Concentrações de ácido indolbutírico e períodos de escuro, no enraizamento "in
vitro" de amoreira-preta (Rubus sp.), cv. ébano
Concentrações de ácido indolbutírico e períodos de escuro, no enraizamento
"in vitro" de amoreira-preta (Rubus sp.), cv. ébano1
Indolbutiric acid concentrations and dark period on thein vitro rooting of
blackberry (Rubus sp.), cv. ébano
Elizete Beatriz RadmannI; Emerson Dias GonçalvesII; Gerson Renan de Luces
FortesIII
IEng. Agr., mestranda em Agronomia, com área de concentração em Fruticultura de
Clima Temperado (FAEM/UFPel), 0xx53 - 2758163 - eradmann@hotmail.com
IIEng. Agr., doutorando em Agronomia, com área de concentração em Fruticultura
de Clima Temperado (FAEM/UFPel), 0xx53 - 2758187 - emersond@ufpel.tche.br
IIIDr. Pesquisador Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS), 0xx1453 2758259 -
gerson@cpact.embrapa.br
INTRODUÇÃO
A amoreira-preta é pertencente à família Rosaceae, gênero Rubus, do qual já
foram constatadas mais de 400 espécies. É planta arbustiva de porte ereto,
semi-ereto, ou rasteiro (Raseira, 1986).
Um dos grandes entraves para a implantação de uma nova espécie frutífera é a
produção de mudas com qualidade (Peruzzo et al., 1995). A propagação da
amoreira-preta é realizada principalmente por estacas de raiz e, também, de
hastes novas. Recentemente, a cultura de tecidos vem sendo utilizada,
permitindo a obtenção de plantas isentas de viroses e geneticamente uniformes,
em curto espaço de tempo (Grattapaglia & Machado, 1998).
Pasqual et al. (1995), utilizando explantes de amoreira-preta cv. Ébano,
acrescidos somente de ácido indolbutírico ou ácido naftalenoacético a 0,1 mg -
1 ao meio MS, obtiveram formação de mudas bem desenvolvidas e com bom
enraizamento, sem ocorrer formação de calo. Porém, o aumento da concentração de
AIB para 1,0 mg L-1 levou à formação de pequenas raízes e grande presença de
calo nestes explantes. Em contrapartida, Kiss & Zakyto (1978) obtiveram
fácil enraizamento de brotos de um híbrido entre amora-preta e framboesa,
utilizando 1,0mg L-1 de AIB.
Outro fator que pode influenciar no enraizamento in vitro é a luminosidade, que
nem sempre é benéfica para a indução e desenvolvimento de raízes. Em alguns
tecidos, períodos de escuro promovem o enraizamento, enquanto, em outros, a luz
aumenta a formação de raízes. A exposição das brotações a um período de escuro
pode melhorar a formação de raízes na fase inicial (Economou, 1987). Druart et
al. (1982) e Zimmerman (1984) obtiveram 100% de enraizamento em macieira cv.
Delicious, quando mantidas por uma semana no escuro e, após, transferidas para
fotoperíodo de 16 horas.
Com este trabalho, objetivou-se determinar a concentração de ácido
indolbutírico no meio de cultura MS e o regime de luminosidade, apropriados
para a produção in vitro de amoreira-preta cv. Ébano.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa
Clima Temperado, Pelotas-RS.
Foram utilizados explantes de amoreira-preta da cultivar Ébano. Estes foram
cultivados em meio MS (Murashige & Skoog, 1962) com metade da concentração
dos sais minerais, acrescidos de vitaminas, mio-inositol (100 mg L-1), sacarose
(30 g L-1) e ágar (7 g L-1). Ao meio, foi adicionado ácido idolbutírico nas
concentrações de 0,5 e 1,0symbol">m M. O pH foi ajustado para 5,9 antes da
autoclavagem. A esterilização foi realizada em autoclave a 120ºC, com pressão
de 1,5 atm, por 20 minutos. Foram utilizados frascos com capacidade de 250 ml,
contendo 30 ml de meio de cultivo.
As brotações utilizadas foram retiradas de explantes propagados in vitro,
retirando-se apenas 2-3 folhas da parte basal.
Após a esterilização dos meios, realizou-se a inoculação dos explantes em
câmara de fluxo laminar, colocando-se cinco explantes por frasco. Estes foram
incubados em câmara de crescimento à temperatura de 25±3ºC, em três períodos de
escuro (2; 4 e 6 dias). Em seguida, os frascos foram transferidos para
condições de luz sob fotoperíodo de 16 horas, densidade de fluxo luminoso de
31,41W.m-2, fornecido por lâmpadas fluorescentes (40w) brancas frias.
Após o enraizamento in vitro, as brotações foram levadas para casa de
vegetação, onde foram aclimatizadas em bandejas contendo areia e vermiculita
(1:1).
As variáveis mensuradas compreenderam: porcentagem de enraizamento, número e
comprimento de raízes, formação de calo na base do explante e explante, e
porcentagem de plantas aclimatizadas. Independentemente da variável estudada, a
avaliação procedeu-se após 30 dias.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, em esquema
fatorial, com três repetições, sendo cada repetição constituída por um frasco
com 5 explantes. Os fatores testados foram: concentração de AIB, com três
níveis (0,0; 0,5 e 1,0symbol">mM) e períodos de escuro, com quatro níveis (0;
2; 4 e 6 dias), totalizando 36 tratamentos. Os dados obtidos foram analisados
pelo teste estatístico SANEST e foi realizada regressão; com transformação dos
dados para porcentagem de enraizamento e de plantas aclimatizadas (arc-sen raiz
quadrada da porcentagem/100), número de raiz transformada em raiz (x+1) e a
variável intensidade de formação de calo transformada em log (x+1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a análise de variância, não houve diferença significativa entre
os tratamentos testados, para porcentagem de enraizamento. Portanto, as
diferentes concentrações de ácido indolbutírico e os diferentes períodos de
escuro, bem como sua interação, não foram significativas para esta variável. No
entanto, Pasqual et al. (1995) obtiveram melhor enraizamento adicionando ácido
indolbutírico na concentração de 0,1 mg L-1 ao meio MS, promovendo a formação
de mudas bem desenvolvidas. Kiss & Zakyto (1978) também obtiveram maior
enraizamento de brotações de um híbrido entre amora-preta e framboesa,
utilizando 1,0 mg L-1 de ácido indolbutírico. Isto, provavelmente, se deve ao
fato de utilizar-se diferentes genótipos, os quais respondem melhor à adição de
auxina ao meio de cultivo. Provavelmente, a cultivar estudada apresente
quantidade de auxina endógena suficiente para estimular o enraizamento, não
respondendo, portanto, à adição de auxina exógena (Salisbury, 1991).
Para o número de raiz por explante, apenas houve diferença significativa para o
fator de concentração de AIB. O maior número de raiz por explante ocorreu sem
adição de ácido indolbutírico ao meio (5,5 raízes/brotação). Possivelmente,
esta cultivar apresente concentrações suficientes de auxina endógena para a
formação de raízes (Figura_1). Desta maneira, qualquer adição deste regulador
ao meio de cultivo diminui o enraizamento. Diversas espécies, principalmente as
herbáceas, enraízam com níveis muito reduzidos de auxina ou em meio básico sem
substâncias de crescimento (Anderson, 1984; Hasegawa, 1980). Nesse caso, as
partes aéreas em rápido crescimento são fontes de intensa produção de auxina, a
qual é translocada para a base, estimulando a rizogênese (Grattapaglia et al,
1987).
Quanto ao comprimento de raiz, houve diferença significativa para o fator
concentração de AIB e para o fator período de escuro, mas não houve
significância da interação entre os dois fatores. A ausência de AIB no meio de
cultura levou à formação de raízes mais longas (Figura_2). A ausência de auxina
ou seu emprego em baixas concentrações auxiliam no crescimento das raízes
(Salisbury, 1991). Como as brotações da cultivar estudada não responderam à
adição de auxina para a formação de raízes, conseqüentemente, a planta não
responde à auxina na fase de elongação. As auxinas podem inibir o crescimento
das raízes nesta fase, devido ao excesso deste regulador no meio. A inibição do
crescimento em raízes pode ser causada pelo etileno, uma vez que auxinas, em
geral, estimulam a produção de etileno (Salisbury, 1991).
Brotações submetidas a escuro, por 2 a 4 dias, obtiveram maior comprimento de
raízes, em relação aos demais tratamentos realizados com escuro (Figura_3). A
alta luminosidade propicia maior produção de ácido abscísico e substâncias
fenólicas inibitórias do enraizamento (Anderson, 1984). Portanto, a exposição
das brotações a um período de escuro é benéfica para algumas espécies (Assis
& Teixeira, 1998).
Para a variável formação de calo, apenas ocorreu diferença significativa para o
fator concentração de AIB. Observou-se maior intensidade de formação de calo
quando se utilizou ácido indolbutírico no meio de cultura (Figura_4). Segundo
Fachinello et al. (1994), no momento em que a auxina é aplicada, há aumento da
concentração na base da estaca e, caso os demais requerimentos fisiológicos
sejam satisfeitos, há formação do calo, resultante da ativação de células do
câmbio e das raízes adventícias.
Na fase de aclimatização independente da concentração de AIB, observaram-se
altas porcentagens de sobrevivência para todos os tratamentos (86 - 97%), não
havendo diferença significativa entre os tratamentos. Alguns tratamentos que
tiveram 100% de brotações enraizadas durante o cultivo in vitro, apresentando
raízes ramificadas, não sobreviveram quando transplantadas para as condições
exvitro.
Provavelmente, isso deve-se ao longo comprimento das raízes na ocasião do
transplante. Raízes mais curtas ou na forma de primórdios radiculares aceleram
o pegamento da planta e evitam o enovelamento. Além disso, estas são mais
desejáveis, pois facilitam a lavagem e retirada do meio de cultura aderido, bem
como a introdução da planta no substrato. Isto pode explicar o pegamento
daquelas plantas que não tinham ainda suas raízes formadas durante o cultivo in
vitro (Assis & Teixeira, 1998).
CONCLUSÕES
Nas condições em que se desenvolveu este experimento, pode-se concluir que:
1) Períodos de escuro e concentrações de ácido indolbutírico não influenciam,
na porcentagem de enraizamento.
2) Ausência de ácido indolbutírico resulta em maior número e comprimento de
raiz.
3) Com a adição de ácido indolbutírico ao meio, ocorre a formação de calo.
4) Não há necessidade de tratamento in vitro com AIB, para brotações de amora-
preta da cv. Ébano, para obter alta percentagem de aclimatização.