A redefinição do papel do estado e as políticas educativas: elementos para
pensar a transição
A temática escolhida para este texto é particularmente propensa à mobilização
de perspectivas teórico-conceptuais ou disciplinares diferenciadas. No entanto,
fiel quanto posso ao ofício e ao habitus do sociólogo, o enfoque que
privilegiarei é o da sociologia das políticas educativas designação que venho
adoptando para nomear a especificidade do olhar a partir do qual tenho
procurado construir um dos meus objectos preferenciais de investigação e de
docência.
Na verdade, a observação que acabei de fazer tem implícita a convicção (estou
certo que muito discutível) de que as formações académicas dos investigadores
que, em Portugal ou em outros países, trabalham as questões das políticas
educativas (ou que leccionam disciplinas que designam de política educativa),
não sendo mais determinantes do que as suas opções políticas ou visões do
mundo, têm, todavia, alguma influência nas abordagens que privilegiam. Refiro-
me, mais concretamente, a três atitudes recorrentes. Uma, de teor mais
marcadamente normativo ou prescritivo traduzindo, talvez, disposições mais
afins às disciplinas do direito, da ciência política e da administração pública
tende a convocar e reactualizar velhos postulados funcionalistas na análise
da educação, e disfarça mal a obsessão por tornar mais eficaz a agenda
política, assim privilegiando e enunciando modelos, propostas e orientações
que, regra geral, não questionam os valores e a ordem social e pedagógica
dominantes. Uma outra atitude, mais acentuadamente explicativa ou compreensiva,
não raras vezes induzida por formações académicas mais próximas de uma
sociologia weberiana ou mesmo da própria filosofia, apesar de procurar
desconstruir os processos de formulação, de decisão e de implementação das
políticas educativas, no sentido de perceber as lógicas, as relações de poder,
as contradições e as consequências dessas mesmas políticas, tende, todavia, a
deixar apenas implícitas as alternativas defendidas.1 Finalmente, uma terceira
atitude, mais referenciada à sociologia crítica, pode ser melhor caracterizada
como aquela que não se limita à desconstrução analítica das políticas
educativas, ou à desocultação das ambiguidades e contradições que as
atravessam, mas assume, em simultâneo, um compromisso ético e político
explícito, procurando e valorizando o confronto tenso e instável entre a
objectividade pretendida pela prática científica e a politicidade inerente a
toda a acção humana. Traduzindo a procura de uma explicação rigorosa e
empiricamente sustentada relativamente às políticas educativas que são objecto
de análise o que, certamente, implica a sempre mais difícil assunção da
tarefa de interpretar as especificidades nacionais onde elas ocorrem, em vez da
(mais fácil) importação mimética de agendas de investigação dominantes em
outros contextos esta postura não dispensa o investigador de assumir os
valores e visões do mundo que defende, ainda que eles, frequentemente, estejam
em profunda divergência com o statu quo que pretende compreender e
problematizar, sem que isso justifique menos esforço de rigor e de
objectividade.
Em congruência com esta última atitude, que é aquela com a qual mais me
identifico, a questão que se coloca como mais pertinente parece-me ser a
seguinte: será possível construir com objectividade o objecto políticas
educativas sem deixar de manter um compromisso com as lutas sociais em torno
dessas mesmas políticas? Aceito, por agora, que a resposta possa ser a que é
dada por Raymond Morrow e Carlos Alberto Torres quando propõem:
uma análise integrada da política educativa deve, na perspectiva de uma
sociologia da educação crítica e política, possuir dois momentos: a análise
objectiva dos determinantes da política pública; e uma análise da antecipação
das condições de possibilidade das mudanças e das estratégias prováveis de
implementação de uma política de transformação (Morrow e Torres, 1997: 312-
313).
Fazendo desta proposta um roteiro para o meu próprio texto, não irei, no
entanto, muito além do primeiro momento que estes autores propõem para a
análise das políticas públicas. Assim sendo, procurarei, sobretudo, colocar em
evidência alguns dos eixos e condicionantes das políticas educativas actuais,
tendo como pano de fundo a redefinição do papel do estado. Do meu ponto de
vista, esta parece ser uma etapa prévia pela qual se torna necessário passar
antes que possamos estar em condições de equacionar os desenvolvimentos futuros
e as políticas de transformação.
O estado, as teorias do estado e as políticas educativas
Pela complexidade das questões em jogo, pretendo tão-somente ensaiar uma
possível abordagem ao tema que me propus, começando por referir um dos vectores
que tem sido (e continuará ainda a ser) determinante na configuração das
políticas educativas: o estado-nação.
O projecto da modernidade, em grande medida construído em torno do estado
enquanto produto histórico da conquista e afirmação do monopólio da violência
física legítima, pôde contar mais tarde com a escola pública, tornada também
uma das instituições centrais do exercício da violência simbólica, para
submeter todas as identidades dispersas, fragmentadas e plurais, em torno de um
ideário político e cultural a que se haveria de chamar nação.
Sendo, em parte, impulsionador e, também em parte, consequência da acção eficaz
da educação pública, o binómio estado-nação continua a manter alguma
centralidade para a análise das políticas educativas. E, muito embora não
detenha essa prerrogativa em exclusivo, não me parece que possamos falar de uma
sociologia das políticas educativas sem que isso implique, ainda que nem sempre
de forma imediata ou explícita, a remissão para uma teoria do estado, ou, pelo
menos, para alguns pressupostos teórico-conceptuais referenciáveis a uma (ou a
mais do que uma) teoria do estado.2
Entretanto, uma questão que hoje se coloca é a de saber se, dada a des-
nacionalização do estado, ainda faz sentido convocar teorias que assentam nos
pressupostos do estado-nação, isto é, teorias cuja capacidade explicativa supõe
a existência de uma grande autonomia de decisão do poder político numa
determinada configuração territorial. Como sugere Boaventura de S. Santos:
o processo de descentramento a que o estado nacional vem sendo sujeito,
nomeadamente por via do declínio do seu poder regulatório, torna obsoletas as
teorias do estado que até agora dominaram, tanto as de origem liberal, como as
de origem marxista (Santos, 1998a: 59).
Algumas dessas teorias, como, por exemplo, as teorias pluralistas, por
pretenderem justificar a acção do estado enquanto expressão neutra de uma
suposta vontade geral, estão há muito desacreditadas como instrumento analítico
no campo das ciências sociais sendo certo, todavia, que essa representação
social em torno do estado continua a mostrar alguma eficácia simbólico-
ideológica, sem a qual, aliás, não seria certamente tão frequente a sua
evocação, quer nos momentos consagrados, nas democracias representativas, aos
rituais de persuasão pré-eleitorais, quer, mesmo, nos discursos em torno das
opções e práticas governativas quotidianas.
Em contraposição, algumas teorias marxistas mais ortodoxas, embora
privilegiando o conflito em vez do consenso, nem sempre se distanciaram do
determinismo classista na concepção da acção do estado, pelo que, não apenas se
tornaram gradualmente incapazes de explicar a relação deste com os novos
movimentos sociais, sobretudo aqueles fundados em processos contra-hegemónicos
locais e mais centrados na valorização das subjectividades e identidades
multiculturais e de género, como acabaram, por vezes, por promover explicações
(e induzir motivações) sobre a mudança social que, ganhando sentido apenas no
horizonte exclusivo de promessas revolucionárias, acabaram, paradoxalmente, por
justificar alguma desmobilização ou descompromisso político.
Finalmente, mesmo as teorias (neomarxistas ou outras) que privilegiaram a
autonomia relativa do estado e que demonstraram capacidade heurística
bastante para, no contexto nacional, explicar de forma consistente, quer o
compromisso com a acumulação capitalista, quer a permeabilidade conjuntural às
lutas sociais e ao processo de legitimação democrático , parecem tender também
a ficar anacrónicas (ou, pelo menos, sob suspeita) dada não apenas a erosão
(real) do estado-providência, enquanto forma política do estado capitalista
democrático, mas também dada a eficácia de todo um trabalho de inculcação
simbólica que consegue impor, mesmo às consciências mais críticas, a
inevitabilidade da globalização neoliberal, e todas as suas consequências nos
campos político, económico, cultural e educacional (cf. Bourdieu, 1998: 37).
Perante este cenário, se me parece fazer algum sentido dizer que já não podemos
convocar, sem profundas actualizações, algumas das teorias disponíveis sobre o
estado, também não poderemos deixar de considerar que o estado, em si mesmo,
enquanto sujeito histórico e político, continua a existir, pelo que continuamos
a precisar de teorias que dêem conta da redefinição do seu papel e que sejam
capazes de explicar quais os limites e possibilidades da sua acção no contexto
das novas condicionantes mega-estruturais. Neste sentido, julgo que, apesar de
ser necessário problematizar os efeitos (não lineares e contraditórios) da
globalização, e discutir a sua própria configuração como nova e poderosa
ideologia, a análise sociológica das políticas educativas continua a não poder
abrir mão da referência ao papel e à natureza do estado nacional e às suas
relações com as classes sociais, e a não dispensar, portanto, o entendimento
das especificidades (culturais, sociais, políticas, económicas e educacionais)
que estão impregnadas da (e na) história de uma dada formação social.
Como fazê-lo, entretanto, sem uma teoria do estado reactualizada? Ou, então,
como falar da reforma do estado sem que se comece por chamar a atenção para a
necessidade da reforma das teorias do estado? Se há partes velhas e anacrónicas
nas teorias do estado (e sabemos que isso se tornou evidente antes mesmo de a
redução da autonomia do estado-nação ser atribuída aos supostos efeitos da
globalização) é então urgente encontrar teorias que, permitindo superar os
défices já existentes e diagnosticados, procurem explicar a redefinição do
papel do estado e a sua relocalização, tendo agora em conta as novas e
múltiplas condicionantes emergentes da actual reestruturação do capitalismo a
nível global. As possibilidades, por enquanto, são apenas experimentais, e as
teorias apenas exploratórias.
Como defende a este propósito David Held (1995), numa época em que coexistem
múltiplos centros de poder e sistemas de autoridade, dentro e fora das
fronteiras nacionais, é necessário renovar as bases da política e da teoria
democráticas. Neste sentido, o conceito de poder legítimo ou autoridade deve
ser separado da sua tradicional associação com os estados e com os limites
rígidos das fronteiras nacionais, para que possa ser relocalizado no âmbito de
uma nova configuração internacional da vida política, moldada e organizada por
um novo direito democrático cosmopolita ou por uma democracia cosmopolita
internacional. No entanto, adverte ainda este autor, isto não implica
abandonar o estado moderno mas sim concebê-lo como um elemento de um contexto
mais amplo de condições, relações e associações políticas (cf. Held, 1995:
22).
Esta perspectiva de David Held parece-me ser compatível com uma outra sugerida
por Boaventura de S. Santos quando afirma:
sob a mesma designação de estado está a emergir uma nova organização política
mais vasta que o estado, de que o estado é o articulador e que integra um
conjunto híbrido de fluxos, redes e organizações em que se combinam e
interpenetram elementos estatais e não estatais, nacionais e globais (Santos,
1998: 59).
Sendo este um enunciado muito amplo e abstracto tem, todavia, a vantagem de
permitir integrar, de imediato, as alterações actuais em curso no papel do
estado, apontando, ao mesmo tempo, para vectores mais prospectivos
relativamente à sua evolução futura. Neste sentido, parece-me haver já alguma
confirmação empírica convergente com a ideia de o protagonismo do estado estar
a manter-se, muito embora a sua centralidade, responsabilidade e visibilidade
sociais estarem, simultaneamente, a esbater-se. A isto não será indiferente o
facto de o estado transferir responsabilidades e funções para novos actores
sociais, e induzir, por processos muito diferenciados, novas representações e
concepções em torno do bem comum e do espaço público que pretendem legitimar
esse descentramento. Dois exemplos paradigmáticos podem ser referenciados a
este propósito: a promoção de quase-mercados e as relações com o terceiro
sector.
Uma das características das políticas neoliberais tem sido a promoção de
mecanismos de mercado no interior do espaço estrutural do estado, liberalizando
e promovendo pressões competitivas entre serviços, transformando os utentes em
clientes, privatizando, adoptando instrumentos e princípios de gestão baseados
na racionalidade instrumental, e subordinando os direitos sociais às lógicas da
eficácia e da eficiência. Surgem assim os designados quase-mercados (cf. Le
Grand, 1991) que põem em evidência o carácter híbrido das novas formas de
financiamento, fornecimento e regulação (que o próprio estado incentiva e que
se inscrevem na redefinição das suas funções), mas que não significam
necessariamente a diminuição do seu poder de intervenção.
Há, aliás, vários exemplos relativos a políticas educativas neoconservadoras e
neoliberais que mostram que em algumas situações se produziu um desequilíbrio
(paradoxal) a favor do estado e em prejuízo do livre-mercado, por causa das
tensões e contradições assentes na fórmula política da nova direita que se
caracterizou por exigir um estado limitado, portanto, mais reduzido e
circunscrito nas suas funções, mas, ao mesmo tempo, forte enquanto mecanismo
de coerção e controlo social (cf. Afonso, 1998a, 1998b).
Os quase-mercados são assim uma espécie de ex libris do carácter híbrido
público/privado, estado/mercado, inerente às políticas adoptadas na fase de
expansão neoliberal. No entanto, estes mecanismos estão longe de esgotar o
sentido das mudanças em curso no que diz respeito à redefinição do papel do
estado.
Há outros híbridos que vêm ganhando protagonismo porque, não pressupondo a
hegemonia do mercado nem a destruição radical do velho espaço público estatal,
parecem poder constituir-se como alternativas credíveis para uma reinvenção
solidária do estado (como a designa Boaventura de S. Santos), contribuindo
assim para que os valores do domínio público (como a igualdade, a justiça e a
cidadania) possam ser reactualizados num novo contexto.
Analisando a reemergência do chamado terceiro sector, e consciente não apenas
das suas potencialidades mas também dos seus limites e perigos, Boaventura de
S. Santos interroga-se cautelosamente sobre a viabilidade de este terceiro
sector poder contribuir para a reforma solidária do estado, ao admitir que
estaria agora aberta a possibilidade de reconvocar a comunidade para
protagonizar uma nova proposta de regulação social, mais justa, capaz de repor
a equação entre regulação social e emancipação social. Considerando ainda que
a refundação democrática do terceiro sector poderia implicar que este
assumisse os valores que subjazem ao princípio da comunidade (como a
cooperação, a solidariedade, a participação, a transparência, a democracia
interna, entre outros), B. de S. Santos problematiza a criação de um espaço
público não estatal a partir da complementaridade entre este novo terceiro
sector e o estado, referindo ainda que os caminhos de uma política progressista
desenham-se na busca de uma articulação virtuosa entre a lógica da
reciprocidade própria do princípio da comunidade e a lógica da cidadania
própria do princípio do estado (cf. Santos, 1998b).
Neste mesmo sentido, poderíamos perguntar: até que ponto as políticas
educativas podem favorecer novas articulações com a comunidade que sejam
referenciáveis ao debate sobre a reinvenção solidária e participativa do
estado? Poder-se-ão desenvolver projectos que se inscrevam na agenda acima
sinalizada, pressupondo, por exemplo, a construção de políticas educativas
locais que não deixem de ser, antes de mais, políticas públicas, embora já não
referenciadas exclusivamente ao estado? Como pensar uma política educacional
por referência a um novo espaço público (não estatal) que continue a incluir de
forma privilegiada o estado (e os valores do domínio público) mas que já não se
possa equacionar sem a comunidade (e os valores que esta pressupõe), sem
esquecer também o papel dos novos movimentos sociais?
A este propósito, há perspectivas analíticas que têm vindo a ganhar uma
presença crescente, sobretudo na literatura que tem origem ou influência
francófona, e que procuram equacionar as políticas educativas actuais
essencialmente por referência à ideia de um bem comum local, que se
traduziria na conciliação entre o interesse público, representado pelo estado,
e os interesses privados, representados pelas famílias e outras instituições,
serviços ou actores locais.
De acordo com João Barroso (1998), para viabilizar este compromisso, designado
por bem comum local, propõem-se medidas de territorialização e parcerias
socioeducativas que devem constituir um processo de contratualização que co-
responsabilize diversos organismos e entidades (entre elas a escola) na
concretização de interesses comuns, no quadro de desenvolvimento de uma
política educativa local, fugindo assim à polarização quer num modelo de
súbdito, fortemente subjugado ao estado, quer num modelo de mercado,
exclusivamente motivado pelos interesses particulares. Acredita-se, assim, por
exemplo, que:
só uma política deliberada (e globalmente assumida) de partilha de poderes e
recursos entre a administração central e local (incluindo a escola), sustentada
pela participação social e pela intervenção do estado na defesa do bem comum,
poderá fazer com que a descentralização e a autonomia da escola sejam uma forma
de devolver o sentido cívico e comunitário à escola pública (cf. Barroso, 1998:
51-54).
Todavia, na minha perspectiva, para além de a ideia da construção de um bem
comum local ser extremamente problemática, nomeadamente pelo facto de haver
hoje concepções, referências e apelos ideológicos à comunidade que são muito
diversos e contraditórios (cf. Afonso, 1999a), é também necessário discutir em
maior profundidade a valorização das redes (ou parcerias) entre actores
colectivos e o estado porque, embora traduzam uma das alternativas mais
inovadoras e interessantes das actuais políticas educativas, elas também
escondem uma nova (e mais eficaz) forma de legitimação da acção do estado, num
contexto de retracção das políticas públicas e dos direitos sociais, económicos
e culturais. Neste sentido, pode mesmo dizer-se que a crise de legitimação do
estado capitalista democrático não tem sido mais acentuada porque a assunção do
seu novo papel de articulador (há também quem discuta hoje o estado-
articulador como uma outra forma de actuação do estado) permite-lhe mais
facilmente descentrar a pressão social relativa aos direitos para uma
pluralidade de novos actores colectivos não-estatais, os quais, sendo levados a
assumir-se como parceiros, assumem também, em decorrência desse facto, uma
importante parcela de responsabilidade na consecução de objectivos públicos que
antes recaía exclusivamente no estado. Talvez, por isso, as parcerias
constituam hoje um eixo fundamental na elaboração e implementação das políticas
públicas e educativas, não significando, necessariamente, a diminuição, mas,
antes, a reactualização em novos moldes do poder de regulação do estado, e
assim contribuindo também para a substituição da noção de governo pela (nova)
noção de governação.
Globalização e educação: a hipótese de uma globalização de baixa intensidade
Para equacionar a relação da globalização com a educação há pelo menos duas
propostas teóricas muito diferentes que podem ser convocadas. Sigo aqui muito
de perto Roger Dale, que tem vindo a discutir criticamente estas questões nos
seus últimos trabalhos de análise sociológica das políticas educativas (cf.,
por exemplo, Dale, 1999, e 2000a).
Uma delas, que pode ser designada como a perspectiva dos institucionalistas do
sistema mundial (world institutionalists), tenta demonstrar que o
desenvolvimento dos sistemas educativos tem como pressuposto a existência de
uma cultura educacional mundial comum, que se traduz num conjunto de recursos
imateriais disponíveis, partilhados por uma comunidade internacional (mundial)
composta por estados-nações autónomos que tendem a institucionalizar modelos
estandardizados e a seguir orientações idênticas, isto é, a reproduzir um certo
isomorfismo educacional (cf., por exemplo, Ramírez, 1992; Ramírez e
Ventresca, 1992; Meyer, Ramírez e Soysal, 1992). Nesta perspectiva, a
influência da referida comunidade internacional, veiculada nomeadamente através
de organizações internacionais (OCDE, UNESCO, Banco Mundial, etc.), é vista
como mais determinante no desenvolvimento dos respectivos sistemas educativos e
na disseminação de orientações e categorias organizacionais e curriculares do
que os factores internos a cada um dos diferentes estados-nações (cf., por
exemplo, Meyer, 2000; Azevedo, 2000; Teodoro, 2001). Aliás, o argumento central
destes institucionalistas é que as instituições nacionais, incluindo o próprio
estado, não se desenvolvem autonomamente, sendo, antes, essencialmente
modeladas no contexto supranacional pelo efeito de uma ideologia mundial
(ocidental) dominante.
Uma segunda perspectiva, ao contrário da anterior, defende que as políticas
educativas encontram uma explicação mais consistente na hipótese da existência
de uma agenda globalmente estruturada para a educação. Esta perspectiva,
entre outros pressupostos, enfatiza a centralidade da economia capitalista no
processo de globalização, entende o global como o conjunto de forças económicas
que operam ao nível supranacional e transnacional, e discute os processos que
levam à imposição de prioridades por parte de alguns estados sobre outros.
Apesar de defenderem pressupostos muito diferentes, estas duas perspectivas
partilham a ênfase no papel de factores supranacionais na configuração das
políticas de educação ao nível nacional. No entanto, enquanto para a
perspectiva institucionalista os valores e a ideologia que enformam a cultura
educacional mundial comum são tão determinantes que se sobrepõem aos factores
nacionais, assim desvalorizando a especificidade destes e o seu contributo,
para a perspectiva da agenda globalmente estruturada para a educação o que
está em causa é a manutenção e reprodução do sistema económico capitalista e a
posição hegemónica que nele detêm os estados mais poderosos o que, no
entanto, não impede que se analisem as especificidades dos processos nacionais
na procura das suas articulações com as dinâmicas transnacionais e globais.
Nesta última perspectiva, a discussão da educação, enquanto variável
dependente, remete para uma série de questões que vão muito além da
identificação do mandato, ou seja, daquilo que é considerado desejável que os
sistemas educativos realizem. Neste sentido, procura-se dar resposta às
seguintes questões:
- quem é ensinado, o que é ensinado, como é ensinado, por quem e em que
circunstâncias?
- como, por quem e através de que estruturas, instituições e processos são as
dimensões anteriores definidas, governadas, organizadas e geridas?
- quais são as consequências sociais e individuais destas estruturas e
processos?
Em suma, numa análise sociológica mais complexa, trata-se, acima de tudo, de
verificar como é que a natureza mutável da economia capitalista, que constitui
a força principal da globalização, afecta os sistemas educativos, tendo em
conta, no entanto, que há efeitos de mediação que se produzem ao nível nacional
e que não são completamente independentes do lugar e situação de cada país
relativamente a essa mesma economia global (cf. Dale, 2000a).
Tomando em consideração estes e outros factores, alguns trabalhos recentes,
tendo como exemplo as especificidades portuguesas, agora em contexto europeu,
têm vindo a propor a designação de globalização de baixa intensidade para
sinalizar a mediação dos estados nacionais na formulação das respectivas
políticas educativas, chamando ao mesmo tempo a atenção para o facto de a
educação, comparativamente com outras áreas, parecer estar a resistir mais ao
impacto da globalização, isto é, de os efeitos neste campo não parecerem ser
tão directos e profundos como em outros sectores (cf., por exemplo, Teodoro,
2001).
Mesmo quando a reconfiguração do papel do estado passa pelas condicionantes
inerentes à cedência voluntária de parcelas de soberania nacional através da
integração em instâncias supranacionais de carácter regional, como acontece,
por exemplo, com Portugal relativamente à União Europeia, isso não implica (ou
não tem implicado até ao momento) homogeneização ou uniformização de políticas
e orientações educativas. Trabalhos na área da sociologia das políticas
educativas, que têm privilegiado o período imediatamente posterior à integração
europeia, têm mostrado isso mesmo, ao procurar dar conta da permanência de
especificidades nacionais, apesar das novas condicionantes em vigor. A este
propósito, por exemplo, os trabalhos que têm incidido no período que vai
aproximadamente de 1985 a 1995 apontam para a existência de decisões
extremamente ambíguas e heterogéneas. Se, por um lado, na política económica
desse período, foram adoptadas orientações inequivocamente neoliberais (de
desregulação, de privatização, de desmantelamento do sector empresarial
estatal, de abertura ao mercado, de vulnerabilização dos direitos ligados ao
trabalho), por outro, na política educativa, foi possível tomar decisões em
relativo contraciclo com a ideologia neoliberal e, em alguns casos, como o do
ensino básico, chegaram a ser mesmo decisões congruentes com a expansão de
direitos (ainda) referenciáveis ao modelo de estado-providência (cf. Afonso,
1997, 1999b, 2000).
Apesar da preocupação sociológica com a demonstração das especificidades
nacionais atitude que, como comecei por observar nas páginas iniciais deste
texto, pelo facto de decorrer do compromisso com a objectividade na
investigação, não deixa, também por isso, de permitir a descoberta de espaços
de ambiguidade e até de estratégias de resistência na configuração das
políticas nacionais, que podem vir a ser aproveitados para contrariar os
efeitos da retórica ideológica neoliberal há, obviamente, aqueles arautos da
globalização, na versão homogeneização cultural ou macdonaldização da
sociedade, a que se juntam os pessimistas ou descrentes em relação às
possibilidades da globalização contra-hegemónica, que não se cansam de
anunciar, também aqui, a inevitável convergência global de todos os sistemas
educativos. Aos seus argumentos, que é necessário conhecer em profundidade e
confrontar criticamente, não prestarei atenção neste texto.
Procurarei, antes, dar mais algumas indicações relativamente aos caminhos de
investigação seguidos em alguns trabalhos recentes de autores portugueses que
se têm preocupado em aprofundar algumas políticas sectoriais, discutindo-as,
quer por referência aos processos de globalização (económica, política e
cultural), quer por referência à emergência de novas formas de actuação do
estado.
As novas designações e formas de actuação do estado e as políticas educativas
relativas ao ensino profissional e superior
Com a aceleração da globalização económica e com as mudanças no papel do
estado, têm-se verificado também alterações nas prioridades relativamente ao
que se espera que seja a contribuição da educação. Durante a vigência do
estado-providência, o contributo da educação visava sobretudo o processo de
legitimação; na fase actual, a prioridade é direccionada para o processo de
acumulação. O estado actua agora tendo como principal objectivo a
competitividade económica e, em função disso, alguns autores começam já a
designá-lo por estado-competidor ou de competição (competition state) (Cerny,
1997).3
Referindo-se a esta nova forma de actuação do estado, este autor mostra que o
que está em causa é essencialmente uma redefinição de prioridades relativamente
a cada um dos três problemas centrais que têm caracterizado o mandato para a
educação nas sociedades capitalistas democráticas, aparecendo agora, em
primeiro lugar, o apoio ao processo de acumulação; em segundo lugar, a garantia
da ordem e controlo sociais; em terceiro lugar, a legitimação do sistema.
Entretanto, o modo como a educação apoia o processo de acumulação pode variar
em função das dominâncias que configurarem, de uma forma mais precisa, a
actuação do estado-competidor. Assim, ainda segundo Dale, esta actuação pode
passar por uma forte intervenção do estado na promoção da investigação e da
inovação para atender às necessidades do tecido produtivo; pode passar pela
adopção de lógicas e mecanismos de mercado na educação; ou pode passar ainda
pela contribuição da educação para a reprodução de mão-de-obra especializada
(skilled workers).
A convocação deste quadro teórico na interpretação do projecto das escolas
profissionais em Portugal, mostra que este sector do sistema de ensino é
extremamente relevante para ter uma compreensão mais ampla da forma como se
está a processar a europeização das políticas educativas e como estão a ser
concretizados os novos papéis do estado. Tratando-se, em última instância, de
dinâmicas igualmente referenciáveis a processos de globalização, encontramos,
também aqui, algumas nuances específicas da situação portuguesa. Neste sentido,
e tal como se afirma no recente trabalho de Fátima Antunes, as escolas
profissionais parecem atender em primeiro lugar ao problema político (a questão
do controlo e da ordem social) que, neste caso, passa por proporcionar
respostas para o desemprego dos jovens e para a escolarização prolongada de
novos públicos , enquanto, apenas num plano secundário, se visa igualmente
garantir a formação de mão-de-obra adequadamente qualificada, mobilizada e
disponível para diferentes sectores da economia e do mercado (apoio ao
processo de acumulação) (Antunes, 2001, no prelo). Sugere ainda a autora que:
a legitimação da acção do estado e a conquista de lealdade aparecem
crescentemente associadas ao esforço de constituir uma oferta diversificada de
serviços educativos, tendo em vista uma população escolar cada vez mais
heterogénea e a missão de capacitar todos e cada um para lidar e reagir, de
modo adequado, às novas e intensamente diferenciadas condições do mercado de
emprego e de trabalho. (Neste sentido conclui esta autora): a criação das
escolas profissionais evidencia o modo como a tendência global para uma nova
forma de actuação do estado o estado de competição foi articulada ( ) na
área da educação face a uma situação que impunha que a crise da escola de
massas fosse confrontada em simultâneo com a sua expansão e consolidação,
assumindo como prioritária a contribuição da educação para a coesão e controlo
sociais (Antunes, 2001, no prelo).4
Afastando-se da regra da universalização de direitos enquanto característica do
modelo social-democrata de estado-providência e, mais especificamente, rompendo
com algumas conquistas relativas aos direitos culturais que tiveram a sua
própria tradução ao nível das políticas educativas, nomeadamente com a expansão
da escola de massas (a escola para todos, oficial, obrigatória e laica) e com
a valorização do princípio da igualdade de oportunidades, o que parece estar a
configurar a tendência actual, como a análise das escolas profissionais em
Portugal sugere, é a emergência de políticas sociais particularísticas, que
têm uma tradução específica ao nível da educação, ao privilegiarem a
individualização (das opções e dos projectos) e a dualização do sistema
educativo, em qualquer dos casos vectores de uma estratégia mais abrangente de
redefinição da cidadania educativa (Antunes, 2001, no prelo).5
Do meu ponto de vista, esta particularização, na qual assentam agora as
políticas de diversificação e de hierarquização da oferta educativa pública,
não deixa, de algum modo, de poder contribuir para escamotear velhas fórmulas
de indução discriminatória e classista, que parecem estar de novo a ser
introduzidas no sistema educativo português, atribuindo exclusivamente à
responsabilidade individual dos sujeitos as supostas escolhas e opções
relativas aos seus percursos de escolarização e formação. Como refere
Boaventura de Sousa Santos:
Os indivíduos são convocados a serem responsáveis pelo seu destino, pela sua
sobrevivência e pela sua segurança, gestores individuais das suas trajectórias
sociais sem dependências nem planos pré-determinados. No entanto, esta
responsabilização ocorre de par com a eliminação das condições que a poderiam
transformar em energia de realização pessoal. O indivíduo é chamado a ser o
senhor do seu destino quando tudo parece estar fora do seu controlo. A sua
responsabilização é a sua alienação; alienação que, ao contrário da alienação
marxista, não resulta da exploração do trabalho assalariado mas da ausência
dela (Santos, 1995).
Tomando agora como objecto de estudo as mudanças no ensino superior, sobretudo
aquelas que estão em curso na Europa ocidental, verifica-se que os trabalhos
mais recentes, na esteira, nomeadamente, de Guy Neave e Frans van Vught,
procuram defender a ideia de que neste sector está igualmente a ocorrer uma
mudança no modo de regulação que se traduz, neste caso, pela transição de um
modelo de controlo estatal para um modelo de supervisão estatal.
O modelo de controlo é um modelo de regulação burocrático e centralizado em que
o estado mantém sob sua alçada todos os aspectos do ensino superior (acesso,
currículos, nomeação de pessoal, normas para concessão de graus, etc.). Entre
este modelo e o seu oposto, isto é, um modelo de controlo totalmente baseado no
mercado, a tendência nos últimos anos em termos de ensino superior na Europa
ocidental e também em Portugal tem sido a adopção de um modelo híbrido que
conjuga o controlo pelo estado com estratégias de autonomia ou de auto-
regulação institucional. É este modelo que tem sido designado como modelo de
supervisão pelo estado. Neste sentido, a vigência deste modelo tem conduzido à
aprovação de leis de autonomia que têm transferido para as instituições os
detalhes da aplicação das políticas de ensino superior, bem como a gestão
corrente. Ao mesmo tempo, os governos:
passaram a controlar apenas algumas variáveis do sistema consideradas
importantes, como os custos por aluno, o número de alunos admitidos, as taxas
de retenção, o número de licenciados produzidos (e) às instituições passou a
competir auto-regular-se, por forma a que os parâmetros do seu funcionamento se
situem dentro dos valores aceitáveis para o governo ( ) (cf. Correia, Amaral e
Magalhães, 2000: p. 28).
Neste contexto, surge uma nova forma de actuação do estado que, já há alguns
anos, foi designada por Guy Neave (1988 e 1998) como a emergência do estado-
avaliador (the rise of the evaluative state). Com a visibilidade social e a
importância política crescentes que foi adquirindo ao longo dos anos 80, a
avaliação transformou-se num dos eixos estruturantes das políticas educativas
(cf. Afonso, 1998a, 1998b). Através dela procura-se compatibilizar exigências
relativamente contraditórias: as que têm a ver, até certo ponto, com um
relativo aumento do poder de regulação do estado e aquelas que decorrem de uma
lógica mais voltada para o mercado ou para a auto-regulação institucional.
A este propósito, Ana Maria Seixas, que tem trabalhado as questões relativas ao
ensino superior, escreve:
A transformação do papel do estado não implica, no entanto, uma diminuição do
seu poder ( ). A principal contradição do estado avaliador reside exactamente
na ênfase simultânea, por um lado, na desregulação e na autonomia
institucional, e, por outro, no desenvolvimento de um corpo regulatório
condicionando a acção institucional (Seixas, 2001, no prelo).
Em síntese, como procurei referir brevemente nas páginas deste texto, estão
hoje em curso estratégias diferenciadas para a redefinição do papel do estado
que é preciso analisar em profundidade de modo a perceber as suas implicações
específicas no campo das políticas educativas. Há também caminhos que estão a
ser construídos e soluções que estão a ser propostas que contêm tensões e
dilemas difíceis de resolver, sobretudo quando a lógica da regulação se
sobrepõe à lógica da emancipação.
Entretanto, fora das velhas e das novas ortodoxias, há também experiências em
curso que continuam a dar sentido a lutas sociais e a políticas públicas em
torno de projectos emancipatórios. Sendo assim, e sem esquecer que há dimensões
da globalização que podem possibilitar e potenciar acções contra-hegemónicas,
não poderemos aproveitar melhor o facto de a educação estar sujeita ainda a uma
globalização de baixa intensidade para não desistirmos de lutar por políticas
educativas mais justas e democráticas?
Notas
1 Ver, a este propósito, por exemplo, o número temático do Journal of Education
Policy, 15 (4), 2000, subordinado ao tema Education policy and philosophy.
2 Boaventura de Sousa Santos, referindo-se ao trabalho de Bob Jessop, escreve:
Tendo em mente a situação na Europa e na América do Norte, Bob Jessop
identifica três tendências gerais na transformação do poder do estado. Em
primeiro lugar, a des-nacionalização do estado, um certo esvaziamento do
aparelho do estado nacional que decorre do facto de as velhas e novas
capacidades do estado estarem a ser reorganizadas, tanto territorial como
funcionalmente, aos níveis subnacional e supranacional. Em segundo lugar, a de-
estatização dos regimes políticos reflectida na transição do conceito de
governo (government) para o de governação (governance), ou seja, de um modelo
de regulação social e económica assente no papel central do estado para um
outro assente em parcerias e outras formas de associação entre organizações
governamentais, para-governamentais e não-governamentais, nas quais o aparelho
de estado tem apenas tarefas de coordenação enquanto primus inter pares. E,
finalmente, uma tendência para a internacionalização do estado nacional
expressa no aumento do impacto estratégico do contexto internacional na
actuação do estado, o que pode envolver a expansão do campo de acção do estado
nacional sempre que for necessário adequar as condições internas às exigências
extra-territoriais ou transnacionais (Santos, 2001, no prelo).
3 Roger Dale, transcrevendo e comentando uma passagem da obra de Cerny,
escreve: Argumenta ele que mais do que tentar retirar certas actividades
económicas do mercado, desmercantilizar' essas actividades como o estado de
bem-estar fazia, o estado-competidor tem procurado incrementar a
mercantilização com o objectivo de alocar as actividades económicas ou no
contexto do território nacional, ou de outra maneira contribuir de forma mais
competitiva tanto ao nível internacional como transnacional para a riqueza
nacional. E continua a enumerar quatro mudanças políticas específicas que
estão a ser importantes na agenda política. São elas: uma mudança do
intervencionismo macro-económico para um intervencionismo micro-económico; uma
mudança no sentido de prosseguir vantagens comparativas em vez de vantagens
competitivas; o controlo da inflação, como uma questão central na gestão
económica do estado; e a mudança no foco das políticas nacionais de uma
maximização genérica do bem-estar social para uma promoção da inovação
empresarial e uma maior rentabilidade tanto na esfera pública como privada
(Cerny, 1997: 259-60, citado por Dale, 2000b:101).
4 Sobre a emergência das escolas profissionais como um dos eixos das políticas
educativas dos últimos anos em Portugal ver ainda Fátima Antunes (1998).
5 Uma outra característica, que se poderá cruzar com a anterior, e que parece
acentuar-se nos últimos anos em Portugal com os governos apoiados pelo Partido
Socialista, é sugerida por Licínio C. Lima, quando se refere à hipótese de
sectorialização intencional das políticas educativas, enquanto estratégia
aparentemente pós-reformista de introdução de mudanças políticas de tipo
incrementalista, sector a sector. Desta forma, acrescenta, vai-se Negociando
em cada caso com os parceiros sociais especificamente envolvidos e, por essa
via (de pendor neocorporativo), reforçando poderes, conferindo protagonismo e
delegando funções de regulação ( ). Em suma, adoptando políticas de largo
alcance, embora sob uma lógica frequentemente fragmentadora ou desintegradora
( ) (Cf. Lima, 2000: 42-43).