Relações entre parâmetros de crescimento do fruto da manga cv. haden
Relações entre parâmetros de crescimento do fruto da manga cv. haden1
Relationship between fruit growth parameters of mango cv. haden
Manoel Teixeira de Castro NetoI; Domingo Haroldo ReinhardtI
IPesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Rua Embrapa S/N, Cruz das
Almas-BA. Cx. P. 007 - CEP 44.380-000. Fone 0xx 71 621-2120, Fax 0xx71 621-
2149, castro@cnpmf.embrapa.br, dharoldo@cnpmf.embrapa.br
INTRODUÇÃO
O fruto da mangueira não tem sido estudado com a mesma ênfase que outros
aspectos da cultura diretamente ligados à produção. Entretanto, é fundamental o
conhecimento de como o fruto cresce e se desenvolve devido estes processos
influenciarem a qualidade final do produto.
Botanicamente, o fruto da mangueira é classificado como uma drupa (Kostermans e
Bompard, 1993) que apresenta um padrão de crescimento sigmoidal. De acordo com
Turkey (1933), citado por Subramanyam et al. (1975), este padrão de crescimento
apresenta-se de uma maneira cíclica e tem sido dividido em três fases, que são
caracterizadas pela alternância de crescimento entre o fruto e o embrião.
Por outro lado, Singh et al. 1937, também citados por Subramanyam et al.
(1975), classificaram o desenvolvimento do fruto de manga em quatro fases,
baseando-se no aspecto fisiológico do seu crescimento, bem como no tempo de
duração de cada fase em função da data de ocorrência da fertilização. O tempo
necessário para um fruto de manga completar seu desenvolvimento e atingir a
maturação tem sido de 90 dias. Contudo, este período é influenciado pela
variedade, condições climáticas onde a planta é cultivada, número de folhas
alimentando o fruto e práticas culturais impostas à planta. As principais
características morfológicas observadas durante o crescimento do fruto de manga
têm sido mudanças no aumento do tamanho e na aparência do fruto.
A taxa de crescimento medida em frutos em desenvolvimento tem sido determinada
com base no diâmetro, comprimento, circunferência, peso, volume, coloração e
formato do fruto, desde a antese até a maturação do fruto. Determinações feitas
com base na antese podem resultar em erros devido o desenvolvimento do fruto
iniciar-se com a fecundação do óvulo e não com a antese. Segundo Wardlaw e
Leonard (1936), citados por Subramanyam et al. (1975), todas as mudanças
observadas em relação ao desenvolvimento do fruto têm sido relacionadas ao peso
do fruto. Na opinião desses autores, a maturação do fruto é atingida quando o
fruto alcança 350 g para a variedade Julie, sendo que o fruto está
completamente maduro quando atinge 450 g. Além disso, na época em que o fruto
atinge o peso necessário para ser considerado maduro, uma mudança morfológica,
como o entumescimento dos ombros do fruto, alcançando 90o com pedúnculo, indica
o ponto de colheita para o fruto.
Na região Nordeste do Brasil, onde a mangueira vem sendo amplamente cultivada,
falta informação sobre como o fruto de manga 'Haden', uma das mais importantes
cultivares, cresce, e quais os fatores que afetam o seu desenvolvimento.
Métodos para estudos de desenvolvimento de frutos são, via de regra,
destrutivos, com a colheita periódica de amostras, o que pode mudar todo o
sistema que alimenta o fruto.
Neste trabalho, foi estudada a curva de crescimento do fruto da manga cv.
Haden, da floração à colheita, além de avaliado um método não destrutivo de
determinação das suas massas fresca e seca ao longo do seu desenvolvimento.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado em pomar de manga cv. Haden irrigado por
microaspersão, localizado na Fazenda Frutivale, Juazeiro, Bahia. O pomar tinha
4 anos de idade e foi instalado com as plantas em espaçamento de 8m x 8m, e
irrigado por inundação. Amostras de frutos foram coletadas de plantas
previamente selecionadas, em datas correspondendo aos 15; 23; 30; 37; 42; 47;
55 e 73 dias após a floração (DAF), iniciada em 05 de agosto. A colheita dos
frutos foi realizada em 26 de outubro, aos 82 dias após a floração.
Antes da sua colheita, os frutos foram individualmente numerados, usando-se um
marcador. Após a colheita, os frutos amostrados foram levados para laboratório
e imediatamente pesados individualmente para a obtenção da massa fresca (MF).
Todo o processo da colheita do fruto até o final das pesagens foi efetuado em,
no máximo, 60 minutos. Este tempo foi rigorosamente mantido para evitar a perda
de água e variação entre as amostragens. Para a obtenção da massa seca (MS), os
frutos foram seccionados em pequenos pedaços e colocados para secar em uma
estufa de ventilação forçada com temperatura de 65 ºC ± 5 ºC. Os frutos foram
mantidos em estufa até atingirem peso constante. O tempo de secagem variou de
24 a 72 horas, conforme o tamanho do fruto compondo a amostra. Após secagem, os
frutos descansaram em caixas plásticas hermeticamente fechadas para resfriarem
e evitar o ganho de umidade do ambiente devido a troca de calor, antes da sua
pesagem.
O teor de água do fruto foi determinado por simples subtração entre a MF e a
MS. A percentagem de água presente no fruto foi determinada com base na massa
fresca do fruto (%=100 x peso de água/MF). Os dados são apresentados como peso
de água em gramas (g) e percentagem de água no fruto expresso em %.
O volume do fruto foi determinado individualmente de duas maneiras antes que
cada fruto fosse removido da planta. No primeiro método, o volume do fruto foi
determinado com base no deslocamento de água contida em um béquer de 50; 100;
200; 500; 1000 e 4000 ml. À proporção que o fruto crescia, era necessário
utilizar um béquer maior. Todos os béqueres foram recalibrados em mililitros,
utilizando-se de uma proveta de 200 ml para evitar erro de precisão, de béquer
para béquer. Os dados obtidos por este método são apresentados como volume e
expressos em centímetros cúbicos (cm3). No segundo método, o volume foi
determinado multiplicando-se os diâmetros longitudinal, dorsal e ventral do
fruto. Os diâmetros foram determinados mediante o uso de um paquímetro de
precisão. Os resultados deste método são apresentados como produto dos
diâmetros e expressos em centímetros cúbicos (x100 cm3).
Os dados coletados neste estudo foram analisados pelo programa estatístico SAS
(Statistic Analysis System). Foram determinadas as correlações entre as massas
seca (MS) e fresca (MF), e o volume do fruto obtido com base nos dois métodos
acima mencionados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O crescimento do fruto de manga 'Haden' (Fig._1_A, B, e C) apresentou padrão
sigmoidal de crescimento similar àquele de outras variedades de manga (Chacko
et al., 1970; Sainí et al., 1971).
O acúmulo de massa seca (Fig._1_A) ocorreu até o 73o dia após a floração,
porém, nesta data, a observação visual do fruto não indicava nenhuma mudança da
coloração verde para a coloração vermelho-amarela, que caracteriza o completo
amadurecimento do fruto. Diferença de acúmulo da massa seca entre o 55o e o 73o
dia após a floração foi de apenas 1,72 g. Este resultado sugere que, para as
condições do Nordeste Brasileiro, o fruto de manga da variedade Haden atinge
maturação fisiológica com 75 dias após a floração. Este período é menor que os
90 dias relatados para outras variedades, como Langra, Alphonso, Dashehari e
Krishnabhog (Subramanyan et al., 1975). Estas diferenças podem ser atribuídas a
variações no ciclo de crescimento das plantas e, conseqüentemente, na duração
do período reprodutivo e de crescimento do fruto, como ocorre com a variedade
Langra, e às condições climáticas de alta insolação e demanda evaporativa,
típicas para o semi-árido do Nordeste brasileiro, que aceleram as atividades
metabólicas e de crescimento.
O padrão de crescimento observado para o volume e massa fresca do fruto, bem
como o peso da água no fruto (Fig._1_B, 1_C), foi similar àquele da massa seca
do fruto (Fig._1_A). A máxima massa fresca do fruto foi 436 g aos 55 dias após
a floração. Após esta data, houve decréscimo da massa fresca, associada à
redução do conteúdo de água do fruto.
Uma prática comum entre os agricultores da região é a suspensão da irrigação
para aumentar o teor de sólidos solúveis totais (grau Brix) do fruto, antecipar
a colheita e melhorar a qualidade do produto. É sabido que a suspensão da
irrigação afeta o estado hídrico da planta (Davenport and Núñez-Elizea, 1997),
e os resultados do presente estudo sugerem que o conteúdo de água no fruto é
afetado, contribuindo para uma redução da massa fresca do mesmo. Isto ocorreu
no período de 42 a 47 dias após a floração (Fig._1_C), quando houve uma falha
no fornecimento de água do pomar e a irrigação não foi possível. Por outro
lado, a percentagem de água do fruto manteve-se praticamente constante e
semelhante aos valores encontrados por outros pesquisadores (Subramanyam et
al., 1975).
Tanto a massa seca como a massa fresca do fruto mostraram alto grau de
correlação com o volume do fruto e com o produto dos seus diâmetros (Fig._2).
Da mesma forma, houve uma correlação alta (r2=0,98) entre o volume do fruto e o
produto dos seus diâmetros (Fig._2_E). Tais resultados sugerem a possibilidade
de estimar-se o volume do fruto da manga cv. Haden a partir do produto dos seus
diâmetros, bem como que as massas seca e fresca também podem ser estimadas a
partir do volume ou produto dos diâmetros do fruto. Por conseguinte, estes
dados abrem a possibilidade de recorrer-se a métodos não destrutivos de
determinação do crescimento de frutos de manga 'Haden' com base no acúmulo de
massas fresca e seca.
A validade desta metodologia ficou também confirmada, quando se realizou a
análise de correlação entre massa seca e o produto dos diâmetros do fruto, para
cada época da amostragem (Tabela_1). A correlação entre estes fatores foi alta
ao longo de todo o período de desenvolvimento do fruto, com os coeficientes de
correlação atingindo valores sempre superiores a r2 = 0,91.
Em síntese, o método indireto, não destrutivo de determinação de massas fresca
e seca acima descrito, pode ser uma ferramenta muito útil em todos os estudos
sobre o desenvolvimento, crescimento e acúmulo de matéria seca em frutos de
manga. Adicionalmente, as observações feitas neste trabalho sugerem que o fruto
de manga pode ter o seu acúmulo de massas seca e fresca comprometido devido à
exposição da planta a uma situação de déficit hídrico. Neste contexto, a
prática freqüentemente aplicada por agricultores, de suspensão da irrigação
para apressar o amadurecimento do fruto e aumentar o seu teor de açúcares, pode
ter como resultado negativo a redução da massa fresca do fruto, que pode
apresentar uma queda em até 50 g/fruto (Fig._1_B).
Os resultados obtidos ainda mostram que a taxa de acúmulo de massa seca no
fruto foi maior no período de 37 a 55 dias após a floração. Isto pode ser
conseqüência de maior participação da fotossíntese no período, em adição à
translocação de matéria seca de outras partes da planta para o fruto, sendo
que, na literatura, se sugere que a remobilização de fotoassimilados
previamente fotossintetizados é usualmente responsabilizada por quase 40-50% do
peso seco do fruto (Chacko, Reddy, and Ananthanarayanan, 1982; Reddy and Gorakh
Singh, 1991).
CONCLUSÕES
1. As massas seca e fresca do fruto da manga cv. Haden podem ser determinadas a
partir do produto dos diâmetros do fruto, um método não destrutivo, baseado em
medições fáceis e rápidas.
2. A curva de crescimento de frutos de manga cv. Haden segue o padrão
sigmoidal.