Efeito dos substratos artificiais no enraizamento e no desenvolvimento de
estacas de maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg)
INTRODUÇÃO
As vantagens da muda obtida por estaquia ou por outro processo assexual
consistem no fato de se obter plantas com estabilidade genética garantida, o
que implicará a formação de pomares mais uniformes, mais produtivos e frutos
mais homogêneos. Por ser o maracujazeiro uma espécie alógama, as cultivares
multiplicadas por sementes dão origem a plantas e frutos desuniformes e
degeneram-se rapidamente devido à endogamia. Há grande carência de estudos em
relação a substratos na formação de mudas de maracujazeiro por estaquia. Borges
et al. (1995) relatam que o substrato consiste num fator importante para a
formação de mudas de boa qualidade. Dessa forma, objetivando avaliar substratos
para produção de mudas de maracujazeiro por estaquia, foram conduzidos dois
experimentos onde se testaram diferentes substratos.
MATERIAL E MÉTODOS
Para este estudo, foram montados dois ensaios em casa de vegetação, em dois
ambientes, na Embrapa Cerrados, Planaltina-DF. No primeiro, a temperatura foi
controlada por meio de um termostato, que acionava o sistema de ventiladores. A
umidade foi controlada por um umidostato que acionava o sistema de nebulização
intermitente quando a umidade baixava de 70%. Para registrar a variação da
temperatura e umidade relativa, instalou-se um termoigrógrafo dentro da casa de
vegetação. A umidade relativa oscilou de 70% a 100%, e a temperatura variou de
16ºC a 20ºC à noite e de 20ºC a 28ºC ao dia. Após 30 dias, as bandejas com as
estacas foram transferidas para um segundo ambiente, com ventilação e duas
regas diárias de 4 L/m2 sendo uma às 12 horas e a outra às 15 horas.
Os substratos-base utilizados nos dois ensaios foram: 1) Plantmax HortaliçasÒ,
um substrato comercial composto de casca de pinus e turfa enriquecidas e
processadas, vermiculita, umidade de 50% a 55%, densidade de 450±5 kg/m3, pH de
5,5-6,2 e condutividade elétrica de 1,8-2,5 mS/cm. 2) Plantmax Florestal
EstacaÒ,apropriado para enraizamento de estacas e composto de casca de pinus
processada e enriquecida, vermiculita e perlita, umidade 50-55%, densidade de
420±5kg/m3, pH de 5,5-6,2 e condutividade elétrica de 1,8-2,0 mS/cm.
Como complemento, foram utilizados os fertilizantes OsmocoteÒe NutriplantaÒ. O
OsmocoteÒ é um fertilizante de liberação lenta, à base de 14-14-14, de N-P2O5-
K2O, onde os nutrientes são liberados pela ação do binômio umidade e
temperatura, por um período de três meses à temperatura de 21°C, sendo que o
nitrogênio apresenta-se com 50% na forma nítrica e 50% na amoniacal. O
NutriplantaÒ é um aditivo composto de materiais orgânicos fermentado por
bactérias, cuja análise demonstrou os seguintes resultados: pH em água 6,5, pH
em CaCl2de 6,5, umidade a 65 ºC de 29,2%, umidade total a 105 ºC de 31,5%,
matéria orgânica total de 47%, carbono total de 27,2%, resíduo mineral total de
21,5%, resíduo mineral solúvel 18,5%, resíduo mineral insolúvel de 3,0%,
nitrogênio total de 20,6%, relação C/N de 13,2, fósforo de 14,2 g/kg, potássio
de 21,9 g/kg, cálcio de 84,3 g/kg, magnésio de 5,7 g/kg, enxofre de 3,6 g/kg;
boro de 31 mg/kg, zinco de 329 mg/kg, ferro de 2897 mg/kg, manganês 577 mg/kg e
também cobre 55 mg/kg, analisados pela metodologia de Kiehl (1985). Dessa
forma, os tratamentos utilizados no primeiro ensaio foram: EON = Plantmax
Florestal EstacaÒ + 350 g de OsmocoteÒ em 55 L substrato + 10% do volume de
NutriplantaÒ; E= Plantmax Florestal EstacaÒ; EN = Plantmax Florestal EstacaÒ +
10% do volume de NutriplantaÒ; EO = Plantmax Florestal EstacaÒ + 350 g de
OsmocoteÒ em 55 L substrato; PX = Plantmax HortaliçasÒ (testemunha); PXN =
Plantmax HortaliçasÒ + 10% do volume de NutriplantaÒ; PXON = Plantmax
HortaliçasÒ + 350 g de OsmocoteÒ em 55 L substrato + 10% do volume de
NutriplantaÒ; PXO = Plantmax HortaliçasÒ + 350 g de OsmocoteÒ por 55 L
substrato.
O primeiro ensaio foi conduzido de agosto a novembro de 1999, utilizando
estacas da cultivar Marília Seleção Cerrados, coletadas em plantios da Embrapa
Cerrados, na estação seca, em plantas com dois anos, na posição mediana do ramo
(região de folhas verdes, desprezando somente a parte apical do ramo), contendo
de cinco a oito milímetros de espessura, seguindo as recomendações da Comissão
Estadual de Sementes e Mudas (CESM, 1999).
As estacas foram preparadas e padronizadas com dois nós, sem as folhas e, antes
de serem mergulhadas por 10 segundos em uma solução de AIB (ácido
indolbutírico), tiveram suas extremidades basais seccionadas em 0,5 cm para
eliminar o tecido oxidado. O plantio foi efetuado em bandeja de poliestireno
expandido (IsoporÒ) de 72 células, contendo os substratos (tratamentos). As
estacas tiveram suas bases introduzidas no substrato à profundidade de três cm.
Em seguida, efetuou-se a compressão manual do substrato para a retirada do ar.
O ensaio foi instalado em blocos casualizados, com parcela de 12 plantas e seis
repetições. Para preparar a solução de AIB, foram dissolvidos dois gramas de
AIB em 50 ml de álcool hidratado (96o GL) e depois diluído em 950 ml de água,
formando uma solução de 2.000 ppm, conforme resultados de Santana et al.
(2001).
O segundo ensaio foi conduzido no período de agosto a novembro de 2000,
utilizando-se de estacas do Híbrido RC1 ((F1: Marília x Roxo Australiano) x
Marília), coletadas em um plantio comercial com idade de um ano, seguindo os
mesmos padrões anteriores.
Neste ensaio, utilizou-se um delineamento em blocos casualizados, com três
repetições e parcelas de seis plantas, sendo acrescido do fertilizante
PlantafolÒ na formulação 20-20-20, de N-P2O5-K2O, mais 0,05% de boro e 0,2% de
ferro quelatizado com EDTA.
Os tratamentos do segundo ensaio foram: PXOM = Plantmax HortaliçasÒ + 350 g de
OsmocoteÒ misturado em 55 L substrato; PX = Plantmax HortaliçasÒ (testemunha);
EWA = Plantmax Florestal EstacaÒ + 1 g de PlantafolÒ por L de água, na
formulação 20-20-20 de N-P2O5-K2O, via fertirrigação de 15 em 15 dias, PXON =
Plantmax HortaliçasÒ + 350 g de OsmocoteÒ misturado em 55 L substrato + 10% do
volume de NutriplantaÒ; PX10 = Plantmax HortaliçasÒ + 490 g da formulação de
10-10-10 de N-P2O- K2O em 55 L de substrato; PXWA = Plantmax HortaliçasÒ + 1 g
de PlantafolÒ por L de água, na formulação 20-20-20 de N-P2O5-K2O, via
fertirrigacão de 15 em 15 dias; E10 = Plantmax Florestal EstacaÒ + 490 g da
formulação de 10-10-10 de N-P2O5-K2O em 55 L de substrato; EOM = Plantmax
Florestal EstacaÒ + 350 g de OsmocoteÒ misturado em 55 L substrato; EON =
Plantmax Florestal EstacaÒ + 350 g de OsmocoteÒ misturado em 55 L substrato +
10% do volume de NutriplantaÒ; PXOS = Plantmax HortaliçasÒ + 1 g de OsmocoteÒ
superficial por célula da bandeja 30 dias após o plantio; E = Plantmax
Florestal EstacaÒ; EOS = Plantmax Florestal EstacaÒ + 1 g de OsmocoteÒ
superficial por célula da bandeja.
Os seguintes parâmetros foram avaliados: percentagem de estacas brotadas,
enraizadas e com fungos; peso de matéria fresca da parte aérea e das raízes e
peso de matéria seca da parte aérea e das raízes, aos 90 dias após o plantio,
desconsiderando-se o peso das estacas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados relativos às análises das variáveis estudadas estão apresentados nas
Tabelas_1 e 2. Verificaram-se diferenças significativas para percentagem de
estacas brotadas, enraizadas e com antracnose, não havendo diferença para os
demais parâmetros.
O substrato que mais se destacou na percentagem de estacas brotadas e
enraizadas, foi EON (Tabela_1), apesar de não diferir estatisticamente dos
substratos E, EN, EO e PX. O pior desempenho foi apresentado pelo substrato
PXO, porém esse substrato apresentou maior índice de estacas mortas pelo fungo
Colletotrichum gloeosporioides que causa necrose dos tecidos e morte das
estacas. Na Figura 1, podem ser observados os sinais desse fungoque são
caracterizados pela presença de acérvulos de C. gloeosporioides e peritécios
(pontuações escuras) de Glomerella cingulata,sua fase perfeita ou sexuada.
Os substratos EN, E e EON induziram melhores resultados, com média de estacas
infectadas em torno de 20%, diferindo do PXON e PXO. Graça (1990) também
observou o crescimento de C. gloeosporioides e bactérias a ponto de comprometer
o enraizamento das estacas de maracujazeiro-azedo.
Todos os substratos à base de Plantmax HortaliçasÒ induziram menores
percentagens de estacas enraizadas e brotadas, e maior percentagem de estacas
mortas por C. gloeosporioides.
Para o segundo ensaio, não houve diferenças significativas em relação ao
percentual de estacas brotadas e enraizadas. No entanto, o PXOM apresentou
melhor desempenho em relação a estacas brotadas e o substrato EWA para as
estacas enraizadas. As piores médias para estas duas características e também
maior quantidade de estacas infectadas por C. gloeosporioides foram obtidas no
substrato EOS (Tabela_2).
Também não houve diferenças significativas para os pesos de matéria fresca e
seca das raízes, onde o EOS apresentou melhor desempenho para essas
características. O substrato E puro, proporcionou o pior desempenho, com
variação de 3,3 g e 0,34 g para as maiores médias e de 1,1 g e 0,09 g,
respectivamente, para as duas variáveis analisadas. Houve diferença quando se
compararam os substratos em relação aos pesos de matéria fresca e seca da parte
aérea, como se pode observar na Tabela_2. O substrato EOS, embora não se
destacasse nas características anteriores, foi o que proporcionou o melhor
desenvolvimento da parte aérea das estacas brotadas. Observou-se que mudas
oriundas de estaquia contendo acima de quatro g de matéria fresca das raízes
apresentaram excelente nível de enraizamento, tendo também parte aérea em igual
proporção.
Quanto ao enraizamento de maracujazeiro-azedo, Ruggiero (1987), trabalhando em
câmara de nebulização com estacas com um nó e meia-folha, um nó e uma folha,
dois nós e duas meias-folhas, dois nós e duas folhas, três nós e três meias-
folhas e estacas com três nós e três folhas, obteve, respectivamente, 70,6%,
58,6%, 80,0%, 57,3%, 56% e 33% de estacas enraizadas. Almeida et al.(1991),
trabalhando com estacas sem folhas, estaca com meia-folha e estaca com folha
inteira retirada de pomar com um ano de idade e usando areia grossa lavada como
substrato, obtiveram, respectivamente, 41,4%, 74,3% e 88, 9% de enraizamento.
Estes autores verificaram que a presença da folha inteira ou em parte favorece
o enraizamento de estacas. Matsumoto & São José (1989), testando substratos
à base de carvão, esterco curtido de curral e areia grossa, obtiveram
percentuais de estacas enraizadas superiores a 80%. São José (1991) relata
percentuais de enraizamento de estacas acima de 90%, sem o uso de fitormônios
vegetais, quando as estacas são mantidas em leito de areia grossa lavada,
dentro de estufim de plástico com insolação diária de 50% e sob regas diárias.
Comparando esses resultados com os obtidos no presente trabalho (Tabelas_1 e
2), verificam-se índices de enraizamento similares obtidos em alguns substratos
como EON, EN, EWA, PXON e outros. No entanto, nenhum dos autores relatou o
percentual de estacas brotadas, parâmetro este que deve ser considerado.
Em ambos os experimentos, além da alta incidência do fungo C. gloeosporioides
(Tabelas_1 e 2), foram observadas larvas do microdíptero Fungus gnat atacando a
base das estacas e causando-lhes a morte. Dessa forma, não há dúvidas de que
esses organismos tenham afetado negativamente o resultado final dos
experimentos, uma vez que não foram adotadas medidas de controle.
CONCLUSÕES
1. Uso de substrato à base de Plantmax Florestal EstacaÒproporcionou maior
brotação e enraizamento e menor incidência de Colletotrichum gloeosporioidesnas
estacas da Cv. MSC.
2. O fertilizante Osmocote,Ò com o Aditivo NutriplantaÒ no substrato à base
Plantmax Florestal EstacaÒ, proporcionou maior brotação, maior enraizamento e
menor incidência de C. gloeosporioidesnas estacas da Cv. MSC.
3. Não houve diferenças significativas no enraizamento das estacas do Híbrido
RC1 ((F1: Marília x Roxo Australiano) x Marília) em relação aos substratos
testados.
4. A adição de um grama de OsmocoteÒ por estaca no substrato Plantmax Florestal
EstacaÒ aumentou a porcentagem de estacas brotadas.