Polietileno de baixa densidade (PEBD) na conservação pós-colheita de figos cv.
"Roxo de Valinhos"
ABSTRACT- It was studied the effect of different polyetilene packings in figs
cv. "Roxo de Valinhos" under cold storage conditions. The fruits were
picked out at the beginning of the maturation stadium, cleaned and selected,
and then packeted in polyetilene films plastic of different thickness, as
follows: 1 (control), 2 - LDPE with 6 µm of thickness, 3 - LDPE with 10 µm of
thickness, 4 - LDPE with 15 µm of thickness, 5 - LDPE with 22 µm of thickness,
the fruits were stored in cold chamber with temperature of - 0,5 °C and 85-90 %
of RH, for eight days. The analyses were carried out daily, being evaluated the
following parameters: loss of fresh mass, visual aspect, fresh firmness, total
soluble solids, titritable total acidity and relation TSS/ATT. At the end it
was verified that the fruits packeted in LDPE with 22 µm of thinckness,
presented the largest fresh firmness, best visual aspect, smallest contents of
total soluble solids, largest levels of titritable total acidity and the
smallest values in the relation TSS/ATT, when compared to the other treatments.
In the parameter loss of fresh mass, all treatments differed statistically from
the control.
Index Terms :Ficus caricaL., quality, cold storage, modified atmosphere.
INTRODUÇÃO
A Figueira (Ficus carica L.) é uma frutífera de clima temperado, que se
desenvolve bem nas regiões de inverno ameno. No estado de São Paulo, destacam-
se como principais áreas produtoras os municípios de Valinhos, Vinhedo e
Jundiaí. Valinhos constitui aproximadamente 80% da área plantada, de um total
de quase 400 mil pés plantados em todo o estado. A cultivar Roxo de Valinhos,
também chamada de San Piero, Negro Largo, Portugal, Brown Turkey e Nero,
apresenta-se como uma planta vigorosa, precoce, de porte grande e altamente
produtiva. Os frutos apresentam coloração roxa, pesam cerca de 60 e 90 gramas e
possuem um ótimo sabor para consumo "in natura", sendo hoje
considerada a cultivar de figo mais cultivada comercialmente (Simão, 1998).
Sendo um produto altamente sensível ao manuseio, deve-se acondiciona-los o mais
rápido possível em caixas definitivas destinadas ao mercado. O sistema usual de
comercialização consiste de uma embalagem principal de madeira, e dentro desta
três outras sub-embalagens de papelão, nas quais os frutos, em um número de
oito a dezesseis, são devidamente acondicionados deitados em camada única
(Simão, 1998).
O figo possui uma vida de prateleira muito curta quando armazenados em
condições ambientais (de um a dois dias). Salunkhe & Desai (1984); Chitarra
& Chitarra (1990) verificaram que os figos armazenados entre ¾ 0,5 e 0¡C e
85-90% de umidade relativa mantêm sua qualidade pós-colheita, podendo assim ser
conservados entre sete a dez dias.
O uso da atmosfera modificada, bem como de qualquer outro tratamento pós-
colheita, destina-se principalmente a frutos com alto valor comercial que
propiciem retorno econômico ao valor investido no tratamento realizado, também
aos frutos com perspectiva de ampliação de mercado (principalmente o mercado
externo) e quando o manuseio direto deste fruto pode acarretar problemas na sua
qualidade final (Sarantóupolos & Soler, 1989).
O alto custo da câmara fria com atmosfera controlada tem estimulado a procura
de métodos mais simples e baratos de modificação da concentração de gases ao
redor e no interior dos frutos. Na atmosfera modificada, de acordo com Awad
(1993), colocam-se os frutos em embalagens de polietileno, onde de forma ativa
ou passiva, ocorre a modificação da concentração inicial dos gases presentes
(O2, CO2 e etileno). Essa modificação depende basicamente das características
do filme plástico, em especial quanto à permeabilidade aos diferentes gases.
Segundo Sarantóupolos & Soler (1989), a modificação da atmosfera através do
uso de filmes plásticos, pode retardar o processo de maturação dos frutos,
através da alteração da concentração inicial dos gases presentes na embalagem
(O2 ,CO2 e etileno), sendo que a concentração depende de alguns fatores. Marsh
(1988) define estes fatores como: taxa de permeabilidade a gases da embalagem,
hermeticidade da soldagem, relação área e volume da embalagem e presença de
absorvedores.
Segundo Kader et al. (1989), a seleção de um filme plástico, que resultará em
uma atmosfera modificada favorável, deve ser baseada na taxa respiratória e nas
concentrações ótimas de O2 e CO2 para o produto. Para a maioria dos produtos,
exceto aqueles que toleram altos níveis de CO2, um filme adequado deve ser mais
permeável ao CO2 que ao O2. Segundo Pantastisco (1975), o O2é fundamental para
que a respiração aeróbia continue ocorrendo normalmente, entretanto baixas
concentrações de O2podem levar a uma condição de anaerobiose.
Frutos embalados com filmes plásticos requerem maior tempo de resfriamento que
frutos não embalados (Pantastisco, 1975; Shewfelt, 1986; Wolfe, 1984). O uso de
filmes plásticos proporciona, não apenas a redução da perda de umidade mas
também aumenta a proteção contra danos mecânicos, e proporciona uma dilatação
no período de comercialização. Quando uma embalagem de filme plástico é
corretamente projetada, a composição gasosa no interior interfere na atividade
metabólica do fruto ou da hortaliça, reduzindo-a, obtendo-se por conseguinte um
atraso no amadurecimento (Mosca et al., 1999).
Este trabalho tem por objetivo comparar filmes de polietileno de baixa
densidade com diferentes espessuras no aumento da vida útil do figo cv.
"Roxo de Valinhos".
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no laboratório de Frutas e Hortaliças, do
Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial, da Universidade Estadual
Paulista, campus de Botucatu. Os frutos colhidos no início do estádio de
maturação, na segunda quinzena de dezembro, em propriedade agrícola situada no
município de Valinhos/SP. Estes foram limpos e selecionados sendo
posteriormente submetidos a um pré-resfriamento à temperatura de 4 °C, até que
a temperatura de polpa atingisse 0 °C. Em seguida foram embalados em filme
plástico de PEBD de diferentes espessuras (três frutos por embalagem) sendo
então acondicionados em bandejas de papelão ¾ três embalagens de PEBD por
bandeja (representando as três repetições), constituindo assim os tratamentos:
1(sem filme de PEBD), 2 - PEBD com 6 µm de espessura, 3 - PEBD com 10 µm de
espessura, 4 - PEBD com 15 µm de espessura, 5 - PEBD com 22 µm de espessura,
sendo armazenados em câmara fria com temperatura de ¾ 0,5 °C e UR 85-90 %. As
avaliações foram realizadas a partir da colheita, diariamente, 24 horas após a
retirada de cada amostra da câmara fria (simulação de comercialização), por um
período de sete dias, sendo determinados sob os seguintes aspectos: perda de
massa fresca, aspecto visual do fruto, acidez total titulável (ATT), sólidos
solúveis totais (SST), firmeza de polpa e relação SST/ATT.
A perda de massa fresca foi avaliada através da pesagem dos frutos embalados
unitariamente em PEBD, em um número de cinco repetições por tratamento, em
balança OWALABOR, considerando a massa inicial de cada amostra, com resultados
expressos em porcentagem.
O aspecto visual do fruto foi avaliado através de uma escala subjetiva de
valores, com base no avanço do amadurecimento, bem como, na ocorrência de danos
físicos e podridões dos frutos embalados unitariamente em PEBD, em um número de
cinco repetições por tratamento, sendo: 0,4 ¾ ótimo; 0,3 ¾ bom; 0,2 ¾ regular;
0,1 ¾ ruim.
A firmeza de polpa foi avaliada através do texturômetro modelo STEVENS ¾ LFRA
texture analyser, com a distância de penetração de 20 mm e velocidade de 2,0
mm.seg.-1, utilizando o ponteiro TA 9/1000. A leitura foi feita em lados
opostos da seção equatorial dos frutos, sendo que o valor obtido para se
determinar à textura em gramas.força-1, foi definido como máxima força
requerida para que uma parte do ponteiro adentre a polpa do fruto.
Os sólidos solúveis totais (SST) foram avaliados através da leitura
refratométrica direta, em ° Brix, com o refratômetro tipo Abbe, marca ATAGO ¾
N1.
A acidez total titulável (ATT) foi determinada por titulometria de
neutralização, por titulação de 10 g de polpa, homogeneizada e diluída para 100
ml em água ultra-pura, com solução padronizada de hidróxido de sódio a 0,1 N.
Os resultados foram expressos em Cmol.L-1.
Análise sensorial através de um teste de preferência, com 25 julgadores
treinados, sendo distribuidas duas amostras por tratamento, através de escala
hedônica de 5 pontos, variando de gostei muitíssimo (nota 5) a desgostei
muitíssimo (nota 1), segundo Moraes (1988).
O delineamento experimental empregado no experimento foi o inteiramente
casualizados, com esquema fatorial 5x7 (tipo de embalagem e tempo de
armazenamento), com 5 tratamentos e 5 repetições (perda de massa fresca e
aspecto visual) e 3 repetições (firmeza de polpa, SST, ATT). Os dados foram
submetidos à comparação de médias, efetuada pelo teste DMS (P£0,05). Todas as
análises das variáveis foram executadas pelo programa StatGraphics.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os resultados expressos na Figura_1, referente à análise de perda
de massa fresca, todos os frutos submetidos ao acondicionamento em embalagens
de PEBD diferiram estatisticamente da testemunha, apresentando-se portanto com
um maior potencial de conservabilidade quando comparados com a testemunha,
comprovando assim a eficiência do uso de filmes plásticos, que através da
modificação atmosférica, possibilita à diminuição da perda de umidade em
frutos. Estes dados confirmam o relato de Mosca et al. (1999), no qual é
mencionado que a redução da perda de umidade contribui decisivamente na melhor
manutenção da qualidade pós-colheita proporcionando assim um prolongamento da
vida útil dos frutos.
Em relação à análise do aspecto visual (Figura_2), os frutos acondicionados em
PEBD de 22 µm foram os que obtiveram melhores resultados, apresentando-se ao
final do período experimental sem nenhuma manifestação de danos físicos e/ou
podridões, estando portanto em ótimas condições de comercialização,
possibilitando assim uma maior flexibilidade quanto ao seu tempo de conservação
pós-colheita. Dados estes confirmados por Sarantóupolos & Soler (1989), no
qual descreve os efeitos positivos da embalagem quanto à criação de uma
barreira de proteção que separa os frutos do contato direto com o meio,
preservando assim a integridade física dos mesmos.
Os resultados da análise de firmeza de polpa (Figura_3), demonstraram que os
frutos submetidos ao tratamento 5 (PEBD de 22 µm), apresentaram uma firmeza de
polpa superior aos demais tratamentos, possivelmente pela elevação dos níveis
de CO2 quanto a uma melhor preservação da integridade dos tecidos celulares,
dados estes concordantes com McDonald & Harmam (1982); Mitchell et al.
(1982); Scott et al. (1984) no qual observam que a elevação nos níveis de CO2,
através do uso de filmes plásticos pode, entre outros fatores, reduzir a taxa
inicial de perda da firmeza de polpa.
Nos resultados da análise de sólidos solúveis totais (Figura_4), pode-se
observar que os frutos embalados em PEBD de 22 µm apresentaram uma maior
contenção quanto à evolução dos teores de SST, pressupondo-se um estádio menos
avançado de amadurecimento destes frutos quando comparados aos outros
tratamentos, confirmando com o artigo de Sarantóupolos & Soler (1989), no
qual é ressaltado que através da modificação atmosférica dos frutos, pelo uso
de filmes plásticos, pode-se retardar a velocidade do processo de
amadurecimento dos frutos.
Pelos dados contidos na Figura_5, referente à análise de acidez total
titulável, observa-se uma maior contenção nas perdas dos teores de ATT nos
frutos acondicionados em PEBD de 22 µm, quando comparados aos demais
tratamentos, sugerindo uma menor atividade metabólica dos frutos embalados em
PEBD de 22 µm e portanto um aumento no seu período de conservação pós-colheita.
Mosca et al.(1999) relatam quando uma embalagem de filme plástico é
corretamente projetada, a composição gasosa no interior interfere na atividade
metabólica do fruto ou hortaliça, reduzindo-a, obtendo-se por conseguinte um
atraso no amadurecimento.
A preferência (Figura_6) expressa o grau máximo de gostar ou desgostar de um
produto. Ela implica na escolha de uma amostra ou, no caso, de um fruto em
relação a outro (Teixeira et al., 1987; Moraes, 1988). De acordo com a Figura
6, referente ao teste de preferência, pôde-se constatar que a preferência dos
julgadores por um determinado fruto, esta ligada ao grau de maturação deste. Os
frutos da testemunha, inicialmente, pelo grau de maturação, foram os
apresentaram a maior preferência. Já os frutos embalados em PEBD de 6 e 12 µm,
a partir da 3o dia de armazenamento, foram preferidos frente aos julgadores até
o 5° dia de armazenamento, onde pelo avançado grau de amadurecimento e rápida
perda de qualidade deram lugar aos frutos acondicionados em PEBD de 15µm e,
posteriormente, aos frutos embalados em PEBD de 22 µm, que pela contenção da
velocidade do processo de amadurecimento dos frutos, apresentando ao final do
período experimental um excelente padrão de qualidade sensorial e a preferência
dos julgadores.
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos com esse trabalho, permitiram concluir que os frutos da
testemunha, ao final de quatro dias de frigoconservação, já não possuíam
condições de comercialização, e que o uso da embalagem de PEBD de 22 µm de
densidade é eficiente na melhor manutenção da qualidade pós-colheita dos
frutos, em figos cv. "Roxo de Valinhos", possibilitando assim uma
maior flexibilidade quando ao período de armazenamento refrigerado.