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BrBRCVAg0100-29452002000200022

BrBRCVAg0100-29452002000200022

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
ano2002
Issue0002
Article number00022

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Qualidade de caquis Fuyu tratados com cálcio em pré-colheita e armazenados sob atmosfera modificada QUALIDADE DE CAQUIS FUYU TRATADOS COM CÁLCIO EM PRÉ-COLHEITA E ARMAZENADOS SOB ATMOSFERA MODIFICADA1

INTRODUÇÃO O caquizeiro (Diospyruskaki L.) foi introduzido no Brasil no início do século XX por imigrantes japoneses. Entretanto, a expansão dessa cultura ocorreu a partir de 1970, com maior expressão na Região Sudeste. Na década de 90, a área cultivada com esta espécie praticamente dobrou, porém a demanda de mercado não acompanhou esse incremento. Isto gera a necessidade de se estabelecer condições de manejo na pré-colheita, na colheita e no armazenamento para ampliar o período de colheita e de armazenamento dessa fruta.

O Fuyu é promissora em termos de mercado, pois produz frutas grandes (150 a 200g), de polpa amarelo-avermelhada não adstringente, sem sementes e com coloração da epiderme que varia de amarelo-esverdeada a avermelhada.

Entretanto, dois problemas essenciais ainda limitam a harmonização da cadeia produtiva: i) o abortamento floral; ii) o curto período de conservação da fruta.

De acordo com Kader et al.(1989), as ações para a solução desses pontos de estrangulamento devem ser adotadas na pré e na pós-colheita, posto que a velocidade e a intensidade com que as alterações fisiológicas ocorrem nas frutas, são dependentes das características genotípicas (Abeles et al., 1992), das condições edafoclimáticas e de cultivo (Kader et al., 1989), colheita e armazenamento (Brackman & Saquet, 1995). A maioria das ações implementadas, visando a prolongar o período de conservação das frutas in natura, estão baseadas na redução da atividade metabólica e de organismos associados ao produto.

As pulverizações com cálcio, durante as fases de pré-floração, floração e crescimento das frutas, têm sido recomendadas como forma de reduzir os índices de abortamento floral, os distúrbios fisiológicos pós-colheita, a taxa respiratória, a produção de etileno e de preservar a firmeza da polpa (Perez et al., 1995).

Scalon et al. (1996) atribuem ao cálcio a capacidade de retardar os processos de amadurecimento e senescência das frutas, ao diminuir a taxa respiratória e a produção de etileno, controlar distúrbios fisiológicos, manter a integridade e funcionalidade das membranas celulares, além de manter a firmeza da fruta ao formar ligações entre pectinas ácidas da parede celular e lamela média (Poovaiah, 1986 e Glenn et al., 1988). Vários trabalhos (Perez et al., 1995; Brackmann & Saquet, 1995; Brackmann et al., 1997 e Ferri et al., 1999) vêm sendo desenvolvidos na tentativa de verificar a eficiência do cálcio na redução da incidência de podridões e no prolongamento de armazenamento, especialmente em maçãs (Brackmann et al., 1997).

Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho foi monitorar o efeito do cálcio aplicado em pré-colheita, em caquis Fuyu, no potencial de armazenamento desta cultivar em atmosfera refrigerada, refrigerada modificada e em temperatura ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS Os tratamentos (safra 1997/98) foram desenvolvidos em propriedade localizada no município de Canguçu ' RS. Os caquizeiros Fuyu, de 11 anos de idade, foram tratados com 1% de cálcio (CaCl2), em pulverizações de cobertura total, a cada 15 dias, a partir de 90 dias antes da data prevista para a colheita. Para a testemunha, aplicou-se água destilada na pulverização.

Os caquis foram colhidos, padronizados em tamanho e coloração da epiderme e pré-resfriados a 4oC, por 24 horas.

O armazenamento foi feito em temperatura ambiente (TA), realizado a 23±3oC e 75±5% de umidade relativa; em atmosfera refrigerada (AR) a 0±0,5oC e 90±5% de umidade relativa; e em atmosfera modificada (AM), com as frutas embaladas em filme de polietileno de baixa densidade (PEBD 35/55cm), 33µm de espessura, e armazenadas a 0±0,5oC e 90±5% de umidade relativa. As análises fisiológicas, físicas e químicas foram realizadas a cada 96 horas para as frutas mantidas em TA, durante 20 dias, e para os demais tratamentos a cada 20 dias (acrescidos de 24 e 96 horas em comercialização simulada a 23±3oC e 75±5% de umidade relativa), durante 80 dias.

O delineamento experimental adotado foi completamente casualizado, com pulverizações de quatro plantas, constituindo as repetições a campo. Na etapa de pós-colheita, as frutas foram acondicionadas em bandejas plásticas de 12 frutas, constituindo as unidades experimentais. Seguiu-se o esquema fatorial 2x3x5x2 (pulverizações a campo x sistemas de armazenamento x períodos de armazenamento x período após a retirada da câmara fria).

Determinou-se a firmeza de polpa com penetrômetro manual de ponteira 8mm em duas determinações após a remoção da casca, em faces opostas, localizadas na zona equatorial das frutas, expressando os resultados em Newton (N); os Sólidos Solúveis Totais (SST) foram medidos em refratômetro manual e os resultados expressos em ºBrix; a produção de etileno foi medida por cromatografia em fase gasosa e expressa em nL.h-1.g-1; o cálcio foi quantificado por digestão a quente dos frutos com leituras em espectrofotômetro de chamas e os resultados expressos em mg.kg-1; a ocorrência de escurecimento de epiderme (EE) e/ou podridões na epiderme, através de notas atribuídas em escala: (1) frutos sadios; (2) 30% de danos; (3) 60% de danos; e (4) 90% de danos, com limites máximos aceitáveis até a escala 2.

Os dados resultantes foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan, a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os caquis provenientes de plantas tratadas e não tratadas com cálcio não apresentaram variações significativas na firmeza de polpa, conteúdos de SST e de cálcio (Tabela_1) no dia da colheita.

Quando essas frutas foram armazenadas durante 20 dias, o tratamento com cálcio e o sistema de armazenamento afetaram-nas significativamente (Tabela_2), especialmente na firmeza de polpa e ocorrência de escurecimento da epiderme. Os caquis tratados com cálcio mantiveram maiores valores de firmeza de polpa e menor incidência de escurecimento. Verificou-se um efeito significativo da AM na preservação dessas características.

Ao analisar-se as frutas 96 horas após a retirada da câmara fria, os efeitos do cálcio e da AM foram mais evidentes (Tabela_2). Para que os caquis Fuyu tenham boa aceitação no mercado consumidor, segundo Mitcham et al. (1998), a firmeza de polpa deve estar entre 20 e 60N.

Todas as frutas tratadas com cálcio apresentavam firmeza de polpa superior a 20N e baixa ocorrência de escurecimento da epiderme. , em frutas não tratadas e armazenadas em TA e AR, houve uma significativa alta na ocorrência de escurecimento. Verificou-se o efeito benéfico do cálcio na preservação da firmeza de polpa, tanto as frutas mantidas em TA, AR quanto em AM, após 96 horas.

Os resultados de SST (Tabela_2), 24 horas após as frutas serem retirada da câmara fria, não diferiram estatisticamente entre si, independentemente do uso de cálcio ou não. Esses valores são semelhantes aos relatados para a maioria das regiões e países onde esta cultura é pesquisada (Hirai & Yamazaki, 1984; Sargent et al., 1993; Collins & Tisdell, 1994 e Brackmann & Saquet, 1995).

Entretanto, após 96 horas (Tabela_2), as frutas tratadas com cálcio apresentaram teores de SST superiores aos das não tratadas.

Os resultados de SST são, em parte, concordantes com alguns autores (Ben-Arie et al., 1986; Sargent et al., 1993 e Collins & Tisdell, 1995), que relatam uma tendência de ligeira redução de SST em caquis armazenados. Entretanto, para Hirai & Yamazaki (1984), Senter et al.(1991) e Maness et al. (1992), os teores de SST, nos primeiros dias após a colheita, tendem a aumentar, seguidos de redução. Para Moura et al. (1997), o conteúdo de SST em caquis é crescente durante o armazenamento. Porém, segundo Rinaldi et al.(1998), pode-se também verificar redução dos SSTs seguida de posteriores acréscimos.

Aplicações de cálcio proporcionam condições capazes de reduzir o metabolismo das frutas sem causar distúrbios de escurecimento da epiderme, ao menos até 20 dias de armazenamento refrigerado, seguido de 24 horas à temperatura ambiente (Tabela_2). Estes mesmos resultados revelam também o efeito que o uso de AM exerce sobre o controle do escurecimento da epiderme dos caquis.

Após 80 dias de armazenamento, observou-se efeito significativo da aplicação de cálcio e do uso de AM (Tabela_3). Em frutas armazenadas em AR, houve perda total de firmeza de polpa, enquanto, em AM, a firmeza observada foi de 5N e 22N, respectivamente, para frutas não tratadas e tratadas com cálcio. Os conteúdos de SST e de cálcio não apresentaram variações significativas.

Em caquis mantidos 96 horas em condições de comercialização simulada, após 80 dias (Tabela_3), somente aqueles tratados com cálcio e armazenados em AM mantiveram condições de consumo, com razoável firmeza de polpa e menor ocorrência de escurecimento da epiderme.

De maneira geral, os resultados mostram o efeito positivo do cálcio na manutenção da qualidade de caquis. Entretanto, a aplicação de cálcio não proporcionou incremento deste cátion nas frutas. Este comportamento também foi observado em pêssegos (Mitchell & Crisosto, 1998). Em maçãs, onde a maioria dos trabalhos com cálcio têm sido realizados, os resultados são controvertidos.

Segundo Liv (1998), devido à baixa absorção e translocação do cálcio, e dependendo da espécie e condições climáticas, as aplicações em pulverizações de cobertura nem sempre induzem a um aumento da concentração deste cátion. Às vezes, um aumento localizado, apenas na região da epiderme. Este comportamento ocorre principalmente em frutas com elevada taxa de crescimento na fase inicial do amadurecimento, como é o caso de pêssegos. Também ocorre em regiões de alta pluviosidade. Isto pode explicar o comportamento observado nos caquis que, em média, triplicaram de peso nos últimos 30 dias que antecederam a colheita (dados não apresentados).

Além destas constatações, verificou-se que os caquis tratados com cálcio apresentaram melhor aparência externa, não somente pela menor ocorrência de escurecimento, mas também pela sua coloração mais uniforme e brilhante (dados não apresentados).

CONCLUSÃO 1 - A aplicação quinzenal de cálcio, a partir de 90 dias antes da data prevista para a colheita, na forma de CaCl2 a 1%, em pulverização de cobertura de plantas, melhora o potencial de conservação de caquis Fuyu.

2 - A associação de cálcio com o armazenamento em atmosfera modificada amplia o período seguro de conservação de caquis Fuyu.


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