SUSCETIBILIDADE VARIETAL DE FRUTOS DE BANANEIRA AO FRIO
INTRODUÇÃO
No Sul do Brasil, os danos causados pelo frio depreciam a qualidade da banana
que permanece no campo durante os meses de outono e inverno. Nos meses mais
frios do ano, é comum a coagulação de cloroplastos da epiderme e de seiva
(látex) dentro do tecido vascular da casca (Moreira, 1987).
O escurecimento do tecido vascular, em bananas do subgrupo Cavendish,
normalmente indica que os frutos foram submetidos a temperaturas abaixo de
13°C. Estes sintomas aparecem cerca de 48 horas após a exposição às baixas
temperaturas, tempo necessário para a coagulação do látex e subseqüente
escurecimento do látex por oxidação fenólica (Robinson, 1996 ).
Em Santa Catarina, cachos lançados no outono podem permanecer na planta por até
sete meses (Lichtemberg et al.,1994), o que alonga o período de exposição dos
frutos às baixas temperaturas.
Os danos de frio são mais intensos em frutos colhidos de meados de outubro a
meados de dezembro, dificultando a sua comercialização. Nestes meses, nos anos
mais frios, a casca apresenta-se "vitrificada", escura no seu
interior, com grande dificuldade na climatização. Estes frutos somente são
comercializados nos mercados de regiões subtropicais, não sendo aceitos na
maior parte dos países importadores (Robinson, 1996). Lichtemberg et al. (1998)
verificaram que cachos protegidos por sacos de polietileno apresentavam menos
danos de frio do que aqueles sem proteção.
Os danos de frio podem ocorrer também em pós-colheita, durante o transporte e
armazenagem da fruta. A baixa temperatura é, possivelmente, o fator mais
importante no armazenamento da banana, pela redução da respiração da fruta,
retardando o climatério e, conseqüentemente, a maturação (Soto,1992). No
subgrupo Cavendish, estas temperaturas podem causar danos às frutas, não se
recomendando temperaturas menores que 14,5°C para a cultivar Lacatán, nem
menores que 12,8°C para a cultivar Grande Naine (Fidler e Scoot, ambos citados
por Soto, 1992 ).
Zaffari et al. (1995) avaliaram danos de frio em plantas de bananeira,
verificando que bananeiras do grupo AAB foram mais resistentes do que aquelas
do grupo AAA.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o grau de suscetibilidade dos frutos ao
frio, em cultivares dos grupos AAA, AAB, ABB e AAAB em condições de campo e
estudar preliminarmente os danos de frio em pós-colheita, em quatro cultivares
pertencentes aos grupos AAA, AAB e AAAB.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado na Estação Experimental de Itajaí (EEI), da Empresa
de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S. A. (Epagri), em
Itajaí, Estado de Santa Catarina, com latitude 27° 00' S, longitude 48°40'W e
clima caracterizado como subtropical úmido.
No primeiro experimento, foram avaliados cachos colhidos em outubro de 1997,
abrangendo 13 cultivares do grupo AAA, sendo 9 do subgrupo Cavendish; 7
cultivares do grupo AAB , subgrupo Prata; 6 híbridos do grupo AAAB e uma
cultivar do grupo AAB. Nas cultivares Grande Naine e Nanicão, foram avaliados
cachos protegidos com sacos de polietileno de coloração azul e sem proteção.
Nas demais cultivares, foram avaliados apenas cachos sem proteção. De cada
cacho, foram avaliadas três pencas (proximal, média e distal), num total de 3 a
10 cachos por cultivar. Adotou-se um sistema de notas de 0 (zero) a 7 (sete),
segundo a intensidade de escurecimento dos vasos da casca (Lichtemberg et al.,
1998), para avaliar os danos de frio:
0 ( zero )- ausência de escurecimento de vasos (coagulação de látex).
1 ( um )- vestígios ou pequena quantidade de estrias escuras.
2 ( dois )- presença de estrias escuras em até metade da superfície da casca.
3 ( três )- presença de estrias escuras em quase toda a superfície da casca.
4 ( quatro )- presença de estrias escuras em toda a superfície da casca.
5 ( cinco )- equilíbrio entre áreas claras e escuras.
6 ( seis )- predominância de áreas escuras.
7 ( sete )- superfície da casca totalmente escura.
No segundo experimento, foram avaliados cachos colhidos entre 07-05-1999 e 27-
08-1999, de cultivares dos subgrupos AAA, AAB e AAAB. Os grupos AAA e AAB foram
subdivididos em plantas de porte médio (2,50 a 3,20m) e plantas de porte alto
(3,40 a 5,30m). De cada grupo, foram colhidos de três a nove cachos por data de
colheita, sendo avaliadas três pencas de cada cacho (proximal, média e distal).
Do grupo AAA (porte alto), fizeram parte cachos das cultivares Caru Verde, Caru
Roxa, Colonial, Leite, Yangambi (Caipira) e Nam. O grupo AAA (porte médio) foi
constituído por cachos da cultivar Grande Naine. Do grupo AAB (porte
alto)fizeram parte cachos das cultivares Branca, Pacovan, Thap Maeo, Mysore,
Prata e Padath. O grupo AAB (porte médio) foi constituído por cachos da
cultivar Enxerto (Prata-Anã). Do grupo ABB, fizeram parte cachos das cultivares
Figo, Figo Cinza e Pelipita. Do grupo AAAB, fizeram parte cachos das cultivares
PV 03-44, PA 03-22, FHIA-01 e SH 36-40. O sistema para avaliação dos danos de
frio também foi aquele adotado por Lichtemberg et al. (1998). A soma de horas
de frio abaixo de 6ºC, 8ºC, 10ºC e 12ºC foi obtida da soma das temperaturas
verificadas no abrigo do posto meteorológico da EEI, distante cerca de 800
metros do local do experimento e nas mesmas condições topográficas.
No terceiro experimento, foram utilizados 12 buquês de bananas por cultivar
testada, sendo elas a Grande Naine (AAA), a Enxerto (AAB), a Mysore (AAB) e a
FHIA-01 (AAAB), colhidos e armazenados em 1º-02-1999, quando as frutas não
apresentavam qualquer dano de frio. A armazenagem foi feita em BOD, com
temperatura fixada em 10°C , sem qualquer controle da umidade relativa, nem da
qualidade do ar. Aos 5, 10 e 20 dias após o início de armazenagem, foram
retirados quatro buquês de cada cultivar para a avaliação dos danos de frio,
pela metodologia de Lichtemberg et al. (1998). Os buquês retirados aos 5 e 20
dias após a armazenagem foram climatizados à temperatura média de 17,5°C, sendo
avaliados posteriormente quanto à percentagem de superfície de casca com
coloração verde, aparência da casca e da polpa e qualidade da polpa, através de
avaliações visuais e de degustação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No primeiro experimento, realizado em 1997, ocorreram 20 horas abaixo de 8°C,
113 horas abaixo de 10°C e 251 horas abaixo de 12°C até a colheita dos cachos
(Tabela_1). Para bananas do subgrupo Cavendish (Tabela_2), verificou-se que
existe uma diferença de resistência ao frio nos frutos de diferentes
cultivares. Entre as cultivares de porte médio, a Willians e a SC-33
apresentaram menor incidência de danos de frio do que as cultivares Grande
Naine e Nanicão. Neste subgrupo, verificou-se também que as cultivares de porte
alto, como a Congo, a Lacatan, a Robusta e a Imperial apresentaram frutos com
danos de frio mais leves do que as cultivares de porte médio e de porte baixo.
As cultivares Robusta e Imperial apresentaram menores danos de frio nos frutos
do que as demais cultivares do subgrupo Cavendish. As bananas do subgrupo
Cavendish apresentaram menores danos de frio nos frutos quando os cachos
receberam a proteção de sacos de polietileno, o que pode ser verificado neste
trabalho com as cultivares Nanicão e Grande Naine e no trabalho de Lichtemberg
et al. (1998 ).
As cultivares Caru Verde, Colonial, Caru Roxa e Yangambi, apesar de pertencerem
ao mesmo grupo genômico (AAA), apresentaram maiores danos de frio do que
cultivares também de porte alto pertencentes ao subgrupo Cavendish (Tabela_2).
As cultivares do subgrupo Prata (AAB) tenderam a apresentar danos de frio nos
frutos (Tabela_2) bem menores do que aqueles verificados em bananas do grupo
AAA. No subgrupo Prata, não se verificou a redução do dano de frio com o
aumento do porte da planta, já que a bananeira Enxerto, a única de porte médio,
tendeu a apresentar danos mais leves do que as cultivares de porte alto.
Os híbridos AAAB, apesar da diferença de comportamento dentro do grupo,
mostraram resultados intermediários às cultivares dos grupos AAA e AAB, quanto
à resistência dos frutos às baixas temperaturas, e a cultivar Figo (ABB)
mostrou os menores danos (Tabela_2).
Nas Tabelas_2, 3 e 4, verifica-se a diferença entre os genômas AAA, AAB e AAAB,
quanto à resistência às baixas temperaturas. Como foi constatado por Zaffari et
al. (1995) com relação aos danos nas plantas, também os frutos do grupo AAB
apresentaram menores danos de frio do que aqueles do grupo AAA. O genoma B
conferiu maior resistência do fruto às baixas temperaturas a campo. Neste
sentido, verificou-se que, pela ordem, os frutos dos grupos ABB, AAB e AAAB
foram bem menos danificados pelo frio do que aqueles do grupo AAA.
Nas Tabelas_4 e 5, verifica-se que, com o acúmulo de horas de baixas
temperaturas, os danos tendem a aumentar. Nas cultivares do grupo AAA, bastam
poucas horas de frio abaixo de 10° e 12°C para causar grandes danos nos frutos,
enquanto nos grupos AAAB, AAB e ABB estes danos praticamente só aparecem com a
ocorrência de temperaturas abaixo de 8°C no campo. Na tabela_6, verifica-se que
os dados referentes às cultivares do grupo AAA, de porte alto, são muito
irregulares. A razão desta ocorrência foi a diferença de danos apresentados
entre as cultivares utilizadas, que não foram as mesmas em cada data de
colheita, no segundo experimento .
O comportamento verificado no campo com os diferentes genomas tenderam a se
repetir em pós-colheita. No terceiro experimento, os resultados indicaram que
bananas dos grupos AAB e AAAB resistem mais às baixas temperaturas de
armazenamento do que bananas do grupo AAA (Tabela_6). Os danos da temperatura
de 10°C sobre frutos da cultivar Grande Naine em pós-colheita são extremamente
severos. A casca das frutas torna-se arroxeada quando observada externamente. A
região dos vasos torna-se avermelhada, com danos bem mais amplos do que em pré-
colheita. Os danos aumentaram levemente, nos três grupos, com o aumento no
tempo de armazenagem.
O tempo de climatização das bananas da cultivar Grande Naine foi mais
prolongado do que aquelas dos grupos AAB e AAAB, apresentando grandes áreas com
manchas verdes anormais (Tabelas_7 e 8), devido provavelmente à coagulação de
cloroplastos (Moreira,1987).
As bananas da cultivar Grande Naine apresentaram depressões intensas na casca,
especialmente em locais feridos e péssima qualidade após a climatização, tanto
em aspecto quanto na aparência, no odor e no sabor da polpa. Bananas desta
cultivar armazenadas por vinte dias não completaram normalmente a maturação,
apresentando podridão da polpa, pouca douçura e polpa creme intensa.
A bananas da cultivar Mysore apresentaram 75% das frutas com empedramento da
polpa, o que pode ter sido causado pelo armazenamento. Este aspecto, porém, não
foi avaliado antes do armazenamento.
As bananas das cultivares FHIA-01 e Enxerto apresentaram sabor próximo ao
normal, mesmo após 20 dias de armazenagem a 10°C.
Novos testes necessitam ser feitos para o estudo das temperaturas e da
qualidade atmosférica para a conservação de bananas dos grupos AAB, AAAB e ABB,
o que permitirá seu transporte a longas distâncias.
CONCLUSÕES
1 - O genoma B confere maior resistência da fruta às baixas temperaturas no
campo e na armazenagem.
2 - Existem variações na resistência da fruta ao frio dentro do mesmo grupo
genômico.
3 - A proteção dos cachos com sacos de polietileno reduz os danos de frio no
campo, em cultivares do subgrupo Cavendish.
4 - As cultivares de maior porte apresentam danos de frio menos severos do que
cultivares de porte médio e baixo, em frutos de bananeiras do subgrupo
Cavendish.
5 - Bananas do subgrupo Prata podem ser expostas a temperaturas inferiores a
12°C no armazenamento, o que pode viabilizar o seu transporte a longas
distâncias.
6 - O tempo de armazenagem aumenta a intensidade dos danos causados aos frutos
pelas baixas temperaturas.