Produtividade da cultura da pinha (Annona squamosa L.) em função de níveis de
adubação nitrogenada e formas de aplicação de boro
PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA PINHA (Annona squamosa L.) EM FUNÇÃO DE NÍVEIS DE
ADUBAÇÃO NITROGENADA E FORMAS DE APLICAÇÃO DE BORO1
INTRODUÇÃO
A região Norte-Noroeste Fluminense, marcada pelo cultivo intensivo e extensivo
da cana-de-açúcar, apresenta uma forte vocação para a fruticultura. Sua
localização próxima aos grandes centros consumidores (Rio de Janeiro, Vitória,
Belo Horizonte e São Paulo) facilita a comercialização e tende a incrementar os
ganhos com os produtos vendidos.
A cultura da pinha tem sido apontada como uma das fruteiras mais promissoras
para a região, devido à sua fácil adaptação edafoclimática e aos elevados
preços que seus frutos alcançam no mercado, com conseqüente interesse por parte
dos produtores.
Entretanto, até o momento, pouco se conhece sobre tecnologias de produção da
pinha, como obtenção de variedades ou cultivares, poda, indução floral,
polinização, controle de pragas e doenças, conservação pós-colheita, adubação e
nutrição de plantas.
Entre as técnicas culturais mais importantes, está a nutrição das plantas, pois
as fruteiras, de modo geral, retiram do solo grande quantidade de nutrientes, e
um desbalanço nutricional pode comprometer a produção. Quando se trata de
adubação de fruteiras, o nitrogênio (N) e o boro (B) são nutrientes que merecem
especial atenção, pois afetam diretamente a produção, a produtividade e a
qualidade de frutos, fatores essenciais ao sucesso da cultura.
O nitrogênio é um nutriente bastante estudado, e a sua disponibilidade é um dos
fatores que limitam o crescimento e a produtividade das plantas, pois é
requerido em todas as fases do desenvolvimento vegetal (Fernandes e Rossielo,
1995, Maschner, 1995). Plantas deficientes em N apresentam-se amareladas e com
crescimento reduzido. A clorose desenvolve-se primeiro nas folhas mais velhas,
com as mais novas permanecendo verdes. Em casos de deficiências severas, as
folhas adquirem coloração marrom e morrem (Raij, 1991).
Na Índia, Sadhu e Ghosh (1976), citados por Silva e Silva (1997), trabalhando
com três doses de nitrogênio em solo arenoso, constataram que plantas de pinha
deficientes em N apresentaram paralisação do crescimento, não havendo emissão
de ramos. As folhas tornaram-se significativamente menores, e detonalidade
verde-pálida amarelada. Surgiram manchas de coloração ferruginosa nas folhas
inferiores e houve abscisão precoce das mesmas. A formação de gemas florais foi
severamente afetada, e o alto nível de N antecipou o florescimento em 10 dias,
enquanto baixo nível desse nutriente retardou o processo de floração em mais de
dois meses.
Diferente do nitrogênio, o boro tem sido pouco estudado, apesar de sua
deficiência trazer grandes prejuízos à produção e qualidade do produto. O
suprimento adequado deste nutriente para as plantas é essencial para o
desenvolvimento normal de frutos e sementes (Woods, 1994) e, segundo Maschner
(1995), o número de sementes e ou frutos por planta podem, também, ser
diretamente afetados pelo ineficiente suprimento mineral com B, o qual
influencia na germinação do tubo polínico.
De acordo com Tanada (1995) e Yamada (2000), a carência de B paralisa o
crescimento dos tecidos meristemáticos das folhas e raízes, devido à
interrupção da divisão celular. Woods (1994) relata que as anormalidades
encontradas nos meristemas apicais podem ser um efeito secundário do dano ao
tecido vascular pela deficiência de B.
Pavan (1997), trabalhando com macieira, variedade Gala, estudou o efeito da
aplicação de boro no solo e constatou que o aumento do teor de B no solo
depende do tipo de fertilizante e da época de amostragem após a aplicação. A
fonte de ácido bórico foi superior ao bórax, principalmente no primeiro ano
após a aplicação no solo, devido à maior solubilidade da primeira fonte de B em
relação à segunda. A aplicação de B no solo aumentou os teores deste elemento
nas folhas da macieira, dependendo da fonte e da época de amostragem. Os
máximos aumentos de B nas folhas ocorreram durante os dois primeiros anos,
diminuindo nos anos seguintes. Como esperado, devido à sua maior solubilidade,
o ácido bórico foi mais efetivo que o bórax no primeiro ano, com tendências de
igualar-se a partir do segundo ano. A aplicação de B no solo aumentou
rapidamente as concentrações no solo e nas folhas, resultando em aumento na
produção de frutos.
O objetivo deste trabalho foi estudar a influência da aplicação de nitrogênio e
métodos de aplicação de boro no florescimento, vingamento de flores,
desenvolvimento de fruto e na produtividade de plantas de pinha.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido numa propriedade situada na localidade de Praça
João Pessoa, no município de São Francisco de Itabapoana-RJ, Latitude 21º 19'
22" e Longitude 41º; 07' 42", em uma área cultivada compreendendo um
ha com plantas de pinha com 4 anos de idade, num solo do tipo ARGISSOLO AMARELO
distrófico, desenvolvido a partir de sedimentos terciários (Manzatto, 1998). Os
resultados da análise química do solo, na camada de 0 a 20 cm de profundidade,
são apresentados no Quadro 1, e as condições climáticas observadas no período
de condução do experimento estão apresentadas no Quadro 2.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados, em esquema
fatorial 4 x 3 (4 doses de N e 3 formas de aplicação de boro), com três
repetições. As parcelas foram constituídas por 3 fileiras com 4 plantas, em
espaçamento de 4 x 4 metros, sendo que as 2 plantas centrais foram consideradas
úteis, equivalendo a uma área experimental de 32 m2 por parcela e 432 plantas
em área total.
Em julho de 2000, efetuou-se uma poda de produção, e as plantas receberam uma
adubação com 250 g de superfosfato simples, 100 g de cloreto de potássio e 20 g
de sulfato de zinco.
Os tratamentos constaram de 4 doses de nitrogênio (0; 100; 200 e 400 g planta-
1 de N), utilizando-se de uréia como fonte de N, sendo que cada dose foi
parcelada em 4 aplicações mensais, de agosto a novembro de 2000; e de 3 formas
de aplicação de boro, sendo a aplicação de 40 g de ácido bórico no solo
(parcelada em quatro vezes iguais), pulverizações foliares mensais, de agosto a
novembro, de uma solução contendo 0,25 g de ácido bórico por 100 L de água e um
tratamento sem aplicação de boro.
Durante a condução do experimento, as plantas receberam uma dose fixa de 100 g
de cloreto de potássio em agosto e setembro e 167 g em outubro e novembro. A
plantas foram irrigadas a partir de setembro com um sistema de irrigação por
microaspersão, utilizando-se de um microaspersor para 2 plantas.
Além da poda de produção realizada em julho de 2000, as plantas receberam os
tratos culturais que se fizeram necessários, tais como, controle de plantas
daninhas e tratamentos fitossanitários, com aplicação de DipterexÒ e FolicurÒ
para controle da broca-do-fruto (Cerconota anonella) e antracnose
(Colletotrichum gloesporioides), respectivamente. Também foram feitas a catação
manual e a eliminação com enterrio ou queima dos frutos brocados.
Em setembro e outubro de 2000, foram contadas todas as flores emitidas, para a
determinação do número médio de flores/planta, e 60 dias após a primeira
contagem de flores (ocasião do máximo de florescimento), contaram-se todos os
frutos/planta para a determinação da porcentagem de vingamento de frutos em
função dos tratamentos aplicados.
Os efeitos dos tratamentos sobre a produtividade, peso médio, diâmetro,
comprimento médio e número de frutos ha-1 foram observados em frutos colhidos
da parcela útil, pelo menos duas vezes por semana, no período de produção
(dezembro de 2000 e janeiro de 2001).
A porcentagem de frutos brocados e rachados foi obtida contando-se, ainda nas
plantas, os frutos com esses problemas, os quais eram então retirados e
considerados frutos não-comerciais.
Foram realizadas análises de variância para os parâmetros quantificados e a
diferença entre as médias dos tratamentos foi verificada pelo teste de Tukey,
ao nível de 5% de probabilidade, para o Fator Boro, e pelo teste de regressão
polinomial, para o Fator Nitrogênio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As aplicações de B, tanto no solo quanto nas folhas, provocaram aumento na
produtividade e no número de frutos da pinha (Quadro 3). Resultado semelhante
foi encontrado por Pavan (1997) quando aplicações de B no solo também elevaram
a produtividade de frutos de macieira.
Observou-se efeito quadrático do incremento nas doses de N sobre o número de
frutos e a produtividade. O maior número de frutos, 22.365 frutos ha-1, e a
maior produtividade, 6.059 kg ha-1, foram obtidos com as doses de 234,7 e 240,1
g planta-1 de N, respectivamente (Figura_1).
As diferentes formas de aplicação de B não influenciaram o peso médio, o
comprimento e o diâmetro de frutos, cujas médias foram 274 g, 73,3 mm e 81,5
mm, respectivamente (Quadro 4). Com relação às doses de N aplicadas, não se
verificou diferença para o comprimento, o diâmetro e o peso médio de frutos.
Apesar de não terem sido verificadas diferenças significativas, é provável que
o maior peso médio de frutos observado no tratamento, sem adição de boro, tenha
sido provocado pelo menor número de frutos observado nestes tratamentos (Quadro
4).
Não houve diferença entre os tratamentos com B e N para a porcentagem de frutos
brocados e rachados. Observaram-se, em média, 4,5% de frutos brocados e 17,8%
de frutos rachados.
As diferentes formas de aplicação de B não influenciaram no número de flores
por planta, obtido no máximo florescimento, e no número de frutos por planta,
60 dias após o máximo florescimento, cujas médias foram, respectivamente, 416 e
62,9 (Quadro 4). Observou-se elevação na percentagem de frutos vingados quando
se comparam os tratamentos com B foliar e aquele em que não foi aplicado o
nutriente (Quadro 4).
Verificou-se que o incremento nas doses de N influenciou o número de flores por
planta e o número de frutos por planta, quantificados 60 dias após o
florescimento (Figura_2). O maior número de flores por planta, 516, e o maior
número de frutos por planta, 60 dias após o florescimento, 95, foram obtidos
com a aplicação de 251 e 243 g de N por planta, respectivamente (Figura_2). A
adubação nitrogenada influenciou na percentagem de frutos vingados (Y = 12,5 +
0,0282N ' 0,00005352N2 R2 = 0,70*), 60 dias após o máximo de florescimento,
quando a maior percentagem de vingamento de frutos (19,9%) foi obtida com a
dose de 263,4 g planta-1 de N.
CONCLUSÕES
1. As adubações com nitrogênio e com boro aumentaram o número de frutos e a
produtividade das plantas.
2. A adubação nitrogenada aumentou o número de flores e o vingamento de frutos.
3. A aplicação foliar de boro elevou o vingamento dos frutos.