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BrBRCVAg0100-29452001000300046

BrBRCVAg0100-29452001000300046

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
ano2001
Issue0003
Article number00046

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PROPAGAÇÃO DO UMEZEIRO (Prunus mume Sieb & Zucc.) POR ESTAQUIA HERBÁCEA PROPAGAÇÃO DO UMEZEIRO (Prunus mume Sieb & Zucc.) POR ESTAQUIA HERBÁCEA1

INTRODUÇÃO O damasqueiro-japonês, mais conhecido como umezeiro (Prunus mume Sieb & Zucc.), é uma rosácea de folhas caducas, arbórea, originária da China Continental e típica de clima temperado. Seu cultivo é amplo nos países asiáticos, destacando-se o Japão e Taiwan, que o cultivam desde o século XIV (Campo Dall'Orto et al., 1998).

Seus frutos, de elevado amargor, acidez e aroma característico, são comumente utilizados pelos povos orientais no preparo de conservas - o "umeboshi" e de um licor especial ¾ o "umeshu", além de geléias e doces em massa, podendo inclusive ser misturados às geléias de pêssego ou ameixa, conferindo-lhes mais aroma, sabor, acidez e consistência. As flores são utilizadas na ornamentação, com sentido místico e festivo (Campo Dall'Orto et al., 1995/1998).

Em função dos seus costumes, a colônia japonesa do Estado de São Paulo sempre procurou produzir o umê, resultando em repetidos fracassos por utilizarem materiais muito exigentes em frio, oriundos do Japão.

O maior interesse por esta frutífera deu-se por volta de 1970, em Botucatu, SP, quando obtiveram algumas colheitas de um material originário, provavelmente, da cultivar Koume (umê pequeno) de Taiwan, caracterizado pela baixa exigência em frio e, possivelmente, pertencente à variedade botânica Mycrocarpa. A partir daí, sua difusão no Estado de São Paulo vem sendo crescente (Campo Dall'Orto et al., 1998).

O umezeiro apresenta características agronômicas importantes, como rusticidade, sanidade de plantas, adaptação ao inverno brando e produtividade, sendo que algumas seleções do IAC atingem 100kg/planta (Campo Dall'Orto et al., 1995/ 1998). Mais recentemente, o umezeiro vem despertando grande interesse na fruticultura intensiva devido à possibilidade de ser utilizado como porta- enxerto para pessegueiro e nectarineira, sendo compatível com esta espécie e conferindo-lhe uma diminuição no vigor das plantas, o que possibilitaria a formação de pomares em alta densidade (Campo Dall'Orto et al., 1992 e 1994; Nakamura et al., 1999).

Além destas vantagens, a utilização do umezeiro como porta-enxerto de pessegueiro pode possibilitar a produção de frutos com maior massa e teor de sólidos solúveis, realçando a pigmentação vermelha da película, quando comparados aos frutos produzidos pelas mesmas copas enxertadas sobre a cv.

'Okinawa', tradicionalmente utilizada como porta-enxerto no Estado de São Paulo (Campo Dall'Orto et al., 1994).

A propagação vegetativa de frutíferas é uma prática extremamente importante na manutenção dos caracteres da planta-matriz. Segundo Fachinello et al. (1995), o processo de formação de raízes é afetado por fatores internos (condição fisiológica e idade da planta-matriz, tipo de estaca, época do ano, balanço hormonal, entre outros) e externos (como a temperatura, luz, umidade, substrato e condicionamento).

A capacidade de enraizamento de estacas lenhosas diretamente no campo foi estudada por Reighard et al. (1990), onde avaliaram 406 diferentes acessos de Prunus em 4 anos consecutivos, incluindo diferentes espécies, cultivares e híbridos. Os autores concluíram que o umezeiro, juntamente com amendoeiras, ameixeiras americanas, damasqueiros e Prunus fenzliana apresentaram as menores sobrevivências, entre 2 e 9%. Miranda et al. (2000) obtiveram 67,5% de enraizamento com estacas lenhosas, utilizando o solo como substrato. Com a técnica da micropropagação, Harada & Murai (1996) observaram que o umezeiro apresentou taxas de sobrevivência relativamente baixas na aclimatação sob nebulização intermitente, variando de 20 a 30%. No caso da propagação por estaquia herbácea do umezeiro no Brasil, Nachtigal et al. (1999) obtiveram 37,95% de enraizamento, quando as estacas foram tratadas com AIB a 2000mg.L-1.

O presente trabalho teve como objetivo estudar a viabilidade da propagação vegetativa do umezeiro por estacas herbáceas em câmara de nebulização, verificando o enraizamento de clones promissores para posterior utilização como porta-enxerto de Prunus sp.

MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido em câmara de nebulização intermitente, pertencente ao Departamento de Produção Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias-UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP.

Plantas-matrizes dos Clones 02; 05; 10 e 15, provenientes do Programa de Melhoramento Genético do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), foram mantidas em vasos plásticos sob ripado, com 50% de sombreamento. Estes clones apresentam boas características para serem utilizados como porta-enxerto, especialmente por induzirem redução no porte das plantas.

As estacas foram preparadas com 12cm de comprimento, diâmetro variando de 27 a 35mm, com 3 a 5 folhas, sendo eliminadas as folhas da parte basal. Após o preparo, as estacas foram tratadas com solução fungicida (Benomil a 0,5% p.c.) por 10 segundos. Metade do lote das estacas foi tratada com solução líquida de ácido indolbutírico (AIB) a 2000mg.L-1, por 5 segundos, sendo que a outra metade não foi tratada. As estacas foram acondicionadas em caixas plásticas perfuradas (37,5x27x9,5cm), contendo vermiculita de grânulos médios como substrato. As caixas plásticas foram mantidas em câmara de nebulização intermitente, por um período de 60 dias (17 de setembro a 16 de novembro de 1999). O sistema de nebulização foi controlado por um "timer" programado para ligar o sistema por 5 segundos, deixando-o desligado por 40 segundos, de forma a manter uma fina película de água sobre a superfície das folhas.

O experimento foi conduzido em delineamento experimental inteiramente casualizado, esquema fatorial 4 x 2, sendo os níveis constituídos de quatro clones (Clones 02; 05; 10 e 15) e duas concentrações de AIB (0 e 2000mg.L-1), com quatro repetições e 20 estacas por parcela. As variáveis analisadas foram porcentagem de estacas enraizadas, porcentagem de estacas com calo, número de raízes por estaca, comprimento das cinco maiores raízes e porcentagem de estacas brotadas. Os dados originais das variáveis expressas em porcentagem foram transformados para Arco-Seno . Os dados foram submetidos à análise de variância, pelo teste F, e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelos resultados obtidos (Tabela_1), observa-se que existe diferença significativa entre o Clone 15 e o Clone 02 na porcentagem de estacas enraizadas (93,75 e 78,13%, respectivamente). Os Clones 05 e 10 comportaram-se como intermediários, apresentando 85,0 e 83,13% de enraizamento, respectivamente, não diferindo estatisticamente dos anteriores. Estes dados comprovam a viabilidade da propagação vegetativa do umezeiro por meio de estacas herbáceas e estão de acordo com Nachtigal et al. (1999), que também verificaram melhores resultados no Clone 15 ao enraizamento, embora não diferindo significativamente dos demais. Vale ressaltar que os percentuais de enraizamento (78,13 a 93,75%) obtidos neste trabalho, que foi conduzido entre meados de setembro a meados de novembro, são bem superiores aos obtidos por Nachtigal et al. (1999), que obtiveram 36,8% como melhor resultado, no início de março a meados de maio. Este fato indica que a época do ano pode influenciar no enraizamento e que, no caso da estaquia herbácea, os melhores resultados são obtidos na época de maior crescimento vegetativo (primavera-verão), segundo Hartmann et al. (1997). Na Tailândia, Suriyapananont (1990) verificou que para o umezeiro, os melhores resultados foram obtidos nos meses de junho e outubro, enquanto os meses de abril e agosto foram os piores. Segundo Zhang & Masaki (1994), a porcentagem de enraizamento no umezeiro está negativamente correlacionada com o teor de açúcares totais e positivamente com o conteúdo de amido das estacas.

Para as variáveis porcentagem de calo, raízes por estaca, comprimento de raízes e porcentagem de estacas brotadas, não foi observada diferença significativa entre os clones testados. Ao observarmos o número de raízes por estaca (que variou de 6,71 a 7,82) e o comprimento das raízes (7,22 a 8,37cm), verifica-se uma capacidade de emissão de raízes e vigor satisfatórios para esta espécie, com a utilização de estacas herbáceas coletadas na primavera. A elevada porcentagem de estacas brotadas, com valores próximos a 85,0%, também contribui para o sucesso deste método, pois, desta forma, o processo fotossintético não é interrompido, e a estaca enraizada passará a sintetizar seu próprio alimento (Reuveni & Raviv, 1981). A maior porcentagem de estacas mortas foi verificada no Clone 02, ainda assim menor que 10% e considerada muito baixa.

A utilização do AIB a 2000mg.L-1 foi altamente benéfica para aumentar a porcentagem de enraizamento das estacas (Tabela_2). Estes resultados também estão de acordo com Nachtigal et al. (1999), que testaram seu efeito para estacas herbáceas, e com Miranda et al. (2000), que o utilizaram em estacas lenhosas de umezeiro. Suriyapananont (1990), estudando diferentes reguladores de crescimento na propagação do umezeiro, comprovou que o AIB aumentou o enraizamento nas concentrações entre 1500 e 3000mg.L-1; entretanto, a concentração de 2000mg.L-1 foi significativamente superior aos demais reguladores e concentrações testadas, obtendo 56,8% de enraizamento. O efeito benéfico do AIB no enraizamento de estacas foi também observado para estacas lenhosas e semilenhosas de cultivares-copa de pessegueiro (Fachinello et al., 1981, 1982 e 1984).

Em função da elevada porcentagem de enraizamento observada nos tratamentos com o AIB, a porcentagem de calo foi muito baixa, como se pode observar na Tabela 2. Das 320 estacas tratadas com o regulador de crescimento, apenas 2 formaram exclusivamente calo (0,63%). A formação de calo e de raízes são processos independentes para a maioria das plantas. A ocorrência simultânea é devido a condições internas e ambientais semelhantes. Entretanto, para algumas plantas, a formação de calo pode ser precursora da formação de raízes (Hartmann et al., 1997).

O AIB ainda favoreceu a emissão de um maior número de raízes adventícias por estaca (11,28) e com maior comprimento (8,27cm). Estes resultados estão em concordância com Nachtigal et al. (1999) apenas para a variável número de raízes. Em estacas lenhosas de umezeiro, a concentração de 2000mg.L-1de AIB também proporcionou um aumento do número e comprimento de raízes (Miranda et al., 2000). As porcentagens de estacas brotadas obtidas com as concentrações de 0 e 2000mg.L-1de AIB foram de 85,63% e 84,38%, respectivamente, demonstrando que o regulador não exerceu influência sobre esta variável. Não houve efeito significativo da interação Clone x AIB nas variáveis analisadas (Tabela_2), demonstrando que os fatores estudados agem de forma independente.

CONCLUSÕES 1. A propagação vegetativa do umezeiro por estacas herbáceas obtidas na primavera é viável em câmara de nebulização.

2. A maior porcentagem de enraizamento foi observada nas estacas provenientes do Clone 15, que foi significativamente superior ao Clone 02, sendo que os Clones 05 e 10 se comportaram como intermediários.

3. O ácido indolbutírico, na concentração de 2000mg.L-1, beneficiou o enraizamento das estacas, favoreceu a emissão de um maior número de raízes adventícias por estaca e aumentou o comprimento de raízes. O AIB não influenciou na brotação das estacas.


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