Usando a Análise de Lacunas de Melhoria na gestão de trade-offs de estratégias operacionais
1 Introdução
A função de produção organizacional pode ser uma
restrição à sobrevivência ou fonte de riqueza capaz de
propiciar a viabilidade financeira ou ainda justificar
a possível expansão do negócio (Skinner, 1969).
Atender as demandas recorrentes do mercado tem
sido estratégico, pois denota visão de médio e longo
prazo, visto que a configuração produtiva nem
sempre é flexível, dada a complexidade do sistema
de produção, investimentos, know-how, capacidade
intelectual técnica e gestão operacional.
Posta a complexidade da configuração do sistema
produtivo, a gestão deve ocupar-se, além da integração
com outras áreas da organização, com a adaptação
ao ambiente em que está inserido o negócio e com o
desenvolvimento de médio e longo prazo dos processos
e recursos para que a organização tenha competitividade
(Corrêa & Corrêa, 2010; Skinner, 1969).
Com base nessa problemática de atender as
demandas de mercado, configuração produtiva
nem sempre flexível e gestão de recursos para que
a organização tenha competitividade, a organização
deve focar em estratégias operacionais, entre elas:
qualidade, flexibilidade, velocidade, confiabilidade
e custos (Corrêa & Corrêa, 2010; Skinner, 1969,
1974; Slack, 1993).
Skinner (1974), com base em suas pesquisas e
em função da existência de restrições do processo
produtivo, ilustrou a visão tradicional de existência
de trade-offs de estratégias operacionais. Ferdows
& Meyer (1990), entretanto, apresentaram a visão
cumulativa de capacidades, onde com o incremento
do desempenho de uma estratégia operacional se pode
contribuir com o desempenho de outras estratégias.
Slack (1993) apresenta uma visão integrada, entre a
visão tradicional e a visão cumulativa de capacidades,
na qual os efeitos dos trade-offs podem ser minimizados
se múltiplas estratégias tiverem seu desempenho
melhorado.
A aceitação do trade-off e, consequente, o esforço
de melhorias (Silveira & Slack, 2001), faz com que as
prioridades sejam dinâmicas e contínuas, colaborando
com uma visão integrativa (Slack, 1993). Nessa
visão dinâmica e contínua de melhoria é crucial que
se utilizem métodos para definição de prioridades
alinhados com a teoria.
Para verificar as prioridades, pode-se examinar
a importância dos critérios competitivos na visão
dos clientes (Slack, 1994; Corrêa & Corrêa, 2010),
observando a melhoria contínua das estratégias
operacionais. Entretanto, podem ocorrer limitações
quanto ao processo de atribuição da importância
pelos clientes (Fuchs & Weiermair, 2004; Matzler
& Sauerwein, 2002).
Estudos têm definido prioridades na gestão dos
trade-offs das estratégias operacionais, utilizando a
importância declarada pelos clientes no discernimento
sobre o que melhorar (Corrêa & Corrêa, 2010;
Slack, 1993, 1994). Porém existem evidências de baixo
poder discriminatório da importância declarada e de
que essa se altera em função do desempenho (Fuchs
& Weiermair, 2004; Matzler et al., 2004; Matzler &
Sauerwein, 2002; Picolo, 2005).
Uma limitação de diversos estudos é que assumem
a relação entre importância e desempenho como linear.
Porém, vários estudos demonstram a existência de não
linearidade entre esses fatores (Anderson & Mittal, 2000;
Kano et al., 1984; Picolo & Tontini, 2008; Tontini &
Picolo, 2014), o que pode levar a decisões errôneas.
Com base nessa problemática, define-se a seguinte
pergunta de pesquisa: Como verificar a importância
das estratégias operacionais em função de alterações
do desempenho para auxiliar na gestão dos trade-offs?
Assim, este artigo a utilização da Análise de Lacunas
de Melhoria (Improvement Gap Analysis – IGA) como
método para gestão de compromissos, ou trade-offs,
de estratégias operacionais.
Essa proposta justifica-se, pois a visão integrativa da
gestão dos trade-offs é condizente com características
dinâmicas das estratégias operacionais e um processo
de melhoria contínua. A IGA parece ter características
alinhadas, dado sua condição de visão cumulativa,
uma vez que apresenta prioridades de melhorias com
base no diagnóstico atual, corroborando a teoria de
relativização dinâmica da importância e elevação do
pivô de Slack (1993).
Num processo de melhoria contínua é possível com
a IGA se definir configurações sutis de melhoria de
desempenho. Além disso, pode ocorrer que a influência
da melhoria de desempenho seja não linear. Logo,
utilizar métodos que tenham previsão da possibilidade
de não linearidade é útil para evitar decisões errôneas
e a IGA tem como teoria de base o modelo Kano de
satisfação do cliente (Kano et al., 1984), que prevê
condições não lineares.
Para demonstrar a utilização da IGA como método
de gestão dos trade-offs de estratégias operacionais,
este artigo é estruturado da seguinte forma: a seção
2 apresenta uma breve revisão teórica sobre a
problemática da gestão dos trade-offs das estratégias
operacionais. A seção 3 apresenta a metodologia da
pesquisa efetuada com o método proposto. A seção
4 aborda a aplicação do método IGA e, por fim, as
considerações finais, limitações e oportunidades para
futuras pesquisas.
2 Revisão teórica
2.1 A estratégia de operações e a gestão
do desempenho das estratégias
operacionais
As definições de estratégia em operações apresentam
a necessidade de coerência entre as ações operacionais,
estratégia da organização como um todo, e ambiente
externo. Sob essa perspectiva, Johnson et al. (2007)
definem estratégia como a direção e o posicionamento
de uma organização a longo prazo, visando alcançar
vantagem em um ambiente em mudança através
de sua configuração de recursos com o objetivo de
atender às expectativas dos stakeholders.
Em um entendimento que se aproxima ao de
Johnson et al. (2007), para Slack et al. (2009) a estratégia
em operações se relaciona com a empresa inserida
no contexto global, social, econômico e político.
Os autores definem esses elementos como bases para
a definição, a forma com que a empresa deve agir.
Slack et al. (2009) apresentam ainda a necessidade
de percepção da relação entre operações e os demais
sistemas da organização. A óptica apresentada pelos
autores é a de estratégia como planejamento e da
estratégia em operações como sua aplicação em
uma esfera operacional, sendo geradora de suporte
para a competitividade organizacional. Dessa forma,
distintas estratégias operacionais são adequadas
para distintas estratégias competitivas (Ludwig &
Pemberton, 2011; Sirmon et al., 2007).
Skinner (1969) apresentou o termo “estratégia de
produção”. O desenvolvimento desse conceito trouxe
uma ampliação de sua aplicabilidade, surgindo da
manufatura, unicamente, e posteriormente abrangendo
serviços e atenção ao cliente, sendo reconhecido
hoje como estratégia operacional (Hamel, 2006;
Maia et al., 2005).
A proposta inicial foi o entendimento da inadequação
da estratégia da produção em relação a estratégia
em um nível macro-organizacional e, portanto, a
existência de um não entendimento da estratégia
da manufatura. Em um caráter positivista, propôs a
necessidade de existência de políticas de produção
coerentes com as estratégias organizacionais.
Hamel (2006) interpreta Skinner (1969) como sendo
a maneira com que a organização adota a alocação de
recursos, em uma proposta ampla de estratégia, para
que possa alcançar os objetivos propostos. Tem uma
postura coerente de alocação de recursos em relação
ao mercado e ao ambiente. Como consequência desse
entendimento, Hamel (2006) define que a gestão
de operações abarca uma metodologia que envolve
processos, métodos e melhorias. E, ainda, com uma
óptica complementar, de estratégia entendida como
plano de ação, de como a organização aloca os
recursos na produção relacionada com a tática de
aplicação da macroestratégia.
Em perspectiva coerente, Skinner (1969), Ludwig
& Pemberton (2011) ressaltam a relevância das
organizações que operam em ambiente dinâmico,
devendo deter atenção em suas operações a fim de
alcançar os objetivos estratégicos. Ressaltam a relevância
da dinamicidade e a importância da construção de
capacidades em acordo com a estratégia, criando
coerência nas táticas da organização.
A gestão de estratégias em operações, segundo
a perspectiva de Johnson et al. (2007), detém-se
primordialmente aos recursos organizacionais.
Todavia, influencia na maneira como as operações
e seus recursos são geridos e, consequente, como
impactarão, tanto na forma que a organização alcança,
como em seu ambiente externo e em sua capacidade
de atender as necessidades das partes interessadas.
Embora não exista uma única forma de se entender
“estratégia” e “estratégia em operações”, pode-se
aceitar que se tratam de perspectivas complementares.
Com essa base para estratégias operacionais, pode-se
inferir que a flexibilidade é capaz de ser encarada
como elemento estratégico e entre as possibilidades de
adequação da organização encontra-se a possibilidade
de alteração da alocação de recursos empregados nas
operações (Berry et al., 1995). E, assim, acolhendo-se a
percepção de Ketokivi & Schroeder (2004) e Berry et al.
(1995), pode-se entender que é possível a otimização
de recursos a partir da interface da organização com
o cliente, para reflexos nas operações.
2.2 Processo de formulação de estratégias operacionais na produção
A abordagem sobre estratégia em operações
de Skinner (1969) se deu inicialmente por meio
de críticas a visão extremamente operacional e
reativa às condições de mercado. O autor observou
a oportunidade de efetuar mudanças fundamentais
na gestão de operações. E ao buscar respostas para
a pergunta “como competir”, recomendou focar na
interação de aspectos gerenciáveis: produtos, tecnologia
e mercados. Nessa interação, destaca a importância
do foco nas operações, com base no conceito de
que a simplicidade, a repetição, a experiência e a
homogeneidade das tarefas na melhoria da competência;
e que as diversas áreas da organização devem ter o
mesmo objetivo, porque não se pode ser bom em
todos os propósitos.
O objetivo inicial da indústria era a redução de
custos, mas existem outras formas de competir,
além do custo, apesar da relevância dessa vantagem
competitiva. Os outros objetivos podem ser ciclo curto
de entrega, a qualidade do produto e confiabilidade
superiores, promessas de entrega confiável, a
capacidade de produzir novos produtos rapidamente,
flexibilidade na adaptação às mudanças de volume,
baixo investimento e, consequentemente, maior
retorno sobre o investimento e os custos baixos
(Skinner, 1969, 1974).
Outro modelo apresentado na literatura é denominado
de modelo de fases (Quadro 1), obtido em função de
um levantamento de mudanças ocorridas ao longo
do tempo como diferencial competitivo (Bolwijn &
Kumpe, 1990; Moura & Botter, 2011).
Na década de 1960, os mercados caracterizaram-se
pela busca do crescimento quantitativo, na qual o
preço era o critério mais importante para o sucesso de
mercado. Em 1970, os clientes começaram a prestar
mais atenção à qualidade do produto, que tornou-se um
fator importante de sucesso além do preço. Na década
de 1980, na qual a capacidade superou a demanda,
as empresas começaram a oferecer prazos de entrega
mais curtos e uma gama de produtos personalizados;
velocidade e flexibilidade eram fatores de sucesso,
além da qualidade e preço. E na década de 1990
iniciou-se um processo de inovação de produtos, no
qual o sucesso no mercado dependia da capacidade de
renovar com velocidade e oferecer produtos únicos
(Bolwijn & Kumpe, 1990; Moura & Botter, 2011).
Outras estratégias de competitividade surgiram
na literatura, tais como novos produtos e serviços
ao cliente. Já Hill & Westbrook (1997) apresentam:
custo, produto com qualidade, entrega rápida e
confiável. Enquanto Paiva et al. (2004) entendem que
os critérios seriam: custo, qualidade, desempenho de
entrega, flexibilidade e “inovatividade”, sendo que para
Maia et al. (2005) a inovação pode ser considerada
agente facilitador das demais estratégias operacionais.
Mas as estratégias operacionais mais citadas são
velocidade, qualidade, confiabilidade, flexibilidade
e custo (Martín-Peña & Díaz-Garrido, 2009).
Pode-se perceber a existência de um núcleo comum
entre estes critérios, que podem estar inter-relacionados.
Porém tem-se o entendimento de que atender a todos
os critérios de forma simultânea pode ser uma opção
arriscada. Como consequência desse entendimento,
as empresas deveriam optar por trade-offs desses
critérios, em que se pode decidir pelo bom desempenho
de uma estratégia operacional em detrimento de outra
(Corrêa & Corrêa, 2010; Hill & Westbrook, 1997;
Moori et al., 2009; Paiva et al., 2004; Slack, 1993;
Slack et al., 2009; Skinner; 1974).
2.3 Visões em relação aos trade-offs das
estratégias operacionais
Existem três visões em relação aos trade-offs
na literatura (Boyer & Lewis, 2002), sendo elas: a
visão tradicional (Skinner 1969, 1974), a cumulativa
(Bolwijn & Kumpe, 1990; Collins et al., 1998; Ferdows
& Meyer, 1990) e a integrativa (Maia et al., 2005;
Slack, 1993).
A visão tradicional de trade-off exibe que as
diversas estratégias operacionais não podem ser
realizadas igualmente bem, por causa das inevitáveis
limitações de equipamentos e tecnologias de processo.
Envolvem escolhas implícitas no estabelecimento
das políticas organizacionais, implicando que ao se
elevar o desempenho de um critério competitivo,
automaticamente se reduz o desempenho em outro
(Godinho & Fernandes, 2005; Moori et al., 2009;
Skinner, 1969, 1974; Teixeira & Paiva, 2008).
A visão cumulativa critica a visão tradicional,
expondo que o benefício de uma estratégia contribui
para melhorar outra estratégia operacional; assim
como as capacidades poderiam ser acumuladas e
construídas umas sobre as outras (Collins et al., 1998;
Silveira & Fogliatto, 2002; Ferdows & Meyer, 1990;
Moura & Botter, 2011). Ferdows & Meyer (1990),
ao apresentarem o modelo de visão cumulativa e
reconhecerem que a teoria dos trade-offs não se aplica
a todos os casos, apresentam um ideal a ser buscado,
que é uma visão cumulativa de capacidades. Pode
se buscar uma melhoria de estratégias operacionais
com vistas à melhoria da organização como um todo.
Quadro 1. Modelo de fases.
Fonte: Adaptado de Bolwijn & Kumpe (1990).
E, por fim, a visão integrativa, que trata da
combinação da visão tradicional e a cumulativa
(Boyer & Lewis, 2002; Corrêa & Corrêa, 2010;
Silveira & Slack, 2001; Maia et al., 2005). O conflito
entre as estratégias operacionais é simbolizado pelo
movimento de uma gangorra (Figura 1a), no qual
o acréscimo da eficiência de um objetivo reduz a
eficiência de outro (Figura 1b).
Entretanto, esse conflito pode ser minimizado
no paradigma de “elevação do pivô” (Figura 1c), e
se pode melhorar no médio prazo o desempenho de
múltiplas estratégias operacionais, mesmo existindo
diferenças de desempenho entre estratégias. Segundo
Slack (1993, p. 22),
[...] o pivô é a estrutura, são as limitações,
pressuposições e a cultura do sistema da manufatura
em si. Elevá-lo envolve questionar ideias há muito
mantidas sobre o que verdadeiramente é atingível,
expandir as limitações da tecnologia, mão de obra
e sistemas.
Na visão integrativa está implícita a inovação
das estratégias operacionais, tornando-a inerente ao
processo de gestão dos trade-offs, pois ao se elevar
o pivô das estratégias operacionais, provoca-se o
incremento dos desempenhos das diversas estratégias.
2.4 Prioridades de melhorias das
estratégias operacionais
Boyer & Lewis (2002) verificaram em seus estudos
que organizações consideram todas as estratégias
operacionais vitais ao sucesso competitivo, no
entanto as distinções entre eles significam que os
gerentes ainda percebem a necessidade dos trade-offs.
A aceitação do trade-off não significa que eles sejam
imutáveis e o seu reconhecimento é visto como algo
a ser focado para direcionar esforços de melhoria.
Alguns trade-offs são mais facilmente gerenciados do
que outros. Ainda, trade-offs podem ser superados,
mas não eliminados, alterando os recursos de uma
operação de forma a melhorar o desempenho de
estratégias relevantes (Silveira & Slack, 2001;
Moori et al., 2009).
Prioridades dos clientes devem nortear o processo de
definição do desempenho das estratégias operacionais.
O sucesso desse estágio na formulação da estratégia
é determinado pelo estabelecimento das necessidades
dos clientes e do que é requerido da operação para
satisfazê-las (Slack, 1993). Entretanto pouca atenção
tem-se dado à participação dos clientes no que se refere
aos dilemas competitivos (Teixeira & Paiva, 2008).
E as expectativas e necessidades dos clientes podem
ser consideradas como importante fator externo para
a existência do trade-off dentro da área de operações
(Silveira & Slack, 2001).
Tem-se o entendimento de que a função de produção
tem por função gerar vantagem competitiva a partir
de aplicação de estratégias operacionais oriundas
de desenvolvimento em critérios competitivos
(Davis et al., 2001). Paiva et al. (2004) conceituam
critérios competitivos como um conjunto consciente
de prioridades que a “empresa” adota para competir no
mercado. Os critérios que seriam capazes de geração
de vantagem competitiva para a organização, em uma
óptica normativa, devem emergir das necessidades
e desejos do consumidor (Slack et al., 2009;
Hayes et al., 2008).
Para verificar as necessidades do cliente pode-se
examinar a importância dos critérios competitivos
(Slack, 1993, 1994; Corrêa & Corrêa, 2010).
Entretanto, pode haver implicações quanto ao
processo de atribuição de importância declarada
pelos clientes. Segundo Fuchs & Weiermair (2004)
e Matzler & Sauerwein (2002), normalmente, os
clientes têm baixo poder discriminatório na avaliação
da importância e avaliam quase todos os atributos
como importantes. Existem ainda evidências de que
a importância se altera em função do desempenho
(Matzler et al., 2004) e, segundo Picolo (2005), a
importância declarada apresenta correlação positiva
com o módulo do desempenho.
Consequentemente, o valor de importância declarada
traz dúvidas quanto a sua validade, uma vez que não
está claro como os consumidores realmente interpretam
e atribuem esses valores de importância. Em função da
limitação exposta da importância declarada, propõe-se
que a importância das estratégias competitivas possa
ser interpretada como a satisfação dos clientes,
gerada em função de seu respectivo desempenho.
Segundo Kaynak (2003), melhorias no desempenho
operacional aumentam as vendas e a participação
de mercado, proporcionando assim uma vantagem
competitiva para as empresas. Anderson & Mittal
(2000) apresentam que a melhoria do desempenho
de fatores críticos de sucesso influencia a satisfação,
consequentemente, a intenção de recompra dos clientes
e o lucro operacional organizacional.
Figura 1. Visão integrativa por meio do movimento da gangorra e elevação do pivô. Fonte: Adaptado de Slack (1993).
Outra implicação é quanto à dinâmica de alteração
do desempenho representado pelo “movimento
gangorra” (Figura 1) do critério “a” e o critério “b”.
Antes de a organização decidir melhorar o critério
competitivo, com base no diagnóstico organizacional
(Figura 1a), os respectivos critérios podem encontrar-se
com possíveis diferenças de desempenho e com
seus conflitos inerentes ao processo operacional.
Em seguida, a organização pode decidir melhorar o
desempenho do critério competitivo “b” e pode ser
inevitável a ocorrência de conflito com o critério “a”
(Figura 1b). Ou, ainda, pode decidir a elevação de
ambos os critérios, representada pela elevação do
pivô (Figura 1c).
A implicação reside na problemática de determinar
a importância da estratégia operacional, pois o
“movimento gangorra” pode ser sutil e o cliente
pode não dar importância para esse movimento mas
pode dar grande importância para um movimento
agressivo. Os degraus dos “possíveis movimentos
gangorra” e sua possível influência na satisfação do
cliente estão representados no modelo da Figura 2.
Assim, a escala +D1, +D2, +D3 (eixo x) representa
as variações de desempenho das estratégias operacionais
com a melhoria e os respectivos impactos na satisfação
do cliente (+S1, +S2, +S3). E a escala -D1, -D2, -D3
(eixo x), a redução do desempenho da estratégia
operacional e respectiva redução na satisfação do
cliente (-S1, -S2, -S3). Com a percepção da existência
da variação, torna-se relevante para o cliente declarar
a importância em função da variação ou degrau de
desempenho das estratégias operacionais ou critérios
competitivos.
Estudos que suportam que a melhoria do desempenho
tem influência de forma gradativa na satisfação dos
clientes são apresentados por Cheung & Lee (2005),
Picolo (2005), Picolo & Tontini (2008) e Ting & Chen
(2002). Para Rungtusanatham et al. (1998), a melhoria
contínua nas organizações tem um significativo
efeito sobre a satisfação do cliente. E para Das et al.
(2000), as práticas de qualidade são correlacionadas
positivamente com a satisfação do cliente, e por sua
vez, com o desempenho da empresa.
Outra implicação é a não linearidade entre o
desempenho e a satisfação. Existe a possibilidade
de linearidade, na qual o critério competitivo é
classificado em unidimensional (Figura 3). A melhoria
do desempenho aumenta a satisfação dos clientes e a
redução do desempenho, a consequente insatisfação,
na mesma proporção. Mas podem existir critérios
competitivos nos quais a relação entre o desempenho
e a satisfação não é linear. Podem existir critérios
competitivos obrigatórios, atrativos e neutros (Anderson
& Mittal, 2000; Brandt, 1987; Cheung & Lee, 2005;
Kano et al., 1984; Matzler et al., 2004; Picolo, 2005;
Picolo & Tontini, 2008; Tontini & Picolo, 2010, 2014;
Ting & Chen, 2002).
Quanto aos critérios competitivos obrigatórios não
é recomendado reduzir o desempenho, porque gera
insatisfação significativa. Entretanto, sua melhoria
não gera satisfação ao cliente, podendo ser mantido
seu desempenho atual. Já o critério classificado
como atrativo, se tiver desempenho incrementado,
gera satisfação ao cliente, mas se for reduzido o
desempenho não gera insatisfação aos clientes. E o
critério competitivo considerado neutro não necessita
de melhoria e pode ter desempenho reduzido, porque
não influencia a satisfação do cliente (Anderson &
Mittal, 2000; Kano et al., 1984; Matzler et al., 2004).
Figura 2. Possível impacto na satisfação dos clientes
em função da alteração do desempenho da estratégia
operacional. Fonte: Autores.
Figura 3. Modelo Kano de satisfação dos clientes. Fonte:
Adaptado de Tontini & Picolo (2014).
3 Metodologia da pesquisa
O delineamento da pesquisa caracteriza-se, quanto
aos seus fins, como descritivo, e quanto aos meios,
como pesquisa de campo com método quantitativo
(Vergara, 2010). O levantamento de campo foi
efetuado por meio do censo dos clientes de uma
fábrica de móveis. A fábrica é uma microempresa,
localizada na cidade de Nova Veneza, SC, fundada
em meados da década de 1990 e que conta com
quatro colaboradores.
A escolha dessa empresa para estudo se deve
principalmente a que, em função de sua característica de
negócio, opera em todo o ciclo de atendimento, desde
a concepção do projeto até a instalação de produtos
diretamente no cliente final. Sendo assim, um único
grupo de clientes tem a percepção do desempenho de
todas as estratégias operacionais. Essa condição não
ocorre, por exemplo, em fábricas que têm intermediários
em sua cadeia de atendimento, nas quais a percepção
de desempenho das estratégias operacionais da
unidade produtiva fica distribuída entre o cliente
final e o intermediário varejista. Assim, a qualidade
da pesquisa aumenta, porque o respondente que é o
cliente final da fábrica de móveis pode relativizar com
maior empenho o desempenho e a importância das
estratégias operacionais, corroborando para estudar
a proposta de utilização da Análise de Lacunas de
Melhoria (Improvement Gap Analysis – IGA) como
método para gestão de compromissos, ou trade-offs,
de estratégias operacionais.
As entrevistas ocorreram no período de outubro a
novembro de 2012, totalizando 32 clientes que fecharam
negócio e aceitaram responder voluntariamente a
pesquisa, tendo seu produto devidamente instalado
em sua residência no período de janeiro a setembro
de 2012. Os clientes foram entrevistados após a
instalação dos móveis, para que tivessem experiência
em todo o ciclo de atendimento da empresa.
A coleta de dados se deu por meio de entrevista
pessoal com uso de questionário estruturado. Na primeira
parte do questionário foram levantadas questões
relacionadas ao perfil do consumidor. O perfil dos
entrevistados está descrito na Tabela 1, sendo que
a classificação dos clientes é, predominantemente:
pessoa física (71,88%), gênero feminino (62,50%),
faixa etária distribuída, com predominância entre
40 a 49 anos (34,38%). E a classe social classificada,
conforme IBGE, em função da renda mensal familiar,
com predominância da classe C (43,75%).
Em seguida, foi mensurado o nível de satisfação
com o desempenho atual das cinco estratégias
operacionais, sendo elas: preço adequado ao tipo do
produto, velocidade expressa pelo tempo prometido
de entrega, confiabilidade em função da entrega na
data prometida, qualidade do produto e flexibilidade
em virtude da variedade dos produtos oferecidos.
O nível de satisfação com o desempenho atual foi
obtido com uma escala Likert, que variava de 1,
“insatisfeito”, a 5, “muito satisfeito”.
E, por último, foram efetuadas questões de suficiência
e insuficiência das estratégias operacionais conforme
método IGA – Improvement Gap Analysis (Tontini
& Picolo, 2010). Os níveis de satisfação esperados
foram obtidos com a mesma escala Likert utilizada na
etapa anterior, em função de padronização de escala.
4 Proposta de análise da alteração do desempenho das estratégias
operacionais com a IGA (Improvement Gap Analysis)
A IGA (Improvement Gap Analysis) é uma análise
de quadrantes. Compara a insatisfação esperada se
o desempenho for baixo versus o impacto esperado
sobre a satisfação de um cliente se um fator tiver seu
desempenho melhorado. Basicamente, para cada fator
analisado o cliente responde sobre sua satisfação ou
insatisfação esperada com duas questões hipotéticas.
A questão funcional (QF), na qual o fator teria alto
desempenho, e a questão disfuncional (QD), na qual
o fator em estudo teria baixo desempenho. A terceira
questão é sobre a satisfação com o desempenho atual do
fator em estudo (SA) (Tontini & Picolo, 2010, 2014).
Ao definir as estratégias operacionais, o gerente
pode simular o impacto na percepção do consumidor
de um eventual trade-off, com uma questão funcional
(QF) e uma disfuncional (QD), entretanto com uma
definição adicional. As questões de suficiência e
insuficiência, além de especificarem “o que melhorar
ou piorar”, podem, se possível ou necessário,
parametrizar “o quanto melhoraram” ou “o quanto
pioraram”, representando o “movimento gangorra”
das estratégias operacionais.
Neste artigo, as estratégias operacionais “preço”,
“velocidade” e “confiabilidade” foram especificadas
em possível declaração explícita de desempenho
(Quadro 2) em função da especificação de “o quanto
melhorar”, com o objetivo de verificar o impacto do
incremento e da redução de desempenho, representando
“o movimento gangorra” de cada estratégia operacional.
Tabela 1. Perfil dos entrevistados.
Fonte: Dados da pesquisa.
As parametrizações de “o quanto melhoram” ou
“o quanto pioram” nas questões funcionais (QF) e
disfuncionais (QD), respectivamente, foram efetuadas
conforme a definição do gerente da empresa de móveis
em estudo. A estratégia operacional “preço” foi
parametrizada em “-10%” e “+10%” em relação ao
praticado pelo mercado. Se as perguntas não fossem
parametrizadas, as perguntas seriam, por exemplo,
para esse objetivo simplesmente “QF – se o preço
for abaixo do praticado pelo mercado” e “QD – se
for acima do praticado pelo mercado”. A tendência
possível seria o consumidor dar maior importância
ao objetivo do que se ele fosse parametrizado, como
nesse caso, com 10%. Poderiam ainda ser estipulados
outros valores, para verificar a sensibilidade do
desempenho em função do preço e observar a não
linearidade entre a satisfação esperada e o desempenho.
A estratégia operacional “velocidade” foi parametrizada
em dias de entrega e a “confiabilidade”, em dias
de atraso, para avaliar a tolerância do cliente com
“QF – 5 dias de entrega antes da data prometida” e
“QD – 10 dias após a data prometida”. Não foram
definidas parametrizações para as estratégias operacionais
qualidade e flexibilidade para verificar a importância
do atributo com a suficiência e insuficiência em função
da dificuldade de o gerente identificar “o quanto”
poderiam melhorar.
O resultado da pesquisa em relação aos níveis de
satisfação esperada com as questões funcionais (QF)
e questões disfuncionais (QD) estão representados
graficamente na Figura 4.
A estratégia operacional com o maior nível de
satisfação esperado é “qualidade” (4,66) seguido
de “flexibilidade” (4,53), “confiabilidade” (4,44),
“preço” (4,28) e “velocidade” (4,22). Caso a empresa
em estudo não tivesse restrições em seus sistemas
operacionais poderia “elevar o desempenho” em todas
as estratégias, corroborando uma visão cumulativa
de desempenhos (Collins et al., 1998; Silveira &
Fogliatto, 2002; Ferdows & Meyer, 1990).
Entretanto, caso tenha limitações em seus sistemas
operacionais, gerando conflitos entre as diversas
estratégias operacionais, poderia ter desempenho
reduzido, prioritariamente em estratégias que não
impactam significativamente em insatisfação ao cliente,
podendo, assim, serem gerenciados com mais facilidade
os trade-offs das respectivas estratégias (Silveira &
Slack, 2001; Moori et al., 2009; Slack, 1993).
Assim, as estratégias operacionais que têm menor
impacto na satisfação esperada são as estratégias
“velocidade” (2,81) e “confiabilidade” (2,25).
As estratégias com maior impacto na insatisfação
esperada foram “qualidade” (1,03), seguida da
“flexibilidade” (1,34) e do “preço” (1,53).
Com base nos resultados da pesquisa, verifica-se a
não linearidade entre o desempenho e a satisfação dos
clientes, observando-se que as estratégias “velocidade”
e “confiabilidade” apresentam níveis de insatisfação
menores com a redução de desempenho operacional
do que as demais estratégias, confirmando a não
linearidade e a alteração da importância em função
da alteração dos desempenhos (Kano et al., 1984;
Tontini & Picolo, 2010, 2014).
Entende-se que esse comportamento é a percepção
do cliente para os possíveis “movimentos gangorra”
(Slack, 1993) de alteração de desempenho com os
parâmetros utilizados no questionário das perguntas
suficiente e insuficiente. Caso as estratégias tivessem
outros parâmetros de “quanto aumentar ou reduzir”
o desempenho, a dinâmica poderia ser outra.
Figura 4. Níveis de satisfação e insatisfação esperados.
Fonte: Dados da pesquisa.
Quadro 2. Perguntas elaboradas segundo o modelo Kano.
Estratégia operacional
Cód. fator
Descrição
Preço
QF
Preço 10% abaixo do praticado pelo mercado
QD
Preço 10% acima do praticado pelo mercado
Velocidade
QF
Se o prazo de entrega for em 15 dias
QD
Se o prazo de entrega for em 45 dias
Confiabilidade
QF
Se for instalado até 5 dias antes da data prometida
QD
Se for instalado até 10 dias após a data prometida
Qualidade
QF
Se os móveis possuírem durabilidade e resistência
QD
Se os móveis não oferecerem durabilidade e resistência
Flexibilidade
QF
Se tiver diversidade de produtos e materiais para escolha
QD
Se não tiver diversidade de produtos e materiais para escolha
Fonte: Autores.
Observa-se, também, que as estratégias operacionais
“qualidade” e “flexibilidade”, como não foram
configuradas por dificuldade na parametrização do
gerente fabricante de móveis, apresentaram maiores
valores de QF e QD, respectivamente, demonstrando
a importância de, sempre que possível, parametrizar
o desempenho da estratégia operacional, podendo
assim representarem-se os “movimentos gangorra
sutis” de desempenho.
Assumindo-se que as expectativas e necessidades
dos clientes podem ser importante fator externo de
orientação à priorização de melhorias e reconhecendo
o trade-off como algo a ser focado para direcionar
esforços de melhoria (Silveira & Slack, 2001;
Moori et al., 2009; Slack, 1993), será calculado o
impacto com a melhoria do desempenho das estratégias
operacionais.
Para conhecer o impacto de melhoria do desempenho
é necessária a informação do gap de melhoria. O gap
de melhoria (GAP) pode ser obtido pelo cálculo
proposto da metodologia IGA (Tontini & Picolo,
2010), por meio da Equação 1.
<equação>
E o valor do gap é padronizado de acordo com a
Equação 2, sendo os resultados plotados no eixo x
da matriz bidimensional (Figura 5).
<equação>
O valor do nível de insatisfação esperado com o
desempenho disfuncional (QD) é padronizado (Equação
3) no eixo y da matriz bidimensional (Figura 5).
<equação>
Os dados da pesquisa estão dispostos na Tabela 2,
sendo eles o nível de satisfação esperada com o
acréscimo do desempenho da estratégia operacional
(QF), o nível de insatisfação esperado com a redução
do desempenho da estratégia operacional (QD), nível
de satisfação com o desempenho atual das estratégias
operacionais (SA) e o gap de melhoria das estratégias
operacionais (GAP).
Os valores padronizados são analisados na matriz
bidimensional (Figura 5), onde a linha divisória fica
no valor zero. No eixo x, as estratégias operacionais
positivas são as prioritárias para melhoria e ficam à
direita da linha divisória. E, no eixo y, as estratégias
operacionais positivas são as mais críticas, com uma
suposta redução de desempenho e ficam acima da
linha divisória.
As estratégias operacionais do fabricante de móveis
em estudo localizadas no quadrante I, “qualidade”,
“flexibilidade” e “preço”, são consideradas críticas
para melhoria, pois apresentam potencial de melhoria
significativo e se tiverem desempenho reduzido
geram alta insatisfação aos clientes, devendo receber
atenção imediata.
Não ocorreram estratégias operacionais localizados
no quadrante II. Fatores localizados nesse quadrante
deveriam manter o bom desempenho, não necessitando
serem melhorados, mas se a organização reduzir
seu desempenho obterá penalidade com clientes
insatisfeitos.
Figura 5. Análise do gap de melhoria das estratégias operacionais. Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 2. Resultados dos dados coletados.
Fonte: Dados da pesquisa.
As estratégias operacionais localizadas no
quadrante III, “velocidade” e “confiabilidade”, podem
ter seu desempenho reduzido se necessário, no caso
de terem outro objetivo conflitante. Apresentam baixo
gap de melhoria na satisfação dos clientes e baixa
insatisfação se o desempenho for reduzido.
E, por fim, não existiram estratégias no quadrante IV.
Fatores localizados nesse quadrante são considerados
atrativos, pois não geram insatisfação se ausentes mas
podem melhorar a satisfação do cliente se tiverem
seu desempenho melhorado (Tontini & Picolo, 2010).
Com as recomendações gerenciais oriundas da
matriz de análise da IGA foi possível identificar as
prioridades de melhoria, identificando as estratégias
operacionais que apresentam maior potencial de
incremento do seu nível de desempenho, numa
visão integrativa (Slack, 1993), combinando a visão
tradicional de trade-offs (Skinner, 1969, 1974) com
a visão cumulativa (Ferdows & Meyer, 1990) de
estratégias operacionais.
A IGA reconhece as prioridades conforme a visão
tradicional, porque identifica estratégias operacionais
que são prioritárias, localizadas à direita da linha
divisória no eixo x, em detrimento das estratégias
localizadas à esquerda, caso seja necessária a tomada de
decisão em função do processo produtivo. Além disso
é possível estimar o nível de insatisfação gerada com
a possível redução de desempenho.
Ainda, esse método identifica as prioridades
conforme a visão cumulativa, porque a prioridade de
melhoria é definida a partir do diagnóstico atual de
desempenho, visto que o gap de melhoria é calculado
como a diferença entre o nível de satisfação esperada
e o nível de satisfação atual.
Também é possível configurar e simular configurações
de desempenho possíveis para tomada de decisão,
quando especificado nas questões funcionais e
disfuncionais, segundo o modelo Kano (Quadro 2), o
que permite verificar a viabilidade de possibilidades
na alteração do desempenho no processo produtivo.
5 Considerações finais
Sob a perspectiva de estratégia apresentada por
Sirmon et al. (2007) e Ludwig & Pemberton (2011),
em que a estratégia em operações atenta para uma
esfera operacional, os achados da presente pesquisa
vêm ao encontro desse entendimento; no qual é capaz
de gerar e dar suporte às estratégias competitivas
da organização como um todo, de tal modo que se
percebe que distintas estratégias operacionais são
adequadas para distintas estratégias competitivas.
Dentro de uma visão integrativa das estratégias
operacionais que combinam a visão tradicional de
trade-off e a cumulativa (Boyer & Lewis, 2002; Corrêa
& Corrêa, 2010; Silveira & Slack, 2001; Slack, 1993;
Maia et al., 2005), existe o possível movimento
sutil de desempenho e trade-off representado pelo
movimento gangorra e a tendência da “elevação do
pivô” a partir do desempenho atual para um novo
cenário de melhoria.
Nessa visão, o artigo propõe a utilização da Análise de
Lacunas de Melhoria (Improvement Gap Analysis – IGA)
como método para gestão de compromissos, ou
trade-offs, de estratégias operacionais. Diante disso,
com o método IGA – Improvement Gap Analysis foi
possível simular as variações de desempenho das
estratégias operacionais em uma visão integrativa.
Isso porque por meio da matriz da IGA obteve-se
informação para a gestão do trade-off das estratégias
operacionais da empresa pesquisada, definindo
prioridades para as estratégias classificadas como
“críticas para melhoria”: os objetivos “qualidade”,
“flexibilidade” e “preço”, pois apresentam gap de
melhoria significativo se tiverem seu desempenho
incrementado e apresentam penalidade com clientes
insatisfeitos ao fabricante de móveis se tiverem seu
desempenho reduzido.
Por outro lado, foram classificadas as estratégias
“confiabilidade” e “velocidade” como atributos que
podem ter seus desempenhos reduzidos, se necessário,
em função de uma possível restrição do processo de
operações característico do trade-off.
Esse fato foi possível não somente porque a IGA
tem como pressuposto a possível não linearidade,
conforme Kano et al. (1984), mas também porque
esse método tem como característica a relativização
do gap de melhoria e da insatisfação esperada com
uma possível redução de desempenho, posicionando
os atributos nos quadrantes “Manter”, “Avaliar”,
“Críticos de melhoria” e “Atrativos”.
Outrossim, a IGA identificou as prioridades de melhoria
indicando para um novo cenário de desempenho, a
partir de um cenário atual, condizente com a “elevação
do pivô”, porque a lacuna de melhoria é definida a
partir do diagnóstico do desempenho atual, com vistas
a satisfação esperada, caso a estratégia operacional
tenha seu desempenho melhorado quando identifica
os atributos “críticos para melhorias”e “atrativos”.
Além do mais, a IGA identifica variações sutis de
desempenho, expressas nas estratégias operacionais
“preço”, “velocidade” e “confiabilidade”, pela
parametrização de “o quanto melhoraram” e o
“quanto pioraram” (Quadro 2), superando métodos
de definição da importância declarada com o critério
de importância fixa que especifica apenas “o que
melhorar”, quando destacam apenas o atributo para
definir a importância.
Uma limitação desta pesquisa é proveniente da
metodologia IGA – Improvement Gap Analysis quanto
ao uso da insatisfação dos clientes como medida de
relevância das estratégias operacionais (Tontini &
Picolo, 2010). Outra limitação é quanto à determinação
e configuração das estratégias operacionais a serem
pesquisados. Quanto à definição de alteração do
desempenho em “o quanto melhorar”, traduzido para
o cliente, se torna crítico para a identificação do nível
de satisfação e insatisfação esperada pelos clientes.
Vale ressaltar que o trabalho apresentado mostra a
aplicabilidade da IGA e os resultados não podem ser
generalizados, pois demonstram apenas para a empresa
pesquisada, por isso recomenda-se realizarem-se
estudos em outras organizações para aprofundamento
da análise. Recomendam-se ainda pesquisas com outras
estratégias operacionais apresentadas na literatura
(Maia et al., 2005; Martín-Peña & Díaz-Garrido, 2009)
e também outros estudos longitudinais após melhorias
de desempenho, com vistas a compreender com
profundidade a visão integrativa de Slack (1993) em
função da dinâmica e contínua melhoria do processo
que a ferramenta IGA – Gap Analysis proporciona.