EFEITO DA RETIRADA DA INFLORESCÊNCIA MASCULINA NA PRECOCIDADE DA COLHEITA E
PRODUÇÃO DA BANANEIRA-'PRATA-ANÃ' SOB IRRIGAÇÃO NA REGIÃO NORTE DE MINAS GERAIS
EFEITO DA RETIRADA DA INFLORESCÊNCIA MASCULINA NA PRECOCIDADE DA COLHEITA E
PRODUÇÃO DA BANANEIRA-'PRATA-ANÃ' SOB IRRIGAÇÃO NA REGIÃO NORTE DE MINAS GERAIS
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INTRODUÇÃO
A região Norte de Minas Gerais, com clima semi-árido semelhante ao do Nordeste
brasileiro, tornou-se alvo de investimentos públicos em irrigação a partir da
década de 70, dentro dos vários programas nacionais instituídos pelo governo
federal, visando ao desenvolvimento da região, atingida seriamente pelo
problema da seca.
A bananicultura foi introduzida na região após os primeiros testes realizados
pela EPAMIGe, posteriormente, pelos produtores do Perímetro Irrigado do
Gorutuba, situados em Porteirinha-MG. Os primeiros plantios ocorreram já no
início da década de 80, com a variedade Nanicão, que sofreu intenso ataque de
nematóides, comprometendo a sua viabilidade na região. Gradativamente, esta
cultivar foi substituída pela 'Prata-Anã', devido a sua grande aceitação,
melhor remuneração e qualidade de frutos (Souto et al., 1997).
As técnicas de manejo do cacho na pré-colheita, visando à melhoria da qualidade
e precocidade da produção, são bastante difundidas nos países que trabalham
tradicionalmente com a bananeira. Esses países investem na qualidade dos frutos
como resposta a um mercado extremamente exigente, existindo, portanto, uma
grande demanda de pesquisas nesta área, resultando em técnicas como a retirada
da inflorescência masculina. Estas pesquisas, porém, são feitas basicamente com
bananas do subgrupo Cavendish, por serem estas as mais comuns na bananicultura
de exportação, conhecidas mundialmente. No Brasil, esses trabalhos ainda não
são muito comuns, por se considerar que o mercado não é tão exigente na
qualidade dos frutos. No entanto, existem alguns trabalhos realizados com as
cultivares Nanica, Nanicão, Prata comum e Terra, sob condições de sequeiro. Há,
portanto, escassez de trabalhos com a 'Prata-Anã' irrigada, cultivar muito
difundida e plantada hoje em várias regiões do Brasil.
Pesquisadores trabalhando com diferentes cultivares de bananeira concluíram que
a retirada da inflorescência masculina acelera o processo de desenvolvimento
dos frutos (Simmonds, 1961; Nóbrega, 1967; Pereira et al., 1981; Vitti e
Ruggiero, 1984; Manica e Gomes, 1984; Moreira, 1987; Lichtemberg et al., 1991;
Durigan e Ruggiero, 1995). No entanto, em trabalhos realizados com a 'Prata'
comum e com a bananeira-da-'Terra', não foi observado este efeito (Gregory,
1955; Souza et al.,1971, e Pereira et al., 1981).
Em relação à produção, a retirada da inflorescência masculina aumentou o peso
do cacho (Durigan e Ruggiero, 1995; Moreira, 1987; Manica e Gomes, 1984;
Boncato, 1970; Champion, 1963; Simmonds, 1961; Trupim, 1959; Wills, 1951)e
tamanho do cacho (Manica e Gomes, 1984 e Borges et al., 1997). Além destes
parâmetros, Lichtemberg et al. (1991) observaram aumento no tamanho dos frutos.
Esses resultados diferem dos encontrados por Pereira et al. (1981), Souza et
al. (1971),Sampaio e Simão (1970) e Gregory (1955) que não observaram aumento
de peso do cacho.
Segundo Simmonds (1961), a retirada da inflorescência melhora a qualidade dos
frutos. Esta prática visa também melhoria da forma dos frutos (Manica e Gomes,
1984), com aumento de comprimento dos mesmos (Moreira, 1987; Durigan e
Ruggiero, 1995). Monge (1984), citado por Soto (1992), observou melhora no
índice de curvatura das frutas, tornando-as mais retas. Já Souza et al. (1971)
não observaram aumento no comprimento e diâmetro dos frutos quando trabalharam
com a 'Prata' comum.
Segundo Manica e Gomes (1984), Vitti e Ruggiero (1984), Nóbrega (1967), Trupim
(1959) e Wills (1951), a retirada da inflorescência reduz o peso total do
cacho, reduzindo assim o tombamento da planta.
A retirada da inflorescência masculina é recomendada também para o controle de
doenças como o Moko (Soto,1992, e Manica e Gomes, 1984)e pragas como o tripes
(Borges et al., 1997; Souto et al., 1997; Durigan e Ruggiero, 1995; Manica e
Gomes, 1984; Vitti e Ruggiero, 1984; e Lozano et al.,1970)e a traça da
bananeira (Moreira, 1987).
Simmonds (1961) salienta que, enquanto esta prática de remoção da
inflorescência masculina é comum em Queensland, ela é proibida por lei em New
South Wales, visto que é na inflorescência masculina que a doença conhecida
como "bunch-top" pode ser prontamente reconhecida.
Esta prática facilita a ocorrência de podridões no eixo floral (Manica e Gomes,
1984). Champion (1963) observou que, apesar de ser uma prática corrente nas
Canárias, nas estações úmidas ocorrem podridões no interior da ráquis,
comprometendo a conservação do cacho após a colheita. Pereira et al.(1981),
Souza et al. (1971) e Sampaio e Simão (1970), trabalhando com as cultivares
Terra, Prata comum e Nanicão, respectivamente, não observaram esse problema.
Além dos efeitos diretos sobre o cacho, Vitti e Ruggiero (1984) relatam que a
inflorescência eliminada, a ráquis e o engaço podem ser aproveitados como fonte
de nutrientes, particularmente de potássio, ou pela disponibilidade e
mineralização rápida dos restos vegetais, reduzindo assim a quantidade de
adubos minerais a ser utilizada. Além destes benefícios, Simmonds (1961) relata
que a parte masculina da inflorescência da bananeira é removida para servir de
alimento aos animais.
Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de verificar o efeito da retirada
da inflorescência masculina da 'Prata-Anã' sobre as características dos frutos
e precocidade de produção.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental de Mocambinho (FEMO)
pertencente a EPAMIG (CTNM), localizada no Perímetro Irrigado do Jaíba,
localizado no extremo Norte do Estado de Minas Gerais entre 43o 29' e 44o 6' de
longitude, 14o 33' e 15o 28' de latitude Sul com altitude de aproximadamente
500 m. A pluviosidade média anual é de aproximadamente de 871mm, a temperatura
média anual é de 24 oC, a insolação é de 2763 horas anuais e a umidade relativa
média é de 70,6%. O solo foi classificado como Latossololo Vermelho-Amarelo
Distrófico, com 22%de argila, 68%de areia e 10%de silte (classe textural
franco-argilo-arenosa) e cultivado pela primeira vez. Foi feita amostragem do
solo antes do preparo da área. As devidas correções foram feitas com aração
seguida de calagem, gradagem e preparo dos sulcos. Adicionaram-se 3,2 litros de
esterco de galinha por metro linear de sulco, formaram-se as covas com adição
de fosfato e micronutrientes.
As mudas obtidas por cultura de tecidos foram repicadas para sacos de
polietileno, onde permaneceram por 30 dias e então levadas ao campo. O plantio
foi feito no dia 20-07-96, em covas de 40x40x40 cm abertas sobre sulcos de 30
cm de profundidade, no espaçamento 3,0 x 2,7m.
A irrigação foi realizada com aspersão convencional nos primeiros 45 dias,
sendo então substituída por microaspersão. Como o solo possui baixa capacidade
de retenção de água, a irrigação foi feita diariamente, calculando-se a lâmina
de água com base na evaporação do Tanque Classe A e Kc da cultura. Utilizou-se
Kc recomendado por Doorembos e Kassam (1994), porém mantendo o valor 1, a
partir do oitavo mês. Todos os dados climáticos necessários ao cálculo da
irrigação foram obtidos na estação meteorológica do INMET localizada na FEMO.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com 2
tratamentos, 22 repetições e 3 plantas por parcela. Os tratamentos foram
representados por poda da inflorescência masculina (sem inflorescência) e sem
poda da inflorescência masculina (com inflorescência). A retirada da
inflorescência foi feita quebrando a inflorescência quando à distância entre
esta e a última penca atingia 15 a 20 cm.
A colheita foi feita quando os cachos apresentavam os frutos no estádio
"de vez", quando ocorreram as mudanças da tonalidade dos frutos de
verde-escuro para verde-claro.
Foi feito controle de broca e sigatoka amarela através de monitoramento. Foram
avaliados os seguintes parâmetros, nos três primeiros ciclos de produção: dias
entre o ponto de retirada da inflorescência e a colheita, peso do cacho (kg),
peso total de frutos (kg), peso médio de frutos (g), peso médio de pencas (kg),
comprimento do fruto central da segunda penca (cm), diâmetro do fruto central
da segunda penca (cm), diâmetro do fruto central da segunda penca (cm), peso do
fruto central da segunda penca (g), espessura de casca do fruto central da
segunda penca (mm), peso da penca 1 (kg), peso penca 2 (kg), peso da penúltima
penca (kg), peso da última penca (kg), peso do engaço (kg), peso da ráquis (kg)
e comprimento da ráquis (cm). Foi feita análise estatística dos dados e análise
das médias pelo teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliados os dados, foram obtidos, nos três primeiros ciclos, os resultados
apresentados na Tabela_1. Os dados do primeiro ciclo demonstraram resposta
positiva à retirada da inflorescência, para os parâmetros dias entre o ponto da
retirada da inflorescência e a colheita, peso total de frutos, peso médio de
frutos, peso médio de pencas, diâmetro do fruto central da segunda penca, peso
do fruto central da segunda penca, espessura de casca do fruto central da
segunda penca, peso da penca 2, peso da penúltima penca, peso médio dos frutos
da última penca, peso do engaço, confirmando as afirmações feitas por Borges et
al. (1997), Lichtemberg et al. (1991), Moreira (1987) e Manica e Gomes (1984).
Portanto, a retirada da inflorescência masculina aumentou o rendimento do
cacho, produziu frutos com maior diâmetro e antecipou a colheita em 11 dias.
Esses resultados provavelmente ocorreram em função da eliminação do dreno de
fotoassimilados representado pela inflorescência masculina, que, para a 'Prata-
Anã' é exageradamente grande e que, neste caso, teve peso médio de 1,56 kg.
Não houve diferença significativa para o peso da última penca; no entanto,
houve uma grande diferença entre o número de frutos da última penca dos cachos
avaliados, variação esta que alcançou até 50 % em torno do número médio (12
frutos). Esta variação indica a presença de frutos falsos, que podem ter
influenciado o resultado, uma vez que houve resposta ao tratamento para peso
médio dos frutos da última penca da planta-mãe e neta, e tendência de aumento
na planta-filha.
Não houve diferença também para comprimento do fruto central da penca 2 e peso
da penca 1. Como a retirada da inflorescência é feita cerca de 20 dias após a
antese, o comprimento dos frutos das pencas 1 e 2 já está praticamente
definido. Estes resultados concordam com as observações feitas por Soto (1992),
quando afirma que o comprimento final dos frutos é alcançado num período de 30
a 35 dias após a floração, nas variedades do subgrupo Cavendish. Segundo Medina
et al. (1985), amadurece uma penca por dia, sendo que a diferença de idade das
pencas está relacionada com o número de pencas do cacho.
Como era esperado, o segundo ciclo apresentou produtividade superior ao
primeiro, com peso total de frutos 19 % maior. Porém, só respondeu
positivamente ao tratamento o parâmetro precocidade de produção, sendo que a
retirada da inflorescência masculina reduziu o ciclo em 13 dias. Apesar de não
haver diferença estatística, houve tendência de aumento para os outros
parâmetros, exceto para peso da penca 1 e peso da última penca, confirmando os
resultados do primeiro ciclo. As plantas do segundo ciclo floresceram em junho/
julho, e as baixas temperaturas que ocorreram no período de crescimento destes
cachos, cuja média mínima de julho foi de 13,6oC, podem ter reduzido o
crescimento delas e ter sido responsável pela resposta não significativa aos
tratamentos. Já no terceiro ciclo, houve aumento no peso do cacho, além de
aumento nos parâmetros de produção, concordando com os resultados obtidos na
primeira colheita.
CONCLUSÕES
1 - Com a retirada da inflorescência masculina, houve aumento de rendimento do
cacho representado por peso total e médio de frutos, e diâmetro médio dos
frutos no primeiro e terceiro ciclos. Na colheita do terceiro ciclo, houve
aumento no peso do cacho, além de aumento no peso total e médio de frutos, peso
médio de pencas, comprimento, diâmetro e peso do fruto central da segunda
penca, peso médio dos frutos da última penca, peso da penúltima penca,
concordando com os resultados obtidos na primeira colheita. Apesar da tendência
de aumento, o segundo ciclo não apresentou resposta aos tratamentos, para os
parâmetros de produção.
2 - Houve redução no período entre floração e colheita, nos dois primeiros
ciclos de produção, quando a inflorescência masculina foi retirada. Esta
tendência também foi observada no terceiro ciclo, mas não houve diferença
estatística.