Produtividade de genótipos de maracujazeiro azedo sob doses de potássio, no
Distrito Federal
FITOTECNIA
Produtividade de genótipos de maracujazeiro azedo sob doses de potássio, no
Distrito Federal1
Productivity of genotypes of passion-fruit related to levels of potassium
fertilization in the region of Brasília-Brazil
Aurélio Tinoco de OliveiraI; José Ricardo PeixotoII; Nilton Tadeu Vilela
JunqueiraIII; Luiz Eduardo Pacifici RangelIV; Juliana Meireles FortalezaV
IEng. Agr. Msc., QNA 09 Cs.19, Taguatinga/DF, 72110-090, Email:
aureliotinoco@bol.com.br
IIProf. Dr. da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária/UnB, Cx. Postal:
04508, 70910-900, E-mail:peixoto@unb.br
IIIPesquisador da Embrapa-Cerrados CPAC, BR-020 Km 18, Planaltina/DF, 73301-
970, E-mail:junqueir@cpac.embrapa.br
IVEng. Agr. Msc., Cx. Postal:04508, 70910-900
VEng. Agr. Msc., SQN 304, Bloco F, apto. 209, Brasília/DF, 70736-060
INTRODUÇÃO
O gênero Passiflora é originário da América do Sul e tem no Centro-Norte do
Brasil o maior centro de distribuição geográfica. No Brasil a espécie mais
importante é P. edulis f. flavicarpa, maracujá amarelo ou azedo. Em pequena
escala é cultivado o maracujá doce, P. alata Dryand (Manica, 1981). Junqueira
et al. (1999) citam, dentre outros fatores, como responsáveis pela baixa
produtividade alcançadas na cultura do maracujazeiro no Brasil, o cultivo de
genótipos inadequados e a ausência de um plano adequado de adubação. A planta
do maracujazeiro apresenta crescimento rápido e contínuo, extraindo assim
grande quantidade de nutrientes do solo. O nitrogênio é o nutriente mais
absorvido, 205 kg de N ha-1ano-1, seguido pelo potássio, 184 kg de K ha-1ano-1
(Haag et al. 1973). A deficiência de potássio no maracujazeiro ocasiona clorose
seguida de necrose a partir das folhas mais velhas, secamento das gavinhas,
redução na ramificação, redução no diâmetro dos ramos, queda acentuada de
flores e alteração do teor de sólidos solúveis dos frutos (Ruggiero et al.,
1996; Quaggio & Piza Júnior, 1998; Junqueira et al., 1999). O presente
trabalho teve como objetivo verificar o desempenho agronômico de nove genótipos
de maracujazeiro azedo, cultivados sob três doses de adubação potássica, no
Distrito Federal.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento realizou-se na Fazenda Água Limpa (FAL/UnB), situada no Distrito
Federal a uma latitude de 16o Sul, longitude de 48o Oeste numa altitude de
1.100m. A área total utilizada foi de 0,8 hectare. A precipitação no período
compreendido entre abril de 2000 a maio de 2001, data da última colheita do
experimento, foi de 1.818,3mm. A média da temperatura mínima mensal para o
mesmo período foi de 19,32oC, alcançando a temperatura mínima absoluta de
16,6oC nos meses de junho e julho de 2000.
Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados, em esquema fatorial 9 x 3,
sendo nove genótipos e três doses de adubação potássica, totalizando 27
tratamentos, quatro repetições e nove plantas úteis/parcela. Utilizou-se os
seguintes genótipos: híbrido EC-2-0, Marília Seleção Cerrado (MSC), F1 (Roxo
Fiji x Marília), Porto Rico, Vermelhão, F1 (Marília x Roxo Australiano),
Redondão, IAC 273 e Itaquiraí. As plantas dos noves genótipos foram semeadas
no dia 23/09/1999. As mudas foram transplantadas noventa dias após a semeadura.
O experimento foi instalado num solo Latossolo Vermelho-Amarelo, fase argilosa,
profundo, com boa drenagem e de baixa fertilidade natural, apresentando os
seguintes teores de nutrientes: Al (0,05 cmolc dm-3); Ca+Mg (1,9 cmolc dm-3); P
(4,5 mg dm-3); K (46 mg dm-3); pH (água) 5,4 e saturação por Al 4%. Para o Al
foi utilizado o extrator KCl e a titulação com NaOH; para o Ca + Mg foi
utilizado o extrator KCl e a titulação com EDTA; para o P e K foi utilizado o
extrator Mehlich I (duplo ácido) (Osaki, 1991). Foi realizada uma calagem com
calcário dolomítico (2,5 t/ha) em todo o terreno, elevando a saturação por
bases inicial de V = 30% para V = 60% (Souza et al. 1999). Foi aplicado 1 kg de
superfosfato simples (Raij et al. 1996) por cova mais carbofuran (386 g do
p.a./ha). O espaçamento utilizado foi de 2,75 x 2,50m, totalizando 1.454
plantas ha-1 (incluindo a bordadura).
As adubações de cobertura foram realizadas mensalmente, no período compreendido
entre janeiro a maio/2000 e setembro/2000 a maio/2001, nas doses de 0, 640 e
1.280 kg de K2O ha-1 (cloreto de potássio) e de 428 kg de N ha-1 (sulfato de
amônio). Realizou-se ainda uma única cobertura com 43,6 kg de P2O5 ha-1
(superfosfato simples) em dezembro de 2000.
O plantio foi conduzido, utilizando-se o sistema de sustentação de espaldeira
vertical, sem podas de renovação. Foram realizadas pulverizações com fungicidas
sistêmico e preventivo, e com inseticida, no intervalo de 20 dias, a partir do
plantio até o início da colheita, para controle de pragas e doenças,
utilizando-se os seguintes produtos: óxido cuproso; mancozeb; tebuconazole;
benomyl; enxofre; deltamethrin e carbofuran (plantio), nas dosagens
recomendadas para a cultura. Não se realizou a polinização artificial.
As colheitas foram realizadas uma vez por semana, recolhendo somente aqueles
frutos que se encontravam no chão. Os frutos colhidos foram levados para um
armazém onde foram contados e classificados pelo tamanho em relação à medida de
seu diâmetro equatorial (DE), com o uso de um paquímetro, e depois pesados. As
variáveis analisadas foram: produtividade em kg ha-1, número de frutos por
planta e peso médio dos frutos, de primeira (DE<65mm), frutos 1A (65<DE<75mm),
frutos 2A (75<DE<85mm), frutos 3A (DE>85mm) e frutos totais (Meletti, 1999). A
primeira colheita foi realizada no dia 14/12/2000, sendo a última no dia 02/05/
2001, totalizando vinte colheitas. Para análise de produção em kg ha-1, número
de frutos e peso médio dos frutos totais utilizou-se os dados das 20 colheitas.
Para avaliação de produção em kg ha-1, do número de frutos e do peso médio dos
frutos de primeira, 1A, 2A, 3A, utilizou-se as onze últimas colheitas.
Considerou-se como frutos totais a soma das quatro classificações.
As análises de variância para cada parâmetro, bem como a comparação entre os
genótipos pelo teste de Tukey a 5% de significância, foram executadas com a
utilização do "software SANEST", de autoria de Zonta & Machado (1995).
Foram realizadas análises de regressão e correlação entre todas as variáveis
avaliadas, baseando-se na significância de seus coeficientes. A classificação
de intensidade da correlação para p £ 0,01 considerou muito forte (r ± 0,91 a ±
1,00), forte (r ± 0,71 a ± 0,90), média (r ± 0,51 a ± 0,70) e fraca (r ± 0,31 a
± 0,50), de acordo com Gonçalves & Gonçalves (1985), citados por Guerra
& Livera (1999).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve diferenças significativas entre os genótipos e na interação genótipo x
doses de potássio, para o número de frutos de primeira (Tabela_1).
Os genótipos EC-2-0 e Porto Rico apresentaram maior número de frutos de
primeira por planta, diferindo apenas do Itaquiraí, no tratamento sem potássio.
No tratamento com 640 kg de K2O ha-1 os genótipos Vermelhão e Redondão
diferiram entre si (Tabela_1). Para o número de frutos 1A, 2A , 3A e frutos
totais, com exceção do genótipo Itaquiraí, que apresentou o menor número de
frutos, os genótipos não apresentaram diferenças significativas entre si
(Tabela_2).
Os genótipos Marília Seleção Cerrado, Porto Rico, Vermelhão, híbrido EC-2-0, F1
(Roxo Fiji x Marília) e F1 (Marília x Roxo Australiano) foram os que
apresentaram maior produção de frutos de primeira. Para a produção de frutos
1A, 2A, 3A e frutos totais, os genótipos não apresentaram diferenças
estatísticas entre si, com exceção do Itaquiraí, que apresentou a menor
produção nos quatros parâmetros avaliados (Tabela_3).
Para a variável peso médio dos frutos, o F1 (Marília x Roxo Australiano) foi o
que apresentou o maior peso médio para frutos de primeira e frutos totais, não
diferindo, porém, dos genótipos MSC, híbrido EC-2-0, Porto Rico e Redondão para
peso médio de frutos totais e, além destes, do genótipo Vermelhão para peso
médio de frutos de primeira. Na avaliação do peso médio de frutos 1A, 2A e 3A,
os genótipos não apresentaram diferenças estatísticas entre si. (Tabela_4).
Considerando-se os cinco meses de colheita, os resultados obtidos estão acima
da média nacional e foram proporcionalmente iguais e superiores a vários
resultados citados na literatura. As diferenças ocorridas são devidas,
principalmente, aos diferentes materiais genéticos e às diferentes condições
climáticas e edáficas. Para o peso médio de frutos, muito embora, a adubação
potássica não tenha influenciado os resultados, os genótipos apresentaram
diferenças significantes entre si, variando até 15,42 g do maior [F1 (Marília x
Roxo Australiano - 103,42 g)] ao menor (Itaquiraí 88 g). Faria et al. (1987),
ao avaliarem a resposta do maracujazeiro amarelo à adubação com N, P e K,
obtiveram a produção média de 20,8 t ha-1, 9,2 t ha-1e 14,6 t ha-1e os pesos
médios de frutos de 100,1 g, 72,0 g e 100,6 g, para os segundo, terceiro e
quarto ano de produção, respectivamente. Borges et al. (1998), em cinco meses
de produção do maracujá amarelo, verificaram que as doses de N, P e K não
influenciaram a produtividade, que teve uma média de 7,4 t ha-1. Oliveira et
al. (1998) obtiveram com presença e ausência de adubação, em condições de
sequeiro, pesos médios de frutos variando de 72 a 88 g. Sanzonowicz et al.
(2000) não verificaram diferenças estatísticas significativas ao utilizarem
cinco doses diferentes de adubação potássica na produção total de frutos do
maracujazeiro amarelo. As equações de regressão para a produção de frutos de
primeira por hectare, produção total de frutos ha-1, peso médio de frutos de
primeira e peso médio de frutos 1A de frutos em função das doses de potássio
aplicadas possuem representação do tipo linear (Figuras_1, 2, 3 e 4). Conforme
as equações com aumento de 640 kg de K2O ha-1, esperava-se aumento médio de
632,25 kg frutos de primeira ha-1, 1.007 kg do total de frutos ha-1, 2,35 g de
peso médio/fruto de primeira e 4,20 g de peso médio/fruto 1A. As correlações
que mostraram-se positivamente fortes foram: Produção de frutos de primeira (kg
ha-1) com produção total de frutos (kg ha-1), número de frutos de primeira e
número de frutos totais; produção de frutos 1A com produção de frutos 2A,
produção de frutos 3A, produção total de frutos, número de frutos 1A e número
de frutos 2A; produção de frutos 2A com produção de frutos 3A, número de frutos
2A e número de frutos 3A; produção de frutos 3A com número de frutos 2A e
número de frutos 3A; produção total de frutos com número de frutos de primeira
e número total de frutos; número de frutos de primeira com número de frutos
totais; número de frutos 2A com número de frutos 3A e peso médio de frutos de
primeira com peso médio total dos frutos.
CONCLUSÕES
1) Os genótipos híbrido EC-2-0 e Marília Seleção Cerrado (MSC) foram os que
apresentaram as maiores produtividades, superando 20 t/ha.
2) A adubação potássica influenciou a produção total de frutos e de primeira
ha-1, a produção de frutos totais ha-1, o peso médio de frutos de primeira e o
peso médio de frutos 1A.