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National varietyEu
Year2008
SourceScielo

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Estados Unidos Estados Unidos Daniel Marcos

Michael Hunt, The American Ascendency: How the United States Gained and Wielded Global Dominance Chapel Hill, University of North Carolina Press, 2007, 416 pp.

Em The American Ascendency, Michael Hunt perfila-se como um novo seguidor da corrente historiográfica de «Wisconsin», iniciada em finais dos anos de 1950 por William Appleman Williams e continuada por historiadores como Walter LaFeber e Thomas McCormick. Esta escola defendeu a existência de um império americano que se expandia através da supremacia económica e que tinha como principal objectivo a manutenção da mesma. Neste sentido, Michael Hunt veio recuperar, em parte, esta interpretação. Partindo de uma simples questão ' de que forma os Estados Unidos adquiriram a supremacia mundial? ', o autor defende que foram as estruturas económicas e sociais existentes naquele país que impulsionaram os governantes no sentido de uma posição global.

Os vários líderes norte-americanos, desde o final do século xix, conciliando as ambições nacionais e os recursos naturais, tomaram as decisões que conduziram à constituição dos eua como uma potência global em todas as formas: política, militar, territorial, comercial e cultural.

Reconhecendo em William McKinley o precursor desta política (sobretudo pelo papel desempenhado por este Presidente durante a Guerra Hispano-Americana de 1898), Hunt reconhece que apenas entre 1941 e 1968 os Estados Unidos alcançam a supremacia global. De facto, o autor demonstra que durante este período os Estados Unidos foram capazes de potenciar o seu domínio político, económico e militar, no sentido de uma redefinição do sistema internacional de acordo com os seus valores. A Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas e a implementação do sistema de Bretton Woods são exemplos disso. Numa terceira parte, o historiador demonstra de que forma o período posterior a 1968 e até ao final da Guerra Fria foi caracterizado por alguma desorientação do «gigante» norte-americano. A crise provocada pela Guerra do Vietname e a consciencialização das limitações económicas dos eua, acentuadas com as crises petrolíferas da década de 1970, alertaram as elites norte-americanas para um papel mais moderado dos Estados Unidos no plano mundial. A Presidência Reagan acabou por ser a excepção a esta regra.

A terminar o seu livro e ao contrário do que é habitual para um historiador, Hunt aventura-se numa análise do estado da presente hegemonia norte-americana.

Recusando-se a reconhecer a existência de um império americano (desviando-se, aqui, da escola iniciada por Williams), o autor alerta para os perigos das visões neoconservadoras que conduziram à invasão do Iraque em 2003.

Wilson D. Miscamble, From Roosevelt to Truman; Potsdam, Hiroshima and the Cold War Nova York, Cambridge University Press, 2006, 393 pp.

O novo livro de Wilson Miscamble procura relançar o debate sobre as origens da Guerra Fria e sobre a participação do Presidente norte-americano Harry Truman nesse processo, depois de se ter distinguido na década de 1990 com uma biografia política de George Kennan.

Em From Roosevelt to Truman, o autor propõe-se analisar até que ponto Harry Truman conseguiu cumprir a promessa de manter as linhas gerais de política externa delineadas por Franklin Delano Roosevelt, particularmente no que dizia respeito à relação com a União Soviética. Para a historiografia internacional, esta questão reveste-se de certa importância na medida em que alguns historiadores revisionistas da Guerra Fria questionaram as capacidades políticas de Truman para suceder ao respeitado Roosevelt num momento tão decisivo para a história mundial. Procurando compreender como a política era feita em Washington, Miscamble traça a transição gradual da percepção norte- americana do mundo, de acordo com a perspectiva do Presidente Truman e dos seus principais conselheiros.

A narrativa do livro evolui ao longo de oito capítulos que se centram, maioritariamente, em dois momentos vitais para a Presidência Truman: por um lado, a presença na Conferência de Potsdam e, por outro, a decisão de bombardear com armas atómicas a cidade japonesa de Hiroxima. Após uma breve descrição dos anos que antecederam a actividade de Truman à frente dos destinos da nação norte-americana, Miscamble analisa detalhadamente até que ponto a herança deixada por Roosevelt não constituía, em si, um presente envenenado.

Miscamble demonstra-nos que Harry Truman, aquando da tomada de posse, estava de certa maneira alheado de muitos dos principais objectivos de política externa delineados por Roosevelt. Mas, por outro lado, o autor também não deixa de reforçar as novas visões da historiografia que apontam para um certo irrealismo da política externa de Roosevelt no final da II Guerra Mundial. Esta tendia a basear-se mais em ilusões do que na realidade. Miscamble demonstra de que forma Truman se deparava com uma missão quase impossível: prosseguir a política externa de um Presidente que fazia assentar as relações dos Estados Unidos com os aliados na sua relação pessoal com os restantes líderes.

Em face disto e deparando-se com a intensificação das tendências expansionistas da União Soviética, Miscamble analisa de que forma Truman foi obrigado a alterar as linhas principais da política externa que havia herdado. Indo mais além do que Roosevelt, Truman foi capaz de destruir a tradicional tendência isolacionista verificada na política norte-americana, inaugurando um período de comprometimento dos Estados Unidos na política mundial, que ainda hoje se verifica. Wilson Miscamble conclui que a política externa de Truman foi bem- sucedida, na medida em que conseguiu conciliar a herança idealista deixada por Roosevelt e implementar uma perspectiva mais pragmática, caracteristicamente sua.

Melvyn Leffler, For the Soul of Mankind: The United States, the Soviet Union and the Cold War Nova York, Hill and Wang, 2007, 608 pp.

O novo livro de Melvyn Leffler, For the Soul of Mankind, é, talvez, a contribuição mais inovadora que recentemente a historiografia internacional produziu sobre a Guerra Fria. E, de facto, Leffler não escreveu apenas mais um livro sobre este período do século xx, caracterizado pela rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética. Depois do galardoado A Preponderance of Power(1993), que analisava o conceito de segurança nacional durante a Administração Truman, Leffler propõe-se analisar momentos-chave ao longo da Guerra Fria, tendo como objectivo último compreender de que forma a percepção das realidades dos líderes americanos e soviéticos contribuiu para a persistência da confrontação até 1991.

Leffler identifica cinco momentos-chave cujo desfecho poderia ter sido diferente para a história da humanidade. A relação de Truman com Estaline em finais da década de 1940, a oportunidade perdida por Eisenhower e Malenkov para a paz em meados dos anos de 1950, a conturbada relação entre os presidentes norte-americanos e Khrushchev nos anos de 1960, a erosão da détente entre Carter e Brezhnev e o final do conflito alcançado por Gorbachev, Reagan e Bush foram os momentos escolhidos pelo autor. Tendo em conta a exaustiva recolha de fontes que desenvolveu, talvez o único ponto menos conseguido do livro seja a ausência do início da détente como um dos momentos marcantes escolhidos por Leffler para alcançar as suas conclusões.

Como nos demonstra este livro, o desfecho da Guerra Fria não estava determinado. Ao longo de mais de quatro décadas, os líderes mundiais foram obrigados a tomar decisões com base nas suas experiências mas, sobretudo, com base nas suas construções ideológicas. Tendo objectivos completamente diferentes para a organização da sociedade humana, Leffler demonstra-nos que apenas no final da década de 1980 os dois blocos estavam em condições para alcançar um entendimento. Na verdade, em finais dos anos de 1980 os Estados Unidos e a União Soviética tinham líderes suficientemente audaciosos e, até, radicais para aceitarem correr o risco da conciliação de pontos de vista ideologicamente distintos.

Robert Dallek, Nixon and Kissinger, Partners in Power Nova York, Allen Lane, 2007, 740 pp.

Escrever sobre Richard Nixon e Henry Kissinger não é propriamente um exercício original. Ao longo dos últimos trinta anos vários foram os autores que o fizeram, e o próprio Kissinger contribuiu com três volumes de memórias para esta vasta bibliografia. No entanto, a desclassificação de milhares de documentos nos últimos anos tornou novamente premente, para a história dos Estados Unidos, uma reavaliação do papel destes dois políticos. O objectivo de Robert Dallek neste seu novo livro é compreender quais as razões por trás das acções de Nixon e Kissinger, duas personalidades verdadeiramente enigmáticas.

Ao longo de mais de 700 páginas, o autor procura oferecer novas visões dos principais acontecimentos que caracterizaram este período: o estabelecimento da détente, o final da Guerra do Vietname, a participação norte-americana na guerra do Yom Kippur e a crise no Médio Oriente, o derrube do Governo de Salvador Allende no Chile e, obviamente, o caso «Watergate».

Em Nixon and Kissinger, o autor consegue dar uma abordagem original a uma das mais conturbadas administrações norte­‑americanas. Dallek foi capaz de transmitir neste livro, no que pode ser visto como uma biografia conjunta, a constante luta pelo poder de ambos os protagonistas, dois homens que tinham como característica comum mais acentuada a ideia da sua excepcionalidade. O autor faz perpassar a ideia de que Nixon e Kissinger eram dois competidores em busca de glória. Uma das principais conclusões alcançadas por Dallek prende-se com a demonstração de que grandes medidas de política externa, como o desanuviamento das relações entre os Estados Unidos e a União Soviética e a aproximação à China, tiveram como objectivo último a criação de uma imagem positiva para ambos os políticos. No fundo, estas medidas de política externa eram, sobretudo, para consumo interno dos eleitores norte-americanos. No entanto, o livro não faz mais do que recapitular uma súmula de tomadas de posição que eram do conhecimento dos estudiosos da política externa americana. A escrita clara e cativante de Dallek, a par de uma síntese da bibliografia sobre o assunto, tornam Nixon and Kissinger, ­Partners in Power  um livro direccionado, particularmente, para o público não académico.

Rua Dona Estefânia, 195, 5 D 1000-155 Lisboa Portugal

ipri@ipri.pt


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