Análise do custo de produção e lucratividade do mamão formosa, cultivado no
município de Santa Fé do Sul (SP)
ECONOMIA E MARKETING
Análise do custo de produção e lucratividade do mamão formosa, cultivado no
município de Santa Fé do Sul (SP)1
Analysis of production cost and profitability of papaya formosa, in Santa Fé do
Sul, São Paulo State, Brazil
Mariley de Castro Almeida da SilvaI; Maria Aparecida Anselmo TarsitanoII; Luiz
de Souza CorrêaII
IMestranda da FE/UNESP, Campus de Ilha Solteira. Av. Brasil, 56, 15.385-000
Ilha Solteira
IIDocentes da FE/UNESP, Campus de Ilha Solteira. Av. Brasil, 56, 15.385-000
Ilha Solteira. E mail: maat@agr.feis.unep.br, lcorrea@agr.feis.unep.br
INTRODUÇÃO
A origem da cultura do mamoeiro Carica papayaL. não é definida com precisão,
sendo que a maioria dos pesquisadores considera que seu cultivo teve início na
América do Sul, América Central ou no Sul do México, tendo daí se propagado
por, praticamente, todas as regiões do mundo (Moura e Resende, 1986).
Segundo Nehmi et al. (2002), a produção mundial de mamão em 2001 foi de 5,4
milhões de toneladas, com uma área plantada de 341 ha. O Brasil destaca-se como
o maior produtor, com 1,4 milhão de tonelada em uma área de 40 mil ha, mas
exportou apenas 21 mil toneladas no ano de 2000, ocupando a terceira posição,
atrás do México e da Malásia.
O Nordeste é a maior região produtora, destacando-se o Estado da Bahia que, em
2000, obteve uma produção de 823,4 mil toneladas em 25,5 mil ha, seguido pelo
Estado do Espírito Santo, na região Sudeste, com uma área de 5,9 mil ha e uma
produção de 424,6 mil toneladas.
No Estado de São Paulo, que já foi o maior produtor de mamão, a produção vem
decaindo drasticamente a partir de 1980, em virtude da ocorrência do vírus do
mosaico do mamoeiro, adquirindo a cultura o caráter migratório, tendo se
deslocado principalmente para a Bahia, Espírito Santo e Pará (Martelleto et
al., 1997).
O volume total de mamão comercializado no Entreposto Terminal de São Paulo,
CEAGESP, em 2001, foi de 140.643 toneladas, das quais 52.379 toneladas
pertencem ao mamoeiro do grupo "Formosa" e 88.264 toneladas ao grupo "Solo" -
Havaí. Grande parte dessa produção vem de outros Estados, participando o Estado
de São Paulo com apenas 3% do total. O preço médio dos últimos cinco anos2,
pago ao produtor em Linhares (ES), descontados os custos de comercialização e
de pós-colheita, foi de R$ 0,24/kg para o mamão Havaí e R$ 0,19/kg para o mamão
do grupo Formosa (Nehmi et al., 2002).
Na região Noroeste do Estado de São Paulo, mais especificamente o Escritório de
Desenvolvimento Rural (EDR) de Jales, o mamoeiro que vem sendo plantado, é do
grupo Formosa, mais comumente a cultivar "Tainung nº 1", que apresenta as
seguintes características: peso médio de frutos de 900 gramas, polpa vermelho-
alaranjada e de ótimo sabor, com produção média em torno de 60 toneladas/ha/ano
(Luna, 1986).
Essa região vem destacando-se na produção de frutas, com uva, banana, citros,
manga e coco, entre outras. Essas frutíferas surgiram como opções de
diversificação, viabilizando a produção em pequenas propriedades rurais, em
virtude de seu caráter produtivo e maior valor por área, aproveitando a mão-de-
obra familiar e gerando novos empregos. Nesse sentido, a cultura do mamoeiro
surge como mais uma opção viável na região. Iniciando a colheita dos nove aos
doze meses do plantio no campo, permite produção contínua por, pelo menos, mais
um ano. Esse período produtivo é limitado principalmente devido à ocorrência do
vírus do mosaico do mamoeiro, tornando a condução da cultura, após esse
período, economicamente inviável.
O presente trabalho tem como objetivo geral determinar os indicadores técnicos
e econômicos para a cultura do mamoeiro do grupo Formosa "cultivar Tainung 01",
no município de Santa Fé do Sul-SP, oferecendo assim subsídios aos produtores
rurais, instituições financeiras e de fomento, quanto à tomada de decisão na
continuidade ou iniciação na atividade.
MATERIAL E MÉTODOS
Fonte de dados e caracterização do local
O levantamento de dados necessários à realização da pesquisa, nos aspectos
ligados às matrizes de coeficientes técnicos e custos, foi obtido junto a três
produtores rurais, indicados por técnicos da Casa da Agricultura do município
de Santa Fé do Sul-SP, dentre aqueles que já trabalhavam com a cultura do mamão
há algum tempo e apresentavam um mínimo de organização, para que as informações
pudessem ser levantadas.
O município de Santa Fé do Sul, pertencente ao EDR ' Jales-SP, encontra-se
localizado na região Noroeste do Estado de São Paulo, apresentando as seguintes
coordenadas geográficas: 20º12' latitude Sul e 50º55' longitude Oeste. Sua
altitude média é de 365 metros, com uma precipitação média anual, nos últimos
dez anos, de 1.100 a 1.200 mm, podendo apresentar períodos de seca de até
quatro meses, e uma temperatura média anual de 27,5 °C, sendo o clima tropical
úmido. O solo é caracterizado como podzolizado Lins-Marília, variedade Marília,
textura areno-argilosa.
Assim como Miqueletto et al. (2000), estes dados caracterizam propriedades que
utilizam técnicas de produção difundidas na região. Em função de aplicar-se em
especificamente três propriedades, os resultados devem ser considerados com a
devida atenção, pois, em qualquer atividade econômica, pode-se ter
produtividades variando de acordo com o sistema de cultivo e com o
gerenciamento adotado.
Os dados foram obtidos durante o ciclo de produção, mediante entrevistas e
acompanhamento realizado diretamente junto aos produtores rurais, utilizando-se
de planilhas, com a finalidade de levantar e apreender as questões mais ligadas
à tecnologia de produção e identificar locais e formas de comercialização.
Para o cálculo do custo de produção, a estrutura foi baseada no custo
operacional efetivo (COE) e custo operacional total (COT) (Matsunaga et al.,
1976) e no custo total de produção (CTP). O COE, que é formado pelo conjunto
das despesas efetivamente desembolsadas pelo produtor, compõe-se dos seguintes
itens: despesas com operações mecanizadas, operações manuais, material
consumido e outras despesas. Acrescentando-se ao COE depreciações e juros de
custeio, tem-se o COT. Somando-se ao COT a remuneração ao capital fixo e a
remuneração da terra, obtém-se o CTP. Para a remuneração da terra, foi
considerado o valor de arrendamento da terra na região e 6% a.a. sobre a metade
do COE como juros de custeio. Para o cálculo da depreciação dos bens fixos, foi
utilizado o método linear.
Foram estimados os seguintes indicadores: a) receita bruta com a produção total
obtida no período pelo preço médio recebido pelo produtor; b) lucro operacional
obtido pela diferença entre a receita bruta e o custo operacional total; c)
receita líquida obtida pela diferença entre a receita bruta e o custo total de
produção; d) índice de lucratividade 1 obtido pela divisão entre o lucro
operacional e receita bruta; e) índice de lucratividade 2 pela receita líquida
dividida pela receita bruta, e f) preço de equilíbrio/(kg e caixa 21,0 kg)
obtido pela divisão do custo total e a produção.
Os preços médios foram coletados na região, em novembro de 2002, sendo
apresentados em reais (R$), e também convertidos para dólar (US$), utilizando-
se de uma taxa de câmbio do dólar comercial a R$ 3, 52 em novembro de 20023.
Caracterização do Sistema de Produção
Obtenção das mudas
As mudas foram produzidas em parceria com o viveiro de mudas da Prefeitura
Municipal de Santa Fé do Sul, através de um sistema no qual o produtor utiliza
a estrutura do viveiro, constando de um ambiente protegido, com suportes em
alumínio para as bandejas e cada uma com 130 tubetes, além do sistema de
irrigação por microaspersão. Os tubetes são de polipropileno, com altura de 145
mm, diâmetro interno/externo de 37 x 45 mm e volume com capacidade de 115 cm³.
Em contrapartida, o produtor adquire as sementes, o substrato e o adubo para
mistura no substrato, e efetua os trabalhos de preparo do substrato e
enchimento dos tubetes, bem como a semeadura com seus próprios funcionários.
São semeadas em média quatro sementes por tubetes, e dos 30 aos 40 dias da
emergência, com aproximadamente 20 cm de altura, vão para campo para serem
plantadas com duas a três mudas por tubete, sendo a partir desse ponto comum o
estiolamento das mudas.
Preparo de solo:foi o convencional, efetuando-se uma aração e duas gradagens,
com aplicação e incorporação do calcário, além da construção dos terraços para
conservação de solo.
Implantação:foi realizada uma sulcagem, marcando-se as linhas a cada 3,5
metros, e a cada 2,0 metros dentro da linha, o local das covas, misturando-se o
adubo de plantio nesses locais, com uso de superfostato simples, na dosagem de
300 g/cova. Posteriormente, efetuou-se o plantio manual, utilizando-se de um
tubete por cova, com duas a três mudas por tubete. Foram replantadas 2% das
mudas.
Tratos culturais: foi utilizado roçadeira nas entrelinhas e capinas manuais nas
linhas, até os seis meses de cultivo, e, posteriormente, aplicado herbicida. No
primeiro ano, foi feita uma adubação de cobertura entre 60 e 90 dias do plantio
em campo, na dose de 100 g/ planta, com o formulado 20-00-20. No 2º ano, aos
treze meses do plantio, efetuou-se uma adubação com o Cloreto de Potássio,
utilizando 80 g/planta, repetindo essa adubação aos 15-16 meses do plantio.
As pulverizações eram efetuadas preventivamente, após 60 dias do plantio em
campo, visando principalmente ao controle do ácaro-branco (Polyphagotarsonemus
latus), ácaro-rajado (Tetranychus urticae), e a doença pinta-preta ou varíola
(Asperisporium caricae), utilizando-se de pulverizador costal de 20 litros, no
primeiro ano. No segundo ano, com o maior porte das plantas, era utilizado
equipamento tratorizado com tanque de 600 litros e mangueiras adaptadas para
pulverização. Os defensivos agrícolas mais comumente utilizados são: fungicidas
(mancozeb, chlorothalonil, oxicloreto de cobre), acaricidas (abamectin, dicofol
mais tetradifon) e herbicidas (glifosate e diuron).
Foi efetuada uma desbrota aos seis meses do plantio, e a sexagem foi realizada
de quatro a seis meses do plantio, conforme se apresentava o florescimento das
plantas, deixando-se, sempre que possível, o mamoeiro hermafrodita do tipo
elongata, cortando os demais rentes ao solo.
Colheita:iniciou-se aos 11 meses do plantio, em agosto/2001, com uma pequena
produção, sendo a maior parte obtida durante os meses de novembro de 2001 a
maio de 2002, perdurando até setembro/2002. A colheita foi efetuada
manualmente, por meio de torção, sendo os frutos transportados internamente por
carretas até um galpão. A produção é vendida a granel, e o intermediário é
responsável pelas caixas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O custo total de produção (CTP), estimado para a cultura de mamão Formosa, pode
ser verificado na Tabela_01. No 1º ano, o COE foi de R$2.519,33, as despesas
com insumos atingiram quase 60% seguidas pela despesa com operações manuais. O
CTP foi de R$3.104,78/ha, e novamente as maiores despesas foram com os insumos,
representando quase 50% deste valor, seguidas pelas despesas de mão-de-obra,
com cerca de 32%. No segundo ano, o CTP atinge R$5.444,03 e as maiores despesas
são com mão-de-obra (R$1.650,00), representando 30% do total. Neste item, só as
despesas manuais com a colheita representaram mais de 98% do total gasto com
mão-de-obra. A colheita do mamão é realizada manualmente e distribuída ao longo
do ano todo, mostrando a viabilidade da cultura no aproveitamento da mão-de-
obra rural e na geração de novos empregos. Das despesas com insumos
(R$1.485,80), destaca-se o custo com defensivos, representando quase 90% dos
gastos.
O custo total de produção, considerando os 2 anos, foi de R$ 8.548,80/ha (US$
2.428,64), ou R$2,99/caixa de 21kg ou, ainda, R$0,14/kg, valor semelhante ao
obtido em Pinheiros-ES, na produção de mamão Formosa irrigado, de R$0,135/kg4
(Nehmi et al., 2002).
A produção iniciou-se aos 11 meses do plantio em campo, colhidas por dois meses
no primeiro ano e durante o segundo ano todo, tendo sido obtidos no total
59.976 kg/ha de mamão, produtividade média obtida em outros trabalhos, como no
de Luna (1986).
Na Tabela_02, são apresentadas estimativas de preços, lucratividade, receita
bruta, receita líquida, preço de equilíbrio por kg e por caixa de 21,0 kg. Foi
considerado o preço médio recebido pelo produtor em novembro de 2002, de R$
0,20/kg, obtendo-se assim uma receita bruta de R$ 11.995,20/ha, e uma receita
líquida de R$ 3.446,40/ha. Os índices de lucratividade são considerados bons,
sendo de 35% em relação ao COT e de 28,7% em relação ao CTP.
A cultivar tem potencial para maior produtividade e melhor preço, com a adoção
de algumas técnicas de produção simples, que não vêm sendo utilizadas, como:
correção e adubação do solo de acordo >com análises de fertilidade;
espaçamentos mais adensados; utilização de sistema de irrigação; desbaste de
frutos; cuidados no manuseio pós-colheita e melhoria nas embalagens para
transporte e comercialização do produto, visando à melhoria na qualidade do
fruto, proporcionando assim maior competitividade no mercado.
CONCLUSÕES
Pode-se considerar a cultura do mamoeiro como mais uma alternativa viável de
cultivo para a região de Jales (SP), tendo apresentado resultados econômicos
satisfatórios, além de precocidade na produção. Também se observa que a maior
produção ocorre em função do período chuvoso, visto os produtores não adotarem
um sistema de irrigação, ficando dependentes do regime pluviométrico da região.
O período de colheita, comumente definido por apenas um ano, deve-se
principalmente à ocorrência de viroses, tornando a cultura inviável
economicamente após esse período.
Ressalta-se que, como os dados se referem a três produtores de mamão que
utilizam técnicas de produção difundidas na região, os resultados devem ser
vistos com atenção, pois a produtividade pode variar, dependendo do sistema de
cultivo.
Considera-se também que a cultura se apresenta eficiente na geração de
empregos, aproveitando a mão-de-obra rural, principalmente a familiar das
pequenas propriedades.