Utilização de embalagem de polietileno na conservação de caquis 'giombo'
durante o armazenamento refrigerado
Utilização de embalagem de polietileno na conservação de caquis 'giombo'
durante o armazenamento refrigerado1
Use of polyethylene bags on conservation of 'giombo' persimmons during cold
storage
Lucimara Rogéria AntoniolliI; Paulo Roberto de Camargo e CastroII; Ricardo
Alfredo KlugeIII; João Alexio Scarpare FilhoIV
IEngª Agrª., M.Sc., Dep. Pré-Processamento de Produtos Agropecuários, FEAGRI/
UNICAMP, Caixa Postal 6011, CEP13083-970. Campinas, SP. E-mail:
lrantoni@agr.unicamp.br, lrantoniolli@yahoo.com.br
IIEngº Agrº., Dr., Prof., Dep. Ciências Biológicas, ESALQ/USP, Caixa Postal 9,
CEP 13418-900. Piracicaba, SP. E-mail: prccastr@carpa.ciagri.usp.br
IIIEngº Agrº., Dr., Prof., Dep. Ciências Biológicas, ESALQ/USP, Caixa Postal 9,
CEP 13418-900. Piracicaba, SP. E-mail: rakluge@carpa.ciagri.usp.br
IVEngº Agrº., Dr., Prof., Dep. Produção Vegetal, ESALQ/USP, Caixa Postal 9, CEP
13418-900. Piracicaba, SP. E-mail: jascarpa@carpa.ciagri.usp.br
INTRODUÇÃO
A cultura do caquizeiro (Diospyros kaki L.) possui elevada importância
econômica no Brasil, sendo que o Estado de São Paulo, maior produtor, é
responsável por aproximadamente 50% da produção nacional (Simão, 1998).
Dentre as cultivares recomendadas para o cultivo comercial no Estado de São
Paulo, encontra-se a Giombo, classificada por Ito (1971), como pertencente ao
tipo PCA (polinização constante e adstringente). Por outro lado, Martins &
Pereira (1989) classificam esta cultivar como pertencente ao tipo variável,
apresentando frutos com polpa bastante taninosa, quando partenocárpicos, e sem
adstringência, quando com sementes.
A maturação dos frutos ocorre de fevereiro a maio, sendo que fora deste período
há escassez do produto no mercado (Brackmann & Saquet, 1995), decorrente do
próprio ciclo da cultura e da carência de tecnologia adequada à conservação dos
frutos. O armazenamento refrigerado destaca-se como uma possibilidade no
prolongamento da vida pós-colheita dos frutos, refletindo na dilatação do
período de comercialização. A conservação dos frutos é dependente do estádio de
maturação, da cultivar e das condições de temperatura e umidade relativa das
câmaras de armazenamento (Martins & Pereira, 1989). De maneira geral, os
caquis são melhor conservados sob condições de 90-100% de umidade relativa e
temperatura de 1ºC (Ito, 1971; Lyon et al., 1992).
A utilização de embalagens de polietileno, visando à conservação dos frutos,
promove modificações na atmosfera, elevando a concentração de CO2 e diminuindo
a de O2 (PESIS et al., 1986). Com o aumento do CO2, ocorre redução na síntese e
na ação do etileno, hormônio responsável pelo amadurecimento nos frutos
climatéricos, como o caqui(Chitarra & Chitarra , 1990).
Martins & Pereira (1989) relataram que caquis 'Giombo' acondicionados em
sacos de polietileno com espessura de 0,08mm e mantidos à temperatura de 0ºC
foram conservados durante um período de dois meses, enquanto os frutos sem
embalagem toleraram somente seis semanas de armazenamento.
Frutos de caquizeiro 'Fuyu' puderam ser armazenados durante cinco a seis meses
a 0ºC quando acondicionados, individualmente, em embalagem de polietileno com
espessura de 0,06mm (Pekmezci et al., 1997). Lee & Yang (1997) constataram
melhor qualidade e menor ocorrência de desordens fisiológicas em caquis 'Fuyu'
acondicionados em filme de polietileno (0,05mm) durante 90 dias de
armazenamento refrigerado.
Vidrih et al. (1994) citaram que frutos de caquizeiro mantidos sob atmosfera
com alta concentração de CO2 acumularam elevadas concentrações de etanol e
acetaldeído, como resultado das modificações no processo respiratório. O
acetaldeído formado durante a exposição ao CO2 pode reagir com os taninos
solúveis, causando sua polimerização e tornando-os insolúveis (Ito, 1971).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da utilização da embalagem de
polietileno na conservação de caquis 'Giombo' durante o armazenamento
refrigerado.
MATERIAL E MÉTODOS
Caquis 'Giombo' foram colhidos no mês de maio de 1998, em pomar comercial
localizado no município de Guapiara, São Paulo, situado a 24º11' de latitude
Sul e 48º02' de longitude Oeste e a 900 metros de altitude, com clima do tipo
Cfb, segundo Köeppen.
Os frutos utilizados apresentavam coloração 100% alaranjada e bastante
uniforme. Após a colheita, os frutos foram transportados ao Laboratório de
Fisiologia Pós-Colheita do Departamento de Ciências Biológicas da Escola
Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", ESALQ/USP, onde se
realizou rigorosa seleção, visando à padronização dos frutos com relação ao
tamanho e à sanidade.
Os frutos foram embalados em sacos de polietileno de baixa densidade com
espessura de 0,06 mm e armazenados a 1 ± 0,5ºC e 95-98% UR durante 30; 60 ou 90
dias. Frutos sem embalagem foram considerados controle. Cada parcela foi
composta por cinco frutos.
As variáveis analisadas foram: a) teor de taninos solúveis (g.100g-1 polpa):
determinado espectrofotometricamente, utilizando-se do reagente de Follin-
Denis, segundo técnica recomendada por Carvalho et al. (1990), onde uma amostra
de 5 g de polpa triturada e homogeneizada foi diluída para um volume final de
100 mL com água destilada, do qual se retirou uma alíquota de 5 mL. A esta
alíquota, adicionaram-se reagente de Follin-Denis e solução de carbonato de
sódio, completando o volume a 100 mL com água destilada. Após um período de 30
minutos, a solução foi filtrada e em seguida determinou-se a absorbância a 760
nm. Foi utilizada, como padrão, uma solução de ácido tânico (0,1g.L-1); b)
firmeza de polpa (kg.cm-2): medida com penetrômetro EFFE-GI, com ponteira de
6,5 mm de diâmetro, efetuando-se duas leituras em lados opostos na região
equatorial dos frutos, após a remoção de uma pequena área da casca. Associou-se
o início do amolecimento da polpa ao valor de firmeza de 5 kg.cm-2, conforme
preconizado por Pesis et al. (1986); c) perda de matéria fresca (%): calculada
pela diferença entre as massas inicial e final, sendo apresentada como
porcentagem da massa inicial; d) sólidos solúveis totais (ºBrix): determinado
por refratometria, com correção de temperatura para 20ºC; e) acidez total
titulável (% ácido málico): determinada através da diluição de 10 mL da amostra
em 90 mL de água destilada, e posterior titulação com solução de NaOH a 0,1N,
até o pH de 8,10; f) teor de ácido ascórbico (mg ácido ascórbico.100 g-
1 polpa): determinado segundo metodologia de Carvalho et al. (1990), a qual se
baseia na redução do indicador 2,6-diclorobenzenoindofenol (DCFI) pelo ácido
ascórbico.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, em esquema
fatorial 2 x 4. Os fatores estudados foram: embalagem de polietileno (com e
sem) e tempo de avaliação (0; 30; 60 e 90 dias). A cada avaliação, foram
utilizadas três repetições, com cinco frutos por parcela.
Os dados coletados foram submetidos à análise de variância e estudo de
regressão polinomial. As médias referentes ao teor de taninos solúveis e à
firmeza de polpa foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A utilização de embalagem proporcionou o menor teor médio de taninos solúveis,
que diferiu significativamente daquele constatado nos frutos-controle (sem
embalagem) (Figura_1A). As modificações no processo respiratório, decorrentes
do acondicionamento dos frutos em embalagem de polietileno, conduzem ao acúmulo
de etanol e acetaldeído, que possivelmente reagiu com os taninos solúveis,
causando sua polimerização (Pesis et al., 1986; Vidrih et al., 1994; Ito,
1971).
Awad & Amenomori (1971) relataram que o acondicionamento de caquis
'Taubaté' em embalagens de polietileno não apresentou efeito sobre a
destanização dos frutos, possivelmente devido à espessura da embalagem, que
resultou em permeabilidade muito alta e baixo acúmulo de CO2. Neste
experimento, foi comprovada a eficiência da embalagem de polietileno no
estabelecimento de ambiente favorável à polimerização dos taninos solúveis,
muito embora a espessura de 0,06 mm talvez não seja a mais indicada,
considerando-se que o teor médio de 0,31 g.100 g-1 de taninos solúveis
proporciona frutos adstringentes (Kato, 1984).
Constatou-se um decréscimo nos teores de taninos solúveis até o 60º dia,
permanecendo, a partir de então, inalterados até o final do armazenamento
refrigerado (Figura_1B). Tal redução, no entanto, não foi suficiente para a
completa remoção da adstringência, uma vez que o teor de 0,26 g.100 g-1,
observado ao término dos 90 dias de armazenamento, proporciona, de acordo com
Kato (1984), ligeira adstringência aos frutos, que se tornam comestíveis quando
a concentração de taninos solúveis se encontra abaixo de 0,1 g.100 g-1 (Vidrih
et al., 1994).
Frutos acondicionados em embalagem de polietileno apresentaram firmeza de polpa
estatisticamente inferior à dos frutos-controle (Figura_2A). De acordo com
Brackmann & Saquet (1995), a maior firmeza verificada nos frutos-controle
pode ser atribuída ao murchamento dos frutos, que confere maior resistência à
penetração da ponteira do penetrômetro.
Constatou-se uma redução linear na firmeza da polpa em função do tempo,
atingindo o valor médio de 3,07 kg.cm-2 ao término do armazenamento (Figura
2B), o que caracteriza frutos inaceitáveis para o consumo, uma vez que os
frutos desta cultivar são consumidos com polpa firme. De forma semelhante, Turk
(1993) observou decréscimo na firmeza e perda da qualidade de comercialização
de caquis após 40-60 dias de armazenamento refrigerado.
Considerando-se a firmeza inicial de 10,50 kg.cm-2, verifica-se que houve uma
perda de aproximadamente 70% da firmeza dos frutos ao final do armazenamento
refrigerado.
A embalagem de polietileno protegeu os frutos contra a perda de matéria fresca,
ao passo que os frutos-controle apresentaram perda de matéria fresca crescente
durante o armazenamento refrigerado, atingindo o valor de 8,08% ao término do
armazenamento (Figura_3).
Tais resultados estão de acordo com Moura et al. (1997), que constataram perda
crescente de matéria fresca em caquis armazenados durante 72 dias, sendo, esta
perda, reduzida nos frutos embalados com PVC. A menor perda de matéria fresca
verificada nos frutos embalados é decorrente da alta umidade relativa no
interior da embalagem, que reduz o déficit de pressão de vapor e,
conseqüentemente, a transpiração dos frutos (PESIS et al., 1986).
Quanto ao teor de sólidos solúveis totais, verificou-se um decréscimo linear
nos frutos-controle, ao passo que a embalagem de polietileno proporcionou a
redução no teor de sólidos solúveis dos frutos até o 60º dia, seguida por um
ligeiro aumento verificado até o término do armazenamento (Figura_4A).
Constatou-se um aumento na acidez total titulável dos frutos acondicionados em
embalagem de polietileno a partir do 60º dia, enquanto a acidez titulável dos
frutos-controle permaneceu inalterada durante 90 dias de armazenamento
refrigerado (Figura_4B). Moura et al. (1997) concluíram que a utilização de
embalagem de PVC não interferiu significativamente sobre a acidez durante o
período de armazenamento dos frutos.
O teor de ácido ascórbico sofreu um ligeiro aumento até o 30º dia,
permanecendo, após esse período, praticamente constante até o final do
armazenamento (Figura_5). O aumento verificado no teor de ácido ascórbico,
possivelmente, justifica-se pelo fato de o método empregado ser destrutivo, de
forma que os frutos comparados podem apresentar teores iniciais diferenciados.
CONCLUSÕES
1) O armazenamento refrigerado de caquis 'Giombo' pode ser realizado por até 30
dias sob temperatura de 1 ± 0,5ºC e 95-98% UR.
2) Não se recomenda o armazenamento refrigerado de caquis 'Giombo', com ou sem
embalagem, por um período igual ou superior a 60 dias, uma vez que os frutos
apresentam baixa firmeza de polpa.
3) A utilização de embalagem de polietileno de baixa densidade (0,06mm) durante
o armazenamento refrigerado de caquis 'Giombo' não apresenta eficiência na
completa destanização dos frutos, havendo a necessidade de tratamento adicional
para a remoção total da adstringência.