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BrBRCVAg0100-29452001000200026

BrBRCVAg0100-29452001000200026

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
ano2001
Issue0002
Article number00026

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CARACTERIZAÇÃO DE FRUTOS E ÁRVORES DE CAGAITA (Eugenia dysenterica DC.) NO SUDESTE DO ESTADO DE GOIÁS, BRASIL CARACTERIZAÇÃO DE FRUTOS E ÁRVORES DE CAGAITA (Eugenia dysenterica DC.) NO SUDESTE DO ESTADO DE GOIÁS, BRASIL1

INTRODUÇÃO Eugenia dysenterica DC. (Myrtaceae), popularmente conhecida como "cagaita" ou "cagaiteira", é uma árvore frutífera nativa dos cerrados de até 10 m de altura, de tronco e ramos tortuosos, casca grossa, fissurada. Os frutos têm formato globoso, bagáceo, cor amarelo-clara, levemente ácido, epicarpo membranoso, com peso entre 14 a 20 g, comprimento de 3 a 4 cm e diâmetro de 3 a 5 cm, (Rizzini, 1971; Ribeiro et al., 1986; Naves et al., 1995) (Figura_1). A cagaiteira apresenta tanto autofecundação quanto fecundação cruzada, sendo a polinização realizada principalmente pelas mamangavas das espécies Bombus atratus e B. morio,no período da manhã (Proença & Gibbs, 1994). Ocorre em áreas de cerrado e cerradão, estando adaptada a solos pobres; portanto, supõe-se que é pouco exigente em fertilidade (Naves, 1999). A cagaita foi estudada, destacando-se germinação e armazenamento de sementes (Machado et al., 1986; Farias Neto et al., 1991; Naves et al., 1992), fenologia e estratégia de florescimento (Proença & Gibbs, 1994; Sano et al., 1995), caracterização e armazenamento de frutos (Rizzini, 1971; Calbo et al.,1990; Silva et al.,1992).

Os frutos de cagaita são consumidos in natura ou processados (licor, sorvete, suco, geléia). Esta espécie faz parte da flora apícola do cerrado e suas folhas e cascas são utilizadas na medicina popular como antidiarréico, para diabete e icterícia. Tem potencial para utilização como planta ornamental, como fornecedora de cortiça e sua madeira pode ser empregada para obras da construção civil, lenha e carvão (Brandão & Ferreira, 1991; Ribeiro et al., 1992).

Partindo da hipótese de que existe variabilidade disponível para ser explorada em programas de seleção para caracteres de frutos e plantas, objetivou-se, neste trabalho, obter informações sobre a variabilidade existente em cagaita, no Sudeste de Goiás, avaliando as características físicas dos frutos e descrevendo as árvores quanto a alguns aspectos morfológicos

MATERIAL E MÉTODOS Selecionaram-se 10 áreas no Sudeste do Estado de Goiás, compreendidas entre as latitudes 16°28'48" S a 18°17'15'' S e longitudes 47°31'07'' W a 49°14'42'' W e entre as altitudes 740 m a 930 m, considerando-se como propícia para coleta de dados aquelas que possuíssem no mínimo 20 plantas adultas de cagaiteira em um raio de 1,0 km. Denominou-se "subpopulação" o conjunto de plantas amostradas, levando-se em consideração uma distância mínima de cerca de 20 km entre áreas.

Coletaram-se, em outubro de 1996, frutos para caracterização física, com o seguinte procedimento: os galhos de cada árvore foram balançados, aparando-se os frutos com auxílio de uma rede colocada sob sua copa; esta operação foi repetida nos quatro quadrantes de cada árvore, formando-se uma amostra composta. Uma subamostra contendo 12 frutos intactos e individualizados por árvore foi retirada aleatoriamente desta amostra.

No Laboratório de Fitotecnia, da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia-GO, realizaram-se as análises físicas individualizadas por fruto: peso dos frutos (PF) e das sementes (PS); diâmetros longitudinal (DLF) e transversal do fruto (DTF); cor do fruto (CF), sendo avalianda a coloração externa do fruto por meio de uma escala de cores feita com seis frutos, atribuindo-se notas de 1 (completamente amarelo) a 6 (completamente verde) e número de semente por fruto (NS); o peso total de sementes (PTS); peso médio de sementes por fruto (PMS) obtido a partir da pesagem individual das sementes e o peso de polpa e casca (PPC), obtido através da diferença entre o peso do fruto e o peso da(s) semente(s).

Coletou-se das árvores dados relativos às variáveis: altura da planta (AP), diâmetro de projeção da copa nos sentidos norte-sul e leste-oeste, obtendo-se diâmetro médio de copa (DMC) e área basal (ABa), calculada a partir da circunferência do colo ao nível do solo.

Para as variáveis dos frutos, além da estimativa da média, coeficiente de variação e intervalo de variação, procedeu-se à análise de variância, utilizando-se como repetições dos dados de frutos dentro de plantas, a partir de um modelo hierárquico que considera os efeitos entre subpopulações, plantas dentro de subpopulações e frutos dentro de plantas. Calcularam-se também os coeficientes de correlação fenotípica entre as variáveis de fruto a partir das médias das plantas. Para as variáveis das árvores, estimaram-se a média, coeficiente de variação e intervalo de variação, considerando-se os dados gerais e por subpopulação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Vinte e três por cento dos frutos mostraram-se próximos ao intervalo de 14 a 20 g encontrado por Silva et al.(1992) na região de Planaltina-DF, e 53% entre o intervalo de 11 a 33,8 g, citado por Naves et al. (1995), de uma população de plantas de Senador Canedo-GO. Os intervalos de variação para diâmetro longitudinal de fruto (DLF) e diâmetro transversal de fruto (DTF) foram maiores do que os encontrados por Ribeiro et al. (1985), na região de Planaltina-DF, e Naves et al. (1995). Com relação ao formato dos frutos, este apresentou, em geral, DLF menor do que DTF, apresentando na média por subpopulação razão DLF/ DTF de 0,84, com variação de 0,80 a 0,86, tendo como característica aspecto de fruto achatado ou globoso (Tabela_1).

Dentre todos os caracteres físicos de fruto, o peso de polpa e casca (PPC) apresentou-se como o de maior importância para exploração econômica, principalmente processamento de frutos, pois é esta a parte aproveitável do fruto. Nas populações avaliadas, o PPC variou de 80% a 87% do peso do fruto e com média de 83,2%, mostrando a possibilidade de seleção de frutos com maior PPC e, conseqüentemente, alto rendimento de polpa para indústria.

O número de sementes (NS) por fruto foi bastante variável, como citam Ribeiro et al.(1985) e Silva et al. (1992). Cerca de 97% dos 1344 frutos observados apresentaram de 1 a 3 sementes/fruto, similar aos valores relatados pelos autores referidos. Rizzini (1970) relatou a presença de frutos contendo 5 sementes, observado, neste trabalho, em 2 frutos. Constatou-se, ainda, a presença de 1 fruto com 6 sementes, fato não relatado na literatura pesquisada.

O peso da semente representa, em média, 16% do peso total do fruto.

Observou-se que, para todos os caracteres de frutos, a variação entre as plantas foi significativa, bem como a variação entre e dentro de subpopulações.

Telles (2000) analisou progênies das mesmas subpopulações utilizando marcadores enzimáticos. Os resultados encontrados mostraram que variação entre subpopulações em relação à população total foi de 16,4%. Isto mostra a existência de diferenças genéticas entre as subpopulações. A variação fenotípica existente deve ser bastante influenciada por componentes ambientais não controlados, tais como a condição de antropização, o solo, o clima, a idade da planta, além das diferenças genéticas.

O peso de fruto apresentou correlação positiva e significativa ao nível de 1% de probabilidade, com as seguintes variáveis: DLF (0,8964), DTF (0,9809), PPC (0,9943), PTS (0,6292) e PMS (0,6225). A variável NS apresentou correlação negativa e significativa em nível de 1% de probabilidade com PMS (-0,5472). A correlação entre PTS e NS (0,2176) apresentou-se positiva e significativa a nível de 5% de probabilidade. O número de sementes independe do tamanho do fruto, pois as variáveis que indicam tamanho, peso de fruto e número de sementes por fruto, apresentaram correlação não significativa. A cor dos frutos mostrou variação independente de todas as demais variáveis, não sendo influenciada pelo tamanho dos frutos. Isto mostra que alguns frutos, mesmo tendo atingido a maturação completa, ainda não tinham iniciado o processo de amadurecimento.

O intervalo de variação para a altura de planta (Tabela_2) foi superior ao citado por Rizzini (1971). As plantas da subpopulação 9 apresentaram altura média bem superior às demais, provavelmente devido a esta subpopulação estar localizada em área urbana, com forte alteração antrópica, onde as árvores se encontravam isoladas, e sem competição por água, luz e nutrientes. As subpopulações 1 e 8 encontravam-se em áreas de cerrado stricto sensu, sem alteração antrópica marcante, e a altura média das plantas avaliadas nestas áreas não diferiram da citada em literatura para este tipo fisionômico de cerrado (Naves et al., 1995), apresentando valores pouco abaixo das demais áreas. As demais subpopulações encontravam-se em áreas com diferentes graus de antropização, geralmente em pastagens "sujas" com presença de capim- braquiária (Brachiaria decumbens), onde não foram executadas roçagens freqüentes.

Vinte porcento das árvores apresentaram diâmetro médio de copa (DMC) acima de 8,00 m, valor maior que os relatados em pesquisas anteriores. As subpopulações 1 e 8 apresentaram as menores médias de DMC, mostrando mais uma vez o efeito da competição em áreas pouco antropizadas. A média de área basal (ABa) foi de 0,0687 , o que corresponde a 0,86 m de circunferência de tronco. Os valores encontrados para esta variável foram semelhantes aos encontrados por Ribeiro et al. (1985) para áreas de cerrado em Planaltina-DF. Nas áreas com pequena ação antrópica (subpopulações 1 e 8 e parte da sub-população 7), as cagaiteiras apresentaram menor área basal; o contrário pode ser observado em áreas mais antropizadas (subpopulações 4; 5; 9 e 10), onde os exemplares se encontravam mais isolados. De acordo com Naves (1999), as plantas de cagaita mostram certa exigência por luminosidade, visto pela maior área basal quando encontradas em áreas mais abertas.

CONCLUSÕES 1. Existe variação fenotípica entre subpopulações e entre plantas dentro de subpopulação para os caracteres morfométricos de frutos.

2. A cagaita mostra grande variação quanto às características morfológicas das árvores.

3. Os frutos de maior peso ou tamanho serão preferidos para industrialização por apresentarem maior peso de polpa e casca, conseqüentemente, maior rendimento no processamento.


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