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National varietyEu
Year2012
SourceScielo

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Nota Editorial Nota Editorial Ana Bénard da Costa* *A directora

Continuando a sua política editorial de abertura à comunidade científica internacional que trabalha nas áreas das Ciências Sociais e Humanas sobre o continente africano e dando continuidade à abrangência temática que tem caracterizado esta publicação científica, o número da revista que aqui se apresenta reúne um conjunto díspar de artigos. Estes abordam temáticas diversas em contextos também eles diferentes e da autoria de cientistas oriundos de distintos pontos do Globo. Simultaneamente, a revista continua a apostar na captação não de autores de reconhecido mérito científico mas também dos trabalhos de um conjunto crescente de novos investigadores que todos os anos têm vindo enriquecer o debate em torno das temáticas africanas.

Dividido em duas secções ' Artigos e Recensões ' este número 23 da revista Cadernos de Estudos Africanos inclui artigos centrados não em países africanos mas também em países onde a influência e a presença de africanos se faz sentir (Brasil e Portugal); artigos que abordam questões culturais, sociais, económicas e políticas; artigos centrados apenas em países específicos (Moçambique e Camarões) e artigos que abordam relações entre vários países e continentes; artigos produzidos por autores sedeados na Europa (Portugal), África (Camarões) e América do Sul (Brasil); e artigos escritos em língua portuguesa e inglesa por cientistas em pleno desenvolvimento da sua carreira e por outros que ainda estão em fase de conclusão dos seus doutoramentos.

Iniciando-se com um texto que reflete sobre questões raciais em Moçambique, este número da revista continua com o referido artigo focalizado na influência africana na economia cultural baiana, segue-se um outro centrado em questões políticas nos Camarões e a revista termina com dois artigos que abordam a questão da formação superior de estudantes moçambicanos e angolanos no exterior (Portugal e Brasil).

No artigo que abre este número da revista, "É pena seres mulato!": Ensaio sobre relações raciais", o autor, Gabriel Mithá Ribeiro, reflete sobre a racialização da sociedade moçambicana em torno das demarcações entre a esmagadora maioria negra e a minoria mestiça/"mulata". O autor argumenta que este fenómeno social oscila entre a aceitação mútua (carga neutra) e a elaboração de estereótipos depreciativos também mútuos (carga negativa). Centra a sua reflexão numa análise dos estereótipos através dos quais os "mulatos" têm sido rotulados e argumenta que a instrumentalização simbólica da minoria "mulata" tem servido para domesticar ansiedades colectivas da po-pulação negra.

O segundo artigo, sobre a influência africana na economia cultural baiana, da autoria de Noelio Dantaslé Spinola, reflete sobre os resultados de uma pesquisa de campo em torno de cultos religiosos como o can-domblé. O autor constata que estes se transformam em veículos inspiradores e condutores de atividades económicas que se materializam através do folclore.

No terceiro artigo, intitulado "The search for a Cameroonian model of democracy or the search for the domination of the state party: 1966-2006", o autor, David Mokam, analisa discursos de jornais camaroneses comparando-os com os de jornais do Níger e o Benim, de forma a demonstrar que, desde 1966, os governantes dos Camarões têm procurado criar uma "exceção camaronesa" no seu método de governação, com o propósito último de apresentar um modelo camaronês de democracia quando, na realidade, o objetivo escondido tem sido o de perpetuar o domínio do partido-Estado no cenário político do país.

Os dois últimos artigos deste número da revista analisam uma problemática semelhante, a da formação de estudantes universitários africanos no exterior. O primeiro desses artigos centra-se nos estudantes universitários angolanos que estudam em Portugal e no Brasil e analisa os motivos que levaram estes estudantes a optarem por estes países para fazerem a sua formação. A autora, Ermelinda Liberato, centra a sua análise no papel da família, nos fatores económicos, na inserção na sociedade de acolhimento e no posterior retorno a Angola depois de concluída a formação.

O último artigo deste número, da autoria de Ana Bénard da Costa, analisa as trajetórias individuais e familiares de quadros superiores moçambicanos formados em Portugal, procurando compreender os fatores que influencia-ram os seus percursos escolares e qual o impacto da experiência de formação em Portugal ao nível dos processos de estruturação identitários. Este artigo reflete-se sobre as redes sociais e de cooperação no domínio do ensino superior que influenciaram a ida, a integração em Portugal e posteriormente a reintegração e os percursos profissionais dos informantes em Moçambique. Por último, na sua análise, a autora aborda questões relacionadas com o impacto da formação superior de moçambicanos em Portugal no processo de desenvolvimento de Moçambique.

A encerrar este número, a revista apresenta um conjunto de recensões a livros que saíram recentemente e com um interesse indiscutível para todos aqueles que se dedicam aos estudos das Ciências Sociais e Humanas sobre o continente africano. Curiosamente, todos os livros recenseados nesta secção se relacionam com questões que envolvem mobilidade internacional (migrantes, comunidades na diáspora e em trânsito). Esta secção inclui uma recensão de Sara Santos Morais ao livro de Daniele Ellery Mourão Identidades em Trânsito: África 'na Pasajen': Identidades e Nacionalidades Guineenses e Cabo-verdianas; uma outra recensão de Samuel Weeks ao livro de Pedro Marcelino The New Migration Paradigm of Transitional African Spaces: Inclusion, Exclusion, Liminality and Economic Competition in Transit Countries: A Case Study on the Cape Verde Islands. E uma recensão da autoria de Alina Esteves sobre o livro de Eugénio Pinto Santana, Moçambicanidades Disputadas. Os Ciclos de Festas da Independência de Moçambique e da Comunidade Moçambicana em Lisboa.

Mais uma vez este número da revista resultou de um esforço conjunto que envolveu toda a equipa editorial, de secretariado e de revisão e edição, bem como o apoio de diversos membros da sua comissão científica. Uma especial referência tem de ser feita a todos aqueles que aceitaram em regime de anonimato comentar os artigos pois sem o seu esforço seria impossível a revista garantir e continuar a elevar os seus padrões de qualidade científica.


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