Antecipação e experiência emocional do parto
Antecipação e experiência emocional do parto
Emotional anticipation and experience of childbirth
A gravidez e o parto são acontecimentos de vida de extrema importância, não só
para a mulher como também para o homem. Durante o período gestacional, a mulher
constrói expectativas relativas ao parto que, embora positivas quando se
reportam ao apoio por parte dos significativos e dos profissionais de saúde
(e.g., Beaton & Gupton, 1990), são menos positivas no que concerne às
capacidades próprias para lidar com a situação (Ip, Chien, & Chan, 2003) e
envolvem muitas vezes preocupação, ansiedade e medo (e.g. Areskog, Uddenberg,
& Kjessler, 1981; Heymans & Winter, 1975; Hofberg & Brockington,
2000; Pacheco, Figueiredo, Costa, & Pais, 2003; Sjogren, 1997).
Preocupação, ansiedade e medo são comuns durante a gravidez, mas podem ter
repercussões adversas ao nível das complicações obstétricas (e.g. Rondo,
Ferreira, Nogueira, Ribeiro, Lobert, & Artes, 2003), do desenvolvimento
fetal (e.g. Field, Diego, Hernandez-Reif, Schanberg, Kuhn, Yando, &
Bendell, 2003) e neonatal (e.g. Buitelaar, Huizink, Mulder, de Medina, &
Visser, 2003), interferindo também na própria experiência emocional de parto
(Areskog, Uddenberg, & Kjessler, 1983).
Uma antecipação de parto menos positiva tem essencialmente a ver com o risco
que o parto comporta para a saúde da mulher e do bebé (Melender, 2001; Saisto
et al., 2001a; Sjogren, 1997). Tem sido observada sobretudo em mulheres com
gravidezes de elevado risco obstétrico, menos informadas e com níveis de
ansiedade mais elevados (Heaman, Beaton, Gupton, & Sloan, 1992), assim como
em casais com características psicológicas menos favoráveis (e.g. Saisto et
al., 2001b; Saisto & Halmesmåki, 2003).
Desejavelmente, a gravidez deverá culminar ao fim de 9 meses com o nascimento
de um bebé saudável. O parto é, normalmente, aguardado com ansiedade pela
generalidade dos casais e constitui um marco extremamente significativo nas
suas vidas. Está associado a altos níveis de ansiedade que se elevam à medida
que a grávida se vai apercebendo que o parto se aproxima e que não existe uma
forma fácil de o bebé nascer (Colman & Colman, 1994). Durante este período,
a mulher vai desenvolvendo expectativas acerca de como poderá ser a sua
experiência de parto. Alguns estudos têm vindo a demonstrar que a natureza
destas expectativas depende de vários factores e em certas circunstâncias podem
(e.g. Green, 1993; Scott-Heyes, 1982) ou não concretizar-se (e.g. Fridh, &
Gaston-Johansson, 1990; Knight & Thirkettle, 1987).
De uma forma geral, a experiência de parto é percepcionada pela maioria das
mulheres como sendo difícil (Figueiredo, Costa, & Pacheco, 2002),
essencialmente por envolver elevados níveis de dor, ansiedade, perda de
controlo, perda de noção de tempo e lugar e emocionalidade negativa (Thune-
Larsen e Pederson, 1988). Apesar disso, a avaliação que as mulheres fazem
acerca da sua experiência de parto depende, em parte, de factores demográficos,
obstétricos e psicossociais como a idade (e.g., Low, Martin, Sampselle,
Guthrie, & Oakley, 2003; Windridge & Berryman, 1999), paridade (e.g.,
Fridh, Kopare, Gaston-Johansson, & Norvell, 1998), antecipação de parto
(Green, 1993; Scott-Heyes, 1982), tipo de parto (e.g., Costa, Figueiredo,
Pacheco, & Pais, 2003; Cranley et al., 1983; DiMatteo, Morton, Lepper,
Damush, Camey, Pearson, & Kahn, 1996; Field & Windmayer, 1980; Garel,
Lelong, & Kaminski, 1988; Marut & Mercer, 1979), analgesia de parto
(e.g., Costa, et al., 2003; Glosten, 1999; Morgan, Bulpitt, Clifton, &
Lewis, 1992; Paech, 1991), participação activa da mulher nas decisões médicas
(e.g., Cranley et al., 1983; Marut & Mercer, 1979), expectativas prévias
(e.g., Niven, 1988), factores psicológicos (e.g., Mackey, 1998; McCrea &
Wright, 1999), suporte de figuras significativas (e.g., Brazelton, 1981;
Cranley, Hedhal, & Pegg, 1983; Gainer & Van Bonn, 1977; Marut &
Mercer, 1979) e atitudes dos profissionais de saúde (e.g., Hodnett, 2002;
Mosallam, Rizk, Thomas, & Ezimokhai, 2003).
Alguns estudos mostram uma associação significativa entre antecipação e
experiência de parto, no entanto, Knight e Thirkettle (1987) não verificam esta
associação, uma vez que as mulheres consideram a experiência de parto
desagradável, embora não esperassem que tal fosse acontecer. Também DiMatteo,
Kahn, e Berry (1993) verificam que as mulheres sentem dor e têm reacções
emocionais inesperadas durante o parto. Fridh e Gaston-Johansson (1990), por
sua vez, observam que as expectativas prévias, nomeadamente no que respeita à
dor, de um modo geral não se concretizam. Independentemente da paridade, as
mulheres não desenvolvem expectativas realistas acerca da experiência de parto:
contrariamente ao que estavam à espera, experienciam maior suporte por parte
dos profissionais de saúde durante o trabalho de parto e sentem-se menos
sozinhas, mas também mais dor e desconforto (Fridh & Gaston-Johansson,
1990).
Green (1993), verifica que as mulheres que preferem evitar a medicação fazem-no
com maior probabilidade e estão mais satisfeitas com o parto, do que as
mulheres que recorrem à medicação. Os exercícios de respiração e relaxamento
são também mais utilizados e com maior sucesso pelas mulheres que assim
esperavam que acontecesse. O autor constata ainda que a ansiedade relativa ao
parto é um forte predictor de experiências negativas durante o trabalho de
parto, falta de satisfação com o parto e menor bem-estar pós-natal. Também
Scott-Heyes (1982) mostra que as avaliações de parto antecipadas e reais estão
significativamente correlacionadas, e que a ansiedade pré-natal se relaciona
com insatisfação e ansiedade após o parto. Fridh et al. (1998) acrescentam que
expectativas irrealistas em relação à dor e ao desconforto estão relacionadas
com maior intensidade de dor durante o trabalho de parto. Goldberg, Cohen, e
Lieberman (1999) observam que as grávidas que planeiam recorrer a analgesia
epidural têm maior probabilidade de a receber e, geralmente, mais cedo do que
as outras. Também ao nível do alívio da dor se verifica que as mulheres aplicam
e confirmam as expectativas no controlo do alívio de dor (Wright, McCrea,
Stringer, & Murphy-Black, 2000). Um outro conjunto de estudos mostra que,
de uma forma geral, as mulheres confirmam as suas expectativas prévias. Gevry e
Goulet (1994) defendem contudo que a concretização das expectativas varia de
acordo com a sua natureza e não tanto com a importância que lhe é atribuída.
Embora por vezes a antecipação não se confirme totalmente, a forma como a
mulher prevê o parto, nomeadamente as expectativas que alimenta, o medo e
ansiedade que sente e a informação de que dispõe, influencia a forma como o
parto decorre. Por exemplo, Areskog et al. (1983) constatam que as mulheres com
medo ante-natal do parto têm risco acrescido de ter uma experiência de parto
negativa e maiores dificuldades de vinculação com o bebé no período pós-natal
imediato. Também Ryding, Wijma, & Wijma (1998) concluem que o medo do
parto, ao 3º trimestre de gravidez, pode aumentar o risco de subsequente
cesariana de emergência.
Para além do medo e ansiedade que se possa sentir em relação ao parto, a
informação e o conhecimento interferem igualmente com a experiência. Crowe e
von Baeyer (1989) observam que as grávidas que participam em cursos de
preparação para o parto e que demonstram maior conhecimento do parto e maior
confiança após as aulas reportam um parto menos doloroso. Hallgren, Kihlgren,
Norberg, e Forslin (1995) acrescentam que a falta de informação ou informação
inconsistente contribui para uma experiência de parto mais negativa do que o
esperado.
Em suma, a investigação nesta área tem vindo a mostrar que durante o período
gestacional, a mulher constrói expectativas relativas ao parto que, sendo
positivas quanto a aspectos específicos como o suporte social (e.g., Beaton
& Gupton, 1990), são menos positivas noutros aspectos como a capacidade
para lidar com a situação (Ip, et al., 2003) e envolvem muitas vezes
preocupação, ansiedade e medo (e.g. Areskog, et al., 1981; Heymans &
Winter, 1975, Hofberg & Brockington, 2000; Pacheco, et al., 2003; Sjogren,
1997). O parto, por seu turno, é uma experiência pautada por elevados níveis de
stress, principalmente quando ocorre pela via normal (Figueiredo et al., 2002).
A maioria das puérperas vivencia elevados níveis de dor, mas, apesar disso,
considera o parto uma experiência gratificante (e.g. Waldenstrom et al., 1996).
No entanto, são múltiplos os factores que interferem de forma mais ou menos
positiva no modo como a mulher vivencia o parto. A experiência varia em função
da interacção complexa e subjectiva de múltiplos factores demográficos,
obstétricos e psicossociais, nomeadamente a idade (e.g. Low et al., 2003),
paridade (e.g. Fridh et al., 1998), tipo de parto (e.g. Costa et al., 2003),
analgesia de parto (e.g. Costa et al., 2003), participação nas decisões médicas
(e.g. Cranley et al., 1989), atitudes dos profissionais de saúde (e.g. Hodnett,
2002), auto-controlo (e.g. McCrea & Wright, 1999) e auto-eficácia (e.g.
Mackey, 1998).
Embora alguns estudos não encontrem uma relação entre expectativas e
experiência de parto (e.g. DiMatteo et al., 1993; Fridh & Gaston'Johansson,
1990; Knight & Thirkettle, 1987; Lundgren, Berg, & Lindmark, 2003), a
maior parte mostra que as expectativas prévias se relacionam e são susceptíveis
de influenciar a experiência de parto (e.g. Scott-Heyes, 1982), no que concerne
ao tipo de parto (e.g. deOliveira, 2002; Ryding et al., 1998), à dor (e.g.
Crowe & von Baeyer, 1989; Green, 1993), analgesia de parto (e.g. Goldberg
et al., 1999), qualidade da experiência (e.g. Areskog et al., 1983; Kihlgren et
al., 1995) e ansiedade (e.g. Crowe & von Baeyer, 1989).
O objectivo deste estudo é compreender de que forma a experiência de parto é,
por um lado, antecipada e, por outro lado, vivenciada. Foi também nosso
interesse averiguar a relação entre antecipação e experiência de parto e
analisar até que ponto as expectativas influenciam a experiência efectiva de
parto, bem como examinar quais as expectativas mais favoráveis para uma
experiência satisfatória de parto.
Estes objectivos justificam-se atendendo a que, do ponto de vista
desenvolvimental, quanto mais adequada a capacidade para lidar com as
sucessivas tarefas inerentes à gravidez, melhor será a vivência emocional do
parto, ocasião da separação física entre mãe e bebé (Colman & Colman,
1994). Por outro lado, e de acordo com a teoria do coping, uma melhor
preparação para lidar com uma experiência que implica stress como o parto,
reduz o nível de ansiedade possibilitando que a experiência seja mais eficaz
(Doering, & Entwisle, 1975).
MÉTODO
Participantes
A amostra do estudo é constituída por 197 grávidas primíparas utentes da
Consulta Externa de Obstetrícia da Maternidade de Júlio Dinis (Porto), no
período compreendido entre Setembro de 2001 e Julho de 2002. A cada
participante foram explicados os objectivos e procedimentos da investigação,
bem como o seu papel e o papel dos investigadores em todo o processo. Foi
solicitada a colaboração em regime voluntário e garantida a confidencialidade
de todas as informações prestadas; após o consentimento informado foi iniciada
a colheita de dados. A amostra foi seleccionada de acordo com alguns critérios
de exclusão: não saber ler e/ou escrever português, multiparidade e idade
gestacional superior a 26 semanas.
As participantes no estudo são grávidas primíparas com idades compreendidas
entre 15 e 39 anos, sendo a média de 25,21 anos, como podemos observar através
Quadro 1. No momento da entrevista, as participantes tinham entre 17 e 26
semanas de gravidez, sendo que em média se encontravam com 21,6 semanas de
gestação.
Quadro 1 - Caracterização Social e Demográfica
A maioria dos sujeitos é de etnia caucasiana (98,5%) e de naturalidade
Portuguesa (94,4%). No que diz respeito ao estatuto matrimonial, verificamos
que mais de metade das grávidas é casada (62,9%), as restantes vivem em regime
de coabitação (23,4%) ou são solteiras (13,7%). As participantes solteiras têm,
na maior parte dos casos namorado (88,9%), das que estão casadas ou em regime
de coabitação, verifica-se que a média de anos de vida conjunta com o
companheiro é de 2,4 anos.
Na sua maioria, as grávidas vivem com o companheiro (86,3%) e, normalmente,
apenas com o companheiro (66,5%), embora, nalgumas situações com o companheiro
e outro familiar (19,8%), no entanto algumas não vivem com o companheiro
(13,7%). A maioria (85,3%) é de religião católica, no entanto, alguns afirmam
não ter religião (11,7%) ou professar outra religião (3,0%). Quase metade das
mães não possui a escolaridade obrigatória (42,2%), muitas têm entre 9 e 12
anos de estudo (48,6%) e apenas 9,2% enveredaram pelo ensino superior, sendo a
média de anos de estudo da amostra de 9,4 anos.
Na altura em que engravidou, grande parte das participantes do estudo
encontrava-se empregada (85,8%), contudo algumas estavam desempregadas (6,1%),
enquanto 5,6% eram estudantes, 2,0% domésticas e 0,5% estavam empregadas mas
encontram-se com licença de maternidade ou por doença. Porém, por altura do
primeiro momento de avaliação, apenas 73,6% da amostra se encontra empregada,
15,8% está desempregada, 5,6% é estudante, 2,5% doméstica e 2,5% empregada com
licença de maternidade ou de doença.
Uma percentagem significativa de participantes apresentam adversidades de vida,
dado que provém de famílias que passaram por separação ou divórcio parental
(25,9%), é órfã de mãe (3,0%) ou de pai (17,3%), foi adoptada (3,6%) ou esteve
separada da mãe (2,0%), do pai (10,2%), ou de ambos os pais (7,1%) por um
período superior a 1 ano antes dos 17 anos de idade.
No que diz respeito à história psiquiátrica, verificamos que poucos sujeitos
estiveram alguma vez internados num hospital psiquiátrico (1,0%), no entanto,
14,7% referem ter recorrido a consultas de psiquiatria, 21,8% ao médico de
família devido a problemas emocionais, e 24,5% já fizeram alguma vez uso de
psicofármacos.
Quando nos reportamos à história de problemas obstétricos, verificamos que
14,2% da amostra relata história deste tipo de problemas. Saliente-se que uma
percentagem considerável de mães relata aborto espontâneo (9,1%), morte
neonatal anterior (1,0%) ou problemas de fertilidade (5,6%). Das participantes
com problemas de fertilidade, com uma duração média na amostra de 24,5 meses, a
maior parte (5,1%) necessitou de recorrer a tratamento médico.
No que respeita às condições obstétricas actuais (cf. Quadro 2), verificamos
que 43,6% das mulheres tiveram parto eutócico (21,5% sem e 22,1% com anestesia
epidural) e as restantes 56,4% parto distócico, assim sendo 46,4% se reportam a
cesariana (29,0% com anestesia geral e 17,4% com anestesia epidural) e 10,0% a
parto instrumental (1,3% sem e 8,7% com anestesia epidural). Desta forma, 22,8%
dos partos ocorreram sem anestesia, 29,0% com anestesia geral e 48,2% com
anestesia epidural.
Quadro 2 - Condições Obstétricas do Parto
Complicações físicas decorrentes do parto ocorreram em 17,1% dos casos e 26,5%
das mulheres foram medicadas com antibiótico pelo médico assistente, sendo que
34,6% das mulheres tiveram problemas periparto (complicações físicas e/ou
antibiótico). Após o parto, mais de metade das mulheres não teve oportunidade
de tocar no bebé nos primeiros 5 minutos de vida (53,4%), nem de pegar no bebé
nos primeiros 30 minutos de vida (52,7%).
O peso do bebé é inferior a 2,5 kg em 10,3% dos casos. No que respeita ao
estado neonatal, constatamos que alguns bebés necessitaram de internamento nos
cuidados intensivos (10,8%), fototerapia (25,6%) ou medicação antibiótica
(13,3%). No total, 32,9% dos bebés tiveram problemas neonatais (cuidados
intensivos e/ou fototerapia e/ou medicação antibiótica).
Material
Questionário Sócio-Demográfico - Foi utilizado um questionário de 45 questões
que permite recolher informação social e demográfica da grávida e do seu
companheiro, bem como dados relativos ao agregado familiar, história de
problemas obstétricos e psiquiátricos das participantes.
Questionário de Antecipação do Parto (QAP, Costa, Figueiredo, Pacheco, Marques,
& Pais, 2005) - O QAP foi desenvolvido a partir da necessidade de perceber
de que forma as mulheres antecipam e planeiam a sua experiência de parto.
Trata-se de um questionário de auto-relato, com um tempo médio de resposta de
15 minutos, constituído por 52 questões respeitantes às expectativas da grávida
relativamente a diferentes acontecimentos referentes ao trabalho de parto,
parto e pós-parto. As respostas são do tipo Likert numa escala entre 1 e 4 que
corresponde a "nada", "algum", "bastante", "muito". Existem ainda 2 questões
que assumem um formato dicotómico (sim/não).
O questionário é composto por 6 sub-escalas: 1. Planeamento e preparação para o
parto (8 itens), 2. Expectativas quanto ao parto (14 itens); 3. Preocupações
com a saúde e consequências adversas do parto (13 itens); 4. Expectativas
quanto ao pós-parto (6 itens); 5. Expectativas quanto à relação com o bebé e
com o companheiro (4 itens); 6. Expectativas quanto ao suporte social (7
itens). As sub-escalas estão organizadas para que quanto mais elevada a cotação
mais positiva a antecipação da grávida. O tempo médio de resposta a este
questionário é de 15 minutos. O questionário mostra-se fidedigno (Teste-reteste
= 0,690) e com boa consistência interna (Alpha de Cronbach = 0,8512 e Split-
Half = 0,5895) (Costa, Figueiredo, Pacheco, Marques, & Pais, 2005).
Questionário de Experiência e Satisfação com o Parto (QESP, Costa, Figueiredo,
Pacheco, Marques & Pais, 2005) - Deste questionário de auto-relato, com uma
duração aproximada de administração de 30 minutos, fazem parte um total 104
questões referentes às expectativas, experiência, satisfação e dor relativas ao
trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. As perguntas respeitantes à
experiência, satisfação e dor são do tipo lickert numa escala que varia entre 1
e 4 ("nada", "um pouco", "bastante", "muito"). Os itens que se reportam às
expectativas também são do tipo lickert numa escala que varia entre 1 e 4
("muito pior", "pior", "melhor", "muito melhor" ou "muito menos", "menos",
"mais", "muito mais"). As questões que se relacionam com a intensidade da dor,
embora sejam igualmente do tipo lickert, variam numa escala entre 0 e 10
("nenhuma", "mínima", "muito pouca", "pouca", "alguma", "moderada", "bastante",
"muita", "muitíssima", "extrema", "a pior jamais imaginável"). Este
questionário é composto por 8 sub-escalas: 1. Condições e Cuidados Prestados
(14 itens); 2. Experiência Positiva (22 itens); 3. Experiência Negativa (12
itens); 4. Relaxamento (6 itens); 5. Suporte Social (3 itens); 6. Suporte do
Companheiro, (8 itens); 7. Preocupações (14 itens) e, 8. Pós-Parto (25 itens).
Quanto mais elevada a cotação obtida em cada uma das sub-escalas e na escala
total, mais positiva a experiência da parturiente. O QESP apresenta muito boa
consistência interna (Alpha de Cronbach = 0,9087, Coeficiente de Split-half =
0,6828) e é fidedigno (Teste-Reteste=0,586) (Costa, Figueiredo, Pacheco,
Marques, & Pais, 2005).
Procedimentos
As participantes foram contactadas na Consulta Externa da Maternidade de Júlio
Dinis, durante o 2º trimestre de gravidez. Após consentimento informado, os
sujeitos preencheram o questionário Sócio-Demográfico e o QAP, no 2º trimestre
de gravidez. Na primeira semana após o parto foram novamente contactadas na
Unidade de Internamento da Maternidade de Júlio Dinis, no sentido de
responderem ao QESP. Neste momento de avaliação, 143 (72,6%) das 197
participantes devolveram todos os questionários devidamente preenchidos.
As únicas instruções que foram dadas reportaram-se ao facto de as participantes
lerem com atenção todas as questões, de não haver respostas certas ou erradas e
de responderem da forma que corresponde com mais exactidão ao seu caso.
Para a prossecução do primeiro objectivo deste estudo, recorremos à análise
descritiva das respostas. Seguidamente a análise de correlação Ró de Spearman
foi utilizada para analisar o segundo objectivo deste estudo.
RESULTADOS
Antecipação da Experiência de Parto
O questionário de Antecipação do Parto permite-nos avaliar diversas dimensões
da antecipação do parto, nomeadamente: 1. Planeamento e preparação para o
parto, 2. Expectativas quanto ao parto, 3. Preocupações quanto à saúde e
consequências adversas do parto, 4. Expectativas quanto ao pós-parto, 5.
Expectativas quanto à relação com o bebé e com o companheiro, 6. Expectativas
quanto ao suporte social e, 7. Antecipação Global de Parto. Desta forma,
podemos analisar o modo como todas estas dimensões são antecipadas pelas
grávidas na expectativa de uma primeira experiência de parto.
No que respeita ao planeamento e preparação para o parto, verificamos que, no
2º trimestre de gravidez, os valores obtidos nesta sub-escala oscilam entre os
9 e 25 (valor mínimo e máximo, respectivamente), sendo a média de 16,73. Nesta
altura, a maioria das mulheres ainda não decidiu como quer que seja o seu parto
(56,3%), embora já tenha decidido onde quer que ocorra (95,9%). Apenas uma
pequena parte da amostra está a treinar métodos de respiração e relaxamento
para pôr em prática durante o trabalho de parto (5,6%) e parto (16,2%). Não
obstante, consideram que a respiração e o relaxamento pode ajudar
'bastante' ou 'muito' durante o trabalho de parto
(21,8% e 64,5%, respectivamente) e parto (30,5% e 55,8%, respectivamente). Na
sua maioria, as participantes desconhecem ou têm pouco conhecimento acerca de
todos os procedimentos relativos ao trabalho de parto (72,6%) e parto (72,1%),
sendo que as restantes detêm 'bastante' ou 'muito'
conhecimento acerca de todos os procedimentos envolvidos no trabalho de parto
(27,4%) e parto (27,9%).
Quando nos reportamos às expectativas quanto ao parto, verificamos que a média
da pontuação obtida é de 32,20, o valor mínimo 18 e o máximo 47. No que
respeita aos itens constituintes desta sub-escala, podemos afirmar que mais de
metade da amostra espera vir a sentir 'bastante' ou
'muita' dor durante o trabalho de parto (68,2%) e parto (79,7%), no
entanto, algumas esperam sentir 'pouca' ou 'nenhuma'
dor durante o trabalho de parto (21,8%) e parto (20,3%). Em consonância, a
maior parte das participantes reporta que, em média, os outros consideram que
elas sentirão 'bastante' ou 'muita' dor durante o
trabalho de parto (79,7%), parto (79,2%) e pós-parto (48,8%),
Assim sendo, a maior parte das grávidas antecipa que o trabalho de parto e
parto vão ser períodos 'bastante' (52,8% e 43,1%, respectivamente)
ou 'muito' (27,4% e 33,1%, respectivamente) dolorosos, embora
algumas considerem que vão ser 'pouco' (16,8% e 20,8%,
respectivamente) ou 'nada' (3,0% e 3,0%, respectivamente)
dolorosos.
Desta forma, as expectativas em relação ao medo que irão sentir são elevadas,
sendo que muitas consideram que vão sentir 'bastante' ou
'muito' medo durante o trabalho de parto (72,6%) e parto (67,5%) e
algumas que vão sentir 'pouco' ou 'nenhum' medo durante
o trabalho de parto (27,4%) e parto (32,5%).
Não obstante o medo e dor que pensam vir a sentir, mais de metade das
participantes considera que irá sentir 'bastante' ou
'muita' confiança, quer durante o trabalho de parto (64,0%) quer
durante o parto (64,5%), enquanto as restantes pensam sentir
'pouca' ou 'nenhuma' confiança durante o trabalho de
parto (36,0%) e parto (35,5%). Quanto ao sentimento de controlo, as
expectativas são mais positivas para o trabalho de parto do que para o parto,
sendo que mais de metade da amostra pensa sentir 'bastante' ou
'muito' controlo durante o trabalho de parto (54,8%), embora
algumas pensem sentir um 'pouco' (37,6%) ou 'nenhum'
controlo neste período (7,6%). Já durante o parto, menos de metade da amostra
considera vir a sentir 'bastante' ou 'muito' controlo
(46,7%), uma parte considerável pensa vir a sentir pouco controlo (42,6%) e
algumas pensam não sentir controlo nesta altura (10,7%).
Quando questionamos as participantes acerca da sua capacidade para aproveitar
plenamente o primeiro contacto com o bebé, a maioria responde
'muito' (63,5%) ou 'bastante' (32,0%) embora algumas
considerem que vão ter 'pouca' (4,0%) ou 'nenhuma'
(0,5%).
No que respeita à sub-escala preocupações com a saúde e consequências
adversas do parto, constatamos que o valor mínimo é 16 e o máximo 51, sendo a
média de 38,10 valores. As respostas aos itens mostram que a preocupação com o
estado de saúde próprio está presente nalgum grau, principalmente em relação ao
parto (87,8%), mais do que em relação ao pós-parto (78,7%) sendo que a
intensidade da preocupação é 'bastante' ou 'muito' com
maior frequência no parto (54,3%), do que no pós-parto (38,6%). Não obstante,
uma pequena parte da amostra pensa 'muito' (6,6%) ou
'bastante' (6,6%) que pode morrer no parto, enquanto a maioria
pensa 'pouco' (24,4%) ou 'nada' (62,4%) que pode morrer
no parto. A preocupação com as consequências físicas que o parto pode ter em si
própria está presente nalgum grau em 74,1% (sendo que 13,7% se preocupam muito
e 20,8% bastante) da amostra, dado que apenas 25,9% da amostra não mostra
preocupação com este aspecto. As participantes preocupam-se, normalmente, com
sequelas físicas (60,9%) mais do que com sequelas psicológicas (50,8%)
decorrentes do parto. Para a maioria, o regresso a casa após o parto vai
demorar 'pouco' (64,0%), embora algumas considerem que vai demorar
'bastante' (19,3%) ou 'nada' (14,7%) e uma pequena
parte que pode demorar 'muito' (2,0%).
As preocupações com o estado de saúde do bebé durante o parto e com as
consequências do parto para o bebé estão presentes numa parte significativa da
amostra. Apenas 22,3% das participantes acham que o parto não vai interferir no
estado de saúde do bebé, 41,1% consideram que pode interferir
'pouco', 23,9% 'bastante' e '12,7%' muito.
Cerca de metade da amostra não pensa que o bebé possa morrer durante o parto
(50,8%), no entanto a outra metade pensa 'um pouco' (29,4%),
'bastante' (15,7%) ou 'muito' (4,1%). A inquietação com
as consequências que o parto possa ter no bebé está presente na maior parte das
grávidas (89,9%), sendo que em 25,9% preocupa-se 'muito', 25,4%
'bastante' e 38,6% 'um pouco'. Constatamos igualmente
que a apreensão com as sequelas físicas do parto no bebé está presente com
maior frequência (64,0%) do que a apreensão com as sequelas psicológicas
(44,7%). A preocupação com o peso do bebé à nascença está também presente,
sendo que é 'muita' para 24,9%, 'bastante' para 22,8% e
'pouca' para 26,9% da amostra.
No que concerne as expectativas quanto ao pós-parto, verificamos que a média
obtida nesta sub-escala é de 19,00, sendo os valores mínimo e máximo de 7 e 24,
respectivamente. Considerando as respostas item a item, observamos que a
intensidade de dor que se espera sentir após o parto aumenta desde os momentos
imediatos ao parto até ao primeiro dia do pós-parto e, a partir dessa altura
diminui até ao primeiro mês após o parto. Logo após o parto, mais de metade das
participantes pensa vir a sentir 'pouca' dor (50,2%), outras
'bastante' (38,6%) e uma pequena parte 'muita' (4,1%)
ou 'nenhuma' dor (7,1%). A percentagem de grávidas que pensam vir a
sentir 'pouca' ou 'nenhuma' dor aumenta desde o
primeiro dia após o parto (72,6%), segundo dia (81,2%), terceiro dia (88,4%),
primeira semana (90,3%) e primeiro mês (91,4%).
Quando nos reportamos às expectativas quanto à relação com o bebé e com o
companheiro, verificamos que a pontuação obtida oscila entre 7 e 16 (mínimo e
máximo, respectivamente), com média na sub-escala de 13,12. Relativamente aos
itens, constatamos que a maior parte da amostra antecipa que a dor que possa
vir a sentir não interferirá na relação com o bebé (61,4%) ou com o companheiro
(50,8%), embora algumas admitam que possa interferir 'um pouco' na
relação com o bebé (25,9%) e com o companheiro (41,1%) e poucas que possa
interferir 'bastante' ou 'muito' na relação com o bebé
(12,7%) e com o companheiro (8,1%). Na sua maioria as grávidas esperam que vão
ser 'bastante' ou 'muito' capazes de amamentar (76,1%)
e cuidar (80,2%) do bebé, no entanto algumas consideram que vão ser
'pouco' ou 'nada' capazes de amamentar (23,9%) e cuidar
(19,8%) do bebé logo após o parto.
No que respeita às expectativas quanto ao suporte proporcionado por figuras
significativas, verificamos que os valores obtidos nesta sub-escala variam
entre 11 e 28, sendo a média de 21,41. De um modo geral, as participantes
esperam contar 'bastante' ou 'muito' com o apoio do
companheiro e de alguém significativo (familiar ou amigo), quer durante o
trabalho de parto (78,1% e 65,5%), quer durante o parto (72,6% e 60,9%), mas
principalmente no pós-parto (95,4% e 89,9%).
Finalmente, a pontuação obtida na Escala Global dá-nos uma ideia da Antecipação
Global da Experiência de Parto e oscila entre 87 e 173 pontos, sendo a média de
140,54. Metade da amostra (50%) tem pontuação entre 87 e 141 e, as restantes
superior a 141 e inferior ou igual a 173.
Experiência Emocional de Parto
O Questionário de Experiência e Satisfação com o Parto permite-nos avaliar a
experiência de parto da mulher em termos de: 1. Condições e Cuidados, 2.
Experiência Positiva, 3. Experiência Negativa, 4. Relaxamento, 5. Suporte
Social, 6. Suporte do Companheiro, 7. Preocupações, 8. Pós-Parto e 9.
Experiência Global de Parto.
Quando analisamos as condições e cuidados proporcionados pela Instituição de
Saúde, verificamos que a média da pontuação obtida é de 49,13, sendo o valor
mínimo 22 e o máximo 64. As respostas aos itens mostram que as expectativas
quanto às condições físicas da maternidade são confirmadas com maior frequência
durante o trabalho de parto (75,5%) do que no parto (70,6%) ou pós-parto
(56,6%). Algumas consideram que as condições físicas foram 'pior'
ou 'muito pior' do que o esperado, ou que foram
'melhor' ou 'muito melhor' do que o esperado durante o
trabalho de parto (6,3% e 18,2%, respectivamente), parto (5,6% e 23,8%,
respectivamente) e pós-parto (33,6% e 9,8%, respectivamente). No que respeita
aos cuidados proporcionados pelos profissionais de saúde, verificamos que as
expectativas são confirmadas com maior frequência durante o parto (65,0%) do
que durante o trabalho de parto (62,2%) ou pós-parto (60,8%). As restantes
avaliam os cuidados dos profissionais de saúde como 'pior' ou
'muito pior' (8,4%, 16,8% e 21,7%, respectivamente) ou
'melhor' ou 'muito melhor' do que o esperado (26,6%,
21,0% e 17,5%, respectivamente).
O tempo que demorou o parto vai mais de encontro com as expectativas das
participantes (39,2%) do que o tempo que demorou o trabalho de parto (30,1%). A
maioria das mulheres acha que o trabalho de parto demorou 'mais' ou
'muito mais' (51,7%) e apenas 18,2% considerou que demorou
'menos' ou 'muito menos' do que o esperado. Já o parto,
demorou 'menos' ou 'muito menos' para muitas mulheres
(34,2%), embora 26,6% tenham considerado que demorou 'mais' ou
'muito mais' do que o esperado.
A satisfação com as condições físicas da instituição após o parto é nula ou
reduzida para mais de metade das participantes (51,8%), no entanto, as
restantes estão 'bastante' ou 'muito' satisfeitas
(48,2%). Já no que respeita à satisfação com a qualidade dos cuidados
proporcionados pelos profissionais de saúde após o parto, a maioria das
participantes estão 'bastante' ou 'muito' satisfeitas
(68,6%), embora algumas estejam pouco (22,4%) ou nada (9,0%) satisfeitas.
A satisfação com os cuidados e condições proporcionados pela instituição está
presente nalgum grau na maioria das participantes quer durante o trabalho de
parto (93,0%), quer durante o parto (93,0%), assim como a satisfação com os
cuidados proporcionados pelos profissionais de saúde no trabalho de parto
(92,3%) e parto (94,4%).
Quando nos reportamos à experiência positiva, constatamos que o valor mínimo
obtido nesta sub-escala é de 22 e o máximo de 81, sendo a média de 53,33. As
respostas aos itens mostram que, para a maior parte das mulheres o trabalho de
parto e parto não decorre de encontro com as suas expectativas prévias (69,9% e
68,5%, respectivamente), sendo que para muitas delas corre 'pior'
ou 'muito pior' (46,9% e 35,7%, respectivamente) e para algumas
'melhor' ou 'muito melhor' (23,0% e 32,8%,
respectivamente) do que o esperado. Nomeadamente, no que respeita à dor
sentida, a maior parte das mulheres não confirma as suas expectativas prévias
durante o trabalho de parto e parto (66,4% e 62,9%, respectivamente), sendo que
durante o trabalho de parto a dor é 'pior' ou 'muito
pior' do que o esperado (42,0%) para a maioria e apenas para algumas é
'melhor' ou 'muito melhor' (24,4%); no entanto, a
maioria avalia o parto como 'melhor' ou 'muito melhor'
(33,5%) e apenas algumas consideram que foi 'pior' ou 'muito
pior' (29,4%).
A capacidade de controlo durante o trabalho de parto e parto é para a maioria
das mulheres nula ou reduzida (78,4% e 79,1%, respectivamente), assim como a
confiança durante o trabalho de parto e parto (56,5% e 62,8%, respectivamente)
e a capacidade para sentir prazer ou satisfação durante o trabalho de parto e
parto (88,8% e 76,9%, respectivamente), já que durante o trabalho de parto e
parto apenas uma pequena parte da amostra sentiu 'bastante' ou
'muito' controlo (21,6% e 20,9%) confiança (43,5% e 37,2%) ou
prazer e satisfação (11,2% e 23,1%).
A maioria das mulheres afirma ainda desconhecer de todo ou conhecer pouco os
procedimentos envolvidos no trabalho de parto, parto ou pós-parto (70,0%, 74,2%
e 71,3%, respectivamente) pois apenas algumas dizem ter 'bastante'
ou 'muito' conhecimento acerca desses procedimentos (30,0%, 25,8% e
28,7% respectivamente). Não obstante, a maioria considera que foi
'bastante' ou 'muito' útil e cooperativa com os
profissionais de saúde durante o trabalho de parto, parto e pós-parto (58,8%,
55,3% e 68,6%, respectivamente), algumas pensam que foram 'pouco'
ou 'nada' úteis e cooperativas (41,2%, 44,7% e 31,4%,
respectivamente).
A generalidade das participantes encontra-se satisfeita nalgum grau com a forma
como decorreu o trabalho de parto, parto e pós-parto (80,4%, 86,0% e 81,8%,
respectivamente), mas uma considerável parte não está de todo satisfeita com a
forma como decorreu o trabalho de parto, parto e pós-parto (19,6%, 14,0% e
18,2%, respectivamente). De igual forma, as participantes encontram-se
satisfeitas nalgum grau com o tempo que demorou o trabalho de parto, parto e
pós-parto (67,1%, 83,2% e 80,4%, respectivamente), no entanto algumas não estão
de todo satisfeitas com o tempo que demorou o trabalho de parto, parto e pós-
parto (32,9%, 16,8% e 19,6%, respectivamente).
No que respeita à experiência negativa, verificamos que a média das pontuações
obtidas se posiciona nos 29,33 e que o valor mínimo obtido nesta sub-escala é
de 13 e o máximo de 48. De um modo geral, observamos que a maioria das mulheres
sente algum grau de medo no trabalho de parto (80,4%) e parto (70,6%), sendo
que apenas algumas não sentem medo no trabalho de parto (19,6%) e parto
(29,4%). Verificamos igualmente que no trabalho de parto e parto, a maioria das
participantes sente mal-estar nalgum grau (86,0% e 65,7%, respectivamente),
embora algumas não sintam qualquer mal-estar nesta altura (14,0% e 34,3%,
respectivamente).
A maioria das mulheres recorda o trabalho de parto e parto como doloroso (83,9%
e 62,2%, respectivamente) dado que somente 16,1% das participantes no trabalho
de parto e 37,8% no parto, os recordam como períodos ausentes de dor. A
intensidade média e máxima de dor sentida no trabalho de parto foi considerada
'extrema' (24,4% e 43,3%, respectivamente) ou
'moderada' a 'muita' (44,1% e 35,7%, respectivamente)
na maior parte dos casos, mas algumas relatem ter sentido 'muito
pouca' a 'alguma' dor (14,7% e 7,0%, respectivamente) ou dor
'mínima' ou 'nula' (16,8% e 14,0%, respectivamente). Já
no parto, a intensidade média e máxima de dor sentida foi avaliada como
'mínima' ou 'nula' (42,7% e 42,0%, respectivamente) na
maior parte dos casos, embora haja quem relate ter sentido 'muito
pouca' a 'alguma' dor (12,5% e 7,7%, respectivamente),
'moderada' a 'muita' (27,3% e 23,0%, respectivamente)
ou 'extrema' (17,5% e 27,3%, respectivamente).
Não obstante, a satisfação com a dor sentida, tanto no trabalho de parto como
no parto esteja presente nalgum grau (62,9% e 76,9%, respectivamente), uma
percentagem significativa de participantes considera estar 'nada'
satisfeita com a dor sentida durante o trabalho de parto (37,1%) e parto
(23,1%).
No que se refere ao relaxamento, verificamos que, o valor mínimo obtido nesta
sub-escala é de 2 e o máximo de 22, sendo a média das pontuações nesta sub-
escala de 7,57. As respostas aos itens mostram que, durante o trabalho de parto
e parto, grande parte das mulheres não utiliza métodos de respiração e
relaxamento (46,9% e 60,8%, respectivamente), embora algumas recorram a estes
métodos (53,1% e 39,2%, respectivamente), sendo que 74,3% e 81,7%
(respectivamente) das participantes afirma que 'pouco' ou
'nenhum' relaxamento foram capazes de alcançar durante o trabalho
de parto e parto, e apenas 25,7% e 18,3% julga ter sido capaz de alcançar
'bastante' ou 'muito' relaxamento. Assim sendo, na sua
maioria, as mulheres avaliam que o relaxamento ajudou 'pouco' ou
'nada', quer durante o trabalho de parto (67,6%) quer durante o
parto (63,3%), sendo que as restantes (32,4% e 36,7%) referem que ajudou
'bastante' ou 'muito'.
No que respeita ao suporte social, constatamos que os valores mínimos e máximos
obtidos são 3 e 12, sendo a média de 7,80. Os resultados mostram que o apoio é
mais evidente durante o pós-parto, seguido pelo trabalho de parto e parto, dado
que a maioria das mulheres contam com 'bastante' ou
'muito' apoio de familiares ou amigos durante o pós-parto (77,6%) e
trabalho de parto (56,5%), embora não tanto durante o parto (39,2%).
Quando nos reportamos ao suporte do companheiro, observamos valores mínimos e
máximos de 12 e 32, respectivamente, com média na sub-escala de 24,58. Durante
o trabalho de parto, mais de metade da amostra afirma ter contado com
'bastante' ou 'muito' apoio do companheiro (69,9%), no
entanto, durante o parto apenas 45,5% contaram com 'bastante' ou
'muito' apoio e, após o parto novamente uma grande maioria (89,5%)
contou com 'bastante' ou 'muito' suporte por parte do
companheiro. Assim durante o trabalho de parto, parto e pós-parto, algumas
mulheres dizem que não contaram ou contaram com pouco apoio por parte do
companheiro (30,1%, 54,5% e 10,5%, respectivamente). A utilidade do suporte do
companheiro está em consonância com a intensidade, sendo que é considerado com
maior frequência 'bastante' ou 'muito' útil após o
parto (91,6%) e no trabalho de parto (73,4%) do que no parto (46,9%). Apenas
11,9% das mulheres não conversaram com os companheiros acerca da experiência de
parto, pelo que a maioria conversou (88,1%); das que conversaram, grande parte
(73,2%) sente-se 'bastante' ou 'muito' melhor depois de
o fazer.
A média obtida na sub-escala preocupações com a saúde própria e do bebé é de
35,48, sendo o valor mínimo 15 e o máximo 55. Verificamos que a preocupação com
o estado de saúde próprio é nula com maior frequência durante o trabalho de
parto, parto, pós-parto e no momento de preenchimento do questionário (39,2%,
37,1%, 30,8% e 30,1%, respectivamente), do que a preocupação com o estado de
saúde do bebé (11,5%, 16,8%, 11,2% e 8,4%, respectivamente). Assim, a
percentagem de mulheres que estão nalgum grau preocupadas com o seu estado de
saúde durante o trabalho de parto, parto, pós-parto e no momento do
preenchimento do questionário, embora elevada, é menos frequente (60,8%, 62,9%,
69,2% e 69,9% respectivamente), quando comparado com a percentagem de mulheres
que se preocupam com o estado de saúde do bebé (88,5%, 83,2%, 88,8% e 91,6%,
respectivamente).
A preocupações com as consequências do parto em si são igualmente menos
prevalentes do que a preocupação com as consequências do parto no bebé, já que
a preocupação com as consequências do parto em si é nula em 28,0% dos casos,
reduzida em 49,7% dos casos e bastante ou muita nos restantes casos (22,3%),
enquanto que a preocupação com as consequências do parto para o bebé é nula em
apenas 25,9% dos casos, reduzida em 28,6% dos casos e bastante ou muita em
quase metade dos casos (45,5%).
A maior parte das mulheres está de alguma forma preocupada com as dificuldades
em amamentar e com o ganho de peso do bebé (73,4% e 81,1%, respectivamente),
embora algumas não estejam de todo preocupadas com esses aspectos (26,6% e
18,9%, respectivamente).
Na sua maioria, as mulheres consideram que os companheiros estão
'bastante' ou 'muito' preocupados com a dor por elas
sentida (82,5%), no entanto, algumas acham que estão 'pouco'
(10,5%) ou 'nada' (7,0%) preocupados com a sua dor.
Finalmente, apenas algumas mulheres estão 'bastante' (17,5%) ou
'muito' (11,2%) preocupadas com o regresso a casa, visto que a
maioria das mulheres está 'pouco' (29,3%) ou 'nada'
(42,0%) preocupada com esse aspecto.
Os valores mínimos e máximos obtidos na sub-escala relativa à vivência do pós-
parto são de 38 e 104, respectivamente. Constatamos que o pós-parto não decorre
na maior parte dos casos de encontro com as expectativas prévias (59,4%) da
mulher, sendo que na maior parte das vezes corre 'pior' ou
'muito pior' (44,8%) e noutras 'melhor' ou 'muito
melhor' (14,6%). Assim, apenas 40,6% confirmam as suas expectativas
prévias acerca da forma como decorre o pós-parto. A dor sentida é também
'pior' ou 'muito pior' do que o esperado para muitas
mulheres (41,3%), embora algumas vejam as suas expectativas confirmadas (37,1%)
ou superadas (22,6%). Já no que respeita ao tempo que demorou a recuperação, a
maior parte das mulheres vêem as suas expectativas confirmadas (51,0%) mas
algumas consideram que demorou 'mais' ou 'muito mais'
(36,4%) e poucas superem as suas expectativas (12,6%). Já em relação ao tempo
que demorou a tocar e pegar no bebé após o parto, grande parte das mães vê as
suas expectativas confirmadas (49,7 e 48,3%, respectivamente), muitas pensam
que demorou 'mais' ou 'muito mais' (35,0% e 39,9%,
respectivamente) e algumas que demorou 'menos' ou 'muito
menos' tempo do que o esperado (15,3% e 11,8%, respectivamente).
A generalidade das mulheres sente algum grau de controlo (79,0%), confiança
(90,2%), prazer (86,0%), mas também medo (59,0%), mal-estar (82,5%) e dor
(86,0%) após o parto, apesar de algumas não sentirem qualquer controlo (21,0%),
confiança (9,8%), prazer (14,0%), medo (41,0%), mal-estar (17,5%) ou dor
(14,0%).
A intensidade de dor sentida é classificada como sendo de 'muito
pouca' a 'muita' pela esmagadora maioria das mulheres, quer
durante o pós-parto imediato, quer no 1º dia, 2º dia ou no momento do
preenchimento do questionário (75,6%, 71,4%, 74,9% e 66,5%, respectivamente).
Algumas avaliam a dor sentida como 'nula' ou 'mínima'
(16,7%, 9,7%, 13,2% e 29,2%, respectivamente), enquanto outras classificam a
dor como 'extrema' (7,7%, 18,9%, 11,9% e 4,3%, respectivamente). A
satisfação com a dor sentida após o parto é nula (28,7%) ou reduzida (37,1%)
para a maior parte das mulheres, mas poucas estão 'bastante'
(26,6%) ou 'muito' (7,6%) satisfeitas com a intensidade de dor
sentida.
A dor experienciada não interfere, na maior parte dos casos, nos cuidados
proporcionados ao bebé (55,2%) ou na relação com o companheiro (72,0%), algumas
mulheres relatam contudo que interfere de algum modo nos cuidados
proporcionados ao bebé (44,8%) ou na relação com o companheiro (28,0%). No
entanto a dor parece interferir mais na realização das actividades do dia-a-dia
(82,5%) e nas actividades sociais (59,4%) para a maior parte das mulheres, pelo
que apenas algumas afirmam não interferir de todo quer nas actividades do dia-
a-dia (17,5%) quer nas actividades sociais (40,6%).
Os equipamentos médicos utilizados não causam mal-estar à maioria das
participantes (60,8%) embora muitas sintam algum grau de mal-estar provocado
pelos equipamentos médicos (39,2%).
A maior parte das mulheres aproveitaram 'bastante' ou
'muito' o primeiro contacto com o bebé (68,6%), embora algumas
aproveitassem 'pouco' (27,2%) ou não tivessem sido de todo capazes
de aproveitar esse momento (4,2%). No entanto, na sua maioria estão satisfeitas
nalgum grau com o tempo que demorou a tocar e a pegar no bebé após o parto
(85,3% e 81,1%, respectivamente); contudo uma percentagem significativa não
está de todo satisfeita com o tempo que decorreu entre o parto e poder tocar e
pegar no bebé (14,7% e 18,9%, respectivamente).
A maioria das mulheres não expressa qualquer tipo de dificuldade em cuidar do
bebé (60,8%), no entanto, algumas expressam 'um pouco' (34,3%),
'bastante' (3,5%) ou 'muita' (1,4%) dificuldade na
prestação destes cuidados.
Finalmente, analisando a Escala Total, verificamos que os valores oscilam entre
189 e 371 (valor mínimo e máximo, respectivamente), sendo a média de 282, 07.
Antecipação e Experiência de Parto
Pretendemos agora analisar a relação entre a antecipação e experiência de
parto. Para tal, recorremos ao teste paramétrico de correlação de Pearson que
permite analisar a relação entre variáveis para uma mesma amostra. Desta forma,
estudamos a relação entre as expectativas quanto ao parto avaliadas durante a
gravidez (QAP) e a percepção da experiência efectiva de parto avaliada na
primeira semana que se segue ao parto (QESP) (cf. Quadro 3).
Quadro 3 - Dimensões de antecipação e experiência de parto analisadas
Verificamos que as dimensões de antecipação do parto relacionadas com o
planeamento e preparação para o parto, as expectativas quanto ao parto,
expectativas quanto à relação com o bebé e com o companheiro e quanto ao
suporte social, bem como a antecipação global não se correlacionam
significativamente com a experiência de parto em nenhuma das dimensões
consideradas no estudo.
No entanto, a subescala das preocupações com a saúde e consequências adversas
do parto relaciona-se de forma estatisticamente significativa com o suporte
social durante a experiência de parto (r=0,17, p=0,048), dado que menores
preocupações com a saúde e consequências adversas do parto durante a gravidez
se relacionam com maior suporte social durante o parto. Por seu turno, as
expectativas quanto ao pós-parto relacionam-se positiva e significativamente
com a vivência efectiva do pós-parto (r=0,17, p=0,047), dado que expectativas
mais positivas relativas ao pós-parto se relacionam com uma vivência efectiva
mais positiva deste período (cf. Quadro 4).
Quadro 4 - Teste de correlação de Pearson para analisar a correlação entre as
subescalas de antecipação de parto e as subescalas de experiência de parto
DISCUSSÃO
Os resultados do nosso estudo mostram que a maioria das mulheres não planeou
ainda o seu parto ao 2º trimestre de gravidez, uma vez que, na sua
generalidade, ainda não escolheu como quer que o seu parto ocorra, desconhece
os procedimentos médicos relativos ao trabalho de parto e parto e, embora
considere importante, ainda não treinou métodos de respiração e relaxamento.
Apesar do sentimento de confiança ser elevado, as expectativas são de vir a
sentir muita dor e medo e, consequentemente, são diminutas as expectativas de
controlo. Em consonância com este resultado estão os encontrados por vários
outros investigadores que relatam a antecipação de medo durante a experiência
de parto (e.g., Areskog, et al., 1981; Heymans & Winter, 1975, Hofberg
& Brockington, 2000) e por Ip et al. (2003) que verificaram que as mulheres
têm expectativas reduzidas no que toca às suas próprias capacidades para lidar
com as exigências do parto. De uma forma geral, estão presentes preocupações
com o estado de saúde própria e do bebé, tal como tínhamos já anteriormente
verificado (Pacheco et al., 2003) e como relatam outros investigadores que
constatam que o medo de parto se relaciona essencialmente com a percepção do
risco para a saúde da mulher e do bebé (e. g., Melender, 2001; Saisto et al.,
2001a; Sjogren, 1997). No entanto, as expectativas quanto à capacidade de
proporcionar cuidados ao bebé e respeitantes à relação com o bebé e com o
companheiro são positivas, tal como as de suporte por parte do companheiro,
familiares ou amigos. Também Beaton e Cupton (1990) verificaram que as
expectativas das grávidas no que respeita ao suporte de pessoas significativas
são positivamente elevadas.
Quanto à avaliação da experiência de parto, as expectativas são confirmadas em
relação às condições físicas e cuidados proporcionados pelos profissionais de
saúde sendo que, apesar da satisfação com o primeiro aspecto não ser elevada é-
o em relação ao segundo aspecto. O trabalho de parto e parto decorrem de forma
pior do que o esperado para a maioria das mulheres, particularmente no que
respeita à dor sentida. Os sentimentos de controlo, confiança, prazer e
satisfação são reduzidos durante a experiência, tal como os conhecimentos
relativos aos procedimentos médicos. Por seu turno, a experiência de medo, mal-
estar e dor está presente. Este resultado está em consonância pelo obtido por
DiMatteo, Kahn, e Berry (1993) e por Fridh e Gaston-Johansson (1990) que
verificaram que para além das mulheres sentirem mais dor do que o esperado
durante a experiência de parto têm também reacções emocionais inesperadas.
Não obstante, a satisfação com a experiência está presente na maior parte das
participantes, nomeadamente com o tempo que decorreu a experiência. Também
Waldenstrom et al. (1996) verificaram que a maioria das mulheres, apesar de
vivenciarem elevados níveis de dor, considera que a experiência de parto é
gratificante, pelo que a avaliam positivamente. Os métodos de respiração e
relaxamento não são usados na maioria dos casos e, quando usados não se mostram
eficazes. Útil e eficaz parece ser o apoio do companheiro, principalmente
durante o pós-parto e trabalho de parto, alturas em que está mais presente. A
experiência de parto é partilhada com o companheiro na maior parte dos casos e
contribui para o bem-estar materno. Também outros autores constataram que o
suporte emocional por parte de figuras significativas contribui para uma melhor
experiência emocional de parto (e.g., Cranley et al., 1983; Marut & Mercer,
1979).
A preocupação com o estado de saúde próprio e do bebé está igualmente presente
no nosso estudo como noutros estudos (Saisto et al., 2001a). Alguma preocupação
com as consequências do parto para a própria, mas principalmente para o bebé
estão presentes; sobressaem, no entanto, as preocupações com a amamentação e
ganho de peso do bebé.
O pós-parto não decorre de encontro com expectativas prévias, nomeadamente no
que respeita à dor sentida, que é mais elevada. A grande maioria das mulheres
sente maior capacidade de controlo, confiança e prazer nesta altura, mas sente
também medo e dor. Apesar de tudo, a dor não interfere nos cuidados ao bebé ou
na relação como companheiro e com o bebé; interfere, no entanto nas actividades
do dia-a-dia e sociais. A satisfação com o tempo para pegar e tocar no bebé é
elevada, assim como a capacidade para aproveitar o primeiro contacto com o
bebé.
Foi possível constatar que algumas dimensões da antecipação do parto, avaliadas
durante a gravidez, se relacionam positiva e significativamente com a
experiência do parto: expectativas mais positivas no que concerne à experiência
de parto relaciona-se com melhor experiência efectiva do pós-parto e menores
preocupações com a saúde e consequências adversas do parto relacionam-se com
maior suporte social durante o parto. Estes resultados levam-nos a pensar que
provavelmente as mulheres mais preocupadas com a saúde e consequências adversas
do parto são aquelas que dispõem à partida de menor suporte por parte de
significativos, o que pode ocorrer por dois motivos distintos: ou porque eles
não existem de facto ou porque ela não dispõe de recursos para mobilizar o
suporte social disponível.
No entanto, não encontramos qualquer relação entre as restantes dimensões de
antecipação do parto e a experiência efectiva de parto, nomeadamente ao nível
do planeamento e preparação para o parto. Pelo contrário, Crowe e von Baeyer
(1989) constatam que maior conhecimento acerca do parto se relaciona com
menores níveis de dor e uma experiência de parto mais positiva. No entanto,
neste estudo, os investigadores analisaram a experiência de parto em mulheres
que frequentaram aulas especificamente orientadas para a educação para o parto.
No nosso estudo, a preparação e planeamento do parto reporta-se à decisão
acerca do local e tipo de parto, ao treino de métodos de respiração e
relaxamento e ao conhecimento acerca dos procedimentos relativos ao trabalho de
parto e parto que, tal como reportamos, são escassos na maior parte das
mulheres da amostra, o que não seria de esperar caso elas frequentassem aulas
de preparação para o parto. Na direcção dos nossos resultados Lundgren, Berg, e
Lindmark (2003) constatam que o planeamento do parto não se relaciona com uma
melhor experiência global de parto, apesar de ser benéfico para algumas
mulheres em termos do medo, dor e preocupação em relação ao bebé.
Concluímos por isso que, há vários factores a considerar quando se pretende
analisar a temática de experiência de parto, no sentido de intervir
preventivamente para reduzir experiências adversas, susceptíveis de interferir
no bem-estar global das mães, pais e bebés. Deste modo, a informação, o suporte
emocional de profissionais e significativos (e.g. Hodnett, 2002), bem como o
envolvimento em tomadas de decisão relativas a procedimentos médicos (e.g.
Cranley et al., 1989), são alguns dos pontos que podem e devem ser
implementados/melhorados serviços de saúde materno-infantis e que contribuiriam
certamente para o melhoramento das experiências dos pais.
Dado o impacto da antecipação do parto ao nível da vivência emocional durante o
período gestacional e da própria qualidade da experiência de parto, torna-se
relevante perguntar à grávida acerca dos seus sentimentos e percepções quanto à
gravidez actual e parto, bem como proporcionar às mulheres que expressam
expectativas menos favoráveis uma oportunidade para as discutir (Melender,
2002). A detecção precoce de dificuldades ao nível da antecipação do parto
constitui-se de extrema importância, uma vez que tal percepção se relaciona com
a experiência de parto (Scott-Heyes, 1982). Deste modo, para o bem-estar da
mulher e do bebé, é essencial que os profissionais de saúde tomem medidas
especializadas apropriadas que favoreçam a antecipação positiva do parto, as
quais têm vindo a ser apontados por investigações fidedignas nesta área.