Avaliação de cultivares de mangueira selecionadas pelo Instituto Agronômico de
Campinas comparadas a outras de importância comercial
GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS
Avaliação de cultivares de mangueira selecionadas pelo Instituto Agronômico de
Campinas comparadas a outras de importância comercial1
Evaluation of mango cultivars selected by "Instituto Agronômico de Campinas"
compaired to others of commercial importance
Cássia Regina Limonta CarvalhoI; Carlos Jorge RossettoII,V; Dilza Maria Bassi
MantovaniIII; Marcelo Antônio MorganoIV; Josalba Vidigal de CastroI; Nelson
BortolettoII
IPesquisadoras Científicas, Instituto Agronômico de Campinas - IAC/APTA/SAA -
Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas-SP. Fone: (19) 3241-5188,
climonta@iac.sp.gov.br; josalba@iac.sp.gov.br
IIPesquisadores Científicos, Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos
Agronegócios do Noroeste Paulista - APTA/SAA - Caixa Postal 61, 15500-000,
Votuporanga-SP. Fone: (17) 3421-8148, rossetto@iac.sp.gov.br;
polonoroestepaulista@apta.sp.gov.br
IIIPesquisadora Científica, Instituto de Tecnologia de Alimentos - ITAL/APTA/
SAA, Caixa Postal 139, 13012-970, Campinas-SP. Fone: (19) 3743-1776,
dilza@ital.org.br
IVQuímico, Instituto de Tecnologia de Alimentos - ITAL/APTA/SAA, SP. Fone: (19)
3743-1778, morgano@ital.org.br
VBolsista do CNPq
INTRODUÇÃO
A manga (Mangifera indica L.), uma das mais populares frutas tropicais,
originária do sudeste asiático, foi introduzida no Brasil no século XVI, dando
origem, através de sementes, a diversas variedades cultivadas, as quais
representavam até a década de 60 a mangicultura brasileira (Subramanyam et al.,
1975; Botrel, 1994; Donadio, 1996).
A exportação da fruta teve crescimento significativo, passando de 625 toneladas
em 1981 a 94.291 toneladas em 2001, sendo a América do Norte e a Comunidade
Européia os principais importadores (Souza et al., 2002).
Esse acréscimo da exportação deu-se com a introdução, nos Estados de São Paulo
e de Minas Gerais, em meados da década de 70, de novas cultivares vindas da
Flórida (EUA), as quais ganharam notoriedade, importância social e econômica e,
conseqüentemente, boa aceitação pelos fruticultores. Paralelamente à atividade
de exportação da fruta, ocorreu em nosso País uma forte migração da população
do campo para as cidades, promovendo aumento de demanda de produtos até então
consumidos na zona rural. Todos estes fatores contribuíram para o
fortalecimento da mangicultura brasileira com expansão da área cultivada.
Grande parte da produção da manga ainda é consumida na forma in natura, sendo o
Nordeste e Sudeste as principais regiões produtoras, com 84% da produção
nacional concentrada nos Estados de São Paulo (23%), Bahia (22%), Pernambuco
(11%), Minas Gerais (10%), Ceará (7%), Paraíba (7%) e Piauí (4%) (Souza et al.,
2002).
Hoje em dia, devido às diferentes cultivares, à diversidade das regiões
produtoras, aos plantios tecnificados e à aplicação da indução floral,
encontramos com certa facilidade mangas em feiras livres, supermercados e
varejões durante todo o ano, atingindo as frutas no período de março a
setembro, melhor preço para o fruticultor. A safra no Estado de São Paulo
ocorre de novembro a março com pico entre dezembro e primeira quinzena de
janeiro. Em Minas Gerais, a produção de manga dá-se no mesmo período de São
Paulo, enquanto nos Estados do Nordeste pode estender-se, devido às boas
condições edafoclimáticas da região, de agosto a novembro (Couto et al., 1996;
São José, 1996).
Das cultivares de importância comercial, a Tommy Atkins é a mais cultivada e
exportada no País por ter boa produtividade, boa capacidade de adaptação a
diferentes ambientes de cultivo, maior tolerância a certas doenças, como o
oídio, a antracnose e a verrugose, além de apresentar frutos com qualidade
razoável e boa conservação pós-colheita. Em seguida, vêm as cultivares Haden,
Keitt, Palmer e Van Dyke. A 'Tommy Atkins', 'Haden' e 'Keitt' constituem cerca
de 92% da área plantada no Vale do Rio São Francisco (Brasil, 1999).
Vale salientar que os mercados consumidores (interno e externo) de mangas ainda
estão em expansão, visto que, em termos nutricionais, há a tendência mundial de
consumir frutas tropicais frescas em detrimento das industrializadas.
Buscando auxiliar e fortalecer a mangicultura brasileira, o Instituto
Agronômico de Campinas (IAC), tradicionalmente, vem estudando tanto o
comportamento agronômico como as características físicas e químicas de novas
cultivares, quanto à produtividade, resistência a doenças e pragas, descrição
física e qualitativa da manga.
Dessa forma, um experimento com mangueiras instalado no Pólo Regional de
Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Noroeste Paulista, da Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Votuporanga-SP, foi avaliado sob as
perspectivas agronômica e nutricional, com o objetivo de avaliar novas
cultivares selecionadas pelo IAC, comparando-as com algumas cultivares
tradicionalmente comercializadas nos mercados interno e externo.
MATERIAL E MÉTODOS
Um experimento envolvendo cultivares de manga recentemente selecionadas pelo
Instituto Agronômico de Campinas (IAC 103 Espada Vermelha e IAC 109 Votupa), de
um clone comercial (IAC Haden 2H) e de outras três cultivares tradicionais
(Palmer, Tommy Atkins e Van Dyke), foi instalado usando delineamento de blocos
completos ao acaso, com seis tratamentos (cultivares) e cinco repetições, sendo
as parcelas compostas de três plantas úteis. As plantas foram estabelecidas no
espaçamento de 9 m entre linhas e 8 m entre plantas nas linhas, perfazendo 139
árvores por hectare. O plantio das mudas no campo experimental foi feito em 1º-
08-1995, usando como porta-enxerto a cultivar Manila, denominada anteriormente
pelo IAC como Carabao. Os tratos culturais realizados seguiram as técnicas
normalmente recomendadas para a cultura na região.
As cultivares empregadas no estudo apresentam as seguintes origens: IAC 103
Espada Vermelha (EV), selecionada em Mococa-SP e lançada em 08-01-1998, sendo
segregante e descendente da cultivar Manila com pai desconhecido; IAC 109
Votupa (V), descendente de mãe Tommy Atkins e pai desconhecido; IAC Haden 2H
(H), clone selecionado dentro da cultivar americana Haden 2H e as cultivares
Palmer (P), Tommy Atkins (TA) e Van Dyke (VD) originadas da Flórida, USA,
introduzidas e cultivadas no Brasil.
As doenças antracnose, oídio e malformação da inflorescência foram avaliadas no
campo experimental de Votuporanga, atribuindo-se a escala de nota visual: 0 -
totalmente resistente; 1 - moderadamente resistente; 2 - moderadamente
suscetível; 3 - suscetível, e 4 - totalmente suscetível. O comportamento
varietal em relação à seca-da-mangueira, expresso nessa escala de 0 a 4, é uma
adaptação de resultados anteriormente publicados (Rossetto et al., 1996), visto
que, na área experimental de Votuporanga, não ocorreu essa doença.
Na safra de 1999-2000, frutos maduros foram colhidos de acordo com a época de
maturação de cada variedade e avaliados quanto às medidas físicas e à
composição química. Para estabelecer as medidas físicas, foram utilizados 20
frutos de cada cultivar, determinando-se o comprimento, largura, espessura,
pesos total, do caroço, da casca e da polpa, e as porcentagens de casca, caroço
e polpa para cada uma das cultivares. Para compor a amostragem química da
cultivar, usaram-se 10 frutos por cultivar. As polpas dos frutos foram
homogeneizadas por meio de um triturador doméstico para determinação de pH,
sólidos totais, sólidos solúveis totais expressos em ºBrix, acidez total
(titulável) expressa em porcentagem de ácido cítrico, a relação sólidos
solúveis totais/acidez (SST/acidez), lipídeos, proteína bruta, resíduo mineral
fixo (cinzas), pectina, ácido ascórbico, carotenóides totais, fibra alimentar
total (FAT), carboidratos totais, calorias e dos minerais cálcio, cobre, ferro,
fósforo, magnésio, manganês, potássio e zinco. As medidas químicas foram
realizadas com três repetições analíticas para cada amostra, empregando-se
métodos analíticos descritos por Carvalho et al. (1990), Cunnif (1998) e por
IMO Industries Inc. (1990).
Para o cálculo do intervalo de confiança das médias de todas as determinações
físicas e químicas realizadas, foi utilizada a fórmula (s.t/r1/2), em que s é
desvio-padrão da média, t é o valor tabelado ao nível de 5% e r é o número de
repetições analíticas.
Com a finalidade de melhor interpretar os resultados das medidas físicas e
químicas, empregou-se a técnica de Análise de Componentes Principais (ACP)
descritas por Sharaf et al. (1986), Beebe et al. (1998) e por Morgano et al.
(1999), fazendo uso do software Pirouette 3.02 (Infometrix, Seatlle, WA, 2001).
Para que as variáveis (constituintes determinados) passassem a ter a mesma
magnitude de valores, os dados gerados foram auto-escalados antes de se aplicar
o método de ACP. O auto-escalamento consistiu na determinação da média geral
para cada variável, a qual foi subtraída de cada valor unitário referente a
cada amostra, e os valores encontrados foram divididos pelo desvio-padrão da
média.
A ACP baseia-se na combinação linear das variáveis avaliadas, agrupando aquelas
altamente correlacionadas em uma nova variável denominada componente principal
(CP). Assim, a matriz (X) constituída pelas medidas físicas ou pelas medidas
químicas foi decomposta (X = T LT) em duas novas matrizes: a de escores (T) e a
de pesos (LT), representadas pelos gráficos de escores e de pesos. Deste modo,
o gráfico de escores consiste na distribuição gráfica das amostras avaliadas,
em espaço bidimensional, após aplicação da ACP, e o gráfico de pesos descreve a
influência das variáveis (no caso, das medidas físicas ou químicas) na
distribuição gráfica das amostras, ou seja, do gráfico de escores.
A produção das cultivares foi avaliada em duas safras consecutivas, aos seis
anos de idade (safra 2001-2002) e sete anos de idade (safra 2002-2003). Os
frutos presentes nas árvores foram contados, e o peso médio dos frutos de cada
cultivar foi obtido pela pesagem de 10 frutos. O número de frutos multiplicado
pelo peso médio deu o peso de frutos produzido por árvore, e este foi
transformado em peso por hectare. As médias das parcelas de três plantas,
expressas em peso por hectare, serviram para a comparação da produtividade das
cultivares, empregando-se o teste de Tukey, a 5% de probabilidade, para
discriminar as médias.
O grau de ataque da mosca-das-frutas foi avaliado em duas safras consecutivas,
2001-2002 e 2002-2003, em condições de infestação natural de campo em
Votuporanga. Foram avaliados 30 frutos de cada cultivar, na fase de maturação,
cortando-se longitudinalmente o fruto, em ambos os lados do caroço e estimando-
se visualmente, em cada lado, a porcentagem da polpa do fruto infestada pela
mosca-das-frutas. Foi obtida uma média para cada fruto, somando-se a
porcentagem infestada de cada lado e dividindo-se por dois. Somando-se as
médias de cada fruto e dividindo-se por 30, foi calculada uma média geral de
intensidade de polpa infestada dos 30 frutos. Esta foi denominada porcentagem
média da intensidade de infestação da polpa. Outrossim, frutos com qualquer
grau de infestação foram considerados infestados, e aqueles sem nenhum sinal de
infestação, em ambos os lados cortados, foram considerados não infestados.
Obteve-se, assim, uma porcentagem de frutos infestados e não infestados pela
mosca. A classificação da cultivar como resistente ou suscetível à mosca é
relativa à infestação das demais cultivares. No presente trabalho, foi adotada
a seguinte escala com base na porcentagem dos frutos infestados: até 3,9% -
muito resistente; 4 a 10,9% - resistente; 11 a 24,9% - resistência moderada; 25
a 70,9% - suscetível, e 71 a 100% - muito suscetível.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Baseando-se na escala de época de produção/maturação dos frutos, estabelecida
pelos autores Donadio et al. (1982) e atualizada por Donadio (1996), pode-se
classificar como precoces, nas condições climáticas de Votuporanga (região
quente)-SP, as cultivares Espada Vermelha (EV), Haden 2H (H) e Van Dyke (VD),
colhidas em novembro; como de meia-estação, a cultivar Tommy Atkins (TA),
colhida em dezembro, e como tardias, a Votupa (V) e Palmer (P), colhidas de
dezembro a janeiro.
As produtividades, em kg/ha, das seis cultivares com seis e sete anos de idade
das plantas, são demonstradas na Tabela_1. Dentre as cultivares plantadas, a
'Espada Vermelha' foi a menos produtiva devido ao menor porte de suas árvores e
ao pequeno tamanho dos frutos. Ela deve ser plantada em espaçamento mais
adensado. Outrossim, esta cultivar oferece perspectiva favorável para ser
cultivada no Estado de São Paulo, por ser mais precoce que a 'Tommy Atkins' e
ser responsiva à indução floral com PBZ (paclobutrazol), com produção na
entressafra, em setembro (Rossetto et al., 2002). A 'Votupa' obteve produção
intermediária comparável à 'Van Dyke' e 'Tommy Atkins'. Nota-se, na Tabela_1,
que, em geral, as cultivares produziram mais na safra 2002-2003 do que em 2001-
2002, provavelmente devido à diferença de idade das plantas. A 'Haden' foi a
cultivar mais produtiva em 2001-2002, mas sua produtividade, ao contrário das
demais cultivares, caiu em 2002-2003, provavelmente devido à forte onda de
calor que ocorreu em 2002-2003, provocando intensa queda de seus frutos. Pinto
et al. (2002) relataram que a 'Haden' apresenta elevada alternância de
produção, o que ocorreu em Votuporanga, e também tem alto índice de aborto dos
frutos nas condições do semi-árido. Esta cultivar, aparentemente, é mais
sensível ao calor do que as demais. A cultivar Palmer, na média dos dois anos,
foi a mais produtiva, demonstrando ser uma cultivar que se adaptou muito bem às
condições de fertilidade e clima do Estado de São Paulo.
Algumas doenças não só reduzem a quantidade dos frutos produzidos, como
comprometem a qualidade dos frutos. A Tabela_2 mostra o comportamento das
cultivares em relação às principais moléstias que atacam a cultura. Nota-se que
a cultivar Haden foi a mais suscetível às doenças. De fato, isso contribuiu
para reduzir a área cultivada com a 'Haden' no Estado de São Paulo. Muitos
pomares da 'Haden' foram dizimados pela seca-da-mangueira (Piza Jr. e Ribeiro,
1996), e pomares dessa cultivar avaliados em seis municípios do Estado de São
Paulo apresentaram 57,2% de inflorescências malformadas (Rossetto et al.,
1989). A 'Haden' e a 'Espada Vermelha' foram suscetíveis à antracnose. Todas as
cultivares avaliadas foram suscetíveis à malformação da inflorescência, uma
doença que reduz a produtividade da mangueira. Nenhuma cultivar estudada
apresentou resistência a todas as principais doenças da mangueira.
A Tabela_3 demonstra as porcentagens de frutos infestados e a intensidade de
polpa infestada pela mosca-das-frutas obtidas nas safras de 2001-2002 e 2002-
2003. A infestação natural de mosca-das-frutas no local da experimentação
(Votuporanga-SP) foi muito alta nos dois anos agrícolas observados. A 'Espada
Vermelha' destacou-se pelo baixo grau de infestação de mosca-das-frutas,
podendo ser considerada resistente em relação às demais cultivares. Em parte,
sua menor infestação é devida à sua precocidade, tendo a maturação dos frutos
em época que o nível populacional da mosca é menor. Isso foi conceituado como
falsa resistência do tipo evasão hospedeira (Painter, 1951). Outrossim, seus
frutos têm pedúnculo longo e ficam muito expostos ao sol, reduzindo a sua
procura pela mosca, que prefere locais sombreados. Além desses dois
componentes, devem existir outros fatores na casca da fruta que lhe conferem a
resistência.
Avaliando as características físicas dos frutos demonstradas na Tabela_4 e por
meio de comparação simultânea dos gráficos (Figuras_1a e 1b) obtidos utilizando
a técnica de ACP, percebe-se que a cultivar Votupa destaca-se à direita do
gráfico de escores por apresentar frutos com os maiores valores médios de
largura (9,7 cm), espessura (8,3 cm), peso total (596,3 g) e peso da polpa
(512,8 g) (variáveis posicionadas à direita do gráfico de pesos). Embora tenha
os maiores valores médios de peso de casca (49,3 g), apresentou a menor
porcentagem de caroço (5,7%), rendendo, dessa forma, a maior porcentagem de
polpa (86,0%), propriedades estas de grande importância para o processamento
industrial. Aplicando a classificação estabelecida por Donadio et al. (1982)
para mangas em relação ao peso médio dos frutos: frutos pequenos (< 250 g);
médios (250 a 350 g); grandes (350 a 500 g); muito grandes (> 500g), os frutos
da cultivar Votupa são considerados como muito grandes (> 500g).
Inversamente à cultivar Votupa, os frutos da cultivar Espada Vermelha obtiveram
os menores valores de largura (6,5 cm) e de espessura (5,7 cm), menores peso
total (264,8 g) e peso da polpa (208,8 g), demonstrando, portanto, serem de
menor tamanho, classificados para este experimento como frutos médios. Esta
cultivar apresentou a desvantagem de ter a mais alta porcentagem de caroço
(10,0%) e a segunda maior porcentagem de casca (11,1%), proporcionando menor
rendimento da polpa (78,9%). Entretanto, esta cultivar evidencia-se por ter
como atributos de qualidade um forte e agradável aroma e intensa coloração
avermelhada da polpa e da casca. As mangas desta cultivar, como as da cultivar
Palmer, por serem frutos de formas reniformes, revelaram os maiores
comprimentos (com 11,3 e 11,9 cm, respectivamente).
Após a 'Votupa', as mangas 'Palmer' apresentaram os segundos maiores pesos
médios totais (426,3 g), considerados frutos grandes, pesos médios de polpa de
350,0 g, com porcentagem de polpa de 81,8% e elevada porcentagem de caroço
(9,5%).
As cultivares Haden 2H e Tommy Atkins demonstraram caracteres semelhantes
quanto ao peso médio total dos frutos (por volta de 350 g) e comprimentos de
9,6 e 10,1 cm, respectivamente (Tabela_4, Figura_1a). Em relação ao peso, os
frutos dessas cultivares classificam-se como médios a grandes. A 'Haden 2H'
apresentou a mais alta porcentagem de casca (14,1%), resultando em menor
porcentagem de polpa (77,5%), enquanto as cultivares Tommy Atkins e Van Dyke
alcançaram elevados rendimentos de polpa, respectivamente, 84,0 e 85,4%, por
terem as menores porcentagens de caroço e de casca.
A preferência do consumidor brasileiro não é regulada pelo tamanho do fruto,
mas, sim, pelo seu sabor (Botrel, 1994). Portanto, considerando apenas o peso
dos frutos, todas as cultivares selecionadas pelo IAC serão aceitas no mercado
interno. Tendo como exigência de mercado externo, frutos com pesos entre 250 a
450 g para o Estados Unidos (Botrel,1994), e até 656 g para a Europa (Genú e
Pinto, 2002), as cultivares selecionadas pelo IAC poderão atender a este
mercado. Todavia, a suscetibilidade à antracnose encurta a vida de prateleira
da 'Espada Vermelha', e a falta de coloração da casca da 'Votupa' são fatores
limitantes para exportação. A 'Haden 2H' e as cultivares comerciais (Palmer,
Tommy Atkins e Van Dyke) apresentaram os pesos de seus frutos dentro das faixas
internacionais de classificação descritas acima.
O conhecimento da composição química da manga é um importante fator para a
seleção de cultivares para consumo in natura e visando ao seu processamento. A
manga é fonte de carboidratos (fração composta de frutose, glicose, sacarose,
amido, fibras e substâncias pécticas), de ácido ascórbico, sais minerais, de
ácidos orgânicos com predominância dos ácidos cítrico e málico, e rica fonte de
pigmentos carotenóides, tendo alguns atividade provitamínica A, sendo que
proteínas e lipídeos estão presentes em menores quantidades (Mukherjee ,1997).
Observando, simultaneamente, a Tabela_5, que traz a composição química das
cultivares de manga, com uma das representações gráficas (Figura_2a) da análise
multivariada, verifica-se que as cultivares Votupa e Palmer bem como a Haden 2H
e Tommy Atkins estão pareadas, por possuírem características químicas
similares. A cultivar Van Dyke tem características aproximadas das cultivares
Votupa e Palmer, enquanto a 'Espada Vermelha' é distinta.
Comparando o gráfico de pesos (Figura_2b), que descreve a influência das
variáveis (determinações químicas) no agrupamento das cultivares com o gráfico
de escores (Figura_2a), nota-se que a 'Espada Vermelha' destaca-se graficamente
por ter como características químicas os mais elevados teores de carotenóides
totais (9,4 mg/100g), lipídeos (0,64%), proteína bruta (0,46%), pH (4,52) e o
segundo maior valor da relação SST/acidez (63,1). Estes componentes
proporcionaram intenso aroma, sabor e coloração avermelhada dos frutos,
atributos de interesse atrativo e nutricional para o consumidor. Pigmentos
carotenóides, além de serem precursores de vitamina A, atuam como
antioxidantes, prevenindo a formação de tumores cancerígenos e reduzindo
doenças cardiovasculares (Cândido e Campos, 1995; Slobodianik, 1995). Lipídeos
têm sido associados com a cor e com o desenvolvimento do sabor dos frutos de
manga durante o amadurecimento (Gomez-Lim, 1997). Cabe ressaltar que outras
substâncias, como ésteres e compostos carbonila, estão também associadas ao
aroma dos frutos (Subramanyam et al., 1975; Gomez-Lim, 1997). O índice de
sólidos solúveis/acidez, correspondente aos conteúdos de açúcares e de acidez
dos frutos, é um parâmetro apropriado para medir a percepção de sabor pelo
consumidor.
A cultivar Espada Vermelha obteve os menores teores de açúcares redutores
(2,61%), pectina (0,85%) e ácido ascórbico (31,3 mg/100g), porém os segundos
menores valores de acidez total (0,27%), de FAT (1,80%), sólidos solúveis (17,0
ºBrix), sólidos totais (17,08%), carboidratos totais (15,16%) e calorias de
68,2kcal/100g (Figuras_2a e 2b). Já as cultivares Votupa, Palmer e Van Dyke
revelaram-se com algumas características opostas à 'Espada Vermelha'; maiores
valores de acidez total (respectivamente, 0,48; 0,35; 0,44%), de ácido
ascórbico (46,6; 56,7; 38,3 mg/100g), e de forma geral, da fração de
carboidratos totais (19,11; 18,78; 20,35%), compreendendo as substâncias que a
compõem bem como aquelas determinações químicas que estão correlacionadas com a
fração, tais como os açúcares redutores (4,73; 4,08; 5,56%), sólidos totais
(20,67; 20,37; 21,78%), sólidos solúveis (17,6; 17,9; 20,2 ºBrix) e,
conseqüentemente, do valor calórico (80,9; 80,2; 84,0 kcal/100g). Entre as
cultivares, Votupa e Palmer tiveram valores intermediários de carotenóides
totais (4,4; 4,0 mg/100g), de pectina (0,88; 0,93 %) e de lipídeos (0,39;
0,49%), enquanto a 'Van Dyke' obteve os menores conteúdos de carotenóides
totais (2,1 mg/100g), de lipídeos (0,18%) e de pH (3,81), o que proporcionou o
seu deslocamento, graficamente, para a direita, na Figura_2a.
Mukherjee (1997) cita que a acidez dos frutos está relacionada com a cultivar.
Neste caso, podem-se agrupar as cultivares estudadas em dois grupos distintos:
Espada Vermelha, Tommy Atkins e Haden 2H, posicionadas à esquerda da Figura_2a,
como cultivares de baixa acidez (respectivamente, 0,27; 0,20; 0,29%) e Palmer,
Votupa e Van Dyke, à direita, com teores de acidez mais elevados (0,35; 0,48;
0,44%).
A 'Haden 2H' e a cultivar Tommy Atkins, por serem genótipos aparentados (a
'Tommy Atkins' é filha da 'Haden'), evidenciaram características bem
semelhantes (Figuras_2a e 2b), tais como, pH elevado (4,18; 4,37); baixos
teores de sólidos totais (17,40; 16,13%), de sólidos solúveis totais (17,3;
16,6 ºBrix), acidez titulável (0,29; 0,20), de lipídeos (0,29; 0,27%), ácido
ascórbico (36,6; 31,7 mg/100g), resíduo mineral fixo (0,35; 0,33%), de
carboidratos totais (16,28; 14,99%) e de calorias (68,3; 63,6 kcal/100g). A
cultivar Tommy Atkins destacou-se da 'Haden' pela relação SST/acidez; a 'Tommy
Atkins', apesar de ter o menor teor de sólidos solúveis totais, obteve a menor
acidez, diferenciando-se pelo elevado índice obtido (81,8) em relação à 'Haden'
(59,1) como também para as demais cultivares. A cultivar Votupa, embora tenha
como descendência maternal a cultivar Tommy Atkins, não demonstrou ter herdado
as suas características genéticas referentes à qualidade dos frutos, visto
estar bem discriminada graficamente da sua progenitora (Figura_2a).
Botrel (1994) relata que tanto a acidez dos frutos como o teor de sólidos
solúveis totais podem influenciar na aceitação das cultivares. Bleinroth et al.
(1985), ao avaliarem 22 cultivares de mangas cultivadas no município de Tietê-
SP, a maioria cultivares indianas melhoradas, vindas da Flórida, encontraram um
teor médio de sólidos solúveis de 15,85 ºBrix, dentro de um intervalo de 12,1 a
19,0 ºBrix. Todas as cultivares selecionadas pelo IAC, como as comerciais,
relativas a este experimento, apresentaram índices bons de sólidos solúveis,
acima desta média (16,6 a 20,2 ºBrix).
A parede celular dos frutos é composta de polissacarídeos, como a celulose,
pectinas, hemicelulose e de compostos fenólicos (Brett e Waldron, 1990). A
degradação da parede celular durante o amadurecimento relaciona-se com a
textura e firmeza, que indicam o grau de maturação como também determina a vida
de prateleira do fruto (Tucker, 1993). Manga é uma excelente fonte de fibra
alimentar; ao se determinar esta fração em um alimento, estão sendo
quantificados todos os polissacarídeos presentes na parede celular que não são
digeridos ou absorvidos pelas enzimas humanas no trato gastrointestinal.
Bleinroth et al. (1985) e Botrel (1994) consideram que o alto teor de fibras na
polpa da manga é um fator negativo na qualidade da fruta. Do ponto de vista do
processamento de subprodutos de manga, na forma de sobremesas, sorvetes e
outros, este fator é verdadeiro. Subramanyam et al. (1975) classificam mangas
em duas categorias: as de polpa carnosa e as suculentas. Segundo os autores, as
carnosas, de polpa firme, livres de fibras e com boa coloração, sabor e aroma,
são preferidas para serem processadas e embaladas em fatias; as do tipo
suculentas são fibrosas, ricas em cor e sabor, são usadas para a produção de
néctar ou bebidas à base de frutas. Entretanto, quanto ao aspecto nutricional,
a questão "presença de fibras na fruta" deve ser revista. Estudos sobre fibras
da dieta têm mostrado bons efeitos fisiológicos, dentre muitos, diminuem o
colesterol plasmático, regularizam o funcionamento intestinal, previnem e
tratam doença diverticular do cólon, previnem o câncer de cólon e são
consideradas importantes nutrientes para o controle da absorção da glicose,
especialmente para pessoas diabéticas, visto que dietas ricas em fibra
alimentar promovem menor aumento glicêmico após as refeições (Cavalcanti,
1989). Por meio de análise concomitante dos gráficos da Figura_2 e Tabela_5,
verificou-se que as cultivares Van Dyke, Haden e Tommy Atkins, consideradas
como de boa qualidade comercial, foram as que apresentaram os maiores teores de
FAT e de pectina.
Os sais minerais estão relacionados à saúde humana, uma vez que sua deficiência
ou excesso pode induzir mudanças fisiológicas nos indivíduos. Alguns elementos,
quando presentes em altas concentrações nos alimentos, ou mesmo em
concentrações muito baixas, podem afetar o metabolismo e são conhecidos como
elementos essenciais, sendo ao todo 26 elementos essenciais para o homem. Nas
cultivares de manga, foram determinados os níveis de 8 dos 26 elementos
essenciais, demonstrados na Tabela_6.
Analisando as Figuras_3a e 3b, correspondentes ao tratamento estatístico dos
níveis dos elementos minerais determinados, novamente a 'Espada Vermelha'
destacou-se das demais cultivares (lado direito da Figura_3a) por ter as
maiores concentrações da maioria dos minerais determinados (Cu, Fe, P, Mg, K e
Zn - Figura_3b). 'Tommy Atkins' e 'Palmer' exibiram comportamento inverso à
'Espada Vermelha', posicionando-se graficamente à esquerda da figura, por terem
os menores valores para a maioria destes elementos minerais (Tabela_6). A
'Espada Vermelha', juntamente com 'Van Dyke' e 'Votupa', obteve os menores
teores de Ca (8,49; 8,56; 6,77 mg/100g) enquanto 'Haden 2H', 'Palmer' e 'Tommy
Atkins' apresentaram os maiores valores do mesmo elemento (respectivamente,
10,83; 10,06; e 10,20 mg/100g). 'Votupa' obteve o menor teor de Mn (0,175 mg/
100g), seguida pela 'Van Dyke' (0,280 mg/100g), ao passo que 'Espada Vermelha'
e 'Haden' apresentaram concentrações mais elevadas para esse mineral (0,471;
0,463 mg/100g).
Os níveis dos minerais encontrados em todas as cultivares estudadas são baixos
para serem considerados como fonte de minerais, porém eles podem contribuir
para a dieta alimentar, juntamente com outros alimentos, principalmente em
termos dos micronutrientes ferro e manganês.
A cutlivar Votupa apresentou o mesmo ciclo da 'Palmer' sendo, portanto, sua
competidora direta na disputa pelo mercado. A única vantagem expressiva que
apresentou sobre a 'Palmer' foi sua resistência à seca-da-mangueira para qual
foi selecionada. A 'Palmer' teve maior produtividade e é mais atrativa. A
'Votupa' deverá ser recomendada como cultivar semitardia para substituir
pomares que foram dizimados pela seca-da-mangueira.
A cultivar Espada Vermelha mostrou-se mais precoce que a 'Tommy Atkins', não
tendo, portanto, concorrência com a principal cultivar do mercado. Apresentou
boa resistência à mosca-das-frutas, características nutricionais diferenciadas,
aroma e sabor agradáveis e visual muito atraente. Mostrou-se suscetível à
antracnose com menor capacidade de conservação pós-colheita, o que limita o seu
potencial para exportação. Adapta-se para plantio em regiões quentes com menor
umidade no ar, que potencializa sua precocidade e reduz a incidência da
antracnose, como a Noroeste do Estado de São Paulo, para a produção de frutos
precoces para o mercado interno.
CONCLUSÕES
1. Classificou-se, nas condições edafoclimáticas de Votuporanga-SP, usando como
critério a época de produção/maturação dos frutos, as cultivares Espada
Vermelha, Haden 2H e Van Dyke como precoces, Tommy Atkins como de meia-estação
e Votupa e Palmer como tardias.
2. Em relação à produção das plantas nas safras de 2001-2002 e 2002-2003, a
cultivar Espada Vermelha apresentou a menor produtividade, enquanto a 'Palmer'
foi a mais produtiva. 'Votupa', 'Van Dyke' e 'Tommy Atkins' obtiveram produções
intermediárias e comparáveis entre si. 'Haden 2H' foi muito produtiva, mas
mostrou alternância de produção e foi suscetível ao intenso calor da região.
3. Nenhuma cultivar foi resistente a todas as principais doenças. Todas as
cultivares foram suscetíveis à malformação da inflorescência. A 'Haden 2H' foi
a cultivar com maior suscetibilidade às doenças.
4. A cultivar Espada Vermelha foi mais resistente à mosca-das-frutas do que as
demais cultivares avaliadas.
5. As cultivares Votupa, Palmer, Tommy Atkins e Van Dyke atingiram altos
rendimentos de polpa (> 80%).
6. 'Palmer' e 'Van Dyke' apresentaram similares características químicas,
demonstrando, estas cultivares, em conjunto com a Votupa, serem mais calóricas
e mais ácidas. 'Espada Vermelha', 'Tommy Atkins' e 'Haden 2H', apesar de
poderem ser classificadas como cultivares de baixo valor calórico, apresentaram
os melhores índices de sólidos solúveis totais/acidez devido à baixa acidez de
seus frutos.
7. A cultivar Espada Vermelha obteve atributos diferenciados para todas as
características avaliadas, demonstrando ser rica em minerais, carotenóides
totais, lipídeos e proteína bruta, alta relação sólidos solúveis totais/acidez,
possuindo bom sabor e intenso aroma agradável. Com visual muito atrativo,
precoce e suscetível à antracnose, é recomendada para cultivo em regiões
quentes com baixa umidade no ar, para produção precoce para o mercado interno.
8. A cultivar Votupa é recomendada como cultivar semitardia para substituir
pomares dizimados pela seca-da-mangueira.