Polinização natural, manual e autopolinização no pegamento de frutos de
pinheira (Annona squamosa L.) em Alagoas
FITOTECNIA
Polinização natural, manual e autopolinização no pegamento de frutos de
pinheira (Annona squamosa L.) em Alagoas1
INTRODUÇÃO
A pinheira (Annona squamosa L.) é cultivada no Estado do Alagoas há mais de um
século. A sua produção localiza-se principalmente nos municípios de Palmeira
dos Índios e Igaci, sendo a principal cultura de valor econômico para centenas
de pequenos agricultores. Recentemente, a cultura se expandiu para outras áreas
do Estado, sobretudo para a Zona da Mata, onde há maior disponibilidade de água
para a irrigação dos pomares (Albuquerque, 1997).
Um dos principais entraves para melhorar a produtividade da cultura é o baixo
índice de pegamento de flores e sua conseqüente transformação em frutos. Embora
a pinheira produza uma grande quantidade de flores a cada safra, estima-se que
somente cerca de 3 a 5 % de frutos efetivamente se formem. Além disso, os
frutos são, na sua maioria, desclassificados pequenos e/ou malformados,
possivelmente em decorrência do baixo número de carpelos polinizados
(Fioravanço & Paiva, 1994; Lemos et al., 1999).
Pereira et al. (2003), estudando a produção de pinheiras polinizadas
artificialmente com pólen puro, em diversas horas do dia, encontraram
diferenças significativas para o peso dos frutos, mas não no índice de
pegamento dos mesmos. A época da polinização influiu significativamente na
percentagem de frutos vingados de cherimóia, mostrando que a temperatura e a
umidade relativa do ar, aliadas à polinização artificial, são fatores
importantes no aumento da produtividade (Melo et al., 2002). Além disso, os
autores observaram que, na polinização artificial, a percentagem de frutos
perfeitos foi de quase quatro vezes superior à de frutos formados na
polinização natural.
As flores da pinheira são originadas sempre em ramos novos, sendo pendentes,
solitárias ou em grupo de duas a quatro. Embora sejam morfologicamente
perfeitas, as flores da pinheira apresentam dicogamia protogínica, fenômeno no
qual a maturação dos carpelos acontece antes da maturação dos estames,
inviabilizando a autofecundação (Modesto & Siqueira, 1981).
A maturação dos órgãos feminino e masculino, em momentos distintos, a
morfologia floral com pétalas longas e base muito estreita, a lenta abertura
das pétalas e a baixa freqüência de insetos polinizadores são fatores que
dificultam a polinização das anonáceas (Torres et al.,1999; Calabrese et
al.,1984).
Este trabalho objetivou determinar a influência da polinização natural, manual
e autopolinização no pegamento das flores e a conseqüente formação de frutos em
pinheiras cultivadas no Agreste do Estado de Alagoas.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido entre os meses de maio e julho de 2001, em pomar
comercial da Fazenda São José, em Palmeira dos Índios, Alagoas (09°24'26'' Sul,
36°37'39'' Oeste), altitude de 342 m, temperatura mínima de 18.8ºC, máxima de
27.7°C e média de 23.7°C, umidade relativa de 81% e precipitação de 175 mm.
Foram utilizadas pinheiras de 4 anos de idade, oriundas de pés-francos da
variedade local "Crioula". Escolheram-se 40 árvores em floração, divididas em 4
blocos (repetições), com 10 tratamentos e 1 árvore por parcela. As flores foram
selecionadas na porção média das árvores em toda a sua circunferência. Foram
escolhidas flores bem conformadas com cerca de 25 mm de comprimento que já
haviam concluído o ciclo de crescimento, mas que não tinham iniciado a
abertura. No total, 60 flores foram etiquetadas para cada tratamento sendo 15
flores por árvore.
Foram utilizados os seguintes tratamentos: 1) Flores em polinização natural; 2)
Flores cobertas com saco de papel para induzir a autopolinização; 3) Flores
polinizadas com pincel usando 100% de pólen; 4) Flores polinizadas com pincel
usando 75 % de pólen e 25 % de amido de milho; 5) Flores polinizadas com pincel
usando 50 % de pólen e 50 % de amido de milho; 6) Flores polinizadas com pincel
usando 25 % de pólen e 75 % de amido de milho; 7) Flores polinizadas com bomba
usando 100% de pólen puro; 8) Flores polinizadas com bomba usando 75 % de pólen
e 25 % de amido de milho; 9) Flores polinizadas com bomba usando 50 % de pólen
e 50 % de amido de milho; 10) Flores polinizadas com bomba usando 25 % de pólen
e 75 % de amido de milho.
As flores selecionadas foram protegidas um dia antes da abertura com um saco de
tecido para evitar a polinização natural, salvo no tratamento 1, onde o
interesse era a polinização natural. Para os demais tratamentos, no momento da
polinização, os sacos foram retirados, salvo no tratamento 2, onde o objetivo
era a autopolinização. A polinização foi feita com pincel de pêlo de camelo (nº
02) e bomba polinizadora entre 15 e 18 horas do dia da abertura das flores no
estágio feminino.
Para a obtenção do pólen a ser usado no estudo, colheram-se flores no final do
estádio feminino - entre 17 e 17h30 -, no dia anterior à polinização, as quais
foram armazenadas por cerca de 24 horas em sacos de papel e deixadas à
temperatura ambiente (média de 26ºC) até a liberação dos grãos de pólen (fase
masculina). Após ser observada a liberação do pólen das anteras, levaram-se as
flores a uma peneira para separar os grãos de pólen dos restos florais.
A aplicação do pólen puro ou em mistura foi feita sobre os carpelos das flores
abertas quando se apresentavam com aspecto úmido e brilhante, indicando a sua
receptividade. Nos tratamentos com pincel ou com bomba, foram feitas duas
aplicações dirigidas aos carpelos da flor. Em seguida, as pétalas foram unidas
com fita adesiva para se evitar a chegada de pólen de qualquer outra fonte.
Após 15 dias da aplicação dos tratamentos, avaliaram-se o número de flores
pegas e o início da formação dos frutos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De maneira geral, os resultados obtidos 45 dias após a polinização das flores
mostraram que o número de frutos formados aumentou em até dez vezes nos
tratamentos onde se aplicou a polinização manual com pincel ou bomba em
comparação com a polinização livre ou autopolinização forçada (Tabela_1). Melo
et al. (2002), estudando a polinização manual da cherimóia, registraram
aumentos de 312 % no número de frutos vingados e de 389% no número de frutos
perfeitos. Os autores comprovaram ainda que a autopolinização não promoveu a
formação de frutos, confirmando os resultados deste trabalho. Já Arriaga et al.
(1997) observaram um incremento de 75% no pegamento de flores e de 105% no
tamanho de frutos quando utilizaram a polinização artificial da cherimóia.
A polinização manual feita com pincel não proporcionou variações significativas
na taxa de formação de frutos entre as concentrações mais altas de pólen
utilizadas, exceto para a concentração de 25%, que foi significativamente menor
(82%). Por outro lado, a eficiência da polinização artificial com bomba medida
pela percentagem de frutos fixados caiu significativamente nos níveis de 50% e
25% (Tabela_1). Taxas de formação de frutos em pinheira, superiores a 80%,
foram também obtidas por Pereira et al. (2003), quando utilizaram pólen puro
aplicado com pincel.
Os resultados obtidos neste trabalho com a polinização natural livre foram
relativamente baixos (10%), confirmando os resultados em anonáceas obtidos por
Gazit et al. (1982), Fioravanço & Paiva (1994) e Melo et al. (2002). Nas
condições da Índia, Kumar et al. (1977) observaram que a fixação de frutos em
pinheiras, com polinização natural por insetos, oscilou entre 8,6 % e 9,6 %.
Valores variáveis de 50% a 90% de aumento no pegamento dos frutos foram
relatados para a pinheira e gravioleira quando se utilizou a polinização manual
em comparação com a polinização livre (São José et al., 1999).
No trabalho aqui apresentado, todas as flores protegidas e forçadas à
autopolinização não formaram frutos, confirmando a auto-incompatibilidade de
flores isoladas por não haver coincidência nos estágios de maturação do pólen e
receptividade dos estigmas (dicogamia protogínica). Estudos com Annona
cherimola mostraram também que a autopolinização das flores não conduziu à
formação de frutos (Melo et al., 2002).
A mistura do pólen com o amido de milho não interferiu na formação dos frutos
até a percentagem de 50% quando se aplicou o pólen com pincel ou 75% quando se
aplicou o pólen com a bomba, mostrando que é possível fazer-se uma economia de
pólen de 25 a 50% sem perder a eficiência no pegamento das flores de pinheira.
Todavia, a percentagem de frutos perfeitos foi reduzida significativamente a
partir da inclusão de 75% de amido de milho na mistura com pincel ou bomba
(Tabela_1).
Geralmente, considera-se adequada uma proporção de 1 flor colhida para cada 3
flores a serem polinizadas. Neste trabalho, a mistura dos grãos de pólen ao
amido de milho mostrou que a mesma mantém a viabilidade dos grãos e facilita o
seu manuseio por lhe aumentar o volume e a sua visibilidade nos carpelos após a
sua aplicação.
As diferenças observadas entre os dois métodos de polinização manual (pincel e
bomba), principalmente nas concentrações mais baixas de pólen, indicam que o
método de polinização artificial com pincel foi mais eficiente e permite uma
economia de 50% de pólen. Tal economia se traduz pela necessidade de menor
número de flores a serem coletadas na véspera da polinização para o mesmo
número de flores polinizadas. Na prática, necessita-se do pólen de 1 flor para
cada 4,5 flores a serem polinizadas com pincel ou o pólen de 1 flor para cada
3,75 flores a serem polinizadas com bomba, ou seja, uma economia de 25% de
flores. A aplicação mais localizada do pólen com o pincel parece explicar os
melhores resultados deste em relação à bomba.
Todos os frutos formados foram acompanhados nos primeiros estádios de
crescimento, e a percentagem de frutos perfeitos foi superior a 80%, observada
aos 45 dias após a polinização, nos tratamentos com até 50% de amido de milho,
diminuindo significativamente nos tratamentos com 75% de amido de milho ou
polinização natural (Tabela_1).
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que o uso da polinização
artificial, com pincel ou com bomba polinizadora, aumenta em até 10 vezes o
número de frutos formados e em até 4 vezes o número de frutos perfeitos quando
comparada à polinização natural livre feita por insetos. A adição do amido de
milho seco como veículo para o pólen não reduz a percentagem no número frutos
formados em até 50% da mistura, mas reduz o número de frutos perfeitos a partir
de 75% sem reduzir a eficiência na polinização com pincel e em até 75% com
bomba.