Efeito da poda da última penca do cacho da bananeira Prata Anã (AAB) irrigada
na produção de frutos no Norte de Minas Gerais
EFEITO DA PODA DA ÚLTIMA PENCA DO CACHO DA BANANEIRA PRATA ANÃ (AAB) IRRIGADA
NA PRODUÇÃO DE FRUTOS NO NORTE DE MINAS GERAIS1
INTRODUÇÃO
A bananicultura do Norte de Minas necessita de melhorias, principalmente no que
diz respeito a qualidade dos frutos, uma vez que a remuneração dos frutos
classificados como de segunda é hoje 50% da remuneração referente aos frutos de
primeira. Esta diferença de preço justifica um investimento em pesquisas de
técnicas que possam garantir o retorno dos grandes investimentos feitos na
região.
Segundo Soto Ballestero (1992), a poda de mãos foi idealizada pelos técnicos e
produtores de banana, para eliminar as mãos inferiores cujos dedos não atingem
as dimensões exigidas pelo mercado internacional. Para tanto se fixou como
norma, a retirada de uma ou duas pencas, para cachos com nove ou mais pencas
respectivamente, para variedades do subgrupo Cavendish. Em clones de dedos
curtos como 'Gran Enano' e 'Dwarf Cavendish', a poda pode ser ainda maior.
A última penca do cacho é , em geral, defeituosa, com bananas muito curtas e
por isso tais pencas são descartadas durante a embalagem em caixas (Moreira,
1987 e Souto et al 1997).
O despencamento consiste em eliminar esta última penca, deixando-se apenas um
fruto, que permitirá a circulação de seiva, evitando o ataque de doenças
(Moreira, 1987; Borges et al, 1997 e Souto et al 1997). Esta operação faz com
que todas as bananas das demais pencas tenham aumento de tamanho e diâmetro
(Moreira, 1987; Soto Ballestero 1992 e Souto et al 1997), além de melhoria de
qualidade dos frutos (Lichtemberg et al, 1991 e Soto, 1992).
Boncato (1977), trabalhando com a 'Lacatan', comparou os tratamentos em que
reduziu o número de pencas por cacho para 4, 5, 6 ou 7, com o tratamento em que
deixou todas se desenvolverem. O tratamento com menor número de pencas por
cacho resultou num aumento do massa média das pencas e dos frutos, bem como no
aumento do tamanho e da circunferência dos frutos.
Este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o efeito da retirada da
última penca de frutos do cacho de banana Prata Anã, na precocidade de colheita
e qualidade dos frutos.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental de Mocambinho (FEMO)
pertencente à EPAMIG (CTNM), no Projeto Jaíba . O Projeto Jaíba está localizado
no extremo norte do Estado de Minas Gerais entre 43o 29' e 44o 6' de longitude
Oeste, 14o 33' e 15o 28' de latitude sul com altitude de aproximadamente 500 m.
Possui pluviosidade média anual de 871mm, concentrados de novembro a março. A
temperatura média anual é de 24 oC e as médias de verão e inverno são 32 e
19,5oC respectivamente. A insolação é de 2763 horas anuais e umidade relativa
média de 70,6%, sendo que no período seco a UR pode chegar a extremos de 20%.
O solo da unidade foi classificado como Latossololo Vermelho Amarelo
Distrófico, apresentando na camada de 0 a 20cm, classe textural franco argilo
arenoso, com 22%de argila, 68%de areia e 10%de silte, cultivado pela primeira
vez. Foi feita análise de amostra do solo coletada antes do preparo da área,
que apresentou pH em água de 4,0/dm3, baixos teores de fósforo (1,8 ppm),
potássio (57 ppm), cálcio (1,1 meg/100cm3), magnésio (0,4 meg/100cm3), alumínio
(0,5 meg/100cm3) e 1,4% de matéria orgânica.
A área foi preparada com aração seguida das devidas correções, com calagem,
gradagem e preparo dos sulcos com 30 cm de profundidade. Adicionou-se 3,2
litros de esterco de galinha por metro linear de sulco. As covas de 40x40x40cm
foram abertas sobre os sulcos, com adição de fosfato e micronutrientes.
As mudas obtidas por cultura de tecidos, foram repicadas para sacos de
polietileno onde permaneceram por 30 dias e então levadas a campo e plantadas
no espaçamento 3.0 x 2.7m. As adubações de cobertura foram realizadas
mensalmente de acordo com a necessidade da cultura, e as análises de solo e
folhas realizadas a cada 4 meses.
A irrigação foi realizada com aspersão convencional nos primeiros 45 dias,
sendo então substituída por microaspersão. Como o solo possui baixa capacidade
de retenção de água, a irrigação foi feita diariamente, calculando-se a lâmina
de água com base na evaporação do Tanque Classe A e Kc da cultura. Utilizou-se
Kc recomendado por Doorembos e Kassam (1994), porém mantendo o valor 1, à
partir do oitavo mês. Todos os dados climáticos necessários ao cálculo da
irrigação, foram obtidos na estação meteorológica do INMET localizada na FEMO.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com 2
tratamentos, 23 repetições e 3 plantas por parcela. Os tratamentos foram
representados por poda da última penca e sem poda da última penca. Nas plantas
avaliadas a retirada da última penca foi feita quando esta se voltava para
cima, sendo que uma das duas fileiras de frutos se encontrava na horizontal. As
mesmas parcelas foram avaliadas durante os três ciclos de produção.
A colheita foi feita segundo a metodologia tradicionalmente utilizada na
região, quando os frutos apresentavam mudanças da tonalidade verde escuro para
verde claro e redução das quinas.
Foi feito controle de broca-do-rizoma utilizando-se iscas do tipo queijo, para
monitoramento da incidência e controle químico quando necessário. A sigatoka
amarela foi monitorada através da incidência de manchas nas folhas, para
definição da época e da utilização do controle químico .
Foram avaliadas as variáveis relacionadas na Tabela_1. Foi feita análise
estatística dos dados e análise das médias pelo teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após fixadas as parcelas as plantas foram acompanhadas individualmente, sendo
tomadas as datas de floração. As plantas do primeiro ciclo floresceram de 20/01
a 13/02/1997. No segundo ciclo o florescimento ocorreu de 25/03 a 14/10/1997.
Já no terceiro ciclo, o período de floração foi compreendido entre 21/11/1997a
23/01/1998.
A colheita feita segundo a metodologia descrita, foi realizada no período de
26/05 a 26/06/1997 para o primeiro ciclo, de 16/09/1997 a 09/02/1998 para o
segundo e de 08/04 a 28/10/1998 para o terceiro.
Avaliados os três primeiros ciclos de produção, foram observados os resultados
encontrados na tabela_1.
Não houve efeito de tratamento para precocidade, representada pelo período
entre o momento de retirada da última penca e o ponto de colheita, nos três
primeiros ciclos de produção, discordando do observado por Lichtemberg et al
(1991), em trabalho feito com a 'Nanicão'. Esta diferença de resultados
provavelmente ocorreu em função dos trabalhos terem sido conduzidos com
diferentes variedades. Outra diferença foi na metodologia utilizada, enquanto
Lichetemberg et al (1991) utilizaram cachos lançados numa só época, neste
trabalho as parcelas foram fixadas aleatoriamente, por ocasião do plantio, e
portanto a floração ocorreu em datas diferentes.
Para as variáveis de produção, não houve diferença estatística nos dois
primeiros ciclos para massa do cacho; massa média de frutos; massa média de
pencas; comprimento, diâmetro, massa e espessura de casca do fruto central da
segunda penca; massa penca 1; massa penca 2; massa da penúltima penca e massa
do engaço. Estes resultados contrariam as descrições feitas por Soto (1992);
Moreira (1987) e Boncato (1970). No segundo ciclo de colheita houve efeito
negativo da retirada de penca para massa total de frutos.
No terceiro ciclo a retirada da última penca promoveu aumento de massa média de
frutos, massa média de pencas e diâmetro do fruto central da segunda penca, não
alterando o massa total de frutos.
Conforme esperado, a retirada da última penca reduziu o número de pencas do
cacho. Da mesma forma, aumentou o número de frutos e massa da última penca,
conforme observado por Lichtemberg (1991), que diz que a última penca
remanescente apresentou frutos maiores no tratamento com poda, cuja penca
avaliada era a penúltima, enquanto que no tratamento sem poda, a penca avaliada
foi a última.
CONCLUSÕES
A poda da última penca não teve efeito sobre a produção de frutos nos dois
primeiros ciclos.
Para as variáveis de produção, não houve diferença estatística nos dois
primeiros ciclos, variando apenas o número de pencas e de frutos da última
penca, e a massa da última penca.
No segundo ciclo, houve efeito negativo da retirada de penca para massa total
de frutos.
No terceiro ciclo a retirada da última penca promoveu aumento de massa média de
frutos, massa média de pencas e diâmetro do fruto central da segunda penca, não
alterando o massa total de frutos.
Conforme esperado, a retirada da última penca reduziu o número de pencas do
cacho. Da mesma forma, aumentou o número de frutos e massa da última penca.