O que é a Saúde. Significações pessoais, modelos científicos e educação para a
saúde (2005): Joaquim da Cruz Reis. Lisboa: Vega, 102 pp.
O QUE É A SAÚDE. SIGNIFICAÇÕES PESSOAIS, MODELOS CIENTÍFICOS E EDUCAÇÃO PARA A
SAÚDE (2005) - Joaquim da Cruz Reis. Lisboa: Vega, 102 pp.
Trata-se de uma obra indispensável e com grande utilidade para todos os que se
dedicam à educação para a saúde na comunidade, nas escolas, nos locais de
trabalho e nos serviços de saúde. Vários são os profissionais, entre técnicos
de saúde, professores e educadores, que têm a aprender com as contribuições
específicas da psicologia da saúde para a educação para a saúde.
Este livro é uma contribuição importante para a compreensão dos processos
psicológicos que podem tornar as acções de educação para a saúde realmente
eficazes, em particular quando uma proporção significativa das acções de
educação para a saúde em Portugal se baseiam num modelo inoperante de
transmissão e processamento de informação. Por outro lado, é um livro que,
entre nós, vem preencher um espaço de interesse da psicologia da saúde pelos
processos mais ligados à saúde do que à doença. Nele é proposto um modelo de
educação para a saúde que considera os destinatários das acções como
intervenientes activos nos processos de aprendizagem e de mudança de
comportamentos, nomeadamente através das significações pessoais.
Joaquim da Cruz Reis(Director da Licenciatura em Psicologia da Universidade
Independente), autor do livro "O Sorriso de Hipócrates. A integração
biopsicossocial dos processos de saúde e doença" (Vega, 1998), já tinha
publicado anteriormente resultados da investigação que conduziu sobre a
importância das significações em educação para a saúde e prevenção mas
apresenta agora um trabalho sistemático sobre significações pessoais, modelos
científicos e educação para a saúde.
O livro está dividido em 4 capítulos, que correspondem, no essencial, aos
quatro grandes temas que são anunciados no título da obra:
-Significações pessoais e processos de saúde e doença
-Modelos científicos de saúde e doença
-O que as pessoas pensam e como pensam sobre a saúde e a doença
-Construção activa e reflexiva de estilos de vida.
No primeiro capítulo, sobre a importância das significações pessoais nos
processos de saúde e de doença, o leitor é introduzido ao conceito fundamental
de significações pessoais e da sua aplicação aos processos de saúde e doença, o
que é feito pelo autor de forma muito clara e centrada nos seus aspectos
principais e introduzindo a noção de "autonomia conceitual-
afectiva", como capacidade pessoal de construção autónoma de
significações, nomeadamente sobre as causas das doenças, os seus sintomas, a
sua evolução, as mudanças de comportamentos e as decisões de adesão às
recomendações dos técnicos de saúde. Abrindo compreensivelmente com o exemplo
de um caso de uma mulher com cancro da mama, este capítulo é desde logo
essencial para o leitor se situar em termos de modelo das significações
(leigas) de doença e questionar-se sobre a sua influência nos modelos
científicos.
No segundo capítulo, que aborda os modelos científicos da saúde e da doença,
são sucessiva e esquematicamente apresentados - nas suas asserções
fundamentais, definições de saúde e de doença, autonomia conceitual-afectiva e
relação entre o profissional de saúde e o paciente - o modelo biomédico,
o modelo biopsicossocial (interaccionista) e o modelo holístico (integrador),
mais uma vez de uma forma muito clara e desenvolvendo a comparação entre as
metateorias interaccionista e integradora enquanto diferentes concepções e
métodos de pesquisa, particularmente no que se refere à relação entre os
técnicos de saúde e os pacientes uma vez que essa é a dimensão claramente
relevante em educação para a saúde. Neste particular, o autor destaca a
importância do conceito de "parceria epistemológica" que releva da
metateoria integradora, na qual o técnico de saúde tem conhecimento
especializado no domínio da saúde em causa e o paciente é o especialista na sua
vida e no seu corpo. Este conceito de parceria permite introduzir com vantagem
as significações pessoais no modelo de relação entre os técnicos de saúde e os
pacientes, favorece a autonomia conceitual-afectiva destes últimos e cria
condições para uma maior humanização dos cuidados e serviços de saúde. Por
último, refere as implicações destes conceitos para a formatação das
intervenções didácticas que são realizadas em educação para a saúde,
salientando desde logo a importância das didácticas construídas a partir da
metateoria integradora.
No terceiro capítulo, dedicado à importância das significações causais das
doenças e de prevenção ao longo do ciclo de vida é apresentado o queas pessoas
pensam e comopensam (modelos implícitos) sobre a saúde e a doença a partir dos
resultados obtidos em trabalhos de investigação do autor, nomeadamente sobre
significações causais das doenças e de prevenção. São apresentados com maior
desenvolvimento os aspectos relacionados com os adultos e os idoso, embora haja
referência também aos aspectos relacionados com as crianças e adolescentes.
Tratando-se de um capítulo suportado por investigação com amostras portuguesas
(Joyce-Moniz & Reis, 1991; Reis, 1994; Reis & Fradique, 2001) é pena
que o autor não o tenha organizado de forma sequencial em termos do
desenvolvimento, começando com as crianças e os adolescentes e só depois
abordando as significações dos adultos e dos idosos. Resultaria mais c
ompreensível e chamaria mais facilmente a atenção do leitor, uma vez que as
acções de educação para a saúde, embora devam envolver pessoas em todas as
fases do ciclo de vida, estão geralmente mais centradas nas crianças e nos
adolescentes, até porque a compreensão das sequências desenvolvimentistas exige
mais do que a leitura dos quadros apresentados. Mais a mais este capítulo é o
cerne do trabalho apresentado e determina as características da proposta de
intervenção apresentadas no capítulo seguinte.
Finalmente, o quarto capítulodiz respeito às didácticas que podem ser
utilizadas em educação para a saúde. Depois de apresentar as bases teóricas e
metodológicas do modelo comportamental e do modelo de processamento de
informação em educação para a saúde, o autor desenvolve o modelo
construtivista, no qual o processo reflexivo de construção de novas
significações de acordo com as competências sociocognitivas da pessoa, imerso
numa dialéctica que se estabelece entre diferentes sistemas de significações
(leigas e científicas) propostos pelos diferentes intervenientes (destinatários
das acções e técnicos de saúde). O destinatário é um participante activo no
processo e a mudança de atitudes e comportamentos faz parte dum processo de
autonomia e compreensão pessoal. Supõe-se que as significações pessoais vão
evoluindo ao longo do desenvolvimento, o que terá que ser necessariamente tido
em conta nas acções de educação para a saúde dirigidas a crianças,
adolescentes, adultos e idosos.
Falta agora demonstrar a eficácia deste modelo de educação para a saúde entre
nós, em especial através de metodologias de avaliação de resultados de
programas e acções concretas.
Para além de interessar a todos os que se dedicam à psicologia da saúde, este
livro interessa certamente a todos os que se dedicam à educação para a saúde,
em especial à conceptualização e desenvolvimento de acções e de programas que
são implementados nas escolas e na comunidade.
José A. Carvalho Teixeira