Expressão sexual do mamoeiro sob diferentes lâminas de irrigação na Região
Norte Fluminense
BOTÂNICA E FISIOLOGIA
Expressão sexual do mamoeiro sob diferentes lâminas de irrigação na Região
Norte Fluminense1
Sexual expression of papaya tree affected by depth of irrigation in the North
Region of Rio de Janeiro, Brazil
Frederico Terra de AlmeidaI; Cláudia Sales MarinhoII; Elias Fernandes de
SouzaIII; Sidney GrippaIV
ID.S. em Produção Vegetal, Professor Associado do Laboratório de Engenharia
Civil (LECIV) da UENF, Av. Alberto Lamego, 2000, Campos dos Goytacazes RJ.
CEP: 28013-600. Tel (24) 2726-1517. E-mail: fredterr@uenf.br
IID.S. em Produção Vegetal, Professora Associada UENF/CCTA/LFIT- E-mail:
marinho@uenf.br
IIID.S. em Produção Vegetal, Prof. Associado do Laboratório Engenharia
Agrícola/UENF. E-mail: efs@uenf.br
IVTécnico Agrícola, Técnico de Nível Médio do Laboratório de Engenharia
Agrícola/UENF
INTRODUÇÃO
O cultivo do mamoeiro Solo explora, principalmente, plantas hermafroditas, uma
vez que produzem os frutos mais aceitos pelos mercados interno e externo.
Entretanto, essas plantas produzem, também, flores que nem sempre originam
frutos perfeitos.
Segundo Storey (1969), as flores e frutos produzidos por plantas hermafroditas
podem ser classificadas em 4 tipos: tipo 4+ (flor estéril); tipo 4 (fruto
perfeito); tipo 3 (fruto carpelóide) e tipo 2 (fruto pentândrico).
A flor hermafrodita do mamoeiro não constitui um tipo único e definido, mas um
grupo que inclui várias formas, a pentândrica, a intermediária, a estéril e a
elongata. As duas primeiras flores dão origem a frutos deformados, sem valor
comercial e conhecidos, respectivamente, por frutos pentândricos e carpelóides
e, apenas a elongata produz frutos perfeitos (Dantas e Castro Neto, 2000).
O aparecimento de flores imperfeitas está relacionado a fatores genéticos, os
quais são afetados por fatores ambientais. As plantas hermafroditas são
sensíveis às pequenas variações ambientais. Lugares de maior altitude e menor
temperatura mínima apresentam maior freqüência de carpeloidia. Da mesma forma,
condições de alta umidade, altos teores de nitrogênio e de água no solo tendem
a mudar o sexo das flores hermafroditas para femininas, produzindo frutos
deformados (Awada & Ikeda, 1953; Awada, 1958).
A importância da água se relaciona tanto à sua falta quanto ao seu excesso. A
restrição hídrica, além de reduzir o crescimento da planta, favorece a produção
de flores masculinas e estéreis, reduzindo a produção de frutos. Por outro
lado, o excesso de água na região em torno da raiz da planta diminui a aeração
e afeta a absorção de nutrientes, aumenta o aparecimento de doenças, além de
possibilitar a lixiviação dos nutrientes (Marin et al., 1995).
O objetivo deste trabalho foi estudar o comportamento do mamoeiro 'Improved
Sunrise Solo 72/12', na produção dos diferentes tipos de flores hermafroditas,
em relação à aplicação de diferentes lâminas de água, na região Norte
Fluminense.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido sob delineamento em blocos casualizados com sete
tratamentos (lâminas de irrigação), três repetições e cinco plantas úteis em
cada parcela. O plantio, com a cultivar 'Improved Sunrise Solo 72/12', efetuou-
se em fileiras duplas com espaçamento 3,6 x 2,0 x 2,0 m, em 10/08/1998. Foi
utilizado um sistema de irrigação por microaspersão para aplicação de água, com
uma faixa contínua, onde os emissores foram localizados entre as fileiras
duplas espaçadas de 4 m entre si, irrigando quatro plantas cada um.
O sistema de irrigação por microaspersão instalado no experimento constava de
um conjunto motobomba de 2 cv, um cabeçal de controle com válvulas reguladoras
de pressão, um filtro de tela de 100 micras e um de disco de 150 micras e,
ainda, seis hidrômetros. O microaspersor utilizado foi da marca DAN SPRINKLERS,
que, com aplicação de 15 m.c.a. de pressão, apresentava uma vazão de 35 L.h-1 e
um raio de molhamento de 2 m.
Os níveis de irrigação aplicados foram sete percentagens da evapotranspiração
de referência (ET0), ou seja, 0; 40; 80; 120; 160; 200 e 240%; cujos volumes de
água aplicados foram controlados por hidrômetros instalados para cada
tratamento.
As irrigações foram conduzidas três vezes por semana, às 2as, 4as e 6as feiras,
onde a aplicação de água para cada parcela teve seu volume determinado em
função do acúmulo da lâmina de água referente ao balanço entre a demanda
hídrica e a precipitação, sendo a demanda calculada pela evapotranspiração de
referência, medida pelo tanque Classe A (coeficiente do tanque de 0,7), pelo
número de plantas por microaspersor (4 plantas), pela área ocupada por cada
planta (5,6 m2) e da percentagem de área molhada (considerada 70%), e
aplicando-se os parâmetros de eficiência do sistema de irrigação (considerado
de 90%) e do coeficiente devido ao tratamento, sendo:
em que:
VA volume total de água aplicado por irrigação, L;
ET0 evapotranspiração de referência acumulada entre irrigações, mm;
Np n° de plantas por microaspersor, adimensional;
Ap área ocupada pela planta, m2;
PW percentagem de área molhada, adimensional;
Prec precipitação acumulada entre irrigações, mm;
Ef eficiência do sistema de irrigação, adimensional;
NT percentagem da lâmina definida pelo tratamento, adimensional.
A adubação e outros tratos culturais seguiram as recomendações de Marin et al.
(1995).
Após o início do florescimento foram avaliados, mensalmente, o número de flores
estéreis (flor tipo 4+), de frutos carpelóides (flor tipo 3) e pentândricos
(flor tipo 2), sendo, posteriormente, analisados estatisticamente por análise
de variância (teste F).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O início do florescimento foi observado quatro meses após o plantio. As
avaliações foram, assim, efetuadas entre dezembro de 1998 e agosto de 1999.
Neste sentido são mostrados os dados climáticos médios (Tabela_1), considerando
os intervalos entre as datas das avaliações efetuadas, onde pode-se observar
que, embora as condições climáticas estivessem, de modo geral, favoráveis ao
desenvolvimento da cultura, a demanda evapotranspirométrica média foi bem maior
do que a precipitação ocorrida no período, indicando a necessidade de
irrigação.
As flores do tipo 4+, ou estéreis, apresentaram maior ocorrência em janeiro e
fevereiro (verão) e menor ocorrência em maio (início do inverno). A maior
ocorrência foi verificada nas menores lâminas de água (T1 e T2). Para as
maiores lâminas, a maior ocorrência foi registrada em dezembro e a menor
ocorrência em abril (Figura_1).
Esses resultados demonstram que ocorre influência tanto de temperaturas
elevadas quanto de baixas, ou, possivelmente, da amplitude térmica (diferença
entre a máxima e a mínima), na produção de flores estéreis, sendo o seu efeito
condicionado à disponibilidade de água no solo (Figura_1).
A ocorrência de maior esterilidade no verão, observada neste trabalho, também
ocorreu em outros trabalhos com a cultura, conforme relatam Awada (1958),
Giacometti e Mundim (1953) e Nakasone et al. (1972), mencionando que a
esterilidade é um dos principais problemas da cultura do mamoeiro, podendo,
muitas vezes, inviabilizar o cultivo em regiões de temperatura muito elevada.
A produção de flores do tipo 3, ou de frutos carpelóides, foi inexpressiva para
a maioria dos tratamentos, de novembro a janeiro. Entretanto, chegou a 22%, em
fevereiro, para o tratamento T5 (Figura_2).
As condições climáticas atuam, também, na diferenciação dos tipos de flores,
com influência tanto da temperatura máxima quanto da mínima, principalmente na
produção de flores tipo 3. Awada (1958) verificou efeito apenas da temperatura
mínima sobre a diferenciação dessas flores. Segundo Giacometti e Mundim (1953),
é esperada a ocorrência de carpeloidia, em plantas mais suscetíveis, nos fins
do outono e início do inverno e, em plantas menos suscetíveis, no fim do
inverno e início da primavera.
Como neste experimento não foi possível a avaliação dos diferentes tipos
florais do fim do inverno ao início do verão (incluindo a primavera), e sem
estudos que referenciem a suscetibilidade ao carpeloidismo da cultivar
utilizada neste trabalho ('Improved Sunrise Solo 72/12'), não se pode dizer
qual época apresentaria maior índice de carpeloidia nesta região. Entretanto, a
maior incidência de frutos carpelóides em fevereiro (verão) para os tratamentos
com maiores lâminas de irrigação (T6 e T7) e a maior incidência destes mesmos
frutos em maio (outono) para os tratamentos com menores lâminas de irrigação
(T1 e T2) parece demonstrar que existe uma interação entre as condições
climáticas e as lâminas de irrigação.
As flores do tipo 2 (frutos pentândricos) ocorreram em pequena porcentagem para
a maioria dos tratamentos, com exceção do tratamento T5, que apresentou maior
incidência dessas flores em fevereiro (Figura_03). Este fato foi registrado em
época de temperaturas altas e associado ao tratamento que apresentou a maior
produção de frutos. Apesar de sabido que a ocorrência desse tipo de flores é
uma anomalia genética influenciada por fatores climáticos e manejos culturais,
pouco se conhece sobre os mecanismos dessa influência.
Observou-se que, tanto o número quanto a percentagem das flores tipo 4+ (flores
estéreis) e das flores tipo 3 (frutos carpelóides) apresentaram respostas às
lâminas de irrigação (p = 0,05; pelo teste F) (Figuras_4 e 5).
As estimativas de perdas em decorrência da produção de flores imperfeitas,
calculada pela diferença entre cada tipo de flor e o número de pecíolos da
planta, são apresentadas no Tabela_2 para cada tratamento.
Segundo Chia e Manshardt (2001), temperaturas baixas ou alta umidade no solo
podem levar a uma mudança da flor em direção à feminilidade, ocorrendo a fusão
dos carpelos ou paredes do ovário e resultando na formação de frutos
carpelóides.
Nesse trabalho observou-se que o aumento da lâmina de água aplicada
correspondeu a um aumento na formação de frutos carpelóides até um certo valor,
conforme Figura_5. Entretanto, a lâmina de água que proporcionou a maior
ocorrência de frutos carpelóides (Figura_5) proporcionou, também, menor
ocorrência de flores estéreis (Figura_4).
Nesse sentido, sendo o percentual de flores estéreis substancialmente mais alto
que o de flores tipo 3 (frutos carpelóides), a adoção de uma lâmina em torno de
120% da ETo minimizou as perdas pela produção de flores imperfeitas.
CONCLUSÕES
1) A ocorrência de flores estéreis foi responsável pelas maiores perdas na
produção e foi maior no verão e agravada pelo déficit hídrico.
2) A ocorrência de flores estéreis e frutos carpelóides foi influenciada pela
lâmina de irrigação.
3) A adoção de uma lâmina em torno de 120% da ETo minimizou as perdas pela
produção de flores imperfeitas.