Algumas considerações sobre morfologia flexional verbal em agramatismo
0. Introdução
A par de outros défices linguísticos adquiridos[2] que afetam fundamentalmente
a produção do discurso (e.g., disfluência, variedade reduzida de estruturas
frásicas), o agramatismo é tradicionalmente caraterizado pela presença de
discurso de estilo “telegráfico”, com omissão e/ou substituição de elementos
funcionais ou categorias gramaticais – morfemas livres (artigos, pronomes,
verbos auxiliares, preposições) e afixos (morfologia flexional e derivacional)
–, por oposição a uma maior preservação de elementos lexicais – nomes,
adjetivos, verbos, advérbios (Goodglass e Kaplan, 1983).[3] As investigações
levadas a cabo nas últimas três décadas, contudo, revelam que, contrariamente à
crença tradicional de que todos os pacientes com agramatismo apresentam iguais
problemas com todos os elementos funcionais (Ouhalla, 1983), estes não se
encontram todos afetados de igual modo, sendo que os indivíduos com agramatismo
apresentam um padrão altamente seletivo de défices na sua produção discursiva.
Particularmente, ao nível da produção verbal, domínio fortemente afetado na
patologia, várias dissociações têm sido documentadas: défices ao nível da
produção de morfologia verbal por oposição a morfologia nominal (e.g., Shapiro
e Caramazza, 2003), défices ao nível da produção de morfologia flexional por
oposição a morfologia derivacional e de composição (e.g., de Bleser, Bayer e
Luzzatti, 1996), défices ao nível da produção de morfologia flexional verbal
regular por oposição a morfologia flexional verbal irregular (e.g., Ullman et
al., 1997) e défices ao nível da produção de morfologia flexional verbal de
tempo por oposição a morfologia flexional verbal de concordância sujeito-
predicado (e.g., Friedmann e Grodzinsky, 1997). Vários estudos permitem ainda
concluir que, a par de problemas ao nível da produção – agramatismo expressivo
–, os pacientes com agramatismo manifestam igualmente problemas de compreensão
– agramatismo recetivo –, nomeadamente défices seletivos na interpretação de
construções que envolvem movimento de constituintes (passivas, relativas,
clivadas, inter‑rogativas-que) (e.g., Caramazza, Capasso, Capitani e Miceli,
2005), de construções pronominais(e.g., Grodzinsky, Wexler, Chien, Marakovitz e
Solomon, 1993) e de elementos funcionais (e.g., Jonkers e de Bruin, 2009).
Neste artigo, concentramo-nos na produção e compreensão de morfologia flexional
verbal por pacientes com afasia não fluente com agramatismo[4] e procuramos:
(1) rever a literatura existente sobre o assunto, (2) discutir os dados obtidos
e as teorias explicativas propostas até à data, (3) realçar problemas e
questões em aberto no campo de investigação. A discussão permite identificar
temas para investigação futura.
O presente artigo está organizado da seguinte forma. Em primeiro lugar,
apresentamos uma breve revisão dos dados sobre produção e compreensão de
morfologia flexional verbal em agramatismo (secção 1). Em segundo lugar,
identificamos algumas das teorias mais relevantes formuladas para explicar os
défices observados (secção 2). Em seguida, traçamos algumas considerações sobre
a literatura revista (secção 3). Por último, apresentamos algumas considerações
finais (secção 4).
1. Produção e compreensão de morfologia flexional verbal em agramatismo: os
dados
Ao nível da produção, o discurso agramático é tipicamente marcado pela
ocorrência de défices a nível verbal: (a) número reduzido de verbos (tipos e
formas), quando comparado ao de outras classes lexicais (e.g., nomes) e ao
presente em discurso não patológico, e (b) erros ao nível da flexão verbal
(e.g., Bastiaanse e Jonkers, 1998; Crepaldi et al., 2011). Com efeito, vários
estudos, em várias línguas, empreendendo análises linguísticas de discurso
(semi)espontâneo e/ou aplicando paradigmas experimentais de avaliação da
produção de linguagem, permitem concluir que a flexão verbal é um domínio
particularmente vulnerável neste grupo clínico e, curiosamente, que os défices
observados apresentam um padrão altamente seletivo. Especificamente, um número
significativo de estudos demonstra maiores dificuldades na produção de morfemas
de tempo (doravante, T) (e.g., ontem o João dançou/agora o João dança) por
oposição à produção de morfemas de concordância sujeito-predicado (doravante,
Agr) (e.g., ontem o João dançou/ontem nós dançámos)[5] (e.g., Arabatzi e
Edwards, 2002; Benedet, Christiansen e Goodglass, 1998; Clahsen e Ali, 2009;
Friedmann, 2005; Friedmann e Grodzinsky, 1997; Fyndanis, Varlokosta e Tsapkini,
2012; Gavarró e Martínez-Ferreiro, 2007; Kok, van Doorn e Kolk, 2007; Lee,
2003; Nanousi, Masterson, Druks e Atkinson, 2006; Varlokosta et al., 2006;
Wenzlaff e Clahsen, 2004, 2005).[6] O padrão de erros tipicamente observado é a
omissão de flexão verbal (i.e., ocorrência de formas infinitivas) em contextos
em que a mesma é obrigatória (cf. (1)) e/ou a substituição de morfemas (i.e.,
ocorrência de formas finitas incorretas) (cf. (2)).
(1) a. Yesterday she *draw a house. [inglês, alvo: drew] (Arabatzi e Edwards,
2002)
ontem ela desenhar-infinitivo uma casa
‘Ontem ela *desenhar uma casa.' [alvo: ‘desenhou-3.ª p. sing. passado']
b. Ontem nós *passear-infinitivo. [alvo: passeámos-1.ª p. plural passado]
(Cerdeira, 2006)[7]
(2) a. Letzten Monat *ändert er seine Pläne. [alemão, alvo: änderte] (Wenzlaff
e Clahsen, 2004)
no mês passado alterar-3.ª p. sing. presente ele os seus planos
‘No mês passado ele *altera os seus planos.' [alvo: ‘alterou-3.ª p. sing.
passado']
b. Amanhã nós *dançam-3.ª p. plural presente. [alvo: dançaremos/vamos dançar-
1.ª p. plural futuro/ dançamos-1.ª p. plural presente] (Cerdeira, 2006)[8]
A dissociação T-Agr não foi, contudo, observada em alguns estudos, tendo-se
registado igualmente: o padrão oposto (i.e., maior dificuldade ao nível de Agr
do que de T) (Hagiwara, 1995; Peres, 1979); a inexistência de assimetrias entre
as duas categorias funcionais, com ambos os domínios igualmente afetados
(Bastiaanse, 2008; Cerdeira, 2006; Lee, Milman e Thompson, 2008; Stravakaki e
Kouvava, 2003); resultados não conclusivos (Burchert, Swoboda-Moll e de Bleser,
2005).
Adicionalmente, estudos mais recentes reportam dissociações no seio da
categoria T, indicando que a produção de formas verbais (simples [V] e
compostas [auxiliar + V]) com referência temporal de passado (cf. (3)) se
encontra mais afetada do que aquelas com referência temporal de presente (cf.
(4)) e de futuro (cf. (5)) (Abuom e Bastiaanse, 2013; Abuom, Obler e
Bastiaanse, 2011; Anjarningsh e Bastiaanse, 2011; Bastiaanse, 2008; Bastiaanse
et al., 2011; Bos e Bastiaanse, 2014; Bos, Dragoy, Avrutin, Iskra e Bastiaanse,
2014; Bos, Hanne, Wartenburger e Bastiaanse, 2014; Dragoy e Bastiaanse, 2013;
Jonkers e de Bruin, 2009; Lee, Kwon, Na, Bastiaanse e Thompson, 2013; Martínez-
Ferreiro e Bastiaanse, 2013; Stravakaki e Kouvava, 2003; Yarbay-Duman e
Bastiaanse, 2009).
(3) The man wrotea letter. [inglês] (Bastiaanse et al., 2011)
o homem escrever-3.ª p. sing. passadouma carta
‘O homem escreveu uma carta.'
(4) The man is writinga letter.
o homem escrever-3.ª p. sing. presenteuma carta
‘O homem escreve/está a escrever uma carta.'
(5) The man will write a letter.
o homem escrever-3.ª p. sing. futuro uma carta
‘O homem escreverá/vai escrever uma carta.'
Diferentes resultados, porém, foram obtidos noutros pacientes e noutras
línguas. Alguns estudos revelam igualmente défices ao nível da produção de
formas verbais com referência temporal de futuro (Cerdeira, 2006; Nanousi et
al., 2006; Varlokosta et al., 2006; Wieczorek, Huber e Darkow, 2011) ou o
padrão oposto (i.e., maior dificuldade na produção de formas verbais com
referência temporal de presente do que de passado) (Halliwell, 2000). Outros
não apontam qualquer dissociação entre formas verbais com referências temporais
distintas (Burchert et al., 2005; Clahsen e Ali, 2009; Faroqi-Shah e Thompson,
2004, 2007; Friedmann e Grodzinsky, 1997; Fyndanis et al., 2012; Gavarró e
Martínez-Ferreiro, 2007; Wenzlaff e Clahsen, 2004, 2005).
Alguns estudos sugerem que não apenas T mas igualmente aspeto (doravante, Asp)
se encontram afetados em agramatismo (Economou, Varlokosta, Protopapas e
Kakavoulia, 2007; Fyndanis et al., 2012; Martínez-Ferreiro e Bastiaanse, 2013;
Nanousi et al., 2006; Novaes e Braga, 2005; Stravakaki e Kouvava, 2003;
Varlokosta et al., 2006; Wieczorek et al., 2011; Yarbay-Duman e Bastiaanse,
2009). Os resultados obtidos são, todavia, inconsistentes. Alguns estudos
reportam a ocorrência de erros ao nível da produção de formas perfetivas (cf.
(6a)) por oposição a formas imperfetivas (cf. (6b)) (Economou et al., 2007;
Martínez-Ferreiro e Bastiaanse, 2013; Nanousi et al., 2006; Stravakaki e
Kouvava, 2003; Yarbay-Duman e Bastiaanse, 2009). Novaes e Braga (2005), pelo
contrário, identificam maiores dificuldades na produção de formas imperfetivas
(cf. (7a)) por oposição a formas perfetivas (cf. (7b)). Outros estudos não
apresentam dissociações entre formas verbais com diferentes valores aspetuais
(Fyndanis et al., 2012; Varlokosta et al., 2006; Wieczorek et al., 2011).
(6) a. psarepsacantar-1.ª p. sing. passado perfetivo ‘eu cantei' [grego]
(Nanousi et al., 2006)
b. psareva cantar-1.ª p. sing. passado imperfetivo ‘eu cantava/estava a cantar'
[9]
(7) a. Quando criança, Mário ouvia-3.ª p. sing. passado imperfetivo sua mãe.
(Novaes e Braga, 2005)
b. Ontem, Mário ouviu-3.ª p. sing. passado perfetivo música.
Poucos estudos analisaram a produção da categoria modo (doravante, M) em
contexto de agramatismo (Clahsen e Ali, 2009; Lee, 2003; Rofes, Bastiaanse e
Martínez-Ferreiro, 2014; Stravakaki e Kouvava, 2003; Wenzlaff e Chalsen, 2005).
Focando a distinção entre eventos com valor factual [+realis] (cf. (8)) e não
factual [-realis] (cf. (9)) – especificamente, entre eventos que acontecem (no
presente) ou aconteceram (no passado) e eventos que não aconteceram (no futuro)
ou que são hipotéticos (construções condicionais) –, os estudos realizados
concluem que M está presente no discurso agramático, mas mais dados são
necessários para concluir claramente que M per se não constitui uma categoria
difícil para este grupo clínico.[10]
(8) Als ich traurig gewesen bin, habe ich geweint. [alemão] (Wenzlaff e
Clahsen, 2005)
quando eu triste estar-1.ª p. sing passado indicativo, eu chorar-1.ª p. sing
passado indicativo
‘Quando eu estive triste, eu chorei.'
(9) a. Si l'home tingués temps, plegaria la camisa. [catalão] (Rofes et al.,
2014)
se o homem ter-3.ª p. sing imperfeito conjuntivo tempo, passar-3.ª p. sing
condicional simples a camisa
‘Se o homem tivesse tempo, passaria a camisa.'
b. Si l'home té temps, plegarà la camisa.
se o homem ter-3.ª p. sing presente conjuntivo tempo, passar-3.ª p. sing.
futuro indicativo a camisa
‘Se o homem tiver tempo, passará a camisa.'[11]
A par de problemas ao nível da produção – agramatismo expressivo –, alguns
estudos revelam que os falantes com agramatismo manifestam igualmente problemas
de compreensão – agramatismo recetivo. Relativamente a morfologia flexional
verbal, alguns estudos sugerem paralelismos entre produção e compreensão da
linguagem na medida em que alguns pacientes exibem também dificuldades na
interpretação de flexão verbal, particularmente ao nível de T, em diferentes
tarefas (julgamento de gramaticalidade, tarefa de correspondência entre
estímulo verbal e estímulo visual, resposta verbal ou realização de ações
perante comandos verbais) (Abuom e Bastiaanse, 2013; Arabatzi e Edwards, 2002;
Bastiaanse et al., 2011; Bos, Dragoy, et al., 2014; Bos, Hanne, et al., 2014;
Dickey, Milman e Thompson, 2008; Faroqi-Shah e Dickey, 2009; Fyndanis,
Varlokosta e Tsapkini, 2013; Jonkers e de Bruin, 2009; Lee, 2003; Lee et al.,
2013; Martínez-Ferreiro e Bastiaanse, 2013; Nanousi et al., 2006; Varlokosta et
al., 2006; Wenzlaff e Clahsen, 2004, 2005). Quanto a efeitos de referência
temporal, alguns estudos não reportam diferenças entre formas verbais distintas
(Arabatzi e Edwards, 2002; Dickey et al., 2008; Faroqi-Shah e Dickey, 2009;
Fyndanis et al., 2013; Lee, 2003; Nanousi et al., 2006; Varlokosta et al.,
2006; Wenzlaff e Clahsen, 2004, 2005); outros referem défices mais expressivos
ao nível da compreensão de formas verbais com referência temporal de passado
por oposição a formas verbais com referência temporal de presente ou futuro
(Abuom e Bastiaanse, 2013; Bastiaanse et al., 2011; Bos, Dragoy, et al., 2014;
Bos, Hanne, et al., 2014; Jonkers e de Bruin, 2009; Lee et al., 2013; Martínez-
Ferreiro e Bastiaanse, 2013). Tais resultados contrariam estudos que atestam a
ausência de problemas de compreensão de flexão verbal em falantes que
apresentam problemas no domínio ao nível da produção – dissociação entre as
modalidades expressiva e recetiva (e.g., Friedmann e Grodzinsky, 1997;
Hagiwara, 1995; Nespoulous et al., 1988).
Em suma, a literatura existente permite concluir que (a) a flexão verbal
constitui um domínio vulnerável em agramatismo e (b) este é afetado de forma
seletiva: apesar de divergências nos dados obtidos, globalmente, os estudos
realizados apontam défices ao nível das categorias T e Asp por oposição a Agr e
M (T/Asp<Agr/M)[12] e, no seio daquelas categorias, mais dificuldades ao nível
da produção e compreensão de formas verbais com referência temporal de passado
por oposição a formas verbais com referência temporal de presente e de futuro
(passado<não passado)[13].
2. Défices em morfologia flexional verbal em agramatismo: as hipóteses
Diferentes teorias têm sido propostas para explicar os défices observados em
produção e compreensão de morfologia flexional verbal em agramatismo.[14]
Baseados em descrições estruturais do discurso agramático, alguns autores
interpretam a dissociação entre T e Agr (T<Agr)[15] em termos de défices ao
nível da representação do conhecimento linguístico, postulando problemas
sintáticos per se. Sob o enquadramento da Gramática Generativa (Chomsky, 1981),
Hagiwara (1995) e Friedmann e Grodzinsky (1997) formularam a hipótese do corte
da estrutura (Tree Pruning Hypothesis,TPH). Assumindo a hierarquia das
categorias funcionais de Pollock (1989)[16], os autores propõem que o
agramatismo seja representado por cortes em determinados nós da estrutura
sintática, com um corte num nó inferior a impedir o acesso a nós
hierarquicamente superiores, mas mantendo nós inferiores intactos. Diferentes
localizações do corte na estrutura sintática dão origem a diferentes níveis de
gravidade em agramatismo (Friedmann, 2005). As dificuldades observadas em T
decorrem assim da posição da categoria na estrutura sintática: um corte ao
nível de TP afeta a categoria e nós superiores (e.g., complementador, CP),
deixando nós inferiores (e.g. AgrP) intactos. Os défices resultantes afetam
apenas a produção das categorias, mantendo-se a sua compreensão intacta.
Abandonando explicações puramente sintáticas, mas ainda sob o quadro teórico do
Programa Minimalista (Chomsky, 2000), outros autores explicam os défices
reportados em termos detraçosdas categorias. Wenzlaff e Clahsen (2004, 2005)
sugerem que Agr e M se encontram mais preservados do que T em agramatismo
porque a categoria Infl (flexão), que recebe os traços de Agr, T e M, não está
especificada para T mas está para Agr e M – hipótese da não especificação de T
(Tense Underspecification Hypothesis, TUH). Segundo os autores, a dificuldade
que os pacientes com agramatismo revelam com T decorre dos traços semânticos da
categoria. T comporta informação semântica complexa, extrafrásica (e.g.,
referência a entidades temporais [+/-passado]). À semelhança de T, M comporta
informação semântica, porém menos complexa, baseada numa distinção mais básica
[+/-realis].[17] Por sua vez, Agr não envolve informação semântica da mesma
forma que T e M, tratando-se de um fenómeno mais local, associado a operações
de verificação de traços internas à frase (uma relação de correspondência entre
um elemento e um alvo). Assumindo um modelo em que Infl contém traços não
interpretáveis (Agr) e traços interpretáveis (T e M), os autores sugerem que
Infl se encontra afetada seletivamente em agramatismo: em concreto, os traços
de T ([+passado] ou [-passado]) não são especificados em Infl devido à sua
complexidade semântica (interpretabilidade), resultando em erros aquando do
processo de marcação de T no verbo (operação de verificação de traços de T) e
afetando, consequentemente, a produção e a compreensão da categoria; pelo
contrário, os traços de Agr (pessoa [1.ª, 2.ª, 3.ª] e número ([+plural] ou [-
plural]) e M ([+realis] ou [-realis]) são especificados, mantendo as categorias
intactas. Seguindo o mesmo modelo, Burchert et al. (2005) defendem a revisão da
hipótese, argumentando que também Agr pode não estar especificado em Infl –
hipótese da não especificação de T e Agr (Tense Agreement Underspecification
Hypothesis, TAUH). Assim, T, Agr ou ambos podem estar afetados.[18]
Nanousi et al. (2006), Varlokosta et al. (2006) e Fyndanis et al. (2012)
apresentam uma hipótese semelhante a TUH: hipótese do défice de traços
interpretáveis (Interpretable Features' Impairment Hypothesis, IFIH). Sob os
mesmos pressupostos teóricos (Chomsky, 2000), os autores consideram que os
défices reportados ao nível da flexão verbal em agramatismo decorrem de
problemas no processo sintático-fonológico responsável por atribuir valores
fonológicos aos traços interpretáveis de Infl (um subprocesso de Spell-Out). De
acordo com a hipótese, o défice afeta categorias com traços interpretáveis (não
apenas T mas também Asp) por oposição a categorias com traços ininterpretáveis
(Agr). T e Asp constituem categorias interpretáveis na medida em que comportam
traços semânticos: T estabelece a referência temporal de presente, passado e
futuro; Asp distingue entre eventos imperfetivos e perfetivos. Wenzlaff e
Clahsen (2004, 2005) e Fyndanis et al. (2012) sugerem que a dissociação entre
categorias interpretáveis (T e Asp) e ininterpretáveis (Agr) poderá decorrer de
custos distintos associados ao processamento dos dois tipos de categorias. As
categorias interpretáveis são mais exigentes em termos de processamento (i.e.,
requerem mais recursos), uma vez que implicam o processamento e a integração de
informação de dois níveis distintos de representação, gramatical e
extragramatical (conceptual). Contrariamente, as categorias ininterpretáveis
envolvem apenas processamento de informação puramente gramatical. Em
conformidade, dadas as limitações de processamento de pacientes com afasia
(Caplan, Waters, DeDe, Michaud e Reddy, 2007; Kok et al., 2007), é expectável a
ocorrência de mais erros ao nível da produção e compreensão de categorias
interpretáveis (T e Asp) do que de categorias ininterpretáveis (Agr).
Faroqi-Shah e Thompson (2004, 2007) interpretam os défices identificados ao
nível de T à luz de alguns modelos psicolinguísticos de produção da linguagem
(e.g., Levelt, 1999). Segundo as autoras, a dificuldade que os pacientes com
agramatismo manifestam com T corresponde a um problema ao nível da codificação
dos traços diacríticos (abstractos, pré-fonológicos) de T e/ou no acesso às
formas verbais correspondentes (morfemas verbais) – hipótese da codificação de
ou acesso a diacríticos (Diacritical Encoding and Retrieval Hypothesis, DER-H).
[19] Tal como em IFIH, as autoras associam os défices seletivos ao nível da
produção de flexão verbal a restrições semânticas (conceptuais), que ocorrem na
interface entre processos morfológicos e semânticos, especificamente ao nível
da tradução de informação conceptual-semântica em informação gramatical (flexão
verbal). Por outras palavras, os pacientes com agramatismo não conseguem
aplicar as operações sintático-semânticas que permitem transformar a noção
semântica de referência temporal (presente, passado, futuro) na categoria
sintática T (TP). Dado que o surgimento de défices ao nível da codificação de
ou de acesso aos traços diacríticos das categorias depende do envolvimento de
restrições semânticas/conceptuais durante o processo de produção da flexão
verbal, as autoras não excluem a possibilidade de ocorrerem défices também ao
nível de Asp.
Mais recentemente, Bastiaanse et al. (2011) propuseram uma nova abordagem para
a interpretação dos dados reportados na literatura. Os autores defendem que o
que é problemático em agramatismo não é T per se, mas, sim, a noção de
referência temporal, afetada seletivamente: formas verbais com referência
temporal de passado são mais difíceis de produzir e compreender do que formas
verbais com referência temporal de não pas‑sado (presente e futuro) para este
grupo clínico. O défice estende-se a formas verbais simples e compostas,
finitas e não finitas, e a outras categorias gramaticais, nomeadamente à
categoria Asp (perfetivo).[20] A dificuldade na produção e compreensão de
referência temporal de passado, em T ou em Asp, expressa através de flexão
verbal ou de morfemas gramaticais livres, observa-se num variedade de línguas,
tipologicamente distintas: em inglês (Bastiaanse et al., 2011; Abuom e
Bastiaanse, 2013; Abuom et al., 2011), em holandês (Bastiaanse, 2008; Bos e
Bastiaanse, 2014; Bos, Hanne, et al., 2014), em alemão (Bos, Hanne, et al.,
2014), em castelhano e catalão (Martínez-Ferreiro e Bastiaanse, 2013; Rofes et
al., 2014), em russo (Bos, Dragoy, et al., 2014; Dragoy e Bastiaanse, 2013), em
turco (Bastiaanse et al., 2011; Yarbay-Duman e Bastiaanse, 2009), em chinês
(Bastiaanse et al., 2011), em coreano (Lee et al., 2013), em suaíli (Abuom e
Bastiaanse, 2013; Abuom et al., 2011), em indonésio (Anjarningsih e Bastiaanse,
2011). Bastiaanse et al. (2011) atribuem a dissociação entre formas verbais com
referências temporais distintas (passado<não passado) ao facto de a referência
temporal de passado ser interpretada ao nível do discurso, enquanto a
referência temporal de presente e de futuro não o é – hipótese do passado
ligado ao discurso (Past Discourse Linking Hypothesis, PADILIH). Seguindo
Zagona (2003), a hipótese postula que a referência temporal de passado envolve
o discurso (D-linked) na medida em que requer a formação de uma relação
extrafrásica (discursiva) entre duas entidades temporais, nomeadamente o tempo
da enunciação (presente na frase) e o tempo do evento (ausente da frase), que,
crucialmente, não coincidem. Pelo contrário, a referência temporal de presente
e de futuro é menos dependente do discurso (non-D-linked), requerendo a
formação de uma relação intrafrásica: no presente, as duas entidades temporais
coincidem (tempo da enunciação=tempo do evento), não exigindo ligação ao
discurso; no futuro, não é possível estabelecer uma referência ao tempo do
evento dado este ainda não ter tomado lugar. Adotando o pressuposto de Avrutin
(2006) de que o agramatismo traduz um problema de processamento de categorias
interpretáveis ao nível do discurso[21], a hipótese prevê défices ao nível da
produção e da compreensão de referência temporal de passado por oposição a
referência temporal de presente e de futuro.
3. Algumas considerações sobre morfologia flexional verbal em agramatismo
Apresentámos anteriormente uma breve revisão dos dados existentes sobre
produção e compreensão de morfologia flexional verbal em agramatismo (cf.
secção 1) e sobre diferentes teorias explicativas dos défices reportados (cf.
secção 2). Traçamos, em seguida, algumas considerações sobre a literatura
apresentada.
1. Os dados obtidos até então sobre produção e compreensão de morfologia
flexional verbal em agramatismo não são conclusivos. Padrões divergentes foram
obtidos em diferentes pacientes e em diferentes línguas: por exemplo, as
dissociações T/Asp<Agr/M e passado<não passado não foram comprovadas num
conjunto de estudos; alguns estudos não reportam défices na compreensão de
flexão verbal (dissociação entre modalidade expressiva e recetiva), enquanto
outros sugerem paralelismos entre as duas modalidades (cf. secção 1). Mais, os
pacientes com agramatismo nem sempre exibem tais défices de forma consistente,
na medida em que alguns padrões são identificados em determinadas tarefas mas
não noutras (cf. Stravakaki e Kouvava, 2003). Esta variação, inter- e
intraindividual e interlinguística, presente na literatura poderá ser explicada
por diferentes fatores: (a) caraterísticas individuais dos pacientes, (b)
diversidade metodológica, (c) caraterísticas das línguas particulares testadas.
A variedade de défices obtidos ao nível da produção e compreensão de flexão
verbal em agramatismo poderá refletir diferentes graus de gravidade da
patologia. Contrariamente a fatores individuais como idade, género e nível de
literacia, cujo efeito ainda não é totalmente claro, a etiologia, a extensão e
a localização da lesão são fatores que influenciam o grau de gravidade da
patologia e sua capacidade de recuperação (Laska, Hellblom, Murray, Kahan e von
Arbin, 2001). Os pacientes com afasia sofrem lesões em áreas distintas e
múltiplas, o que leva, naturalmente, à emergência de diferentes graus de
gravidade da patologia (e.g., afasia moderada versus afasia grave), e,
consequentemente, a manifestações distintas da mesma. Uma revisão dos dados
clínicos dos pacientes que integram a literatura permite constatar diferenças
individuais no que diz respeito à etiologia, extensão e localização da lesão.
Em conformidade, tal facto poderá justificar, pelo menos em parte, a ocorrência
de diferentes níveis de gravidade da patologia no mesmo grupo clínico e, por
conseguinte, a identificação de diferentes sintomas na mesma patologia (cf.
Friedmann, 2005).
Outro fator que poderá explicar a inconsistência dos resultados obtidos é a
diversidade metodológica que marca o campo de investigação ao nível: (a) da
seleção de critérios para a constituição de grupos clínicos de estudo, (b) dos
paradigmas de avaliação da linguagem aplicados e (c) das distinções
linguísticas sob análise. Tradicionalmente associado à afasia de Broca, o
agramatismo não constitui uma síndrome bem definida[22]: esta abrange um
conjunto muito diversificado de sintomas (cf. secção 0); tais sintomas não
estão presentes em todos os pacientes diagnosticados com agramatismo e não são
exclusivos da patologia, sendo possível identificá-los noutros grupos clínicos
(nomeadamente, noutras afasias que não a afasia de Broca, como afasia
transcortical motora, anomia ou afasia de Wernicke). Tal torna difícil definir
um conjunto específico de propriedades que permita identificar inequivocamente
a patologia. Perante a ausência de critérios únicos para a definição da
síndrome, a classificação de falantes como pacientes com agramatismo realiza-se
com base em julgamentos clínicos intuitivos. Por conseguinte, observamos
processos diferentes de seleção de pacientes para a constituição de grupos
clínicos de estudo: alguns autores assumem como critério central o tipo de
afasia com que os pacientes são diagnosticados, considerando como tendo
agramatismo apenas falantes com afasia de Broca; outros orientam-se pela
localização neuroanatómica da lesão, incluindo pacientes diagnosticados com
diferentes síndromes. Considere-se igualmente a diversidade de paradigmas
(métodos) de avaliação da linguagem aplicados nos estudos sobre produção e
compreensão de morfologia flexional verbal em agramatismo. Diferentes estudos
aplicam diferentes paradigmas (e.g., elicitação de discurso semiespontâneo,
tarefas de nomeação, de repetição e de compreensão de palavras e frases,
tarefas de leitura e escrita, técnica da audição/leitura autocontrolada,
rastreamento ocular, etc.). Os paradigmas utilizados, porém, apresentam
caraterísticas distintas. Por exemplo, entre os estudos realizados encontramos
uma grande diversidade de estratégias para elicitar discurso semiespontâneo:
entrevista estruturada, descrição de imagens, narração de contos tradicionais,
narração de episódios biográficos, descrição de procedimentos comuns ou tarefas
quotidianas. Sendo elicitados tipos de texto distintos, a produção discursiva
de cada paciente será, naturalmente, condicionada pelas caraterísticas do
género discursivo em questão (e.g., linguagem objetiva versus pessoal,
linguagem factual versus avaliativa).[23] Possíveis efeitos de tarefa são
também visíveis em tarefas experimentais. Por exemplo, sobre a identificação de
défices em formas verbais com referência temporal distinta, Rofes et al. (2014)
sugerem que a dissociação entre referência temporal de passado e não passado é
mais facilmente detetável em tarefas puras de produção e compreensão do que em
tarefas de escolha múltipla ou de julgamento de gramaticalidade. Em acordo, Bos
e Bastiaanse (2014) defendem que as últimas são adequadas para avaliar
distinções entre T e outras categorias (e.g., Agr), mas não para observar
padrões mais finos no seio da categoria. Outros estudos provam que o grau de
complexidade inerente a cada tarefa tem igualmente efeitos sobre os resultados
obtidos. Stravakaki e Kouvava (2003) reportam possíveis efeitos de complexidade
das tarefas na produção linguística dos seus pacientes: o seu desempenho difere
em todas as tarefas realizadas (produção de discurso espontâneo, descrição de
imagens, juízos de gramaticalidade e teste de preferências). Gavarró e
Martínez-Ferreiro (2007) apontam também um efeito de tarefa, concluindo que uma
tarefa de preenchimento de frases é mais suscetível à ocorrência de erros do
que uma tarefa de repetição, dada a complexidade da primeira comparativamente à
última. O efeito da complexidade das tarefas é explorado em Kok et al. (2007).
[24] Ainda sobre questões metodológicas, os estudos realizados testam
estruturas linguísticas diversas, pelo que a obtenção de resultados divergentes
poderá refletir diferentes níveis de análise linguística ou a consideração de
diferentes distinções linguísticas na construção dos estímulos linguísticos.
Por exemplo, alguns estudos, aplicando tarefas de julgamento de gramaticalidade
ou tarefas de escolha múltipla, integram nos seus estímulos adverbiais
temporais. Estes estabelecem o contexto temporal da frase, a ser comparado com
o contexto temporal fornecido pelo verbo flexionado. No entanto, como Faroqi-
Shah e Dickey (2009) reparam, as operações mentais requeridas para verificar a
correspondência entre a informação temporal veiculada pela flexão verbal e a
veiculada pelo adverbial em diferentes posições, pré-posta ao verbo (e.g.,
*tomorrow the dog barked ‘amanhã o cão ladrou') ou posposta (e.g., *the dog
will bark last week ‘o cão vai ladrar na semana passada'), são distintas: no
primeiro caso, a informação temporal é estabelecida pelo advérbio; no segundo,
a informação temporal é estabelecida pela flexão verbal. Alguns estudos incluem
ainda violações gramaticais de natureza distinta: morfossemântica (*tomorrow
the theatre closed ‘Amanhã o teatro fechou') versus morfossintática (*tomorrow
the theatre will closed ‘Amanhã o teatro vai fechou').[25] Faroqi-Shah e
Thompson (2007) notam que erros de interpretação de morfologia flexional verbal
são mais frequentes em estímulos que exigem processamento morfossemântico por
oposição a processamento morfossintático.
Finalmente, saliente-se que a maioria dos estudos realizados ocorre num grupo
de línguas tipológica e genealogicamente relacionadas: inglês, alemão e
holandês (cf. Beveridge e Bak, 2011). Em particular, destaca-se a posição
dominante do inglês versus outras línguas indo-europeias (e.g., línguas
românicas, eslavas) e, de forma mais acentuada, línguas não indo-europeias
(e.g., árabe, hindi). Em português, língua falada por 200 milhões de pessoas no
mundo, escasseiam os estudos sobre agramatismo. A observação levanta a questão
do modo como a caraterização da síndrome é influenciada por este fator.
Grodzinsky (1984) sugere que as propriedades da língua testada podem
influenciar a manifestação de défices específicos na síndrome: por exemplo, ao
nível da produção, o discurso agramático é caraterizado, em certas línguas
(e.g., em inglês), pela omissão de flexão verbal; noutras línguas (e.g., em
hebraico), contudo, por razões estruturais, certas categorias flexionais não
podem ser omitidas, pelo que ocorre, antes, a substituição incorreta de
morfemas. É assim possível (e expectável) que o agramatismo assuma diferentes
configurações consoante o tipo de língua em que ocorre. Cerdeira (2006), em
português, não confirmou a dis‑sociação T<Agr, tendo identificado dificuldades
de produção em ambas as categorias. O efeito pode não ter sido observado devido
às caraterísticas da língua. Note-se que a dissociação foi observada em línguas
cujo paradigma flexional verbal é distinto do paradigma do português (e.g.,
inglês), tornando-se fundamental considerar as particularidades das diferentes
línguas testadas.[26] Talvez algumas das inconsistências dos resultados
reportados na literatura sejam meramente aparentes, sendo resolvidas se as
caraterísticas das línguas testadas forem consideradas, isto é, se assumirmos
uma abordagem comparativa no estudo da patologia.[27]
Em síntese, diferentes fatores podem ajudar a explicar a variação presente na
literatura sobre produção e compreensão de morfologia flexional verbal:
caraterísticas individuais dos pacientes, diversidade metodológica,
caraterísticas das línguas particulares testadas. Salienta-se, assim, a
neces‑sidade de: (a) definir um conjunto objetivo de critérios à luz do qual
seja possível diagnosticar um paciente como agramático e, consequentemente,
constituir grupos clínicos representativos e comparáveis para o estudo da
patologia; (b) integrar grupos de controlo adequados nos estudos em agramatismo
para controlo de possíveis efeitos das tarefas; e (c) realizar mais estudos
sobre produção e compreensão de morfologia flexional verbal em agramatismo em
línguas estruturalmente distintas. A discussão de tais fatores é importante na
medida em que tem fortes implicações para a nossa compreensão da síndrome: a
variação interlinguística, inter e intraindividual constitui um traço inerente
ao agramatismo e, como tal, carece de explicação teórica, ou, por outro lado,
apenas traduz a diversidade metodológica e o enviesamento linguístico que
carateriza o campo de investigação?
2. Não obstante as observações supra, os estudos sobre agramatismo reportam, de
forma consensual, défices ao nível da produção (e, em alguns casos,
compreensão) de flexão verbal. O domínio tem sido explorado sob diferentes
perspetivas: morfológica (e.g., Shapiro e Caramazza, 2003; Tsapkini et al.,
2002; Ullman et al., 1997), semântica (e.g., Bastiaanse e Jonkers, 1998;
Bastiaanse et al.., 2011) e sintática (e.g., Bastiaanse e van Zonneveld, 1998;
Friedmann e Grodzinsky, 1997; Thompson, 2003). O campo de investigação tem
sido, contudo, fortemente influenciado pela perspetiva sintática, focando
sobretudo o estudo das categorias gramaticais T e Agr. Esclarecer a natureza
dos défices observados em flexão verbal em agramatismo implica, porém, explorar
o domínio a partir de múltiplos ângulos. A par da identificação de tipos e
padrões de erros de flexão verbal, será importante considerar igualmente
fatores como: (a) a tipologia dos verbos afetados e preservados; (b) as suas
propriedades aspetuais; (c) a sua estrutura argumental; (d) o seu contexto
sintático; (e) a (ir)regularidade do seu paradigma flexional. Vários estudos
indicam que os pacientes com agramatismo produzem um número reduzido de verbos
lexicais quando comparado com o produzido em discurso não patológico; pouca
atenção, todavia, tem sido dada à tipologia dos verbos produzidos: lexicais
(e.g., ler, adormecer), copulativos (e.g., ser, estar, continuar), auxiliares
(e.g., ter(seguido de particípio), ir/haver (de), acabar (de)), modais (e.g.,
poder, dever). A este respeito, a literatura existente é contraditória: por
exemplo, Bastiaanse e Jonkers (1998) concluem que a produção de verbos modais
não está afetada em holandês; o oposto é verificado por Rossi e Bastiaanse
(2008) em italiano. Com base em dados do russo, Dragoy e Bastiaanse (2013)
apontam uma interação entre referência temporal e aspeto na produção de flexão
verbal em agramatismo: formas imperfetivas foram produzidas com mais facilidade
na condição de presente, enquanto formas perfetivas foram produzidas mais
facilmente na condição de passado. Os resultados indicam que a facilitação na
produção de formas verbais com uma dada referência temporal depende das
caraterísticas aspetuais do verbo.[28] Outros estudos concentram-se no efeito
da estrutura argumental. Thompson (2003) defende que as dificuldades de
produção observadas a nível verbal decorrem das caraterísticas argumentais do
verbo: verbos com estruturas argumentais mais complexas (em termos de número e
tipo de argumentos) são mais difíceis de produzir e compreender para pacientes
com agramatismo. A hipótese é corroborada por alguns estudos que atestam melhor
produção e compreensão de verbos sem argumento interno (e.g., nadar) ou com
apenas um argumento interno (e.g., ler algo) por oposição a verbos com dois ou
mais argumentos internos (e.g., dar algo a alguém), e de verbos inacusativos
(e.g., cair) por oposição a verbos inergativos (e.g., correr) (e.g.,
Koukoulioti e Stravakaki, 2014; Lee e Thompson, 2004). Adicionalmente,
Bastiaanse e van Zonneveld (1998) postulam que um fator crucial é a ocorrência
de movimento do verbo: verbos que ocor‑rem in situ (i.e., na posição em que
são gerados) são produzidos com mais facilidade. Em holandês, as autoras
verificaram que os pacientes produziam corretamente formas finitas em
estruturas encaixadas (em que o verbo ocorre na sua posição de base) mas
apresentavam dificuldade na produção de formas finitas em estruturas canónicas
(em que ocorre movimento do verbo para segunda posição).[29] Um outro aspeto da
produção de flexão verbal é a (ir)regularidade do paradigma. De acordo com
Ullman et al. (1997), a produção de formas verbais de passado regulares é mais
fácil para pacientes com agramatismo do que a de formas irregulares. Outros
estudos reportam resultados diferentes (cf. Balaguer, Costa, Sebastián-Galles,
Juncadella e Caramazza, 2004). Em suma, não há consenso no que diz respeito à
identificação da natureza dos défices observados ao nível de flexão verbal em
agramatismo, sendo o problema descrito sob múltiplas perspetivas. Importa,
assim, considerar o efeito dos fatores enunciados sobre produção e compreensão
de flexão verbal em agramatismo, de forma a esclarecer a natureza dos défices
observados e, consequentemente, caraterizar a síndrome a partir de um nível de
descrição linguística adequado.[30]
3. Em prol da argumentação, aceitemos que os pacientes com agramatismo
manifestam défices ao nível da produção e compreensão de morfologia flexional
verbal, particularmente em T e Asp por oposição a Agr e M. As teorias propostas
até então para explicar o padrão obtido (TPH, TUH, TAUH, IFIH, DER-H, PADILIH)
são, porém, questionáveis: (a) alguns dos seus pressupostos são problemáticos,
(b) apresentam inconsistências internas, (c) não são corroboradas
empiricamente, (d) apresentam poder explicativo limitado. Interpretando os
dados obtidos à luz da Gramática Generativa (Chomsky, 1981) e assumindo a
hierarquia das categorias funcionais de Pollock (1989) (TP hierarquicamente
superior a AgrP), a TPH define que os défices observados (T<Agr) decorrem de um
corte na estrutura sintática da língua ao nível de T, deixando intactas
categorias hierarquicamente inferiores como Agr. A hipótese estabelece ainda
que os défices resultantes afetam apenas a modalidade da produção. Os
pressupostos da teoria – T e Agr constituem categorias funcionais representadas
na estrutura sintática da língua por nós independentes (TP e AgrP) e TP está
universalmente localizado numa posição superior a AgrP – são, contudo,
problemáticos: por um lado, não há consenso na teoria linguística sobre a
localização de TP e AgrP na estrutura sintática (cf. Nanousi et al., 2006); por
outro, teorias linguísticas mais recentes (e.g., Chomsky, 2000) já não assumem
T e Agr como categorias estruturais com nós independentes (TP e AgrP). Mais,
usando modelos de representação da linguagem humana, a TPH postula que os
défices ocorrem ao nível da representação do conhecimento linguístico, i.e. é a
gramática (entendida como um conjunto de representações linguísticas) que se
encontra afetada em agramatismo. Tal implica que qualquer tipo de informação
linguística envolvendo as representações afetadas (neste caso, TP e categorias
superiores, e.g. CP) se encontra ausente da gramática do paciente. Daqui
decorre a previsão: os pacientes com agramatismo não serão capazes de usar
qualquer representação localizada em e acima de TP. Diferentes estudos,
todavia, não atestam a previsão. Por exemplo, Nanousi et al. (2006) e
Varlokosta et al. (2006) concluem que Asp, localizado, de acordo com as
autoras, num nó inferior a T e Agr na estrutura sintática do grego, se encontra
mais afetado do que Agr. O resultado é corroborado em Fyndanis et al. (2012). A
TPH apresenta ainda uma inconsistência: se os défices afetam a representação
linguística da categoria (i.e., se esta está ausente da gramática do falante),
então, por conseguinte, e assumindo que ambas as modalidades fazem uso da mesma
gramática, não é expectável a dissociação entre produção e compreensão; deverão
ser também visíveis défices ao nível da compreensão. A adequação descritiva da
TPH é, pois, questionada por estudos que reportam também problemas ao nível da
compreensão de flexão verbal (e.g., Dickey et al., 2008; Fyndanis et al., 2013;
Jonkers e de Bruin, 2009; Wenzlaff e Clahsen, 2004, 2005). Teorias alternativas
(TUH, TAUH, IFIH, DER-H) foram formuladas sob modelos da linguagem humana mais
recentes (Chomsky, 2000). Nestes, T e Agr não constituem categorias funcionais
independentes na estrutura sintática, mas conceitos sintáticos fundamentalmente
diferentes: T é o traço interpretável de TP; Agr não constitui um nó
independente (AgrP), antes, é concebida como uma operação que estabelece uma
relação estrutural entre, por exemplo, os traços de pessoa e número de um
sujeito frásico e os traços correspondentes (ininterpretáveis) do verbo finito
[+flexão], que são verificados em TP. Assumindo o modelo, as teorias propõem
explicações diferentes para os défices em T e não em Agr. De acordo com a TUH,
os traços interpretáveis de TP (i.e. T) não se encontram especificados,
ocorrendo erros aquando do processo de verificação de T em Infl; pelo
contrário, os traços de Agr (não interpretáveis) são especificados, ficando a
categoria intacta. TAUH prevê que também os traços de Agr possam não estar
especificados, surgindo, nesse caso, igualmente erros em Agr. Segundo a IFIH,
os défices resultam de problemas no processo sintático-fonológico responsável
por atribuir valores fonológicos aos traços interpretáveis de Infl (i.e., a T).
Por sua vez, a DER-H defende que o problema ocorre ao nível da interface entre
processos morfológicos e semânticos: na codificação dos traços diacríticos
(abstractos, pré-fonológicos) de T e/ou no acesso às formas verbais
correspondentes (morfemas verbais), i.e. algures no processo de tradução de
informação conceptual-semântica em informação gramatical (flexão verbal). As
teorias atribuem a ocorrência de défices em T por oposição a Agr ao facto de T
ser interpretável e Agr não interpretável. Considerando Asp uma categoria
interpretável, a IFIH e a DER-H preveem também a possibilidade de erros em Asp.
Todas as teorias (TUH, IFIH, DER-H) preveem erros ao nível da compreensão.
Ainda que resolvendo alguns dos problemas da TPH, as teorias são questionáveis.
Apresentam-se mais como teorias descritivas do que explicativas: atribuir os
défices em morfologia flexional verbal às categorias interpretáveis do domínio
permite captar o padrão (T/Asp<Agr/M), contudo não explica porque este ocorre.
Alguns autores (Fyndanis et al., 2012, Wenzlaff e Clahsen, 2004, 2005) sugerem
que a dissociação entre categorias interpretáveis e ininterpretáveis pode
decorrer de custos distintos associados ao processamento dos dois tipos de
categorias: as primeiras envolvem processamento de informação gramatical; as
segundas, de informação semântica (conceptual). A observação, no entanto,
carece de desenvolvimento. Estando tais teorias alicerçadas em pressupostos que
compõem um modelo que procura ser uma representação da linguagem humana e não
do seu processador, é natural que assim seja. Falta, pois, alicerçar as teorias
num modelo de processamento de linguagem humana compatível com a distinção.
Saliente-se ainda que as teorias anteriormente mencionadas (TPH, TUH, TAUH,
IFIH, DER-H) não conseguem captar alguns dos dados reportados na literatura,
nomeadamente a dissociação entre formas verbais com referências temporais
distintas (passado<não passado). Para captar o padrão, é formulada a PADILIH.
Partindo do pressuposto de que o agramatismo traduz um problema de
processamento de categorias interpretáveis ao nível do discurso (cf. Avrutin,
2006), a hipótese postula que o padrão decorre do facto de que a referência
temporal de passado envolve o discurso e que, pelo contrário, a referência
temporal de presente e de futuro é menos dependente do discurso (cf. Zagona,
2003). Para além de não ficar claro o porquê de apenas as formas verbais com
referência temporal de passado requererem proces‑samento extrassintático, a
hipótese não é universalmente corroborada (cf. Cerdeira, 2006; Fyndanis et al.,
2012; Gavarró e Martín ez-Ferreiro, 2007; Halliwell, 2000). Em suma, as teorias
elaboradas até à data para explicar os défices reportados ao nível da produção
e compreensão de morfologia flexional verbal em agramatismo não são
satisfatórias.
Sublinhamos, todavia, uma abordagem assumida por alguns autores que nos parece
produtiva: (a) as preocupações de natureza simultaneamente linguística e de
processamento e (b) a consideração de défices noutros domínios em agramatismo.
Cremos que: (i) se os dados obtidos refletem o desempenho linguístico de
pacientes com agramatismo na realização de tarefas de produção e compreensão de
morfologia flexional verbal, estes devem ser compatíveis com uma teoria de
desempenho da linguagem humana (i.e., com uma teoria de processamento da
linguagem humana); (ii) se os dados obtidos refletem padrões que permitem
identificar dissociações entre diferentes categorias linguísticas, estes devem
ser compatíveis com uma teoria de representação da linguagem humana (i.e., com
um modelo da gramática da língua) capaz de oferecer um nível adequado de
descrição linguística de tais distinções; (iii) qualquer teoria formulada para
acomodar os dados obtidos deve ser capaz de não só descrever os dados mas
também explicar os mesmos; (iv) qualquer teoria formulada para explicar os
dados obtidos deve ser capaz de acomodar não só os dados até então obtidos
(padrões atestados e sua variação, se existente) mas também prever dados ainda
não atestados; (v) teorias simples (i.e., alicerçadas num conjunto definido de
pressupostos claros e coesos) mas com poder explicativo alargado (i.e., capazes
de explicar simultaneamente um número amplo de défices observados na síndrome)
são preferidas. Os dados reportados sobre flexão verbal em agramatismo sugerem
défices seletivos no domínio: T/Asp<Agr/M e passado<não passado. Tais défices,
contudo, não se manifestam sempre, em todos os pacientes e em todas as tarefas,
o que significa que as categorias T e Asp ou o traço [+ passado] não se
encontram ausentes da gramática dos pacientes (o que aconteceria se
postulássemos a perda dessas representações linguísticas). Significará, antes,
que os pacientes com agramatismo têm tais representações preservadas, mas que,
em determinados momentos não as conseguem usar corretamente, ocorrendo erros ao
nível da sua produção e compreensão. Aparentemente, em determinados momentos,
os pacientes não conseguem processar tais representações de forma correta, i.e.
como normalmente ocorre em linguagem não patológica. Dito de outro modo, os
dados são compatíveis com um défice de processamento.[31] Segue identificar:
(a) quais as representações linguísticas que se apresentam mais vulneráveis e
(b) quando e porquê o proces‑sador falha. Apresentamos, em seguida, uma
hipótese.
Salientando as propriedades de T e partindo de dados da compreensão de outros
fenómenos linguísticos em agramatismo, Avrutin (2006) e Piñango (2011)[32]
sugerem que as dificuldades identificadas em T decor‑rem da sua natureza
discursiva e que estas traduzem um défice de proces‑samento mais amplo em
agramatismo, que afeta genericamente processos discursivos. T constitui uma
categoria discursiva no sentido em que a localização temporal de uma dada
eventualidade no tempo (a sua referência temporal) é apenas interpretável
relativamente a um dado ponto de referência no tempo, identificado no contexto
discursivo (dependência extrassintática). De facto, estudos sobre a compreensão
de fenómenos linguísticos envolvendo diferentes tipos de dependências (e.g.,
referência pronominal e interrogativas-que) no grupo clínico demonstram que a
interpretação de dependências extrassintáticas é particularmente difícil para
os pacientes por oposição a dependências puramente sintáticas: (a) os pacientes
com agramatismo manifestam mais dificuldades na interpretação de pronomes não
reflexivos (interpretáveis no discurso) do que de pronomes reflexivos
(interpretáveis sintaticamente) (e.g., Grodzinsky et al, 1993; Ruigendijk e
Avrutin, 2003); (b) ocorrem mais problemas na compreensão de expressões-que
ligadas ao discurso (e.g., which boy/que rapaz) do que de expressões-que
ligadas localmente (e.g., who/quem) (e.g., Hickok e Avrutin, 1996).[33]
Crucialmente, as dissociações apontadas constituem previsões de modelos
teóricos de descrição dos fenómenos linguísticos em causa (Reinhart e Reuland,
1993; Reuland, 2001) e são corroboradas por estudos da linguagem não
patológica, que concluem distinções entre os tipos de dependências, sintáticas
e extrassintáticas, nomeadamente custos de processamento mais elevados para
estas últimas (e.g., Shapiro, 2000). Exigindo mais recursos de processamento do
que outros processos linguísticos, a integração de informação extrassintática
(discursiva) será problemática para este grupo de pacientes, cujos recursos
foram afetados pela lesão. Em particular, Piñango (2002) propõe que as
estruturas neurais afetadas[34] desempenharão um papel central no
processamento de tais dependências, e que, como tal, a implementação (produção
e/ou compreensão) dos fenómenos linguísticos identificados dependerá da sua
integridade. Apesar do seu valor unificador (acomodando um conjunto alargado de
dados típicos na patologia e substituindo um número elevado de teorias
formuladas para explicar fenómenos particulares distintos), a hipótese
apresenta alguns problemas. Em primeiro lugar, carece de maior elaboração
teórica: esta identifica quais os fenómenos afetados na patologia e qual a
carga computacional associada ao seu processamento, mas não esclarece: (a) que
recursos (memória de trabalho?) estão implicados no seu processamento[35], (b)
como é que estes são afetados pela lesão, (c) quais os problemas de
processamento decorrentes (diferenças quantitativas e/ou qualitativas face a
processamento normativo?), (d) como é que estes se manifestam em ambas as
modalidades (produção e compreensão)[36]; (e) em que aspetos concretos do
processamento de tais fenómenos há maiores exigências de recursos do que os
disponíveis para os pacientes; finalmente, (f) que estratégias são aplicadas
pelos pacientes sob condições particulares (e.g., tarefas específicas) de modo
a fazer face às suas limitações e de que forma estas se traduzem no seu
desempenho linguístico[37]. Em segundo lugar, a hipótese carece de verificação
empírica: a sua premissa central é formulada a partir de dados diversos
recolhidos na literatura, obtidos a partir de diferentes pacientes, faltando o
estudo de diferentes fenómenos linguísticos com propriedades anafóricas no
mesmo grupo de pacientes para verificar se existe ou não correlação entre os
fenómenos. Tanto quanto sabemos, são apenas conhecidos resultados preliminares
em Bos, Dragoy, et al. (2014), que comprovam a correlação. Outro aspeto a
investigar é se os défices linguísticos identificados são específicos desta
síndrome particular, sendo que sintomas semelhantes foram reportados noutras
neuropatologias, como afasia fluente (e.g., Bos e Bastiaanse, 2014) e demência
do tipo de Alzheimer (e.g., Fyndanis, Manouilidou, Koufou, Karampekios e
Tsapakis, 2013).
4. Conclusão
Apresentámos anteriormente uma breve revisão da literatura existente sobre
produção e compreensão de morfologia flexional verbal em agramatismo e de
diferentes teorias explicativas dos défices reportados. Concluímos que não só
os dados disponíveis não são conclusivos, estando sujeitos a variação inter- e
intraindividual e interlinguística, como as teorias propostas até à data para
explicar os dados obtidos são, no nosso entender, questionáveis, apresentando
pressupostos não consensuais e inconsistências internas bem como não validade
empírica e poder explicativo limitado. A discussão permitiu realçar problemas e
questões em aberto no campo de investigação: a ausência de uma definição
objetiva da patologia e de consenso quanto à natureza linguística dos défices
observados em flexão verbal em agramatismo; o enviesamento linguístico e a
diversidade metodológica (ao nível da seleção de critérios para a constituição
de grupos clínicos de estudo, dos paradigmas de avaliação da linguagem
aplicados e das distinções linguísticas sob análise) que marcam o campo de
investigação. Sublinhámos ainda uma possível abordagem para a explicação dos
défices observados ao nível da flexão verbal em agramatismo (cf. Avrutin, 2006;
Piñango, 2002, 2011). Julgamos que o quadro descrito justifica a realização de
mais estudos sobre produção e compreensão de morfologia flexional verbal em
agramatismo. Mais estudos, em diferentes línguas e modalidades, aplicando
métodos comparáveis e tarefas variadas, permitirão a recolha de novos dados e a
reavaliação dos já conhecidos da investigação. Crucialmente, permitirão a
identificação de marcadores linguísticos da patologia e, consequentemente, uma
melhor caraterização da mesma, requisito primeiro para qualquer teoria do
agramatismo. Em particular, defendemos que o fenómeno deve ser estudado a
partir de uma perspetiva interdisciplinar, interpretando-o sob diferentes
níveis de conceptualização do processamento da linguagem humana: linguístico,
cognitivo e neural. Decorrendo o agramatismo de uma lesão cerebral que provoca
défices ao nível da linguagem, afetando propriedades gramaticais específicas, é
importante que o campo reúna os contributos da investigação linguística,
psicolinguística, neurolinguística e clínica, de forma a criar um quadro
coerente e coeso, à luz do qual se possa descrever e interpretar a natureza dos
défices linguísticos observados na síndrome.[38]