Adaptação portuguesa da escala de medida de manifestação de bem-estar
psicológico com estudantes universitários- EMMBEP
Adaptação portuguesa da escala de medida de manifestação de bem-estar
psicológico com estudantes universitários' EMMBEP
Portuguese adaptation of the psychological well-being manifestation measure
scale with a sample of college students ' EMMBEP
Após a II Guerra Mundial, a psicologia focou grande parte da sua atenção na
patologia, com base num modelo de doença para a compreensão do comportamento
humano, o que conduziu a uma negligência de conceitos positivos, de que são
exemplo o optimismo, a esperança, a felicidade e o bem-estar (Seligman, 2002;
Seligman & Csiksentmihalyi, 2000). Estes anos de existência de uma
psicologia dedicada fundamentalmente à perturbação psicológica mostraram
claramente a possibilidade de se intervir de forma a melhorar as vidas de
indivíduos com perturbação, com intervenções remediativas, individuais e
colectivas, eficazes e cientificamente validadas (Seligman, Steen, Park, &
Peterson, 2005). No entanto e sabendo que a ausência de doença não constitui,
por si só, felicidade ou bem-estar (Diener & Lucas, 2000), o foco na doença
e na patologia esquece o estudo e avaliação de um número importante de
indivíduos.
Assim, com base nos trabalhos pioneiros de Rogers (1951), Maslow (1954, 1962),
Jahoda (1958), Erikson (1963, 1982), Vaillant (1977), Deci e Ryan (1985) e Ryff
e Singer (1996), entre muitos outros, os psicólogos dedicados ao estudo da
psicologia positiva têm reunido esforços para aumentar o conhecimento acerca de
como, porquê e em que condições as experiências positivas (como emoções
positivas, bem-estar, felicidade, esperança, alegria), as características
positivas individuais (como carácter, forças e virtudes) e as instituições
positivas (como organizações baseadas no sucesso e potencial humano) florescem
(Seligman et al., 2005).
Neste contexto, reconhece-se que a saúde mental não deve ser unicamente
avaliada a partir de reacções negativas como a depressão ou ansiedade. É
consensual que a integração de medidas de emoções positivas e de satisfação com
a vida e consigo mesmo é essencial no sentido de captar um retrato mais
completo da saúde mental de determinado indivíduo (Diener, 1994).
O bem-estar é uma área de estudo extremamente ampla, cuja investigação
realizada reflecte diferentes conceptualizações teóricas e operacionalizações
do conceito (Novo, 2003). Apesar destas diferenças, é consensual que a origem
do conceito reside na discussão filosófica e científica entre o hedonismo e a
eudaimonia como objectivos de vida, discussão esta que conduziu respectivamente
a duas correntes de pensamento que orientam os modelos actuais de bem-estar
(Keyes, Shmotkin, & Ryff, 2002; Lent, 2004; Ryan & Deci, 2001; Ryff
& Keyes, 1995; Waterman, 1993) ' o bem-estar subjectivo (BES) (subjective
well being) e o bem-estar psicológico (BEP) (psychological well being).
A perspectiva hedónica reside fundamentalmente no princípio da acumulação do
prazer e evitamento da dor, pelo que a visão predominante é a de que o bem-
estar consiste na avaliação subjectiva da felicidade e diz respeito às
experiências de prazer e sofrimento (Kahneman, Diener, & Schwarz, 1999). O
modelo actual de bem-estar que sustenta tais orientações teórico-empíricas
denomina-se de BES. Apesar da multiplicidade de estudos realizados no âmbito
desta perspectiva, esta tem sido alvo de várias criticas, essencialmente no que
respeita ao seu carácter teórico-conceptual e empírico restrito (Compton, 2011;
Ryff & Keyes, 1995; Waterman, 1993).
É neste contexto que a perspectiva eudaimónica surge como uma perspectiva mais
abrangente, na medida em que se centra no funcionamento psicológico positivo e
no desenvolvimento de valores como a auto-realização, o crescimento pessoal e o
florescimento humano (Keyes, 2002, 2003, 2004, 2005; Ryan & Deci, 2001;
Ryff, 1989a, 1989b, 1989c, 1995; Ryff & Keyes, 1995; Ryff & Singer,
1998a, 1998b; Waterman, 1993). O modelo actual de bem-estar que suporta as
orientações teóricas decorrentes da perspectiva referida denomina-se de BEP e
foi proposto por Carol Ryff (Ryff, 1989a, 1989b, 1989c, 1995). De acordo com a
autora, o bem-estar pode ser identificado a partir dos recursos psicológicos
que o indivíduo dispõe (processos cognitivos, afectivos e emocionais) que são
globalmente descritos a partir de seis dimensões centrais ao funcionamento
psicológico positivo: aceitação de si, relações positivas com os outros,
domínio do meio, crescimento pessoal, objectivos de vida e autonomia. As seis
dimensões deverão ser encaradas como componentes do próprio bem-estar e não
como contribuindo para o bem-estar.
Ambas as tradições consideram valores humanistas que elevam a capacidade do
indivíduo para avaliar o que lhe proporciona bem-estar na vida (Keys et al.,
2002). Não obstante, no contexto de avaliação, o BES possibilita identificar o
quão satisfeita ou feliz está a pessoa e em que áreas da sua vida tal se
verifica, enquanto o BEP salienta o quão satisfeita e feliz a pessoa se sente
em determinados domínios psicológicos e também os recursos psicológicos de que
esta dispõe (Ryff, 1989b).
No que se refere à existência de instrumentos de avaliação do bem-estar
psicológico em contexto nacional e que seja do nosso conhecimento, existem dois
trabalhos de tradução e adaptação independentes (Ferreira & Simões, 1999;
Novo, Duarte-Silva, & Peralta, 1997) da versão de 84 itens das
Psychological Well-being Scales (PWBS; Ryff, 1989b; Ryff, 1995) e, mais
recentemente, um trabalho de adaptação da versão de 18 itens das PWBS,
realizado por Fernandes, Vasconcelos-Raposo e Teixeira (2010), sendo que nenhum
destes trabalhos foi conduzido especificamente com estudantes universitários.
Sabe-se que os estudantes universitários são vulneráveis a um leque alargado de
ameaças ao seu bem-estar. Por exemplo, problemas de saúde física decorrentes do
consumo de álcool (Clements, 1999; Roche & Watt, 1999), tabaco e drogas
ilícitas (Webb, Ashton, Kelly, & Kamali, 1996), assim como o envolvimento
em comportamentos sexuais de risco (Brown & Vanable, 2005). Questões
psicológicas como o stress e problemas de ansiedade (Eisenberg, Gollust,
Golberstein, & Hefner, 2007; Pereira, 1997; Pereira & Williams, 2001),
baixa auto-estima (Robins, Trzesniewski, Tracy, Gosling, & Potter, 2002),
insatisfação corporal e perturbações de comportamento alimentar (Drewnowski,
Yee, Kurter, & Krahn, 1994, Kurth, Krahn, Nairn, & Drewnowski, 1995,
Mintz & Betz, 1988, Yager & O'Dea, 2008), são também comuns neste
grupo.
Neste contexto, a adaptação de um instrumento de avaliação do bem-estar
psicológico em estudantes universitários assume pertinência. Assim, o presente
trabalho pretende dar a conhecer o trabalho de adaptação de um instrumento de
avaliação do bem-estar psicológico, a Échelle de Mesure de Manifestations du
Bien-Être Psychologique (EMMBEP; Massé et al., 1998), numa amostra de
estudantes universitários, para contexto nacional.
MÉTODO
Participantes
Participaram 487 estudantes universitários, 96 do género masculino (19.71%) e
391 do sexo feminino (80.29%), com idades compreendidas entre os 18 e os 34
anos (M = 22.15; DP = 3.04), provenientes de diversas instituições de ensino
superior: Universidade de Aveiro (31.30%), Universidade de Coimbra (23.30%),
Universidade Lusíada do Porto (20.80%), Instituto Politécnico da Guarda (7.40%)
e Instituto Politécnico de Castelo Branco (17.10%) e de diversos cursos.
Material
A Échelle de Mesure des Manifestations du Bien-Être Psychologique (ÉMMBEP;
Massé et al., 1998) que, na versão portuguesa, denominaremos de Escala de
Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico (EMMBEP) (Anexo_1) é uma escala
de resposta tipo likert de 5 pontos, que vai desde 1 (Nunca) a 5 (Quase
sempre), constituída por um total de 25 itens, dividida em seis sub-escalas:
auto-estima (4 itens), equilíbrio (4 itens), envolvimento social (4 itens),
sociabilidade (4 itens), controlo de si e dos acontecimentos (4 itens) e
felicidade (5 itens).
Quanto mais elevado for o total obtido ' dado pela soma das pontuações de todos
os itens ' maior será o bem-estar psicológico percebido.
Os estudos psicométricos efectuados na versão original (Massé et al., 1998)
revelaram níveis adequados de consistência interna para a nota global (a =
.93), e para as seis sub-escalas consideradas, com valores de alpha de Cronbach
entre .71 (envolvimento social) e .85 (felicidade).
Procedimento
Depois de concedida autorização pelos autores do questionário, procedemos à sua
tradução e adaptação, de acordo com a metodologia que se descreve de seguida:
a) tradução do questionário para o idioma Português; b) retroversão para a
língua Inglesa por um tradutor independente; c) comparação das duas versões do
questionário, discussão e correcção das eventuais diferenças existentes entre
elas; e d) aplicação da versão final de consenso à população alvo - estudo
piloto (n = 16). Após o preenchimento da escala, os indivíduos foram
questionados sobre: compreensão e pertinência das questões, facilidade e tempo
de preenchimento. Todos os respondentes referiram boa compreensão e aceitação
das questões apresentadas. O tempo médio de realização foi de 5 minutos.
A EMMBEP foi posteriormente submetida a uma aplicação mais alargada, com vista
à análise da sua aplicabilidade à população Portuguesa, cujos resultados servem
de objecto de estudo do presente trabalho.
Para recolha da amostra, foi utilizado um método de amostragem por
conveniência. A escala foi administrada em contexto de sala de aula, depois de
fornecidas as instruções de preenchimento e obtenção do consentimento
informado.
RESULTADOS
No que diz respeito aos resultados, referimo-nos primeiramente à análise da
distribuição dos itens da escala. Em seguida, apresentamos os resultados
referentes à dimensionalidade e consistência interna e concluímos com alguns
contributos da análise factorial confirmatória.
Análise da distribuição dos itens
Os resultados da análise de distribuição das respostas aos 25 itens que
integram a EMMBEP apresentam-se no Quadro 1. Os resultados da análise
descritiva reportam-se à variabilidade e às medidas de tendência central dos
itens (valores mínimos e máximos, 1.º e 3.º quartis, valores de moda e
mediana).
Quadro 1 - Análise da distribuição das respostas aos itens da EMMBEP
Os resultados da análise descritiva evidenciam uma distribuição bastante
adequada dos itens em estudo, com os valores mínimos e máximos a oscilarem
entre 1 e 5 (os valores extremados da distribuição) em todos os itens (excepto
no item 6). Os valores da moda e da mediana oscilaram entre 3 e 4 na quase
totalidade dos itens. Apenas 3 dos 23 itens apresentaram valores máximos
extremos (itens 6, 12 e 13). Os valores para o 1.º quartil oscilaram entre 3 e
4 e os valores para o 3.º quartil oscilaram entre 4 e 5 (os itens 6, 9, 12, 13,
14, 15 e 16 apresentam o valor máximo). Os resultados sugerem assim uma maior
concentração das respostas dos sujeitos da amostra junto dos valores mais
elevados da distribuição.
Dimensionalidade e consistência interna
Para o estudo da validade interna recorremos ao modelo da análise factorial
exploratória (método de Análise em Componentes Principais ' ACP), com rotação
oblíqua e especificação de factores (cf. Quadro 2).
Quadro 2 - Resultado da análise factorial da EMMBEP
Com base nos critérios contemplados na apreciação das soluções factoriais, a
solução seleccionada corresponde a uma estrutura de seis factores distintos,
responsáveis por 65.62% da variância total. A estrutura final define-se por
seis factores que traduzem: felicidade (Factor I), sociabilidade (Factor II),
controlo de si e dos acontecimentos (Factor III), envolvimento social (Factor
IV), auto-estima (Factor V) e equilíbrio (Factor VI).
O Factor I (felicidade), responsável por 17.03% da variância total, é
constituído por 8 itens, que se relacionam com o sentimento de felicidade
(exemplo de item: “Senti-me bem, em paz comigo próprio”).
O Factor II (sociabilidade), responsável por 11.60% da variância total, é
constituído por 4 itens, que dizem respeito a aspectos de sociabilidade
(exemplo de item: “Relacionei-me facilmente com as pessoas à minha volta”).
O Factor III (controlo de si e dos acontecimentos), responsável por 11.28% da
variância total, é constituído por 3 itens, que se relacionam com sensação de
controlo de si e dos acontecimentos (exemplo de item: “Fui capaz de enfrentar
situações difíceis de uma forma positiva.”).
O Factor IV (envolvimento social), responsável por 8.83% da variância total, é
constituído por 3 itens e diz respeito a aspectos de envolvimento e motivação
(exemplo de item: ”Tive objectivos e ambições”).
O Factor V (auto-estima), responsável por 8.52% da variância total, é
constituído por 4 itens e está relacionado com a auto-estima (exemplo de item:
“Senti que os outros gostavam de mim e me apreciavam”).
O Factor VI (equilíbrio), responsável por 8.362% da variância total, é
constituído por 3 itens e relaciona-se com a sensação de equilíbrio (exemplo de
item:”A minha vida foi bem equilibrada, entre as minhas actividades familiares,
pessoais e académicas”).
Em seguida, procedemos à comparação dos itens das soluções factoriais de Massé
et al. (1998) e por nós encontrada. Embora a estrutura factorial obtida na
versão portuguesa não tenha replicado, na totalidade, a estrutura factorial
original, é de salientar a elevada concordância e similaridade verificada, quer
relativamente à estrutura subjacente do instrumento, quer quanto à inclusão da
maioria dos itens nos factores obtidos. Efectivamente, as diferenças existentes
resumem-se ao facto de os itens 5, 12 e 20 se incluírem, no nosso estudo, no
factor felicidade, enquanto no estudo original se distribuíam pelos factores
equilíbrio, envolvimento social e controlo de si e dos acontecimentos,
respectivamente. De qualquer forma e dada a descrição dos itens (item 5:
“Senti-me emocionalmente equilibrado”, item 12: “Senti-me bem a divertir-me, a
fazer desporto e a participar em todas as minhas actividades e passatempos
preferidos” e item 20: “Estive bastante calmo”), a sua inclusão no factor
felicidade pareceu-nos apropriada.
Definidos os factores e os itens que os integram, apresentamos, de seguida, os
resultados da análise de consistência interna (correlações item-total
corrigido, alpha de Cronbach e validade convergente - discriminante do item).
No Quadro 3 apresentamos os resultados item a item em termos de coeficiente de
correlação do item com o total da subescala (coeficiente corrigido) e o
contributo do item para o alpha da sub-escala.
Quadro 3 - Análise da consistência dos itens da EMMBEP
Através da análise do Quadro 3, podemos constatar que as correlações item-total
corrigido variaram entre .36 (item 6) e .78 (item 22), havendo portanto
homogeneidade dos itens constituintes da escala. Relativamente à contribuição
de cada item para o valor de alpha de Cronbach, é possível referir que, em
relação aos factores felicidade, sociabilidade, controlo de si e dos
acontecimentos e auto-estima, os itens contribuíram de forma mais ou menos
igual para o valor de alpha de Cronbach, já que as diminuições dos valores
foram relativamente comparáveis à medida que os itens foram individualmente
removidos da escala. No que diz respeito aos factores envolvimento social e
equilíbrio, há que salientar que a remoção dos itens 11 e 6 implica um aumento
significativo no valor de alpha de Cronbach. Apesar disso, optou-se por manter
os itens na escala, por serem relevantes do ponto de vista teórico e dado o
número reduzido de itens constituintes das subescalas a que pertencem.
Os valores de alpha de Cronbach encontrados para os factores e para a nota
global da escala são na sua maioria muito adequados, uma vez que variam entre
.67 (envolvimento social) e .89 (felicidade).
Apresentamos em seguida os dados relativos à validade convergente -
discriminante dos itens da EMMBEP. Os resultados são apresentados no Quadro 4.
Quadro 4 - Validade convergente-discriminante dos itens da EMMBEP
A observação do Quadro 4 mostra que, na maioria dos itens, o índice de
discriminação é superior a 20 pontos entre a magnitude da correlação com a
escala a que pertence e a magnitude do valor da correlação com as outras
escalas. De salientar que, no caso dos itens 1, 2, 3 e 4, com especial ênfase
para o item 1 (“Senti-me confiante”), o poder discriminativo deste em relação à
escala a que pertence ' auto-estima ' e à felicidade é muito baixo.
No que se refere às correlações entre a nota da escala total e as notas das
sub-escalas que compõem a EMMBEP, verifica-se que, de entre todas as sub-
escalas, é a felicidade que se destaca como sendo aquela que melhor explica o
bem-estar psicológico (r2 = .85), sendo seguida pela sociabilidade (r2 = .61),
controlo (r2 = .59) e auto-estima (r2 = .58). Com menor poder explicativo,
encontramos o envolvimento (r2 = .42) e o equilíbrio (r2 = .40).
Contributos da análise factorial confirmatória
De acordo com Massé et al. (1998), a EMMBEP foi construída como uma escala de
seis factores, pelo que utilizámos a metodologia de equações estruturais num
modelo confirmatório de ordem 1 com 25 variáveis observadas e 6 variáveis
latentes ou factores (felicidade, sociabilidade, controlo de si e dos
acontecimentos, envolvimento social, auto-estima e equilíbrio).
Foram calculados os coeficientes estandardizados dos itens referentes aos
vários factores verificando-se que todos eles são significativos (p < .001),
evidenciando-se a estrutura de seis factores. Apenas um item (item 6) apresenta
valor inferior a .50 (cf. Quadro 5).
Quadro 5 - Coeficientes de regressão e % da variabilidade explicada dos itens
da EMMBEP
No que diz respeito à felicidade, todos os itens são indicadores fortes deste
factor. O item 12 é o que apresenta o valor mais baixo (26.52%) e o item 22 é o
que apresenta o valor mais elevado (68.56%) de variabilidade explicada.
Relativamente à sociabilidade, este factor reflecte-se em todos os itens de
forma evidente, explicando desde 43.03% do item 15 a 66.59% do item 13. O mesmo
se verifica com o controlo de si e dos acontecimentos, que explica desde 60.68%
do item 19 a 72.93% do item 17. Em relação ao envolvimento social, verificamos
que este também se reflecte em todos os itens. O item 11 é que apresenta o
valor mais baixo (27.88%) e o item 10 é o que apresenta o valor mais elevado
(51.55%). Relativamente à auto-estima, verificamos também que todos os itens
são indicadores fortes deste factor, sendo que o item 2 apresenta o valor mais
baixo (43.82%) e o item 1 apresenta o valor mais elevado (68.72%) de
variabilidade explicada. Finalmente, em relação ao equilíbrio, constatamos que
o item 6 não é um indicador forte do factor, apresentando um coeficiente de
regressão de .49. O factor reflecte-se, no entanto, de forma evidente nos itens
7 e 8, que apresentam 47.47% e 73.27% de variabilidade explicada,
respectivamente.
Utilizámos como indicadores de consistência interna (com base na metodologia
das equações estruturais) o alpha de Cronbach, a fiabilidade composta (F.C.) e
a variância extraída (V.Ext) (cf. Quadro 6). Todos os valores estão próximos ou
acima dos desejáveis (α > . 60, F.C. > . 70 e V.Ext. > . 50). Os valores mais
baixos verificam-se ao nível da variância extraída dos factores envolvimento
social e equilíbrio.
Quadro 6 - Indicadores de consistência interna (com base na metodologia das
equações estruturais) da EMMBEP
No sentido de aumentar a compreensibilidade acerca da validade discriminante
dos factores (Fornell & Larcker, 1981), procedemos à comparação das
variâncias extraídas de cada factor com o quadrado do correspondente
coeficiente de correlação (r2) entre os factores (cf. Quadro 7). Verificámos
que as variâncias extraídas superam o valor de r2 no que diz respeito à
sociabilidade, ao controlo de si e dos acontecimentos, ao envolvimento social,
à auto-estima e ao equilíbrio. Desta forma, podemos afirmar que existe validade
discriminante, isto é, cada um destes constructos está a avaliar conceitos
distintos. Em relação à felicidade essa distinção não é tão evidente,
especialmente, com os factores controlo de si e dos acontecimentos e auto-
estima.
Quadro 7 - Correlações quadráticas entre os factores da EMMBEP
Os índices de ajustamento do modelo de 6 factores indicam globalmente um
ajustamento aceitável do modelo (Chi-square = 810.57; RMSEA = .07, CFI = .91,
GFI = .87, NFI =.87).
DISCUSSÃO
Com a análise da distribuição dos itens, o estudo da dimensionalidade e
consistência interna e os contributos da análise factorial confirmatória,
tivemos como objectivo analisar as características psicométricas da EMMBEP,
instrumento desenvolvido com a finalidade da operacionalização do constructo de
bem-estar psicológico.
A este propósito, salientamos que o instrumento analisado possui
características psicométricas adequadas em termos de validade e fidelidade. De
forma concordante com a versão original, obtivemos uma estrutura de seis
factores: felicidade, sociabilidade, controlo de si e dos acontecimentos,
envolvimento social, auto-estima e equilíbrio, responsáveis por 65.62% da
variância total. A análise factorial confirmatória efectuada confere apoio a
esta estrutura de seis factores do instrumento, sendo que este modelo demonstra
um ajustamento aceitável aos dados. No que se refere à consistência interna,
verificámos que os valores encontrados para os diversos indicadores analisados
(alpha de Cronbach, fiabilidade composta e variância extraída) estão próximos
ou acima dos desejáveis. Os factores envolvimento social e equilíbrio são os
que exibem os valores de consistência interna mais reduzidos, ainda que
aceitáveis.
A EMMBEP apresenta-se assim como um instrumento adequado para avaliar o bem-
estar psicológico em estudantes universitários. Todavia, é de referir que os
estudos psicométricos apresentados foram realizados junto de apenas uma
amostra, impondo-se nova aplicação junto de outra amostra, de acordo com as
recomendações de Almeida e Freire (2007). Adicionalmente, recomenda-se a
realização de estudos futuros em que se avalie a fidelidade teste-reteste da
EMMBEP, bem como a validade convergente com outras medidas.