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BrBRCEEx0100-40421998000600005

BrBRCEEx0100-40421998000600005

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioEx-Tech-Multi Sciences
Great areaExact-Earth Sciences
ISSN0100-4042
ano1998
Issue0006
Article number00005

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Ésteres triterpênicos de Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson

INTRODUÇÃO Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson (Apocynaceae) é uma planta conhecida na região norte do Brasil como sucuuba, janaguba ou sucuba. Esta planta é amplamente utilizada na medicina popular como antitumoral, antifúngica, vermífuga e anti-anêmica1.

Estudos anteriores revelaram a presença de depsídeos, terpenos e iridóides em H.sucuuba2,3. Dentre os iridóides foram encontrados a fulvoplumierina, isoplumericina e plumericina, de comprovada ação antineoplásica, antiflogística e antimicrobiana4-10. Os depsídeos isolados de H.sucuuba apresentaram atividade como inibidores da enzima beta monoamino-oxidase (MAO-B)3. No entanto, como foram encontrados nas cascas podem não ser provenientes da planta e sim de líquens infestantes.

No presente trabalho são descritos os resultados do estudo fitoquímico do extrato hexânico das cascas do caule de H.sucuuba. Este extrato é constituído basicamente por uma mistura de ésteres triterpênicos, que corresponde aproximadamente a 7% do peso do extrato. Estes ésteres triterpênicos foram descritos no gênero Himatanthus11,12. A atividade fungicida apresentada pelo extrato foi monitorada por bioautografia, utilizando-se o fungo fitopatogênico Cladosporium sphaerospermum13-14. A análise das frações bioativas por CGAR-EM, RMN 1H e 13C revelou a presença dos iridóides plumericina 1 e isoplumericina 2.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O extrato hexânico das cascas do caule foi submetido a bioautografia, utilizando o fungo Cladosporium sphaerospermum. A cromatoplaca de sílica foi eluída com uma mistura de hexano e acetato de etila (6:4). Uma zona de inibição intensa na cromatoplaca indicou a presença de substâncias fungitóxicas.

O extrato hexânico foi fracionado em coluna de SEPHADEX-LH 20, usando hexano, diclorometano, acetona e metanol como eluentes. Das oito frações obtidas, a segunda e a terceira frações apresentaram zona de inibição na bioautografia. A cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas destas duas frações mostrou a presença dos iridóides plumericina 1, isoplumericina 2, e de uma mistura de ésteres triterpênicos das séries lupano e ursano, como constituintes em maior proporção na mistura.

Ao extrato hexânico dissolvido em clorofórmio adicionou-se etanol. Este procedimento levou à obtenção de um sólido amorfo que foi cromatografado em coluna de gel de sílica. A eluição da coluna com uma mistura de hexano/benzeno em gradiente de polaridade crescente forneceu uma mistura de duas substâncias e um sólido cristalino. A análise da mistura, por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria massas, mostrou o mesmo íon molecular de m/z 556 para as duas substâncias, compatível com a fórmula molecular C39H56O2. Foram observados íons característicos de triterpenos das séries lupano de m/z 189 (32%) e D12-urseno ou oleaneno de m/z 218 (46%), este último proveniente de um rearranjo de tipo retro- Diels-Alder15-16. O íon de m/z 408 (M+·-148), resultante da perda de C9H8O2 , acompanhado do fragmento de m/z 131 (100%) levaram a suposição da presença de um grupamento cinamoíla no esqueleto triterpênico17-18.

Os espectros de RMN 13C (desacoplado e DEPT 90o e 135o) da mistura registraram os pares de deslocamentos químicos 124.5 (CH) e 139.8 (C), e 109.6 (CH2) e 151,1 (C), característicos para as ligações duplas C(12) - C(13) da série urseno e C(20)- C(29) do grupo isopropilideno do esqueleto lupano19-20, respectivamente. A unidade cinamoila foi confirmada através dos deslocamentos químicos em d 128,2 (C-2' e C-6'), 129,0 (C-3'e C-5'), 130,3 (C-4') e 134,3 (C- 1') do anel aromático e em 119,0, 144,4 e 166,3 da unidade (CH=CH-COO). O par de dubletos no RMN 1H em d 7,70 (1H, J=16Hz) e 6,48 (1H, J=16 Hz) e 7,65 (1H, J=16Hz); e 6,42 (1H, J=16 Hz.) mostram que a ligação dupla tem configuração E21-22. A hidrólise básica desta mistura levou a obtenção de ácido cinâmico, lupeol e a-amirina23, cujas as estruturas foram confirmadas através de seus espectros de massas (CGAR-EM) e co-injeção com padrões.

O sólido cristalino 5mostrou o íon molecular de m/z 468, compatível com a fórmula molecular C32H52O2, e fragmentos no espectro de massas característicos do esqueleto lupano19-21,24-26.

A unidade acetil foi caracterizada pelos espectros de RMN 1H e 13C de 519-21, 24-26, que foi identificado como acetato de lupeol.

O fracionamento guiado por bioensaio das frações bioativas levou à obtenção de uma mistura dos iridóides 1e 2. A análise por CGAR-EM mostrou que ambos os iridóides tem o mesmo peso molecular (M+•290, C15H14O6). Os fragmentos de m/ z 258 (M+•-32, 42%) e de m/z 230 (M+•-60, 85%) são provenientes da perda de MeOH e de formiato de metila, enquanto o de m/z 193 (M+•-97, 78%) é resultante da perda do anel da lactona.

O espectro de RMN 1H desta mistura registrou um par de dubletos de quartetos em d 7,14 (1H, J=1,0 e 7,0 Hz) e 6,80 (1H, J=1,0 e 7,0 Hz), que foram atribuídos ao hidrogênio olefínico no C-13 da plumericina 1e isoplumericina 2, respectivamente.

A avaliação biológica foi feita utilizando a suspensão de esporos do fungo fitopatogênico Cladosporium sphaerospermum. Pelo método da autobiografia utilizando diferentes concentrações das substâncias 1 e 2 , verificou-se que o limite de deteção, tanto para plumericina 1quanto para isoplumericina 2está abaixo de 1mg. Este resultado indica uma atividade fungitóxica para estes iridóides cinco vezes maior do que o observado para o antibiótico nistatina (5mg), usado como padrão.

EXPERIMENTAL Planta- Coletada em janeiro de 1995 no município de Santarém, estado do Pará. A exsicata está depositada no Herbário do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade do Amazonas, Manaus, Amazonas, Brasil, registrada sob No5436.

Extração e separação- 350g de material botânico (casca do caule) de Himatanthus sucuuba, seco e moído, foram submetidos a extração em aparelho Soxhlet por 3 dias, utilizando-se sucessivamente, hexano, clorofórmio e etanol. O resíduo hexânico (28,7g), de coloração laranja e consistência pastosa, foi tratado com clorofórmio e etanol, precipitando 2,0 g de um sólido branco amorfo. 200 mg deste sólido foram cromatografados em coluna de gel de sílica (hexano/benzeno em gradiente crescente de polaridade), fornecendo uma mistura constituída de 3e 4 (58,8 mg) e um sólido 5 (25,2 mg). 6,0 g da fração hexânica bruta foram ainda cromatografados em coluna aberta utilizando SEPHADEX LH-20 (60 g) como fase estacionária e como eluentes hexano, diclorometano, acetona e metanol em gradiente de polaridade crescente fornecendo: (A) C6H14 (5,0 g); (B) C6H14: CH2Cl2 (8:2; m=0,5 g); (C) C6H14:CH2Cl2 (6:4; m=0,3 g); (D) C6H14:CH2Cl2 (2:8; m=0,05 g); (E) CH2Cl2:C3H6 O (8:2; m=0,08 g); (F) CH2Cl2:C3H6 O (6:4; m=0,03 g); (G) CH2Cl2:C3H6 O (2:8; m=0,008 g); (H) MeOH (m=0,002 g).

A cromatografia em camada fina das frações obtidas indicou a presença de substâncias com o mesmo Rf nas frações B e C. Estas frações foram reunidas (m=0,8 g) e cromatografadas em coluna de gel de sílica tendo como eluentes hexano, diclorometano, acetato de etila e metanol em gradiente de eluição. Após a bioautografia das frações (vide procedimento abaixo), a fração eluída com CH2Cl2:AcOEt (8:2,108 mg) foi cromatografada em coluna de gel de sílica com hexano/acetato de etila em gradiente de eluição, obtendo-se oito frações das quais a fração eluída com C6H14 : AcOEt (7:3) é uma mistura constituída pelos iridóides 1 e 2 (16,3 mg).

Hidrólise da mistura de 3 e 4 -45 mg deste material foram refluxados com 6 ml de solução metanólica de KOH a 5% em 60 ml de hexano. Após evaporação do metanol e adição de água, extraiu-se a solução com clorofórmio, obtendo-se uma fração insaponificável, que foi identificada por co-injeção em CGAR como lupeol e a-amirina. A fração aquosa alcalina acidificada com HCl e extraída com acetato de etila forneceu um sólido cristalino que foi identificado por comparação com amostra autêntica, através de CCD, IV e co-injeção em CGAR, como o ácido cinâmico.

Bioensaio - A análise do extrato hexânico foi realizada em cromatografia de camada fina, tendo como sistema de solventes hexano:acetato de etila (6:4).Após o registro das bandas cromatográficas que absorveram na luz ultravioleta, fez- se a aplicação da suspensão, contendo Cladosporium sphaerospermum,sobre a cromatoplaca com subsequente deposição em atmosfera úmida para incubação por um período de dois a três dias.

Suspensão de Cladosporium sphaerospermum - Uma solução contendo KH2PO4 (7 g), Na2HPO4. 2H2O (3 g), KNO3 (4 g), MgSO4. 7H2O (1 g) foi autoclavada a 120oC por 20 minutos. A 60 ml desta solução foram adicionados 10 ml de uma solução de glicose a 30% e, em seguida, adicionou-se o fungoCladosporium sphaerospermumaté obter-se uma suspensão.

Dados físicos e espectrométricos:Plumericina (1). IV(KBr) nmax cm-1 (mistura de 1 e 2): 1757, 1707, 1685 e 1647. EM m/z (int.rel.): 290(30), 230(60), 201 (70), 193(80), 173 (40), 160 (70), 139 (100) e 115 (60). RMN 1H (300 MHz, CDCl3.): d 7,14 (dq, J=1,0 e 7,0 Hz, H-13), 6,04 (dd, J=2,0 e 5,0 Hz, H-6), 5,64 (dd, J=2,0 e 5,0 Hz, H-7), 5,30 (sl, H-10), 4,00 (m, H-5), 3,76 (COOMe), 2,01 (d, J=7,0 Hz, H-14). RMN 13C (75,25 MHz, CDCl3): 102,3 (C-1), 153 (C-3), 38,4 (C- 5), 141,1 (C-6), 126,4 (C-7), 53,9 (C-9), 80,3 (C-10), 144,6 (C-13)27-29.

Isoplumericina (2).IV (KBr) nmaxcm-1(mistura de 1 e 2): 1757, 1707,1685 e 1647.

EM m/z (int.rel.): 290 (29), 230 (94), 201 (100), 193 (80), 173 (40), 160 (98), 139 (90) e 115 (60). RMN 1H.(300 MHz, CDCl3.): d 6,80 (dq, J=1,0 e 7,0 Hz, H-13 ), 6,04 (dd, J=2,0 e 5,0 Hz, H-6), 5,64 (dd, J=2,0 e 5,0 Hz, H-7), 5,30 (sl, H- 10), 4,00 (m, H-5), 3,76 (COOMe), 2,01 (d, J=7,0 Hz, H-14). RMN 13C (75,25 MHz, CDCl3): 102,3 (C-1), 153 (C-3), 38,4 (C-5), 141,16 (C-6), 126,4 (C-7), 53,9 (C- 9), 80,3 (C-10), 144,6 (C-13)27-29.

Cinamato de lupeol (3). IV (KBr) nmaxcm-1: 2940, 2860, 1709, 1638, 1458, 1171, 766 e 706 cm-1. EM m/z (int.rel.): 556[M]+ (2), 408 (2), 337 (2), 218 (46), 190 (14), 189 (32), 131 (100) e 103 (26). RMN 1H (300MHz,CDCl3): d 7.70 (d, J=16,0 Hz, H-7'), 7,35-7,55 (m, Ar-H), 6,42 (d, J=16 Hz, H-8'), 4,67 (m, H-29b), 4,57 (m, H-29a). RMN 13C (Tabela_1).

Cinamato de a-amirina (4). RMN 1H (300 MHz, CDCl3 ): d 7,65 (d, J=16,0 Hz, H- 7), 7,35-7,55 (m, Ar-H), 6,48 (d, J=16,0 Hz, H-8'), 5,14 (t, J=3,4 Hz , H-12).

RMN 13C (Tabela_1).

Acetato de lupeol (5).p.f.154-156oC; IV (KBr) nmaxcm-1: 2950, 1734, 1244 e 1173 cm1. EM m/z: 468 [M]+ (11), 408 (4), 218 (44), 189 (100), 121 (66). RMN 1H (300 MHz,CDCl3): d 4,69 (m), 4,57 (m), 2,04 (s), 1,03 (s), 0,94 (s), 0.85 (s) e 0.79 (s). RMN 13C (Tabela_1) Instrumental -Os espectros de RMN de 1H e 13C (300 e 75,25 MHz, respectivamente) foram obtidos em um espectrômetro Bruker, utilizando CDCl3 como solvente e TMS como padrão interno. A análise por CGAR (Cromatografia Gasosa de Alta Resolução) foi realizada em cromatógrafo HP5890 - Condições: injetor: 260oC; detetor por ionização de chama: 330oC (DIC), gás carreador H2; vazão: 2ml/min; temperatura programada: 250-320oC (5o C/min), 320oC (30min); injeção com divisão de fluxo (20:1); coluna capilar de sílica fundida, fase estacionária SE-54, 25 m, dext=0,3mm, dfase=0,2 nm. CGAR/EM - Cromatógrafo a gás HP-5880 acoplado a um espectrômetro de massas computadorizado HP-5897A com analisador de íons quadrupolo e ionização por impacto de elétrons, 70eV; Temperatura programada: 40o-320oC (10oC/min); injeção on colunm, coluna capilar de sílica fundida, fase estacionária Silarem-30, 10m. dext 0,3 mm. Os espectros de IV foram realizados em espectrômetro Nicolet: Magna-IR 760 Os fracionamentos cromatográficos foram realizados em coluna de vidro, empacotadas com Si 60-MERCK e SEPHADEX LH-20 (PHARMACIA); a CCD foi realizada em cromatofolhas MERCK PL, Si 60 F254, 0,2mm de espessura. Os pontos de fusão foram obtidos em aparelho MICROQUÍMICA MQAPF-301 e não foram corrigidos.


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