Acúmulo de N, K, Ca, Mg e S na matéria seca da parte aérea de mudas de
cajueiro-anão-precoce submetidas a níveis crescentes de matéria orgânica
Acúmulo de N, K, Ca, Mg e S na matéria seca da parte aérea de mudas de
cajueiro-anão-precoce submetidas a níveis crescentes de matéria orgânica 1
Accumulation of N, K, Ca, Mg and S in dry matter of the aerial part of dwarf
cashew influenced by increasing levels of organic matter
Rosiane de Lourdes Silva de LimaI; Vitor Hugo de OliveiraII; Vera Lúcia Baima
FernandesIII; Fernando Felipe Ferreira HernandezIV
IEng. Agr., Doutorando em Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa (UFV), CEP
36571 Viçosa-MG. Tel.: 31 38 99 1345. E-mail: limarosiane@bol.com.br
IIEng. Agr., Dr., Pesquisador, Embrapa Agroindústria Tropical, CP 3761, 60.511-
110. Fortaleza-CE. Tel.: 85 299 1800. E-mail: vitor_@_cnpat.embrapa.br
IIIEng. Agr., Msc., Dep. de Ciência do Solo, Universidade Federal do Ceará,
60021-970 Fortaleza-CE. E-mail: vbaima@ufc.br
IVEng. Agr., Dr., Dep. de Ciência do Solo, Universidade Federal do Ceará,
60021-970 Fortaleza-CE. E-mail: ffelipe@ufc.br
INTRODUÇÃO
A forma usual para a produção de mudas de cajueiro é a utilização de substratos
compostos por resíduos orgânicos e solo hidromórfico, enriquecido com
fertilizantes químicos e acondicionados em saquinhos plásticos de polietileno
(Lima et al., 2001). Por tratar-se de um sistema que envolve altos custos na
produção, a qualidade do substrato é um fator-chave, visto que as
características físicas e químicas do mesmo definem o vigor, sanidade e estádio
nutricional das plantas (Toledo et al., 1997; Mourão Filho et al., 1998;
Andrade Neto et al., 1999; Pereira et al., 2000; Lima et al., 2001).
Entre os diversos materiais utilizados, é comum a recomendação de formação de
misturas a partir de areia quartzoza com solos hidromórficos (Cavalcanti Júnior
& Chaves, 2001), misturas binárias ou ternárias compostas por casca de
arroz carbonizada, húmus de minhoca, bagana de carnaubeira, pó de casca de coco
seco e solo hidromórfico (Souza, 2001). As proporções destes materiais podem
ser adequadas mediante o conhecimento a priorida composição química e
caracterização física (Lima & Correia, 2001), além dos custos de aquisição,
disponibilidade no mercado e densidade aparente do material.
Substrato para plantas é um insumo (Kåmpf, 2001), e, como tal, suas
propriedades devem ser padronizadas e reconhecidas internacionalmente. Entre
tais, destaca-se a densidade aparente, a porosidade (total, macro e micro), o
espaço de aeração, a economia hídrica (volume de água facilmente disponível), a
água tamponante e capacidade de retenção de água em diferentes potenciais.
Segundo Bataglia & Abreu (2001), as propriedades químicas mais
determinantes são: pH em água, condutividade elétrica, N (nas formas de NO3- e
NH4+), P, K, Ca e Mg. Outra qualidade importante do substrato é a de
proporcionar maior facilidade na retirada da muda do tubete por ocasião do
plantio em campo (Andrade Neto et al., 1999; Cavalcanti Júnior & Chaves,
2001).
Os estudos de substratos para a produção de mudas de cajueiro em tubetes ainda
são escassos, por ser esta uma renovação tecnológica recente no Brasil. As
pesquisas que mencionam seu uso restringem-se principalmente a espécies
florestais (Braga et al., 1977), cítricas (Mourão Filho et al., 1998) cafeeiras
(Andrade Neto et al., 1999) e mudas de maracujazeiro (Lopes et al., 1997;
Pereira et al., 2000). Neste sentido, esta pesquisa objetivou estudar os
efeitos da adição de níveis de matéria orgânica à composição do substrato, nos
teores foliares de macronutrientes em quatro estádios fenológicos de
crescimento da muda.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na área experimental do Departamento de Engenharia
Agrícola do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (DEA/
CCA/UFC). As mudas produzidas resultaram de sementes obtidas de uma única
planta-matriz, progênie 'CCP 76', cultivada no jardim clonal da Estação
Experimental de Pacajus, pertencente à Empresa Agroindústria Tropical (CNPAT/
EMBRAPA).
Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, em esquema de parcelas
sub-divididas no tempo, com 4 repetições e 6 plantas por parcela.. Nas
parcelas, estudaram-se os efeitos de 5 níveis de matéria orgânica (0; 100; 200;
300 e 400 cm3) e, nas subparcelas, os efeitos das épocas de avaliação (15; 30;
45 e 60 dias após a germinação).
Na formulação dos substratos, utilizou-se de húmus de minhoca e solo
hidromórfico, cuja composição química encontra-se na tabela_1. Para a
determinação do pH, utilizou-se de água na relação de 1:2,5; do Ca, Mg, e Al,
extrator KCl 1 mol/L; do P, Na, K, Fe, Zn, Mn e Cu, Mehlich 1 e H+Al, extrator
acetato de cálcio 0,5 mol/L ' pH 7,0.
Para o enriquecimento do substrato, foram utilizados 6,18 g/2,5 kg de solo da
mistura de fertilizante mineral contendo 1,28 g de uréia; 2,04 g de
superfosfato triplo; 0,80 g de cloreto de potássio; 0,56 g de gesso e 1,00 g de
calcário, segundo recomendação de Ximenes (1995).
A semeadura foi realizada diretamente nos recipientes (sacos de polietileno
preto de dimensão 19 cm de largura por 30 cm de comprimento), com capacidade
para 2,5 kg de solo (furados lateralmente), sendo semeada apenas uma semente/
recipiente com a base voltada para cima, a uma profundidade de 3 cm, conforme
recomendação de Barros et al., (1993). O experimento foi conduzido a pleno sol,
por um período de 95 dias após a semeadura. Os tratos culturais realizados
foram irrigação, controle de pragas, doenças e plantas daninhas.
Ao final do experimento, foram determinados os teores de N, K, Ca, Mg e S na
matéria seca da parte aérea das mudas colhidas aos 15; 30; 45 e 60 dias após o
plantio, respectivamente. As amostras devidamente secas foram moídas em moinho
tipo "Willey", com malha de 40 mm, para análise química.
Amostras de tecido vegetal (folha+caule) foram submetidas à digestão nítrico-
perclórica para determinar o teor de K, Ca, Mg e S. Para a determinação do teor
de N, as amostras foram submetidas à digestão sulfúrica. O N foi dosado pelo
método colorimétrico de Nessler (Jacson, 1958), o K por fotometria de chama, o
Ca e Mg por espectrofotometria de absorção atômica, e o S por turbidimetria do
sulfato (Blanchar et al., 1963).
Os dados quantitativos foram ajustados por meio de análise de Regressão e
Superfície de resposta, conforme o comportamento exibido pelos tratamentos
estudados neste experimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em todas as épocas avaliadas, houve incremento linear dos teores foliares de N
e K com o aumento dos níveis de matéria orgânica. Por outro lado, em todos os
níveis de matéria orgânica, ocorreu redução linear dos teores dos referidos
nutrientes com o incremento das épocas de avaliação (Figuras_1 e 2). Aos 15
dias, houve absorção de 1,468 g/kg para o N e 1,011 g/kg para o K; e aos 60
dias, esta absorção foi de 0,881 g/kg para o N e de 0,837 g/kg para o K, com a
dose 0 cm3 de matéria orgânica. Para a dose de 400 cm3 de matéria orgânica, a
absorção foi de 1,866 g/kg para o N e de 1,127 g/kg para o K, aos 15 dias após
a germinação e de 1,281 g/kg para o N e de 0,837 g/kg aos 60 dias. A mesma
tendência foi observada por Bakker (1994) e Cardoso (1994) em mudas de
cajueiro-anão-precoce crescidas em substrato contendo húmus de minhoca.
A redução dos teores foliares destes nutrientes, com as épocas avaliadas, foi
devida ao efeito de diluição, que ocorre quando o aumento do peso da massa seca
provoca diminuição dos teores dos nutrientes (Marschner, 1995). Outra provável
causa do efeito de diluição é a interação entre os nutrientes em algum sítio de
absorção ou no solo, afetando a absorção ou translocação de um deles (Jarrel e
Bervely, 1981).
Os teores de N na planta variam consideravelmente com a parte da planta
analisada, metodologia usada, idade da planta, fertilização, entre outros
(Marschner, 1995). Ximenes (1995), avaliando amostras compostas (caule +
folhas) de mudas de cajueiro-anão-precoce verificou que os teores de N variavam
de 0,99 g/kg a 2,72 g/kg. Todavia, Haag et al. (1975a), conduzindo estudos com
mudas de cajueiro comum em solução nutritiva, estabeleceram como adequados os
teores foliares de 2,40 g/kg a 2,58 g/kg e como deficientes de 0,98 g/kg a 1,38
g/kg. Os teores de N observados podem ser considerados satisfatórios quando
comparados aos obtidos por Ximenes (1995).
Haag et al. (1975 b), estudando os teores de macronutrientes em mudas de
cajueiro comum cultivadas em solução nutritiva, classificaram como níveis
adequados de K os valores entre 1,10 g/kg a 1,29 g/kg e como deficientes os
valores compreendidos entre 0,20 g/kg a 0,26 g/kg. No entanto, Latis e
Chibiliti (1988) obtiveram, em mudas de cajueirocomum, valor médio de 0,25 g/
kg, enquanto Corrêa et al. (1991) encontraram 1,05 g/kg no limbo foliar de
cajueiro anão-precoce adulto. Ximenes (1995), trabalhando com mudas de
cajueiro-anão-precoce CCP-76, encontrou teor máximo de 1,48 g/kg nas plantas
que receberam adubação e mínimo de 0,43 g/kg no tratamento sem adubação. O
estudo comparativo dos teores de K obtidos na matéria seca da parte aérea das
mudas estudadas nesta pesquisa, com a maioria dos valores citados na
literatura, revela que todas as mudas se encontravam com níveis adequados,
portanto bem supridas com relação ao K.
Com relação aos teores de Ca, Mg e S avaliados em função dos níveis de matéria
orgânica, verificou-se comportamento linear, quadrático e linear,
respectivamente (Figura_3). Para o Ca e S, com 0 de matéria orgânica, a
concentração foi de 0,566 g/kg para o Ca e de 0,166 g/kg para o S, aumentando
esta concentração com o incremento da matéria orgânica e atingindo absorção
máxima de 0,658 g/kg para o Ca e 0,206 g/kg para o S na dose de 400 cm3. Com
relação ao Mg, com 0 de matéria orgânica, a concentração foi de 0,242 g/kg,
aumentando esta com o incremento da matéria orgânica e atingindo absorção
máxima de 0,254 g/kg na dose de 141,66 cm3, havendo, a partir desta dose,
redução da absorção atingindo 0,214 g/kg com 400 cm3.
Quanto aos teores de Ca, Mg e S avaliados em função das épocas de avaliação,
verificou-se comportamento quadrático, linear e quadrático, respectivamente
(Figura_4). Para o Ca e S aos 15 dias após germinação, a concentração foi de
0,503 g/kg e 0,121 g/kg, respectivamente, aumentando estas com o incremento do
tempo e atingindo absorção máxima de 0,699 g/kg para o Ca e 0,168 g/kg para S
obtidas aos 48,8 dias e 63,75 dias, respectivamente, havendo, a partir destas
épocas, redução da absorção, atingindo 0,678 g/kg e 0,168 g/kg para o Ca e S,
respectivamente, aos 60 dias. Para o Mg, com 15 dias, a absorção foi de 0,227
g/kg, aumentando esta absorção com o incremento do tempo e atingindo absorção
máxima de 0,268 g/kg aos 60 dias.
O cálcio e o Magnésio, por serem elementos de baixa mobilidade no floema dos
tecidos, apresentam tendências de acúmulo, aumentando a concentração com o
tempo (Marschner, 1995). Os teores de Ca obtidos neste trabalho foram
superiores aos observados por Ximenes (1995) (0,22 a 0,59 g/kg), também em
mudas de cajueiro-anão-precoce, CCP-76, cultivadas com adubação mineral e
avaliadas nas mesmas épocas deste estudo. Outros autores também encontraram
teores inferiores, como: Falade (1978b) (0,176 g/kg); Yaacob e Kamal (1983)
(0,15 e 0,26 g/kg); Latis e Chibiliti (1988) (0,15 e 0,26 g/kg) e Corrêa (1991)
(0,285 a 0,320 g/kg).
As variações nos teores de Mg encontradas pelos autores: Yaacob e Kamal (1983)
- 0,20 a 0,21 g/kg, Corrêa et al. (1991) - 0,18 a 0,19 g/kg, Ximenes (1995) -
0,18 a 0,29 g/kg, em condições de campo, e por Avilán (1971) - 0,287 a 0,494 g/
kg, e Melo (1991) - 0,24 a 0,37 g/kg, em solução nutritiva, podem ser oriundas
da parte da planta analisada. Haag et al. (1975a) citam que as diferenças entre
os teores de nutrientes nas plantas justificam-se em função de os mesmos
variarem com o porte, idade e ambiente onde a planta se desenvolve.
A escassez de trabalhos referentes à concentração de S em mudas de cajueiro-
anão-precoce adubadas limitam a sua interpretação. Para efeito de ilustração, é
possível mencionar os valores obtidos por Haag et al. (1975b) 0,11 a 0,14 g/kg
que são citados como padrão de comparação para plantas adultas e bem nutridas.
De modo geral, os teores S encontrados no presente trabalho foram inferiores
aos obtidos por Ximenes (1995) (0,29 g/kg) e por Melo (1991) - 0,14 a 0,27 g/
kg. Por outro lado superaram os encontrados por Avilán (1971) 0,045 a 0,069 g/
kg e Falade (1978b) - 0,07 g/kg. Todos estes valores foram obtidos com mudas
cultivadas em solução nutritiva completa.
CONCLUSÕES
1) A adição de níveis crescentes de matéria orgânica promoveu aumento dos
teores de N e K, na matéria seca da parte aérea.
2) Os nutrientes N e K apresentaram tendência de diluição, acompanhando a curva
de crescimento da matéria seca, enquanto o Ca e Mg apresentaram tendência de
concentração nas épocas estudadas.
3) A dose de 40 cm3 de húmus foi a mais eficiente para a nutrição das plantas.
4) A absorção dos macronutrientes obedeceu à seguinte ordem decrescente:
N>K>Ca>Mg>S.