Estudo da comercialização do mamão em Brasília-DF
ESTUDO DA COMERCIALIZAÇÃO DO MAMÃO EM BRASÍLIA-DF1
INTRODUÇÃO
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de frutas, tendo produzido, em
1998, cerca de 39,3 milhões de toneladas. Na produção mundial de mamão, o
Brasil ocupa o 1º lugar, com 1,76 milhão de toneladas (FAO, 1998).
A comercialização é definida como o processo final do sistema produtivo,
devendo, portanto, ser compensadora para que haja estímulo, satisfação e
retroalimentação do mesmo (Alves, 1992, citado por Souza & Torres Filho,
1997). A cadeia de comercialização de cada fruta é diferente, e vários são os
componentes do mercado interno envolvidos, como: produtores, intermediários,
atacadistas, CEASAS, feirantes e varejistas (supermercados, quitandas, varejões
e outros), que completam a distribuição aos consumidores. Existem diversos
canais de comercialização de frutas no mercado interno, entre os quais: a venda
direta do produtor ao consumidor, sem nenhum intermediário; do produtor ao
varejista (supermercado, quitanda, feirante e outros); do produtor ao
atacadista de destino, instalado próximo ao centro de abastecimento, e do
produtor ao atacadista de origem, localizado junto à zona de produção.
Portanto, o produtor pode decidir por uma destas alternativas, escolhendo
aquela que melhor se adapte às suas condições.
No Brasil, a estrutura de comercialização de frutas ainda é inadequada, pois
quase sempre o produtor não é associado a cooperativas para comercializar a sua
produção, ficando na dependência do intermediário, o que afeta tanto os preços
quanto a qualidade do produto. Seria importante a formação de um sistema de
comercialização adequado e mais organizado, haja vista que grande parte das
perdas de frutas ocorre após saírem das propriedades, até atingirem os
consumidores finais (Souza & Torres Filho, 1997). De acordo com o
Ministério da Agricultura do Abastecimento e Reforma Agrária, o Brasil perde,
anualmente, mais de 1 bilhão de dólares de frutas e hortaliças, sendo as
porcentagens estimadas de perdas de mamão em 23,7%. Apesar do grande volume de
produtos no mercado interno, sua comercialização é limitada, pois estes são
altamente perecíveis e manuseados sob condições ambientais que aceleram a perda
de qualidade (Brasil, 1993).
Para que sejam adotadas técnicas que visem a melhorar o sistema de
comercialização, torna-se fundamental conhecer alguns fatores que contribuem
para a formação deste processo. Como os supermercados e varejões estão ocupando
um espaço cada vez maior na comercialização de frutos, buscando atualizar seu
sistema de comercialização para atender às exigências cada vez maiores dos
consumidores, realizou-se a presente pesquisa com o objetivo de estudar os
principais fatores envolvidos na comercialização do mamão em supermercados e
varejões do Plano Piloto, Brasília-DF.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida em Brasília, no mês de janeiro de 1999. O universo
adotado para a realização deste estudo foi composto por diversos
estabelecimentos (supermercados e varejões) localizados no Plano Piloto.
De acordo com a ASBRA, existem dez supermercados no Plano Piloto que são
considerados como matrizes. Portanto, visitaram-se todas as matrizes para o
estudo. Como esta associação garantiu que da mesma forma que os frutos são
apresentados nas matrizes e são apresentados em suas filiais, semelhantemente
não houve necessidade de fazer uma amostragem para os supermercados. Já para os
varejões/sacolões, foi realizada uma amostragem aleatória simples e constatou-
se que 9 destes estabelecimentos seriam representativos da amostra.
Os supermercados foram divididos em pequeno, médio e grande porte. Esta divisão
foi fornecida pela Associação de Supermercados de Brasília (ASBRA), que
estabelece o porte do estabelecimento em metros quadrados, sendo pequenos (0-
500m2); médios (501-5.000m2) e grandes (5001-15.000m2). Foram enviados
questionários aos 10 supermercados (pequeno, médio e grande porte) e aos 9
varejões do Plano Piloto, Brasília-DF, para obter informações sobre
fornecedores do mamão, prazo para pagamento, fatores que baseiam os
estabelecimentos ao estabelecerem os preços de venda, perdas, tipos de
embalagens e forma de exposição dos frutos para venda no estabelecimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fornecedores do mamão comercializado
A CEASA-DF, é a principal fornecedora de mamão tanto para os varejões quanto
para os supermercados pesquisados (Tabela_1). Estes resultados concordam com
informações contidas no Agrianual (1999), as quais confirmam que as frutas
comercializadas nos supermercados são, em grande parte, adquiridas nas CEASAS.
No entanto, segundo esta mesma fonte, alguns supermercados já adotam o sistema
misto (CEASA e produtor) para a compra de frutas nacionais, exceto a banana e a
laranja, devido ao alto volume comercializado e, no caso da banana, devido à
necessidade de climatização da fruta em câmaras que custam caro.
Prazo máximo para efetuar pagamento dos frutos
O prazo para pagamento do mamão variou entre os estabelecimentos, sendo maior
nos supermercados de médio e grande porte. Isto certamente é devido à maior
quantidade de mamão adquirida por estes estabelecimentos. O mesmo acontece no
Estado de São Paulo, onde o prazo para pagamento de produtos 'hortifruti' varia
de 21 a 30 dias após a entrega para a maioria dos supermercados, podendo
ultrapassar 40 dias nas grandes redes, que compram maiores volumes (Agrianual,
1999).
Critérios adotados ao estabelecer o preço de venda do fruto
Verificou-se que grande parte dos estabelecimentos estabelece os preços de
venda do mamão baseados na época do ano, preço de aquisição e na procura dos
consumidores. Um percentual de 25% dos varejões e 17% dos supermercados de
grande porte não informaram.
A época do ano é um fator que realmente influencia na formação do preço do
produto. Apesar de o mamão ser produzido praticamente o ano todo,nos meses mais
frios e/ou chuvosos a sua produção é menor, o que leva a uma redução na oferta
do fruto no mercado e conseqüente elevação no seu preço de venda. Os fatores
climáticos também podem causar aumento na incidência de doenças e pragas que
danificam os frutos e reduzem a produção, afetando, assim, os preços de venda
do produto.
O preço de aquisição também é tido como um dos critérios adotados pelo
varejista ao estabelecer os preços de venda do mamão, estando relacionado ao
fator época do ano. Isto porque, em certas épocas do ano, a produção reduz e a
procura pelo produto aumenta, ocasionando uma elevação do preço de aquisição do
fruto.
Somente os varejões (43%) e os supermercados de grande porte (17%) responderam
que se baseiam na qualidade do fruto ao estabelecer os preços de venda.
Portanto, a maioria dos estabelecimentos pesquisados não se baseia na qualidade
ao estabelecerem os preços de venda do mamão. Como foi feita uma visita a todos
os estabelecimentos antes da aplicação do questionário, verificou-se que, em
alguns destes, são encontrados frutos de baixa qualidade, sendo vendidos a
preços relativamente altos, ou seja, o preço não condiz com a qualidade do
produto. Outro fato é que, na compra do produto, muitos estabelecimentos adotam
o critério qualidade para negociação de preços; no entanto, ao vendê-lo para o
consumidor final, poucos se baseiam neste critério. Contudo, sugere-se que
estes estabelecimentos, ao estabelecerem o preço de venda do produto, observem
a qualidade, que inclui aparência, tamanho, cor, firmeza e outros aspectos,
procurando oferecer ao consumidor produtos de boa qualidade.
Grau de perda do fruto
O grau de perda do mamão variou dentro do estabelecimento e entre os
estabelecimentos, sendo esta considerada muito baixa apenas nos
estabelecimentos de menor porte (varejões e supermercados pequenos).
A maioria dos supermercados de pequeno (67%) e médio portes (67%) respondeu que
as perdas são baixas. O baixo índice de perdas atribuídos pelos responsáveis
destes estabelecimentos pode estar relacionado a fatores como: reposição diária
pelo distribuidor (no caso atacadistas da CEASA-DF) dos frutos que não foram
vendidos; maior giro dos produtos e melhor forma de expor os frutos nas
prateleiras.
Já as perdas consideradas médias e altas ocorreram em sua maioria nos
supermercados de grande porte. Isto talvez seja em função do maior volume
comercializado ou até mesmo do manuseio inadequado dos frutos pelos
funcionários ou pelos próprios consumidores. As perdas geralmente são altas
porque a quantidade de pessoas que passam por estes estabelecimentos, é maior,
o que implica excesso de manuseio das frutas, na hora de escolher o produto, e
também pelos funcionários, que repõem o estoque.
Apesar de os supermercados adotarem algumas estratégias para a redução das
perdas, como a compra de frutos de melhor qualidade e a reposição diária do
estoque das prateleiras, ainda se verifica um alto índice de perdas nestes
estabelecimentos. Isto mostra que medidas mais eficientes devem ser adotadas na
redução das perdas, como o treinamento de funcionários, classificação dos
frutos, melhor exposição e conservação dos frutos.
Estudos sobre perdas de produtos hortícolas (hortaliças e frutas) tornam-se
muito importantes, devido às características de alta perecibilidade, dos
elevados custos de produção destes produtos e da sua importância econômica e
alimentar (Tsunechiro et al., 1994). Estes autores estudaram as perdas de
frutas no mercado varejista de São Paulo e obtiveram uma média de 12,9% para o
mamão.
A pesquisa mostrou que o percentual de perdas dos frutos variou em relação ao
tipo de estabelecimento onde são comercializados; no entanto, independentemente
do fato de ter sido considerado alto ou muito baixo, é importante que sejam
tomados cuidados no manuseio dos frutos, procurando reduzir ainda mais a perda
que geralmente acontece nesta etapa final da comercialização.
Principais causas das perdas atribuídas pelos estabelecimentos
Verificou-se que em 72,4% dos varejões foram consideradas como principais
causas das perdas do mamão: a má qualidade do fruto adquirido, o transporte
precário, a demora entre compra e venda e as condições climáticas. Já o
restante respondeu que são a falta de armazenamento apropriado, a embalagem
inadequada e o manuseio do cliente.
Dentre os supermercados de pequeno e grande portes, 25% atribuem como causas
das perdas a falta de armazenamento apropriado, a má qualidade do fruto
comprado e o manuseio do cliente, respectivamente. As condições climáticas
também foram consideradas como causas principais das perdas do mamão por 25%
dos supermercados de pequeno porte. Cerca de 25% dos supermercados de grande
porte não informaram.
Dos supermercados de médio porte, cerca de 33,3% consideram a falta de
armazenamento apropriado, as condições climáticas e o manuseio do cliente,
respectivamente, como causas de perdas do mamão.
Vários são os fatores relacionados às perdas de frutas na fase de
comercialização. Soares (1998) cita como principais razões das perdas pós-
colheita a falta de pessoal habilitado, o uso de práticas inadequadas de
produção e o desconhecimento de técnicas de manuseio pós-colheita.
Pesquisadores da SUDENE (1972) levantaram os índices de perdas de produtos
'hortifruti' e observaram que, para o mamão, as principais causas de perda são
a demora entre a compra e a venda (50,4%) e a má qualidade do produto comprado
(25%).
Em todos os estabelecimentos pesquisados, o manuseio dos frutos pelos clientes
foi uma das principais causas de perdas na comercialização. O mesmo foi
verificado por Tsunechiro et al. (1994), mostrando assim que é fundamental que
o consumidor evite causar danos ao produto que está adquirindo, sejam estes
provocados por compressão, arranhões ou queda. No entanto, o manuseio
inadequado dos frutos pelos consumidores pode ser conseqüência da falta de
classificação e embalagem dos frutos, o que obriga estes a selecionarem os
frutos na gôndola. Sendo assim, a classificação prévia dos frutos por estádio
de maturação e categoria, e o acondicionamento em embalagens apropriadas
evitaria o seu excessivo manuseio pelos consumidores.
Outro aspecto bastante citado pelos estabelecimentos como causa das perdas foi
a má qualidade do fruto comprado. Portanto, sugere-se que os mesmos passem a
exigir mais dos fornecedores em relação à qualidade do fruto que estão
adquirindo e, ao receber o produto, conservá-lo adequadamente, evitando danos
mecânicos e adotando medidas como: treinamento dos funcionários que manipulam
as frutas, uso de embalagens adequadas, melhoria na exposição dos frutos no
local de venda sem amontoá-los em prateleiras, seleção dos frutos de acordo com
o estádio de maturação, tamanho, presença de danos e outras características
pertinentes.
É necessário, além da produção de frutos sadios, o emprego de manuseio adequado
com uso de técnicas que possibilitem reduzir as perdas visando, assim a
melhorar a qualidade para comercialização. No entanto, para introduzir novas
técnicas, é preciso, antes, estudar o processo de produção e comercialização de
cada produto para identificar os pontos de estrangulamento dentro da cadeia. A
redução das perdas na cadeia de comercialização, desde a colheita até o
consumidor final, poderá significar maior ganho econômico para todos os elos
deste segmento.
Tipo de embalagem em que o fruto é entregue
O uso de embalagem de madeira predominou em todos os estabelecimentos
pesquisados, apesar de o mamão ser um fruto bastante frágil. No entanto, é
importante que tanto o fornecedor (produtor ou atacadista) quanto os
estabelecimentos responsáveis pela distribuição final tomem consciência de que
o tipo de embalagem a ser utilizada deve adequar-se ao produto, além de
protegê-lo, ser resistente, facilitar o transporte e manejo, melhorar o aspecto
visual e ter um custo relativamente baixo.
A embalagem é um fator importante na comercialização e, para o consumidor, é
sinônimo de mais comodidade e praticidade, devendo conter em seu rótulo todas
as informações sobre o produto (natureza, qualidade, classificação, origem e
destino). Recomenda-se, portanto, o uso de embalagem adequada e o seu manuseio
correto, de acordo com o tipo de fruto e estádio de maturação do mesmo, para
reduzir as perdas, aumentar a eficiência na comercialização e manter a
qualidade do fruto.
Maneira como os frutos são expostos para venda
Na maioria dos varejões e supermercados de pequeno e médio portes, os mamões
ficam expostos em prateleiras. Entretanto, nos supermercados de grande porte,
todos colocam o mamão para venda em prateleiras. Esta forma de exposição dos
frutos é a mais utilizada nos estabelecimentos varejistas; no entanto, nem
sempre é a mais adequada, pois, na maioria das vezes, os frutos ficam
amontoados ou formando várias camadas, sem distinção do estádio de maturação, o
que favorece em muito o amassamento e perda da qualidade dos frutos.
Como medidas para reduzir as perdas do mamão, recomenda-se que este,
primeiramente, seja selecionado por tamanho, estádio de maturação e presença de
danos, podendo ser colocado em prateleiras, protegidos por papel celofane ou
polietileno expandido, sem amontoá-lo ou sem formar mais de 2 camadas. No caso
do mamão do grupo 'Solo', sugere-se também colocá-los em embalagens pequenas de
papelão ou mesmo de madeira, com capacidade para 4 a 6 frutos no máximo, sendo
cada fruto protegido com papel celofane ou polietileno expandido.
Novas formas de acomodação dos frutos nos pontos de venda devem ser estudadas,
pois estes são bastante perecíveis e sensíveis aos danos provocados pelo
manuseio incorreto. Por serem de grande procura na maioria dos
estabelecimentos, é importante que fiquem expostos de maneira a atrair os
consumidores e conservar a sua qualidade.
CONCLUSÕES
1- Os principais fornecedores de mamão para os estabelecimentos pesquisados são
atacadistas da CEASA-DF.
2- Os estabelecimentos de maior porte recebem um prazo mais longo para efetuar
o pagamento das frutas.
3- A maioria dos estabelecimentos não adota a qualidade como critério ao
estabelecerem os preços de venda do mamão, baseando-se principalmente na época
do ano, procura dos clientes e preço de aquisição do fruto.
4- O grau de perda foi considerado muito alto (acima de 20% de perda) apenas
pelos varejões e alto (de 15 a 20%) pelos supermercados de médio (33%) e grande
portes (25%). Entre as principais causas de perdas do mamão atribuídas pelos
varejões, as mais citadas foram: má qualidade do fruto adquirido, demora entre
compra e venda, transporte precário e condições climáticas. Nos supermercados
de pequeno, médio e grande portes foram: falta de armazenamento apropriado, má
qualidade do fruto comprado, condições climáticas e manuseio do cliente.
6- Grande parte do mamão comercializado nestes estabelecimentos é entregue em
caixas de madeira.
7- Os mamões ficam expostos para venda em prateleiras na maioria dos
estabelecimentos pesquisados.