Atratividade e preferência alimentar de adultos de Epicauta atomaria (Germ.,
1821) (Col.: Meloidae) em maracujazeiros (Passiflora spp.), sob condições de
laboratório
ATRATIVIDADE E PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE ADULTOS DE Epicauta atomaria(Germ.,
1821) (COL.: MELOIDAE) EM MARACUJAZEIROS (Passifloraspp.), SOB CONDIÇÕES DE
LABORATÓRIO1
INTRODUÇÃO
A cultura do maracujazeiro apresenta uma rica fauna formada por ácaros e
insetos, sendo alguns extremamente úteis (polinização) e outros altamente
nocivos (Santos & Costa, 1983; Ruggiero et al.,1996; Nascimento, 1997).
Boiça Jr. (1998) afirma que praticamente todas as estruturas do maracujazeiro
(ramos, folhas, botões florais, flores e frutos) podem ser atacadas por
insetos, afetando significativamente a produtividade.
Boaretto et al.(1994) alertam para o surgimento de determinadas espécies de
insetos assumindo o "status"de praga e sobrepondo em danos aquelas
tradicionalmente relacionadas na literatura como "chaves". Epicauta
atomaria(Germ.) não está relacionada entre as principais pragas da cultura do
maracujazeiro. Gallo et al.(1988) descrevem E. atomariacomo uma praga polífaga,
cujo adulto mede cerca de 8 a 17 mm de comprimento, de coloração geralmente
escura, com corpo revestido de pêlos finos e curtos de cor cinza. Em grandes
populações, os adultos destroem em pouco tempo as folhas de diversas culturas,
deixando apenas as nervuras. Teixeira (1994) cita que este inseto ocasionou
grandes danos na década de 80 nas regiões de Campinas e Jaboticabal - SP,
atacando Passiflora edulis(Sims) e P. serrato digitata(L.), respectivamente.
Danos ocasionados por E. atomariaem leguminosas foram citados por Lourenção et
al. (1985), que notaram desfolha entre 17,2% e 32,0 % nas plantas de farinha-
seca. Estudando outras leguminosas, Nead et al.(1996) constataram que as
plantas de tremoço são mais preferidas por Epicauta fabricini(Leconte) que as
de feijão, grão-de-bico e lentilha. Boiça Jr. et al.(1996) compararam a
preferência alimentar de E. atomariaentre nove espécies de maracujazeiro,
constatando maior atratividade e consumo do inseto em folhas de P. caerulea.
Segundo Rossetto et al. (1981) e Lara (1991), o controle de insetos pelo uso de
materiais resistentes é o método ideal, principalmente em virtude da
preservação ambiental e da sensível redução nos custos de produção. Devido à
escassez de trabalhos com este enfoque, desenvolveu-se esta pesquisa com o
objetivo de selecionar espécies de maracujazeiro resistentes a E. atomaria,
através da avaliação de sua preferência alimentar e da atratividade dos
materiais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram conduzidos no Laboratório de Resistência de Plantas a Insetos, da
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal, entre os
anos de 1998 e 1999, ensaios de preferência alimentar de adultos de E.
atomariaem cinco espécies de maracujazeiro. Todos os insetos foram coletados na
cultura da alfafa, evitando o condicionamento pré-imaginal, citado por Lara
(1991), e mantidos em jejum durante 24 horas antes do início dos ensaios.
Ensaios com discos foliares.Foram realizados testes de consumo e atratividade,
simultaneamente, utilizando-se de discos foliares das espécies P. alata, P.
edulisf. flavicarpa, P. nitida, P. setaceae P. giberti. Para tanto, retiraram-
se dois discos de folhas novas, simetricamente opostos (vazador de 2,54 cm de
diâmetro), sendo um deles utilizado como tratamento e outro como testemunha.
Utilizaram-se placas de Petri, colocando-se um disco de papel de filtro
umedecido ao fundo, sendo os discos dos diferentes genótipos distribuídos ao
acaso, em círculo, no interior destas. Liberaram-se 5 adultos por placa. Foram
empregadas 10 repetições em delineamento de blocos casualizados. Foram
avaliados o consumo dos insetos e o número de indivíduos atraídos pelos discos
aos 15; 30; 60; 90; 120 e 180 minutos da liberação. Durante o período de
avaliações, as placas de Petri foram mantidas dentro de uma BOD (25 ± 2º C e 65
± 10% UR) e após constatado o consumo entre 80 e 100% num dos tratamentos,
encerrou-se o ensaio. A seguir, os discos utilizados como tratamentos e
testemunhas foram pesados, calculando-se o peso consumido pelos insetos em cada
tratamento, descontando-se a respectiva percentagem de umidade perdida para o
meio. Para o teste de consumo sem chance de escolha, seguiu-se a mesma
metodologia descrita nos testes com chance, colocando-se, porém, 1 disco
foliar/espécie/placa, juntamente com 2 insetos, seguindo um delineamento
inteiramente casualizado. Neste ensaio, não foi avaliada a atratividade dos
materiais.
Ensaio com olfatômetro.Para este ensaio, folhas novas de cada espécie (exceto
P. giberti) foram coletadas no campo, sendo posteriormente lavadas e secas em
laboratório. Pesou-se 1g de cada folha, colocando-as em seguida dentro de um
cadinho de porcelana, juntamente com 5 gotas de água destilada. Este material
foi macerado até que fosse obtido o extrato aquoso de cada tratamento. Colocou-
se 1 ml de cada extrato em porções de algodão, sendo estas conduzidas para
compartimentos do olfatômetro, localizado em outra sala. Os insetos (2/espécie)
permaneceram 5 minutos dentro do olfatômetro ligado, sem possibilidade de
acesso aos materiais; após este período, foi liberada a passagem para os
compartimentos, avaliando-se o número de insetos atraídos a 1; 5; 15; 30; 45 e
60 minutos da liberação. Efetuaram-se 10 repetições em delineamento de blocos
casualizados.
Análise Estatística.Os dados foram transformados em
e submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas
pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ensaios com Discos Foliares.O consumo médio de discos por adultos de E.
atomariano teste com chance de escolha (Tabela_1) foi maior em P. setacea(31,32
10,30 mg), diferindo significativamente das demais espécies. Embora tenha sido
consumida (2,94 1,55 mg) em reduzida quantidade, P. edulisf. flavicarpanão
diferiu significativamente de P. alata, P. nitidae P. giberti, cujos discos não
foram atacados. Em teste de consumo sem chance de escolha (Tabela_1), P.
setaceanovamentediferiu significativamente das demais espécies; entretanto,
neste tipo de ensaio, todos os materiais, com exceção de P. nitida, foram
consumidos. Estes dados indicam que as folhas de P. giberti e principalmente P.
nitidasão menos preferidas para alimentação pelo inseto em relação às demais
espécies, sugerindo a não-preferência como mecanismo de resistência nestes
materiais. Níveis mais baixos de não-preferência para alimentação também foram
constatados em P. edulisf. flavicarpae P. alata. Em ensaio semelhante, Boiça
Jr. et al. (1996) também observaram que discos foliares de P. edulisf.
flavicarpa, P. alatae P. nitidaforam pouco preferidos por E. atomaria;
entretanto, a espécie P. giberti não estava incluída nos testes.
Com relação à atratividade dos discos de folha (Figura_1), P. setaceafoi o mais
atrativo para o inseto em todos os períodos de avaliação, diferindo
significativamente das outras espécies. Com exceção de P. edulisf. flavicarpa a
15 e 30 minutos da liberação e P. alataa 180 minutos da liberação, que
mostraram atração semelhante a P. setacea nos demais tempos de avaliação, as
espécies P. nitidae P. gibertiforam semelhantes entre si quanto à atratividade
foliar.
Ensaio com Olfatômetro.A atratividade em olfatômetro (Figura_2) mostra que 1
minuto após a liberação dos compartimentos, os extratos foliares de P. setacea,
P. edulisf. flavicarpae P. alataforam mais atrativos, diferindo
significativamente de P. nitidaque não atraiu nenhum indivíduo. A baixa
atratividade em discos foliares de P. nitidajá havia sido relatada por Boiça
Jr. et al. (1996); entretanto, no presente estudo, avaliou-se a atratividade
dos extratos foliares em olfatômetro, o que torna os resultados mais precisos
neste tipo de avaliação. A partir de 5 minutos da liberação dos compartimentos,
notou-se não mais haver diferença estatística entre os extratos, podendo-se,
porém, constatar que o extrato foliar de P. setaceafoi ligeiramente mais
atrativo, sobretudo a 45 e 60 minutos, confirmando os resultados observados na
Tabela_1 e Figura_1. O fato de os insetos estarem presentes dentro do
olfatômetro já há 5 minutos antes da liberação dos compartimentos, pode ser uma
possível explicação para a constatação de diferença estatística entre os
extratos somente após 1 minuto da liberação. Isto sugere que, neste ambiente,
talvez não seja necessário deixá-los por mais tempo para detectar-se a atração
de E. atomaria.
Os elevados níveis de não-preferência para alimentação obseravdos em P. nitidae
P. giberti, principalmente em teste de consumo sem chance de escolha, sugerem
que talvez essas espécies não sejam hospedeiras naturais do inseto. Já com
relação a P. edulisf. flavicarpae P. alata, o fato de também terem apresentado
não-preferência para alimentação vem questinar a indicação de E. atomariacomo
praga de espécies comerciais de maracujazeiro.
CONCLUSÕES
1) As folhas de P. setaceasão altamente suscetíveis ao ataque do inseto.
2) As espécies P. nitidae P. gibertisão resistentes a E. atomaria,expressando
não-preferência para alimentação (atratividade e consumo).
3) As espécies P. edulisf. flavicarpae P. alata apresentam não-preferência para
alimentação em níveis mais baixos.