014).
Entre o início dos anos '80 e meados da década de '90 do século XX,
o crescimento da cidade manteve a sua estrutura radioconcêntrica, ocorrendo o
crescimento em áreas adjacentes aos pequenos bairros, ampliando-os ou
estabelecendo continuidades urbanas com eles e entre eles, tendendo para uma
maior concentração (Carvalho, 2003). Os bairros clandestinos são recuperados e
o crescimento da cidade faz-se de forma planeada. No final dos anos '80 e
início dos anos '90, assiste-se a uma expansão da cidade para sul, com os
parque e zona industrial e depois com o mercado abastecedor, ocupando vastas
áreas de solos férteis, para o efeito desafectados do seu estatuto de proteção
(RAN).
O atual Plano de Urbanização tem como objectivo central a qualificação da
cidade como um todo, articulando atividades do Centro Histórico e do espaço
extramuros (com a necessária reestruturação funcional da cidade).
A partir do momento em que o município redefiniu o seu perímetro urbano e
comprovou a necessidade de utilização dos solos classificados como RAN, para
dar resposta à estratégia de desenvolvimento municipal, as áreas inicialmente
classificadas como solo rural passaram a solo urbano, perdendo o enquadramento
legal de proteção e valorização e alterando profundamente o seu uso -
desaproveitando a sua vocação agrícola inicial e criando vastas áreas
impermeabilizadas pela edificação.
Como corolário, atualmente Évora apresenta um núcleo urbano antigo -
denso e coeso mas em processo de despovoamento - em torno do qual se
desenvolve a cidade contemporânea - uma cintura descontínua, fragmentada,
de bairros e áreas industriais e de terciário que se expandiram em manchas
isoladas (Figura_4), onde são particularmente evidentes as áreas de reserva e
as expectantes ao uso e ao investimento, áreas quase todas agrícolas,
abandonadas ou pouco cultivadas. A lógica da ocupação do espaço marcada pela
definição em sectores funcionais impôs-se aos factores naturais e
características próprias culturais da cidade.
Durante o mais recente processo de ordenamento e gestão urbana, os sistemas
tradicionais de agricultura ficaram 'adormecidos' ou foram
claramente abandonados, resultado da conjugação de vários fenómenos:
* por um lado, a especulação imobiliária (com os planos de ordenamento, o solo
antes rural passa entretanto a ser classificado em urbano, o que constitui um
investimento muito interessante para citadinos);
* por outro, os agricultores abandonaram a atividade agrícola, de exploração de
pequenas a médias explorações, pouco produtivas e muito pouco lucrativas e
foram desenvolver outras atividades principais;
* ou ainda, o conhecido fenómeno de alguns citadinos procurarem habitar um
espaço com características ainda rurais, evidenciando uma procura nostálgica
do campo (por exemplo no sector este da cidade, numa situação de transição
para o espaço rural, onde várias propriedades foram divididas em grandes
lotes, como resposta a este tipo de procura).
Não obstante as diversas e profundas transformações ocorridas em Évora ao longo
dos séculos, em termos de crescimento urbano e de padrões de vida, a componente
agrícola fez sempre - e continua a fazer - parte da sua evolução e
dinâmica de crescimento. A confirmá-lo, surgem agora novas formas de
agricultura em espaço urbano, como apresentado no subcapítulo seguinte.
4.2. A recente reabilitação de agricultura em espaço urbano - hortas
urbanas
As várias alterações ocorridas em Évora ao longo dos séculos resultam, como
vimos, das dinâmicas sociais e económicas instaladas em cada época. Às mais
recentes lógicas de crescimento urbano, associadas ao aumento do edificado e de
terrenos expectantes com vista à sua rentabilização, começam agora a associar-
se outras, de carácter mais ecológico, ambiental, pedagógico e sociocultural,
que se traduzem, entre outros, numa maior proximidade à natureza, como forma de
procura de maior qualidade de vida urbana - dinâmicas de sinal contrário
ao percurso seguido nas últimas décadas, procurando-se atividades mais
sustentáveis relacionadas com a agricultura em espaço urbano.
Uma das mais atuais e crescentes formas de expressão do que afirmamos é a
recuperação da produção agrícola em meio urbano, através das designadas hortas
urbanas ou hortas sociais.
Em Évora, esta prática recente começou a ser dinamizada em 2011 pelo município,
dando resposta programada a iniciativas espontâneas que ocorrem um pouco por
toda a cidade, em reduzidas faixas de terreno público, na proximidade ou
adjacentes à habitação ou outros espaços vazios que o permitam (Figura_5).
O programa de criação de hortas urbanas tem como objetivos: disponibilizar
gratuitamente uma parcela de terreno a todos os interessados, destinado
exclusivamente à produção hortícola e floricultura para consumo próprio; criar
complementos ao rendimento económico das famílias; promover hábitos de
alimentação saudável; fomentar práticas de consumo mais equilibradas; potenciar
a convivência familiar e comunitária; contribuir para uma melhor consciência
ambiental; promover a biodiversidade; sensibilizar e educar para o
desenvolvimento sustentável; e potenciar o recurso compostagem, sensibilizando
para a necessidade de redução de resíduos.
O terreno e a água são oferecidos, gratuitamente, por um período (renovável) de
um ano cabendo à autarquia a gestão global das hortas. As suas dimensões podem
variar entre os 25 e os 50 m2, tendo a autarquia optado, até agora, por talhões
de 45m2, área que se tem revelado adequada - os horticultores conseguem
ter sempre toda a parcela tratada e retiram produção suficiente para o consumo
familiar (produção de frescos para uma família de quatro pessoas). As hortas
são vedadas e dotadas de um ponto de água.
A localização das hortas não está previamente definida mas a proximidade de
áreas urbanas e, sobretudo, de pontos de água, é determinante para a sua
localização. Atualmente existem duas áreas agrícolas deste tipo, situadas
próximas uma da outra, perto do aqueduto da Água de Prata, no sector norte da
cidade (Monte e Forte de Santo António) (Figura_6), estando previsto novo
espaço agrícola no bairro da Malagueira, no sector oeste da cidade (onde já se
verificam ocupações espontâneas junto às habitações) (Figura_5) (Figura_7). De
realçar que todas estas hortas se localizam em terrenos baldios municipais e em
solos cujas características não são integráveis nas áreas de RAN. Acresce o
facto de não deterem carácter permanente, podendo a autarquia determinar a sua
extinção caso necessite destas áreas para outros usos.
Relativamente aos horticultores interessados, constata-se que não há uma
relação direta entre a idade ou a profissão e o interesse por este projeto. Há
horticultores novos, de meia-idade e alguns reformados, e de todos os sectores
de atividade (primário, secundário e terciário).
Foi atribuído um talhão a todos os munícipes inscritos nas duas primeiras
hortas. De acordo com informação prestada pela autarquia, 50 munícipes aguardam
porque só estão interessados caso a horta seja na sua zona de residência
(freguesia da Malagueira). Os serviços municipais têm registo de outros 30
munícipes interessados caso o projeto tenha continuidade. Demonstra-se, assim,
a necessidade de reforçar as áreas disponibilizadas, ainda pouco expressivas em
termos absolutos mas de grande significado face a uma oferta ainda diminuta
para superar a procura.
5. Uma proposta para a permanência e sustentabilidade do uso agrícola em espaço
urbano
A evolução verificada nas dinâmicas urbanas ao longo dos tempos demonstram que,
apesar de o crescimento urbano estar associado ao aumento do edificado, a
agricultura em espaço urbano é uma constante - ainda que assumindo
importância e forma diferenciadas decorrentes da evolução das dinâmicas
enunciadas, confirmados no caso estudo.
Atualmente, assiste-se a um renascer do interesse da atividade agrícola em
espaço urbano, onde se evidenciam preocupações ecológicas, pedagógicas e
culturais, a par das socioeconómicas, como anteriormente afirmado.
A integração de áreas agrícolas no modelo de desenvolvimento urbano -
constituindo uma nova função na cidade, dando resposta programada a uma procura
existente e ainda insuficiente e tirando partido dos benefícios que estas áreas
proporcionam no espaço urbano - tem vindo a ser equacionada e defendida
por diferentes autores de diversas áreas disciplinares.
Telles (1996) defende essa integração através do conceito de paisagem global,
que expressa a inexistência de barreiras rígidas entre espaços urbanos e
rurais. Uma proposta que, por um lado, reconhece as interdependências entre
esses espaços e, por outro, pode ser observada como estrutura fundamental ao
desenho da paisagem, convocando a integração das componentes naturais e
culturais. Esta ideia é também defendida por Alexander et al. (1997),
simbolizando-a nos dedos urbanos e dedos rurais entrelaçados. Carvalho (2003)
apresenta uma ideia análoga, ao explorar o conceito de cidade campestre, que
corresponde à interpenetração cidade/campo, ideia ainda valorizada no conceito
de campo urbano por Donadieu e Fleury (2003) ou por Forman (2004) no conceito
de mosaico paisagístico, ensaiado para a região de Barcelona.
Matos (2010:286) considera a agricultura urbana "não apenas como um
factor de produção mas também como detentora de um grande potencial para o
recreio sob o ponto de vista social, económico, ecológico, cultural e estético
[considerando-a] como uma estrutura fundamental na re-conceptualização do
projecto do espaço urbano.".
Numa perspetiva de concretização destas ideias, Donadieu e Fleury (2003)
defendem a necessidade de legitimar política e socialmente o regresso da
agricultura nos espaços urbanos. Carvalho (2003:515) concretiza-o na proposta
de criação do estatuto de áreas agrícolo-florestais de cidade, referindo que
"(...) elas existem, actualmente, no território urbano, quase sempre
expectantes, muitas vezes em processo de degradação, espreitando a oportunidade
de se tornarem urbanizáveis". O autor refere que estas áreas seriam
constituídas pelas áreas de RAN e de REN intercalares ao espaço urbano (que
poderiam ser revistas), complementadas com outras áreas onde as antigas
estruturas agrícolas ainda estão presentes (podendo ser consideradas
património) e por outras que conferissem estrutura e coerência ao conjunto. Com
um estatuto específico traduzido em regras de ocupação claras, estas áreas
"e, sobretudo, os seus programas de ocupação corresponderiam à recusa de
'vazios', à ideia de que não basta proibir a construção, de que é
necessário que todos os espaços da cidade tenham uma função, e de que é
necessário, também, planear [todos os espaços da] paisagem." (idem:516).
Nesta perspectiva, no sentido de dar resposta àquela integração, é importante
criar mecanismos que a possam concretizar de forma programada. Considera-se
assim que, à semelhança de outras categorias de usos e funções estabelecidos
nos diferentes planos - como espaços comerciais, industriais e
habitacionais, entre outros - também a agricultura seja considerada uma
classe de espaços, com áreas e regras de ocupação e proteção claras e bem
definidas, dentro do perímetro urbano.
Para além da criação de novas áreas para este fim, considera-se fundamental, no
momento presente, reavaliar as funções existentes e os valores em presença
- particularmente nas áreas que no interior do perímetro urbano
inicialmente se inscreviam dentro dos solos mais aptos à agricultura (RAN) e
que entretanto foram desafectados. A proposta assenta na ideia de reconverter
usos existentes e espaços programados associados a funções 'consideradas
urbanas' - outrora criados numa lógica de resposta (excessiva) a
uma procura (também excessiva) por espaços edificados (habitação, comércio e
indústria) - áreas fortemente impermeabilizadas e presentemente em
processo de declínio ou abandono e outras que se mantêm expectantes ao longo
dos anos, face à realidade atual.
A esta reconversão funcional de usos existentes e/ou previstos, acrescem
valores de importância única para a manutenção da sustentabilidade das cidades
- revigorar a cultura da terra, com valorização do património natural e
cultural, nomeadamente o património solo agrícola.
A nossa proposta vai assim mais longe na medida em que se considera que, para
além das atuais áreas acima identificadas, as áreas edificadas em solo
inicialmente rural e transformado em solo urbano (muitas delas com
potencialidades para ser integradas em áreas RAN e que perderam o seu estatuto
de proteção), sejam reconvertidas em áreas de solo rural e integradas nesta
nova classe de espaços agrícolas a integrar na cidade.