GERMINAÇÃO IN VITRO DE MANGABEIRA (Hancornia speciosa Gomez) EM DIFERENTES
MEIOS DE CULTURA
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
O fruto da mangabeira é muito apreciado no Nordeste, apresenta boa
digestibilidade e valor nutritivo, com teor de proteína (1,3 a 3,0%) superior
ao da maioria das frutíferas. O recente desenvolvimento do mercado de frutas
tropicais no Brasil despertou o comércio de polpas congeladas para a produção
de sucos, sorvetes, licores, etc. No Nordeste, onde é explorada de forma
extrativista, esta espécie vem sofrendo acelerado processo de erosão genética
em razão da expansão imobiliária na baixada litorânea e da monocultura da cana-
de-açúcar nos tabuleiros. Adicionalmente, sua propagação por métodos
tradicionais é dificultada pelo fato de suas sementes serem recalcitrantes e a
polpa do fruto ter uma ação inibitória sobre a germinação das sementes
(Gricoletto, 1997). Estudos de meios de cultura que favoreçam a germinação in
vitro desta espécie são importantes tanto para maximizar a taxa de germinação,
como para obter plântulas com qualidade genética e fitossanitária adequada.
Alguns estudos realizados in vivo, independentemente da espécie, mostram que o
suprimento adequado em água, composição de gases e temperatura convenientes,
assim como a luz, é requisitos fundamentais para a germinação (Toledo &
Marcos Filho, 1977; Mayer & Poljakoff-Mayber,1982; Bewley, 1984; Borges
& Rena, 1993). Outros apontam que o tratamento de sementes com giberelinas
e citocininas pode promover a germinação (Melo et al., 1979). No caso da
mangabeira, as mais altas e rápidas taxas de germinação de sementes em campo
ocorreram em ambiente de pleno sol e sementes na superfície (Fonseca et al.,
1994), embora a percentagem de germinação desta espécie seja normalmente baixa
(Lorenzi, 1992). Como o número de trabalhos publicados no que se refere à
germinação de sementes de mangaba in vitro é bastante reduzido e dada a sua
importância econômica, este estudo relata a influência de diferentes meios de
cultura na germinação
in vitro
de sementes desta espécie.
As sementes de mangabeira foram retiradas de frutos coletados a partir de
plantas matrizes vigorosas previamente selecionadas, marcadas e mapeadas.
As sementes foram extraídas após a maceração e despolpamento dos frutos maduros
sobre peneiras; em seguida, foram lavadas em água corrente e imersas em uma
solução de hipoclorito de sódio (2,5% de cloro ativo) durante 10 minutos. Este
tratamento permitiu uma maior facilidade na retirada da polpa do fruto que é de
consistência pegajosa devido à presença do látex. As sementes foram, mais uma
vez, lavadas em água para remover inibidores de germinação que pudessem existir
na polpa. Posteriormente, foram colocadas para secar a sombra, sobre papel de
filtro, em local ventilado. Para estudar a influência de diferentes meios de
cultura, da sacarose e do ácido giberélico na germinação in vitro, foram
constituídos três grupos experimentais. No grupo experimental I, das 640
sementes utilizadas, 320 foram escarificadas mecanicamente para a remoção do
tegumento, e 320 permaneceram intactas. A seguir, todas as 640 sementes foram
desinfestadas superficialmente, utilizando etanol 70% (p/v) e hipoclorito de
sódio 10%. O excesso do agente desinfestante foi retirado com lavagens em água
destilada estéril. As sementes com e sem tegumento foram inoculadas em meio MS
líquido, MS sólido, água de coco e água destilada. No grupo experimental II,
600 sementes sem tegumento foram inoculadas em meio MS líquido e MS sólido
suplementado com diferentes concentrações em sacarose (0,0; 10; 30; 60 e 90 g/
L). No grupo experimental III, 480 sementes destituídas de tegumento foram
inoculadas em MS sólido e líquido, suplementados com 0,0; 0,1; 0,3 e 0,5 mg/
L de ácido giberélico (GA3). O meio MS continha sais minerais MS (Murashige
& Skoog, 1962) e mistura orgânica de White (White, 1951), sendo
solidificado com ágar (6g/L). O pH do meio foi ajustado para 5,7 antes da
autoclavagem. Os frascos contendo as sementes foram incubados a 24oC ±1 sob 16/
8 horas de luz e escuro. Todos os meios foram distribuídos em frascos de vidro
medindo 8,5 cm de altura e 5,0 cm de diâmetro, a uma razão de 50 ml por frasco.
Os frascos foram então autoclavados durante 20 minutos a 127OC. Após o
resfriamento, foram inoculadas 4 sementes em cada frasco que, em seguida, foram
vedados com tampas plásticas. A taxa de germinação foi calculada trinta dias
após a inoculação das sementes, nos diferentes tratamentos, utilizando a
seguinte fórmula: TG = NTSG * 100 / NTSI onde ; TG = Taxa de germinação, NTSG =
Número total de sementes germinadas e NTSI = Número total de sementes
inoculadas. O experimento foi conduzido em blocos ao acaso. Os resultados
obtidos foram analisados estatisticamente através da análise de variância, onde
os dados de germinação (em porcentagem) foram convertidos em valores angulares,
determinando-se a diferença mínima significativa (DMS) pelo teste de Turkey, ao
nível de 5 % de probabilidade, de acordo com Snedecor & Cochram, 1967. Nos
gráficos, letras diferentes entre os tratamentos mostram diferenças
significativas.
A maior percentagem de germinação foi obtida com sementes sem tegumento,
inoculadas em MS líquido (Figura_1). No entanto, não houve diferenças
significativas entre os meios MS líquido e o MS sólido. As elevadas taxas de
germinação obtidas nos 2 meios, em relação aos demais (água de coco e água
destilada), podem ser justificadas pelo fato de existir no meio MS uma maior
disponibilidade em macro, micronutrientes, vitaminas e aminoácidos necessários
ao processo de germinação. De acordo com Lorenzi (1992), normalmente, a
percentagem de germinação de sementes de mangaba é baixa devido não só à
presença de inibidores na polpa como também ao fato de as sementes de mangaba
serem recalcitrantes. Neste estudo, taxas de germinação acima de 90 % foram
obtidas (Figura_1); provavelmente, isto se deve à remoção da polpa do fruto e à
rápida inoculação das sementes realizada logo após a colheita dos frutos,
evitando, possivelmente, a perda d'água e mantendo e a viabilidade da semente.
Trabalhos realizados anteriormente por Parente & Machado (1986) reforçam
que a remoção da polpa aumenta a percentagem de germinação.
Na ausência (controle) e na presença de 10 g/L de sacarose, observaram-se as
maiores taxas de germinação. Nas concentrações acima desta faixa, ocorre uma
redução na percentagem de sementes germinadas tanto em meio sólido quanto em
meio líquido (Figura_2). Tais constatações, provavelmente, se devam ao fato de
que a semente já possua em sua reserva nutritiva um teor de sacarose que lhe
permita a emergência da plúmula e da radícula; adicionalmente, o excesso de
sacarose colocado no meio extracelular pode ter provocado uma maior perda de
água devido à pressão osmótica exercida sobre a semente (Torres, A. C.
comunicação pessoal). Estudos realizados in vivo, independentemente da espécie,
mostram que o suprimento adequado em água, composição de gases e temperatura
convenientes, assim como a luz, são requisitos fundamentais para a germinação
(Toledo & Marcos Filho, 1977; Mayer & Poljakoff-Mayber,1982; Bewley,
1984; Borges & Rena, 1993). Neste estudo, os frascos contendo as sementes
foram incubados a 24oC ±1, ou seja, dentro da faixa ótima de temperatura (entre
20 e 30oC) de germinação de sementes de mangaba, segundo Oliveira (1989), e sob
16/8 horas de luz e escuro, não interferindo, portanto, na germinação, uma vez
que as sementes deH. speciosa são indiferentes à luz (Oliveira,1989).
De acordo com Melo et al. (1979), tratamento de sementes com giberelinas e
citocininas pode promover a germinação. Neste estudo, observou-se que a adição
de 0.1 mg/L de ácido giberélico (GA3), tanto em meio MS líquido quanto em meio
sólido,favoreceu a germinação de sementes. No entanto, concentrações iguais ou
superiores a 0.3 mg/L de cultura provocaram uma diminuição na percentagem de
sementes germinadas (Figura_3). Provavelmente, as sementes de mangabeira
necessitem de uma quantidade mínima de hormônio para estimular a germinação,
sendo o seu excesso inibidor e, eventualmente, tóxico; pois, fisiologicamente,
os hormônios podem estar relacionados com o desenvolvimento das sementes ou
podem estar sendo acumulados para a sua subseqüente participação no controle da
germinação e crescimento da plântula (Bewley & Black, 1983).
Nas condições em que foram realizados estes experimentos, pode-se concluir que:
1. A escarificação, ou seja, a retirada do tegumento, favorece a germinação de
sementes de mangaba.
2. A adição de sacarose no meio de cultura não favorece a germinação de
sementes de mangaba.
3. O tratamento de sementes de mangaba com 0,1 mg/L de ácido giberélico
favorece a germinação.