DESENVOLVIMENTO INICIAL DA GRAVIOLEIRA SOB FONTES E NÍVEIS DE SALINIDADE DA
ÁGUA
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
A graviola é uma frutífera tropical com perspectivas de produção e mercado em
quase todo o território brasileiro. Particularmente nas regiões semi-áridas do
Nordeste, as condições de temperatura, umidade relativa do ar, fotoluminosidade
e natureza física dos solos são propícias à sua exploração. No entanto, a baixa
pluviosidade e a distribuição irregular das chuvas indicam que o cultivo é
dependente da irrigação. Neste contexto, o conteúdo e a composição salina da
água podem constituir-se na mais forte limitação ao estabelecimento das
frutíferas, em geral, inclusive da graviola, como evidencia Carvalho (1999).
Os sais da água de irrigação ou aqueles já existentes no solo podem exercer
efeitos prejudiciais às plantas nas suas distintas fases. Há espécies que são
mais sensíveis durante o processo de germinação e, após este período, vão se
ajustando paulatinamente ao estresse salino. Há aquelas que toleram maior nível
de salinidade até a emergência das plântulas e são menos tolerantes durante a
fase de crescimento. Há também as que são mais fortemente afetadas durante a
floração e frutificação que por ocasião do processo germinativo e crescimento
inicial (Bernistein, 1964; Ayers & Westcot, 1991).
As frutíferas, como a maioria das plantas cultivadas, sofrem os efeitos
depressivos dos sais tanto em função da concentração como da espécie iônica.
Isto significa que a germinação das sementes, crescimento e desenvolvimento,
rendimento biológico e produtivo das plantas podem ser diferenciadamente
afetados tanto pelos níveis salinos de uma mesma fonte como pelo mesmo índice
de diferentes tipos de sais (Strogonov, 1964; Cordeiro, 1997; Santos, 1999).
Quanto ao comportamento das anonáceas à salinidade, especificamente da
gravioleira, as informações científicas são importantes tanto com referência à
germinação das sementes como durante o crescimento inicial das plantas. Neste
sentido, Oliveira (1991), ao submeter plântulas de graviola comum em solos com
salinidade, a partir de cloreto de sódio, aos níveis de 2,0; 4,0; 6,0 e 8,0
dSm-1, constatou que o índice salino do solo igual ou superior a 4,0 dSm-
1 reduziu expressivamente o crescimento e a qualidade das mudas.
Com referência à qualidade da água de irrigação, Silva (1997) obteve mudas de
graviola com maior crescimento em altura, número de folhas e comprimento da
raiz principal quando irrigadas com água salina de condutividade elétrica de
2,0 dSm-1. Resultados discordantes aos de Santos (1998), onde a salinidade da
água ao nível de 1,99 dSm-1, com mistura de cloreto de cálcio e cloreto de
sódio, inibiu significativamente o desenvolvimento e a qualidade fitotécnica
das plantas.
Este trabalho teve como objetivo estudar os efeitos de fontes e níveis de
salinidade da água de irrigação sobre algumas variáveis durante o crescimento
inicial da gravioleira.
O trabalho foi desenvolvido em abrigo telado do Departamento de Fitotecnia/CCA/
UFPB, no período de fevereiro a julho de 1999. Os tratamentos foram
distribuídos em blocos inteiramente casualizados, com cinco repetições, em
esquema fatorial 3x6, correspondente a três fontes de sais: água de barragem,
água acrescida em cloreto de sódio e água acrescida em cloreto de magnésio
hexaidratado em seis níveis de salinidade, expressos pela condutividade
elétrica 0,5; 1,0; 2,0; 3,0; 6,0 e 9,0 dSm-1. Os índices de salinidade da água
de barragem foram obtidos a partir de um reservatório de superfície altamente
salino de 27,00 dSm-1, mantendo-se constante o volume da água salgada e
diluindo-se com água de abastecimento urbano com salinidade de 0,5 dSm-1 para
cada valor de condutividade elétrica programado. Nas fontes ricas em cloreto de
sódio e cloreto de magnésio, com 97% de pureza, os valores de condutividade
elétrica das águas foram quantificados usando-se a equação: Cs = [0,01(Ceas -
Ceau) Peq]/0,97, apresentada por Lima (1999), onde Cs = concentração de cada
fonte (gL-1); Ceas = condutividade elétrica a 25ºC da água relativa a cada
fonte salina (dSm-1); Ceau = condutividade elétrica a 25ºC da água de
abastecimento urbano (dSm-1) e Peq = peso equivalente.
O substrato constou de uma mistura, em partes iguais, de areia lavada, esterco
bovino (relação C/N = 13:1) e terra vegetal (terriço), acondicionado em bolsas
de polietileno preto com 40cm de altura e 25cm de diâmetro, onde foram semeadas
cinco sementes de graviola, Annona muricata L, cultivar Morada por repetição.
Após a preparação da mistura, a condutividade elétrica do substrato era de 6,9
dSm-1 devido à solubilização dos constituintes iônicos da matéria orgânica.
Para deduzir este índice de salinidade, cada unidade experimental foi irrigada
com água não salina durante 15 dias; em seguida, foi efetuada uma lavagem do
substrato, e o teor salino do extrato de saturação foi reduzido para 2,2 dSm1
e, portanto, a mistura encontrava-se em situação não salina (Richards, 1954).
Trinta dias após a germinação, efetuou-se o desbaste mantendo-se as duas
plantas mais vigorosas por unidade experimental.
A irrigação, durante a condução do ensaio, foi feita fornecendo-se o mesmo
volume de cada tipo de água, sem provocar molhamento das plantas e em
consequência deposição de sais nas folhas e caules.
Aos 150 dias após a semeadura, quando as plantas estavam com 4 a 6 pares de
folhas, foram avaliados a área foliar e o rendimento biológico das folhas. Os
dados da área foliar foram obtidos pelo produto do comprimento pela maior
largura e corrigidos com base no fator 0,84, que foi o coeficiente entre a área
real e a estimada. Amostras dos substratos, na metade superior de cada
repetição, foram coletadas para a determinação da condutividade elétrica da
pasta saturada (Richards, 1954). Os resultados foram submetidos à análise de
variância pelo teste "F" ,comparação de médias pelo teste de Tukey e
análise de regressão polinomial. Na discussão, foram utilizados os valores
relativos de cada variável tomando-se como 100% aqueles dos tratamentos com
água de menor índice salino (Maas & Hoffman, 1977).
A área foliar (Tabela_1), independentemente da fonte salina, aumentou quando as
plantas foram irrigadas com água de condutividade elétrica de até 2 dSm-1 em
relação às irrigadas com água de salinidade igual a 0,5 dSm-1. O incremento da
área foliar reflete que as relações hídricas da gravioleira, nos primeiros 150
dias após a semeadura, foram até influenciadas com o aumento salino das águas
de 0,5 (controle) para 2,0 e 3,0 dSm-1, acelerando a emergência e o crescimento
foliar. Este comportamento é observado para as culturas que são moderadamente
tolerantes aos efeitos salinos (Lauchi & Epstein, 1984).
O crescimento relativo da área foliar (Figura_1), com o aumento da salinidade,
foi : de 73 e 58% nas plantas irrigadas com água de barragem aos níveis de 1,0
e 2,0 dSm-1; de 67; 58 e 62% nas tratadas com cloreto de sódio e de 39; 57 e 4%
com água rica em cloreto de magnésio aos níveis de 1,0; 2,0 e 3,0 dSm-1. Ao
comparar estes resultados com outros obtidos em mamoeiro Havaí (Cordeiro,
1997), gravioleira (Carvalho, 1999) e maracujazeiro (Santos, 1999), constatou-
se redução expressiva da área foliar com a salinidade das águas acima de 1,0
dSm-1. Verifica-se que a graviola, na fase inicial de crescimento, ajustou-se
osmoticamente aos índices salinos das águas de 2,0 e 3,0 dSm-1. Esta
superioridade não indica que se possam produzir mudas de gravioleira com águas
de concentração salina igual ou superior a 2,0 dSm-1, uma vez que as sucessivas
irrigações podem elevar o caráter salino do substrato a ponto de atingir
valores não tolerados pela cultura e, em conseqüência, aumentar a perda de
qualidade das mudas.
A produção de matéria seca pelas folhas, assim como a área foliar das plantas,
cresceu, em termos absolutos, com a salinidade das águas até 2,0 dSm-1 nos
tratamentos com água de barragem e até 3,0 dSm-1 nas plantas irrigadas com água
rica em cloreto de sódio e cloreto de magnésio em relação ao controle.
Resultados diferentes dos de Santos (1998) que, após tratar plântulas de
graviola com água salina, e constatou queda de crescimento para condutividade
elétrica da água superior a 1,99 dSm-1.
Dentre as fontes, os maiores dados da área foliar e matéria seca das folhas
(Tabela_1), em geral, referem-se às plantas irrigadas com a fonte cloreto de
sódio. A ordem numérica dos valores médios foi : cloreto de sódio>água de
barragem>cloreto de magnésio, e mostra que a graviola, na fase de crescimento
inicial, foi mais sensível à salinidade do cloreto de magnésio que da água de
barragem e do cloreto de sódio. Comportamento discordante ao apresentado por
Silva (1997) ao verificar que a gravioleira foi mais sensível ao cloreto de
sódio em relação à água de barragem.
Os valores relativos da matéria seca das folhas ajustaram-se ao modelo
quadrático (Figura_2). O aumento da salinidade da água de barragem, de 0,5 para
1,0 e 2,0 dSm-1, resultou em incrementos de 134 e 48%, e das águas com cloreto
de sódio e cloreto de magnésio, de 0,5 para 1,0 ;2,0 e 3,0 dSm-1 , em aumentos
de 102 , 105 e 279% ; 55 , 45 e 2%, respectivamente. Pelos resultados,
verifica-se que plantas de uma mesma espécie podem responder diferenciadamente
aos efeitos de distintas fontes de sais num mesmo nível de concentração ou a
níveis de salinidade crescentes de uma mesma fonte, como evidenciaram Bernstein
(1964), Silva (1997), Santos (1998) e Lima (1999).
A situação salina do substrato antes de iniciar o ensaio era de 2,2 dSm-1 e
atingiu valores de 4,68 a 17,00 dSm-1 quando irrigado com água de barragem; de
4,68 a 17,90 dSm-1 com água rica em cloreto de sódio; e de 4,68 a 10,36 dSm-
1 com a fonte cloreto de magnésio (Tabela_1). Os aumentos percentuais em
relação à água, de 0,5 dSm-1 (Figura_3), foram de 24 a 263% para água de
barragem, de 7 a 282% para o cloreto de sódio e de 22 a 120% para o cloreto de
magnésio. Pelos resultados, verifica-se que a fonte cloreto de magnésio, apesar
de ser a que menos contribuiu para a elevação da salinidade do substrato, foi a
que mais inibiu o crescimento inicial da graviola.
Ao considerar que toda e qualquer água de condutividade elétrica igual ou
superior a 3,0 dSm-1 oferece riscos aos solos e às culturas, Ayers &
Westcot (1991) observaram que a concentração iônica do substrato foi elevada de
ligeiramente salino (2,0<CEes<4,0dSm-1) para moderadamente salino
(4,0<CEes<8,0dSm-1),quando irrigado com água de condutividade elétrica (CEa)
entre 0,5 a 2,0dSm-1 e para fortemente salino (8,0<CEes<16,0dSm-1) com as de
CEa igual ou superior a 3,0dSm-1. Nestas condições, a graviola Morada
apresentou-se como moderadamente tolerante aos sais durante a fase de formação
das mudas.
Como conclusões, verificam-se que:
1 - A área foliar e o rendimento biológico das plantas aumentaram com o nível
de salinidade da água de irrigação até 2,0 e 3,0 dSm-1.
2 - A graviola, na fase de crescimento inicial, foi mais sensível ao cloreto de
magnésio que as demais fontes salinas.
3 - As distintas fontes de sais elevaram expressivamente o nível de salinidade
do solo, mas sem diferenças significativas entre elas.
4 - A graviola, durante a fase de formação de mudas, ajustou-se osmoticamente
como planta moderadamente tolerante aos sais.