Avaliação de populações de maracujazeiro-doce (Passiflora alata Curtis) obtidas
de polinização aberta
Avaliação de populações de maracujazeiro-doce (Passiflora alata Curtis) obtidas
de polinização aberta1
Evaluation of sweet passion fruit (Passiflora alataCurtis) populations obtained
by open polinization
Moisés Rodrigues MartinsI; João Carlos de OliveiraII; Antonio Orlando Di
MauroII; Paulo César da SilvaIII
IAluno de doutorado do Curso de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de
Plantas, da FCAV-UNESP - Via de acesso Paulo Donato Castellane S/N, 14884-900 '
Jaboticabal ' SP, e-mail: moises64@zipmail.com.br
IIProfs. Titulares do Depto. de Produção Vegetal da FCAV-UNESP - Via de acesso
Paulo Donato Castellane S/N, 14884-900 ' Jaboticabal ' SP.
fitotec@fcav.unesp.br
IIIAluno de doutorado do Curso de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de
Plantas, da FCAV-UNESP - Via de acesso Paulo Donato Castellane S/N, 14884-900 '
Jaboticabal ' SP, e-mail: pcsilva@netsite.com.br
INTRODUÇÃO
Passiflora alataCurtis, conhecida popularmente como maracujá-doce, é cultivada
no Brasil pela sua elevada cotação no mercado de frutas frescas, pois a polpa é
muito saborosa e doce. A planta é utilizada também como ornamental, pelas suas
flores grandes e vistosas, além de sua utilização como planta medicinal
(Vasconcelos & Cereda 1994; Oliveira et al. 1994).
Oliveira et al. (1982), estudando as características de Passiflora alatade
cinco diferentes procedências, observaram que o peso médio dos frutos variou de
89,32 g a 195,92 g. Já o comprimento e a largura variaram de 6,85 cm a 10,13 cm
e 4,75 a 6,93 cm, respectivamente. O número de sementes/fruto variou de 143 a
276; sendo a espessura do mesocarpo de 7 mm a 10 mm e 15,28 º teor de sólidos
solúveis totais (Brix). Meletti et al. (1992) caracterizaram algumas
introduções de germoplasma de maracujazeiros em Jundiaí-SP, encontrando frutos
de P. alata com peso médio de 128,3 g, 19,5 g de polpa, largura e comprimento
do fruto de 6,6 cm e 8,9 cm, respectivamente, espessura da casca de 15,50 mm,
rendimento em polpa de 15%, teor de sólidos solúveis totais de 15,1ºBrix e 224
sementes/fruto. Já Vasconcelos (1991) obteve, em Botucatu-SP, valores de peso
dos frutos de 156 g a 320 g; comprimento do fruto de 9,32 cm a 12,73 cm;
largura do fruto de 6,97 cm a 8,79 cm; 75,84% de casca e 24,16% de polpa; 18,80
a 21,20 º Brix e 159 a 317 sementes/fruto. Algumas lavouras de maracujá-doce,
segundo Piza Júnior (1998), produzem frutos que chegam a atingir 16 cm de
comprimento e a pesar quase 500 gramas. O mesmo autor cita que os produtores de
maracujá-doce já estão multiplicando vegetativamente plantas produtivas, com
frutos grandes, com mais de 350 gramas de peso e de cor amarelo-alaranjada.
Segundo Oliveira & Ferreira (1991), o que se busca em maracujazeiro é um
genótipo produtivo, vigoroso, resistente às pragas e doenças, de ampla
adaptação, frutos grandes com alto teor de sólidos solúveis no suco e de cor
amarela, resistente ao transporte e armazenamento. De acordo com Meletti et al.
(1992), o gênero Passiflora apresenta ampla variabilidade genética para ser
explorada, observando-se grandes variações no florescimento, produtividade, em
caracteres do fruto, resistência a pragas e doenças.
Os maracujazeiros são espécies alógamas, de cultivo recente, com ampla
variabilidade genética a ser explorada (Oliveira et al., 1982 e Bruckner,
1997). No entanto, pesquisas relacionadas com a área de genética são escassas.
Em função do exposto, objetiva-se com este estudo caracterizar e analisar
geneticamente cinco populações de maracujazeiro-doce de forma a obter
informações que possam ser utilizadas em programas de melhoramento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento abrangeu cinco populações originadas de sementes de polinização
aberta. Três destas foram pré-selecionadas da coleção do Banco Ativo de
Germoplasma (BAG) da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, em
Jaboticabal-SP, denominadas de JAB1, JAB2 e JAB3, e duas provenientes de
pomares comerciais da região de Ribeirão Preto-SP e Valinhos-SP, denominadas,
respectivamente, de RP e VAL. O experimento foi instalado na Área Experimental
do Departamento de Produção Vegetal da FCAV/UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP e
ocupou uma área 2.520 m2, adotando-se um espaçamento de 6 m entre plantas na
fileira e 3,5 m entre fileiras, em um delineamento em blocos casualizados com 4
repetições. A unidade experimental constituiu-se de 6 plantas , num total de 24
plantas por população. A semeadura foi realizada em casa de vegetação, em sacos
plásticos, no dia 10-02-99 e transplantadas em 18-03-99. Depois de um período
de aclimatação, o plantio definitivo ocorreu em 21-06-99. A condução das
plantas foi realizada em espaldeira com um fio de arame nº 10 a 1,80 m do solo,
com poda de formação para induzir brotações laterais. Dois ramos secundários,
em cada lado do ramo principal, seguiram-se então pelo arame de sustentação,
dando origem aos ramos terciários ou produtivos. Os tratos culturais seguiram
as recomendações para o maracujá-amarelo, adotando-se as práticas
rotineiramente realizadas no Câmpus da UNESP/Jaboticabal.
Os caracteres agronômicos avaliados neste estudo foram: comprimento do fruto
(CF), largura do fruto (LF), número de sementes/fruto (NS), espessura da casca
(EC), diâmetro longitudinal da cavidade ovariana (DLC), diâmetro transversal da
cavidade ovariana (DTC), sólidos solúveis totais (SST), massa do fruto (MF),
massa da polpa (MP), massa da casca (MC), rendimento em polpa (%P), número de
frutos/planta, produção/planta (PRO) e tempo decorrido da abertura da flor à
colheita dos frutos (TAC).
Para a avaliação destes caracteres, frutos foram coletados quinzenalmente e
levados ao laboratório, onde foram pesados e posteriormente contado o número de
sementes em cada fruto. As características de comprimento e massa foram medidas
por meio de paquímetro e balança de precisão de 0,1 g, respectivamente. Os
teores de sólidos solúveis totais (SST) foram determinados pela leitura direta
em um refratômetro manual com precisão de 0,20, expresso em graus Brix. A
quantificação da produção das populações foi obtida de abril/2000 a março/2001,
a intervalos regulares, na freqüência de duas vezes por semana. Foram coletados
dados de produção por planta, em número e peso de frutos. Para análise do tempo
decorrido da abertura da flor à colheita (TAC), flores foram marcadas no dia da
abertura e acompanhadas semanalmente, observando-se o tempo decorrido até a
colheita.
As análises de variância foram efetuadas, usando-se o programa estatístico SAS
e as médias das populações foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade. As estimativas dos coeficientes de correlação foram calculadas
pelo método de Pearson descrito em Steel & Torrie (1960), usando-se o
programa SAS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela_1, são apresentadas as médias, os valores máximos, valores mínimos e
desvios-padrão dos catorze caracteres agronômicos avaliados. Observou-se que o
comprimento do fruto (CF) apresentou média geral, entre todas as populações
estudadas, de 108,99 mm, com o máximo de 152,90 mm apresentado pela população
RP e mínimo de 84,30 apresentada pela população JAB3. A largura do fruto (LF)
variou de 56,10 mm a 93,40 mm, ambos no acesso JAB3, com média geral de 74,76
mm. Estes valores são menores que os encontrados por Vasconcelos (1991), em
Botucatu-SP, porém maiores que os encontrados por Melleti (1992), em Jundiaí-SP
e Oliveira (1982), em Jaboticabal. Na Tabela_2, observa-se que estes caracteres
encontram-se altamente correlacionados com a espessura da casca (EC), diâmetro
longitudinal da cavidade ovariana (DLC), diâmetro transversal da cavidade
ovariana (DTC), massa do fruto (MF) e massa da casca (MC), porém não se
correlacionam com o rendimento em polpa (%P), indicando que frutos maiores não
necessariamente terão maior rendimento de polpa.
O número médio de sementes foi de 263, com uma variação de 116,50 a 437,70
sementes, encontradas nas populações JAB1 e RP, respectivamente. Essa variação
foi maior do que a encontrada por Vasconcelos (1991), em Botucatu-SP, e
Oliveira et al. (1982), em Jaboticabal-SP. O número de sementes correlacionou-
se, neste estudo, positivamente com diâmetro longitudinal da cavidade ovariana
(DLC), diâmetro transversal da cavidade ovariana (DTC), massa da polpa (MP) e
porcentagem da polpa (%P), porém não apresentou correlação com a espessura da
casca (Tabela2). Isto sugere que frutos de maracujazeiro-doce devem ser
selecionados para ampliação da cavidade ovariana, para obter-se maior
rendimento em polpa.
Quanto à produção, houve uma grande amplitude de variação, encontrando-se
plantas com produção muito baixa, como no acesso JAB3 (1,43 kg/planta), e
plantas com alta produção, como na população RP (69,87 kg). Esta característica
apresentou-se correlacionada apenas com o número de frutos (NF) e massa do
fruto (MF) não tendo correlação com o tempo decorrido da abertura da flor a
colheita (TAC).
O teor de sólidos solúveis totais (SST), variando de 15,70 a 21,00 ºBrix,
apresentados pelos acessos RP e JAB1, e o tempo decorrido da abertura da flor à
colheita (TAC), variando de 51 a 66 dias, apresentado pelos acessos VAL e RP
(Tabela_1), apresentaram-se pouco correlacionadas com as demais características
avaliadas no estudo, mostrando serem caracteres pouco dependentes. O rendimento
em polpa (%P) das populações avaliadas está em torno de 27,27%, variando de
13,57 a 45,74%. Estes valores aproximam-se dos encontrados por Vasconcelos
(1991) em Botucatu-SP. Notou-se pequenas variações relativas a sólidos solúveis
totais (SST) e espessura da casca (EC), o que torna difícil o critério de
seleção, utilizando-se estes caracteres.
Na Tabela_3, mostra-se a comparação das médias e o coeficiente de variação
geral das populações estudadas. Não se observou diferença significativa entre
as médias das cinco populações para espessura da casca (EC), rendimento em
polpa (%P), número de frutos/planta (NF) e produção (PRO); entretanto, número
de frutos/planta (NF) e produção (PRO) apresentaram alta variabilidade entre
plantas. Os coeficientes de variação (CV) para número de frutos (NF) e produção
(PRO) foram muito altos, demonstrando grande variabilidade entre plantas,
constituindo-se em parâmetros a serem utilizados em processos seletivos.
Na Tabela_4, encontram-se as estimativas dos componentes de variância dos
caracteres estudados, e têm-se os componentes da variância e sua participação
porcentual na variância total. Observa-se que os caracteres número de sementes/
planta (NS), massa do fruto (MF), número de frutos/planta (NF) e produção
(PRO), características importantes para seleção, apresentaram alta
variabilidade entre plantas, o que pode possibilitar ganhos relativos, desde
que se processe a seleção a partir deles. O componente de variância da
população (s2p) teve baixa participação na variância no total, o que permite
inferir que não é aconselhável a seleção de maracujazeiro-doce, com base só
nesse critério, e alguns caracteres apresentaram valores elevados para o
componente de variância entre bloco x população(s2b*p).
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos na presente pesquisa permitiram as seguintes conclusões:
1) A grande variabilidade na maioria dos caracteres avaliados permite a seleção
preliminar de plantas com características agronômicas promissoras.
2) Os caracteres número de frutos/planta (NF) e produção (PRO) apresentaram
elevados índices de variabilidade entre plantas, podendo ser amplamente
utilizados em um processo seletivo.
3) Não foi possível selecionar genótipos através do componente de variância-
população.
4) A seleção baseada nos caracteres para o componente de variância entre bloco
x população mostrou dificuldade em função de alguns valores elevados
apresentados.