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BrBRCVAg0100-29452003000300003

BrBRCVAg0100-29452003000300003

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaAgricultural Sciences
ISSN0100-2945
ano2003
Issue0003
Article number00003

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Brotação e fertilidade de gemas em uvas sem sementes no Vale do São Francisco BOTÂNICA E FISIOLOGIA

INTRODUÇÃO A produção de uvas sem sementes tem apresentado rápida expansão no Submédio São Francisco, sendo a quase totalidade comercializada no mercado externo, onde tem alcançado preços até três vezes superiores que os da uva 'Itália'. A principal variedade é a Superior Seedless ou Festival, que se caracteriza por apresentar menor produtividade que as variedades com sementes cultivadas na região e ainda uma grande irregularidade de produção entre as safras.

O número de cachos constitui-se num dos principais componentes da produtividade e pode ser determinado pela poda e pela fertilidade das gemas. A fertilidade das gemas pode ser definida como a capacidade que apresentam para se diferenciar de vegetativas em frutíferas, podendo ser considerada como medida quantitativa do potencial de uma planta em produzir frutos. A diferenciação floral na videira e em outras plantas perenes ocorre durante a fase de crescimento vegetativo do ciclo anterior e envolve três estádios bem definidos: formação dos "anlage", formação dos primórdios de inflorescência e formação das flores (Srinivasan & Mullins, 1981). A diferenciação das gemas tem início nas gemas basais e continua em direção a porção apical da brotação.

Essa característica depende de cada variedade, mas em uma mesma variedade pode sofrer grandes variações de um ciclo para outro, onde o clima pode exercer grande influência sobre a fertilidade de gemas.

A luminosidade diária, temperaturas acima de 30ºC e luz solar incidente sobre as gemas são os principais fatores climáticos que atuam sobre o aumento da diferenciação floral (Baldwin, 1964; Buttrose, 1969; 1970; 1974; Rives, 2000; Sommer et al., 2000). Por outro lado, condições de manejo do vinhedo que podem afetar a temperatura e a luz solar incidente, tais como o sombreamento (May & Antcliff, 1963), a direção de crescimento dos ramos (May, 1966), a desponta e a desbrota de ramos (Lavee et al., 1967), os sistemas de condução (Sommer et al., 2000) e outros aspectos do manejo têm sido estudados por diversos autores.

O conhecimento da posição das gemas férteis para cada variedade é de fundamental importância na definição do tipo de poda a ser empregada no vinhedo. Podem ser encontradas referências de resultados obtidos para diferentes variedades, em regiões de produção muito distintas, como o Nordeste do Brasil (Leão & Pereira, 2001), sul do Brasil (Tonietto & Czermainski, 1993), Venezuela (Valor & Bautista, 1997), México (Murrieda, 1986) e Itália (Sansavini & Fanigliulo, 1998). Entretanto, existem poucas informações sobre o comportamento de variedades em condições de clima tropical, como aqueles predominantes no Submédio São Francisco. Esse conhecimento é um importante subsídio para se estabelecer técnicas mais racionais de poda que resultem no aumento de produtividade dos vinhedos.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a percentagem de brotação e índice de fertilidade de gemas de cinco variedades de uva sem sementes em cinco diferentes datas de poda nas condições do Submédio São Francisco.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Campo Experimental de Bebedouro da Embrapa Semi- Árido, em Petrolina - PE, 9º09'S , 40º22'O e altitude média de 365,5m.

Segundo Köeppen, o clima da região está classificado como tipo Bswh, sendo a temperatura média anual de 26,4ºC, com média das mínimas de 20,6ºC, e média das máximas de 31,7ºC. A Figura_2 apresenta médias mensais de temperatura, insolação e radiação durante o período de realização do experimento.

O delineamento experimental foi em parcelas subdivididas onde os tratamentos principais foram constituídos pelas variedades Perlette, Thompson Seedless, Marroo Seedless, Catalunha e Superior Seedless, e os tratamentos secundários por cinco épocas de poda entre dezembro de 2000 à abril de 2002, a saber: 18 e 19/12/2000; 18 a 21/06/2001; 23 a 29/10/2001; 29/01 a 05/02/2002 e 08 a 12/04/ 2002.

As videiras enxertadas no porta-enxerto IAC 572 estavam com três anos de idade, conduzidas em latada no espaçamento 4,0 x 2,0 m, submetidas à irrigação localizada por gotejamento.

A poda utilizada foi do tipo mista com varas e esporões, mantendo-se varas com aproximadamente dez a doze gemas e esporões com duas a três gemas.

Imediatamente após a poda, os ramos foram pulverizados com Dormex® em uma concentração de 5% do produto comercial para induzir e uniformizar a brotação das gemas.

A percentagem de brotação foi calculada pela relação entre o número de gemas brotadas e o número total de gemas; e o índice de fertilidade real foi obtido dividindo-se o número total de cachos pelo número total de gemas da planta.

Para se determinar a percentagem de gemas brotadas e o índice de fertilidade real para cada posição de gema, realizou-se uma avaliação aproximadamente entre o décimo e o trigésimo dia após a poda antes de se realizar a desbrota. Esta avaliação foi efetuada para todas as varas de produção e esporões, da a 10ª gema do ramo, em dez plantas ou repetições por variedade. Foram registrados o número total de gemas, número total de gemas brotadas, número total de cachos e número de cachos por posição de gema.

Os resultados foram analisados estatisticamente, utilizando-se o programa SAS, estabelecendo-se a comparação das médias pelo teste de Duncan ao nível de 1% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de variância demonstrou serem significativos os efeitos de variedades e épocas de poda sobre a brotação e a fertilidade de gemas. A interação entre os efeitos de variedades e épocas de poda também foi significativa a 1% de probabilidade, indicando que o comportamento das variedades em relação à brotação e fertilidade de gemas pode variar segundo a época de poda (Tabelas_1 e 2), e em uma mesma época de poda, as cinco variedades apresentam diferenças significativas para brotação e fertilidade de gemas. Estes resultados comprovam que brotação, e sobretudo a fertilidade das gemas, são características que dependem não somente da variedade, mas que são altamente influenciadas pelas condições climáticas durante o período do ciclo em que ocorre a diferenciação das gemas, o que está de acordo com diversos autores (Baldwin, 1964; Buttrose, 1969; 1970; 1974; Rives, 2000; Sommer et al., 2000).

A brotação média variou de 62,42% na variedade Catalunha até 75,56% na 'Perlette'. A poda realizada entre 18 a 19 de dezembro de 2000 foi aquela onde foram observados os menores valores para brotação, diferindo significativamente dos demais tratamentos em todas as variedades. O valor médio para percentagem de brotação nesta época de poda foi de apenas 44,75%. Por sua vez, a brotação das gemas foi mais elevada para as podas realizadas entre 18 a 21 de junho de 2001 e 8 a 12 de abril de 2002, não diferindo significativamente entre si nestas duas épocas de poda, à exceção da variedade Catalunha, onde obteve-se para a poda de fevereiro de 2002, o melhor resultado entre todos os ciclos, isto é, 84,78%, diferindo significativamente das demais épocas.

Os maiores índices de fertilidade real de gemas podem ser observados, de acordo com a Tabela_2, na variedade Marroo Seedless, diferindo significativamente das demais variedades em todas as épocas de poda, com uma média geral de 0,37, seguida pela 'Perlette' com 0,17. As variedades Thompson Seedless, Superior Seedless e Catalunha apresentaram fertilidade real muito baixa, não diferindo entre si nas cinco épocas de poda estudadas e apresentando uma média geral de respectivamente 0,14; 0,12 e 0,10.

Em trabalho anterior realizado nesta região, obteve-se índices de fertilidade de gemas mais elevados para as variedades Marroo Seedless (0,89) e Thompson Seedless (0,68) (Leão & Pereira, 2001), possivelmente em virtude das podas terem sido mais longas, analisando-se 15 gemas nas varas. Por outro lado, os resultados obtidos estão próximos daqueles observados por Camargo et al. (1996) nas variedades Catalunha (0,18) e Perlette (0,21).

A fertilidade de gemas nas cinco variedades, à exceção de 'Perlette', diferiu significativamente entre as diferentes épocas de poda. A poda realizada entre 8 a 12 de abril de 2002 foi a que promoveu a maior fertilidade de gemas, à exceção de 'Perlette', em todas as variedades. Outra época de poda favorável para a fertilidade das gemas foi em junho de 2001, à exceção da variedade Superior Seedless (Figura_1). A fertilidade das gemas não apresentou diferenças significativas entre estas duas épocas de poda (06/2001 e 04/2002) nas variedades Perlette e Marroo Seedless. Índices de fertilidade de gemas mais baixos, por sua vez, foram obtidos quando a poda foi realizada em fevereiro de 2002 em todas as variedades. A média geral para os índices de fertilidade de gemas variou de 0,10 na poda de fevereiro de 2002 a 0,27 em abril de 2002.

As gemas, conforme pode ser observado na Figura_2, apresentam uma tendência de aumento de sua fertilidade a partir da porção mediana do ramo até a porção distal, apesar de poder ocorrer uma certa variação entre as gemas de posições adjacentes. As variações de fertilidade entre a gema basal e a 10ª gema da vara, considerando-se as cinco épocas de poda, foram, respectivamente, de 0,02- 0,07 a 0,18-0,42 na 'Perlette'; 0,0-0,08 a 0,16-0,58 na 'Thompson Seedless'; 0,0-0,07 a 0,14-0,33 na 'Catalunha'; 0,06-0,30 a 0,40-1,15 na 'Marroo Seedless' e 0,01-0,14 a 0,04-0,46 na 'Superior Seedless'. Os valores médios de fertilidade de gemas obtidos para esta última variedade estão de acordo com aqueles observados por Sansavini & Fanigliulo (1998), na Itália, variando de 0,03 a 0,6. A grande variação existente para esta variável é confirmada pelos valores altos de coeficientes de variação obtidos (Tabela_2).

A tendência de aumento da fertilidade a partir da porção mediana das varas é conseqüência de um maior acúmulo de carboidratos nesta região (Winkler, 1965).

A baixa fertilidade das gemas basais também pode ser influenciada pela menor incidência de luz sobre essas gemas (May, 1966; May et al., 1976).

As épocas de poda no semestre do ano que ocorreu em junho de 2001 e abril de 2002, parecem favorecer tanto a brotação quanto a fertilidade de gemas da maioria das variedades estudadas. Isso se justifica pelo fato de que o ciclo anterior a estes iniciou em novembro de 2001 e dezembro de 2000, cujo ciclo vegetativo coincidiu com período de temperaturas mais elevadas (Figura_1), o que pode ter favorecido a diferenciação das gemas.

CONCLUSÕES 1) A variedade Marroo Seedless destacou-se entre as variedades estudadas, com índice de fertilidade de gemas de 0,37, para os cinco ciclos de produção estudados; 2) O comportamento das variedades foi influenciado pelas épocas de poda, sendo que para a maioria das variedades as podas realizadas em junho de 2001 e abril de 2002 proporcionaram os maiores valores para brotação e fertilidade de gemas; 3) A fertilidade de gemas apresentou tendência crescente da base, representada pela gema, até a porção mediana que correspondeu a 10ª gema das varas, e em geral as maiores médias foram observadas nas últimas gemas em todos as variedades.

4) A brotação e fertilidade das gemas pode sofrer variações em cada ciclo de acordo com as condições climáticas predominantes, sendo importante, a realização de análise de gemas antes da poda e de práticas adequadas de manejo de copa específicas para cada variedade.


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