Desenvolvimento de frutos de cirigueleira (Spondias purpurea L.)
Desenvolvimento de frutos de cirigueleira (Spondias purpurea L.)1
Development of red mombin fruits (Spondias purpurea L.)
Laesio Pereira MartinsI; Silvanda de Melo SilvaII; Ricardo Elesbão AlvesIII;
Heloísa Almeida Cunha FilgueirasIII
IM.Sc., Dept. de Tecnologia Rural (DTR), Centro de Formação de Tecnólogos
(CFT)/UFPB
IIPh.D., Professor Adjunto III, Lab. Biologia e Tecnologia Pós-Colheita, DCFS/
CCA/UFPB, C.P.04, 58397-970, Areia- PB. E-mail: silvasil@cca.ufpb.br
IIID.Sc., Pesquisador Embrapa Agroindústria Tropical, C.P. 3761, 60511-110,
Fortaleza-CE. E-mail: elesbao@cnpat.embrapa.br; heloisa@cnpat.embrapa.br,
respectivamente
INTRODUÇÃO
A cirigueleira (Spondias purpurea L.), originária da América Tropical, produz a
ciriguela, fruto tipo drupa de cor vermelho-escura quando maduro, que possui
polpa de aroma e sabor agradáveis (Leon & Shaw, 1990). Devido sua excelente
qualidade organoléptica, a ciriguela é muito apreciada no Nordeste brasileiro,
refletido pelo contínuo aumento do consumo do fruto in natura ou processado na
forma de diversos produtos, normalmente disponibilizados no mercado, o que tem
proporcionado crescente interesse para seu cultivo comercial (Sacramento &
Souza, 2000).
O estágio de desenvolvimento dos frutos no momento da colheita tem influência
na qualidade do fruto maduro. Quando os frutos são colhidos verdes ou
fisiologicamente imaturos, não amadurecem, enrugam e apresentam exsudação da
seiva, ou quando o amadurecimento ocorre, a qualidade dos frutos é prejudicada
(Hulme, 1970). Os frutos colhidos muito maduros deterioram-se rapidamente, não
podendo ser armazenados e/ou comercializados em locais distantes (Kays, 1997).
A avaliação do padrão de desenvolvimento de um fruto a partir do florescimento
auxilia no estabelecimento de índices de maturidade (Coombe, 1976). Vários
critérios têm sido utilizados na determinação da maturidade de frutos, baseados
no aspecto aparente (tamanho, diâmetro, cor, etc.) e na composição química
(sólidos solúveis, acidez titulável, etc.) do produto na época da colheita.
Porém, estes índices podem variar consideravelmente, dependendo do local de
cultivo, cultivares e condições climáticas do ano de crescimento (Biale &
Young, 1964). Um dos índices mais utilizados na determinação do ponto de
colheita é o número de dias desde a floração até o desenvolvimento pleno do
fruto (Warrington et al., 1999).
Muitos trabalhos descrevem as mudanças físicas e químicas durante a maturação,
amadurecimento e armazenamento de frutos (Araújo Neto, 2001; Costa, 1998; Díaz-
Pérez et al., 1998; Rao et al., 1995; Souza et al., 2000). Nenhum trabalho, no
entanto, descreve essas mudanças em ciriguelas desde o florescimento até o
amadurecimento do fruto. O objetivo deste trabalho foi avaliar as mudanças
físicas ocorridas durante o ciclo de desenvolvimento de ciriguela, visando a
obter subsídios na determinação dos índices de maturação e estabelecimento da
fisiologia do fruto e do estádio de maturação mais adequado para a sua colheita
e armazenamento.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida durante os meses de agosto a março de 1998-1999 e
1999-2000, no pomar do Centro de Formação de Tecnólogos (CFT), Câmpus IV da
Universidade Federal da Paraíba, situado no Município de Bananeiras, zona
fisiográfica do Brejo Paraibano. A altitude local é de 552 m, situando-se entre
as coordenadas geográficas 6° 41' 11" de latitude Sul e 35°c 37' 41"
de longitude Oeste, com clima quente e úmido. A temperatura da região varia
entre a máxima de 36 e a mínima de 18 ºC, com precipitação média anual de 1200
mm (Anuário, 1997).
Foram selecionadas ao acaso nove plantas com mais de 5 anos de idade, nas quais
foram marcadas as flores abertas (antese), com pedaços de fios de lã de
diferentes cores. Imediatamente após a formação do fruto, aproximadamente 3
dias após a antese, foram marcados cerca de 600 frutos/planta, mantidos ainda
nas árvores para a avaliação do crescimento e mudança de pigmentação. Com o
objetivo de verificar o desenvolvimento dos frutos resultantes das flores
marcadas, a partir de 5 dias após a antese e no intervalo de 10 ± 5 dias, foram
colhidas 3 repetições de 60 ciriguelas. O período total de coleta prolongou-se
até os frutos, ainda nas árvores, atingirem o amadurecimento pleno. Após a
colheita, os frutos foram conduzidos para o Laboratório de Análise de Alimentos
do CFT, para as seguintes avaliações: Peso fresco (g), determinado através de
pesagem individual de cada fruto em balança semi- analítica; Peso seco (g/100 g
de fruto), efetuando-se a secagem em estufa a 70ºC e pesando-se em balança
semi-analítica até atingirem peso constante (AOAC, 1984); Diâmetro e
comprimento longitudinal (mm), determinados através de paquímetro; Volume
(cm³), sendo o volume de água deslocado pelo fruto, medido através de leitura
da graduação da proveta; Cor, determinada a partir de 105 dias após a antese,
de acordo com a carta de Munsell (Munsell, 1976), por 10 avaliadores
semitreinados. As mudanças na coloração da casca dos frutos, indicativas da
transição entre os estádios de maturação, poderão ser acompanhadas pela Figura
4 e Tabela_1, caracterizadas pelos estádios: 1) totalmente verde (TV); 2)
transição ou breaker (B); 3) início da pigmentação amarela (IP); 4) amarelo
predominante (AP); 5) vermelho predominante (VP), e 6) vermelho-escuro (VE)
(Tabela_1).
Análise Estatística: O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente
casualizado. As mudanças ocorridas nos paramêtros físicos, durante o
desenvolvimento dos frutos, foram avaliadas através da análise de regressão. Os
estádios de maturação, caracterizados através das diferenças entre a coloração
dos grupos de frutos, foram classificados após avaliação dos dados pelo teste
não paramétrico de Wilcoxon, a pelo menos 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação do padrão de crescimento de frutos de cirigueleira. Nos anos de 1998
e 1999, a floração da cirigueleira no município de Bananeiras-PB, iniciou-se no
mês de julho, e a plena floração só foi alcançada nos meses de agosto e
setembro. O ciclo da floração até a colheita (fruto vermelho predominante)
compreendeu um período de 124 dias (aproximadamente 17 semanas). A partir do
terceiro dia após a abertura dos botões florais (antese), iniciou-se a formação
dos frutos (formação da polpa), observando-se, em seguida, um aumento dos pesos
fresco e seco, diâmetro, comprimento e volume (Figuras_1; 2; 3 e 4). Aos 105
dias após a antese, o fruto ligado à planta, embora totalmente verde,
encontrava-se completamente formado, enquanto aos 124 dias este apresentava a
máxima qualidade para o consumo, caracterizada pelo atingimento da cor da casca
vermelho-escura brilhante, turgidez e aroma característicos. Quando a maturação
foi completada, aproximadamente aos 119 dias após a antese, o fruto necessitou
cerca de 5 dias (124 dias após a antese) para o completo amadurecimento na
planta. Após 7 dias da maturação completa (126 dias após antese), ocorreu a
abscisão de frutos.
Verificou-se aumento significativo (P< 0,05) no volume de ciriguela durante o
decorrer do desenvolvimento. O volume máximo alcançado foi de 13,95 cm³ aos 120
dias após antese (Figura_1), paralelo ao aumento em diâmetro (Figura_3).
Durante o desenvolvimento, os pesos fresco e seco aumentaram segundo modelos
lineares. O peso médio dos frutos após ser atingida a maturação plena foi 13,98
g, equivalente a 2,99 g/100g de peso seco (Figura_2). O aumento de peso seco
acumulado linearmente ao longo do desenvolvimento foi, provavelmente, devido à
acumulação de carboidratos (amido e açúcares), como verificado em banana por
Lodh et al. (1975). O aumento gradual dos pesos fresco e seco, volume,
comprimento e diâmetro, também foi verificado durante o desenvolvimento de
tamarindo (Hernández-Unzon & Lakshminarayana, 1982) e cajá (Costa, 1998).
Os frutos atingiram comprimento máximo (32,17 mm) aos 105 dias após a antese
(Figura_3). O diâmetro máximo (24,73 mm), no entanto, foi atingido aos 119 dias
após a antese, correspondendo assim à fase conhecida como enchimento dos
frutos. O comprimento e o diâmetro de ciriguela tiveram aumento quadrático.
O padrão de desenvolvimento acumulativo de ciriguela seguiu um modelo de
crescimento sigmoidal simples (Figuras_1 e 3), representando um crescimento
inicial rápido (F1), seguido de um crescimento lento (F2 e F3), padrão este
também reportado para maçã e laranja (Gortner et al., 1967; Awad, 1993). A
curva de desenvolvimento de ciriguela, portanto, pode ser dividida em três
fases: na fase I (F1), o crescimento propriamente dito estendeu-se até
aproximadamente 100 dias após a abertura da flor. Nesse período, quando
avaliado pelo aumento de comprimento e diâmetro, observou-se crescimento mais
rápido até aproximadamente 55 dias, seguindo-se um período de desaceleração até
os 105 dias, certamente resultante do processo de expansão celular (Coombe,
1976), atingindo diâmetro e comprimento máximos a taxas mais lentas de
crescimento em torno dos 113 dias após a antese. O crescimento primário de
frutos é devido principalmente a um aumento em volume da célula (Hulme, 1970).
O volume de ciriguela aumentou continuadamente durante todo o período de
desenvolvimento, resultando, principalmente, do aumento do comprimento e
diâmetro do fruto na fase F1. Nas fases F2 e F3, no entanto, o aumento de
volume parece ter tido maior contribuição do aumento dos pesos fresco e seco,
decorrente da acumulação de açúcares (dados não mostrados). O aumento do volume
do fruto foi proporcionado pelo aumento do número e tamanho das células, as
quais inicialmente se acham constituídas de protoplasmas e, na seqüência do
crescimento, ocorrendo a formação dos vacúolos e acúmulo de carboidratos e
outros compostos (Gortner et al., 1967). Em cajá (Spondias mombin), a partir do
final do período de crescimento rápido, quando ocorre intensa atividade
meristemática, inicia-se a formação dos tecidos intraloculares ou polpa
(Lozano, 1986). Durante o desenvolvimento de peras, Mitchell (1986) refere-se à
existência de uma relação entre volume e peso. Em ciriguela, a fase de
crescimento mais intenso (F1) foi caracterizada pelo aumento do volume dos
frutos, acompanhado pela pigmentação verde-intensa, características estas
indicativas da atividade celular máxima, refletida pela imaturidade
fisiológica. Em geral, a divisão celular está restrita à primeira e segunda
fases do desenvolvimento, podendo ser, para alguns frutos, como o tomate, de
curta duração (Hulme, 1970; Awad, 1993), ou prolongando-se também por várias
semanas, como em carambola (González et al., 2001). A expansão celular, por
outro lado, pode continuar até a maturidade (Gortner et al., 1967; Rao et al.,
1995).
A fase II (F2), a maturação, estendeu-se de aproximadamente 100 aos 119 dias
após a antese e foi caracterizada por uma desaceleração da taxa de crescimento,
onde os frutos apresentaram taxas mais baixas de aumento de comprimento e
diâmetro, e acúmulo de pesos fresco e seco (Figuras_2 e 3). O aumento do volume
do fruto, nesta fase, ocorreu de forma discreta, mediante o aumento conjunto do
comprimento e diâmetro. Nesta fase intermediária do desenvolvimento, ciriguelas
atingiram o comprimento máximo aos 105 dias após a antese.
A fase III (F3), do desenvolvimento, iniciou-se em torno de 119 dias após a
antese e foi caracterizada pela taxa de crescimento mais lento do fruto, quando
ocorreu o início do amadurecimento. O amadurecimento pleno, dando início aos
sinais de enfraquecimento da camada de abscisão do pecíolo como preparação para
a liberação do fruto da planta, ocorreu aos 125 dias após antese. Nessa fase,
os frutos já haviam completado o desenvolvimento e atingido a máxima qualidade
comestível, caracterizada por profundas modificações na textura e nos
pigmentos, refletida pela transição da cor verde-escura para vermelho-escura,
no decorrer de 25 dias entre a maturação e amadurecimento (Figura_4; Tabela_1).
Baseada nas mudanças da cor da casca (Figura_4 e Tabela_1), a avaliação dos
frutos das cirigueleiras mantidos na planta, desde a maturação até o
amadurecimento, permitiu caracterizar a transição dos seis estádios de
maturação, nos quais ocorrem as principais transformações dos frutos. Nas
condições deste estudo, na microrregião do Brejo Paraibano, verificou-se que,
para frutos ligados à planta, o estádio totalmente verde (TV) torna-se
'breaker' (B) em oito dias; frutos no estádio B atingem o estádio onde ocorre o
ínicio da pigmentação amarela (IP) em seis dias; do IP para o estádio onde a
coloração dos frutos torna-se amarelo predominante (AP) são dois dias; a
transição do estádio AP para o vermelho predominante (VP) ocorre em apenas 1
dia; e do VP para o estádio onde o fruto é vermelho-escuro (VE) são dois dias
de amadurecimento.
CONCLUSÕES
1) Os pesos fresco e seco aumentaram linearmente a partir da antese até o
amadurecimento.
2)O comprimento e diâmetro dos frutos aumentaram quadraticamente durante a fase
de crescimento e maturação.
3) O volume do fruto aumentou quadraticamente durante as fases de crescimento,
maturação e amadurecimento.
4) O ciclo de desenvolvimento de ciriguela, a partir da abertura da flor até o
amadurecimento do fruto, corresponde a um período médio de 124 dias.
5) Na região do Brejo Paraibano, a maturação de ciriguela iniciou-se ao redor
de 100 dias e o amadurecimento aos 119 dias após a antese.