Seleção de progênies de maracujazeiro-amarelo vigorosas e resistentes à
verrugose (Cladosporium cladosporioides)
INTRODUÇÃO
O maracujazeiro-amarelo encontra no Brasil excelentes condições para seu
cultivo. É apreciado pela qualidade do suco, do aroma e do sabor bastante
agradáveis (Meletti, 1996). Apresenta grande variabilidade genética a ser
explorada pelo melhoramento. Três cultivares, denominados IAC 273, IAC 275 e
IAC 277, foram lançados pelo Instituto Agronômico de Campinas e produzem
maracujás com características adequadas ao processamento industrial, podendo
também ser comercializados no mercado de fruta fresca (Meletti et al., 2000).
Apesar da grande importância econômica e da sua rusticidade, existem diversos
problemas fitossanitários afetando a cultura. No Brasil, dentre as principais
doenças fúngicas que infectam a parte aérea do maracujazeiro, estão a
antracnose, a verrugose ou cladosporiose, a mancha-parda e a septoriose
(Ruggiero et al., 1996; Goes, 1998).
A verrugose ataca tecidos novos de folhas, ramos, gavinhas, flores e frutos.
Nas folhas, manifesta-se inicialmente como pequenas manchas translúcidas
circulares, onde, depois, os tecidos da lesão sofrem necrose e caem. Em partes
jovens dos ramos, pecíolos e gavinhas, ocorrem lesões deprimidas (acanoadas),
onde posteriormente o fungo esporula (Simmonds, 1932). Nos frutos, as lesões
são superficiais, não causando deterioração da polpa, mas prejudicam a
aparência e a aceitação do fruto no mercado in natura (Goes, 1998). Pelo
crescimento do tecido da casca adjacente à margem da lesão, a área afetada é
ligeiramente elevada acima da superfície, originando calombos denominados de
verrugas, que podem coalescer e permanecer até a maturação do fruto (Simmonds,
1932).
Barreto et al. (1996) identificaram como agente etiológico o fungo Cladosporium
cladosporioides, o causador da queima de mudas de maracujazeiro, uma doença
comum, sobretudo em viveiros onde as plantas são mantidas em populações muito
densas, sendo sua evolução muito rápida, levando à necrose generalizada da
parte aérea das plantas atacadas.
Bueno et al. (2002) verificaram que houve diferenças significativas na
incidência e severidade da verrugose em frutos de genótipos de maracujazeiro-
amarelo cultivados sob três níveis de potássio. Porém, não houve diferenças
devido aos níveis de potássio e à interação genótipos x níveis de potássio na
ocorrência da doença.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a viabilidade de seleção e selecionar,
entre progênies de meios-irmãos de maracujazeiro, plantas mais vigorosas e
resistentes à verrugose, sob ocorrência de inóculo natural da doença.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Departamento de Fitotecnia da Universidade
Federal de Viçosa-MG. Avaliaram-se 42 tratamentos, compostos de 39 progênies de
meios-irmãos e três cultivares (Tabela_1). O plantio deu-se em novembro de
2002, em espaçamento de 3,5 x 3,5 m, em espaldeira com um fio de arame, sendo
realizados todos os tratos culturais normalmente recomendados para a cultura. A
irrigação foi realizada somente na fase inicial da instalação da cultura. A
adubação utilizada foi de acordo com a recomendada por Souza et al. (1999).
As plantas foram avaliadas em 13-02-2003 quanto ao vigor e incidência de
verrugose. O vigor foi avaliado segundo escala de notas de um a cinco, conforme
explicitado na Tabela_2. A incidência de verrugose foi avaliada em ramos novos
e folhas, segundo escala de notas de um a cinco, sob ocorrência de fonte de
inóculo natural (Tabela_2). Essa escala corresponde à parte da escala de notas
proposta por Horsfall & Barrat, citados por Maffia et al. (1999).
Simulou-se a seleção independentemente para resistência à verrugose e vigor, e
por índices de seleção envolvendo os dois caracteres. Para os índices de
seleção, consideraram-se os pesos para resistência à verrugose e vigor de 1 :
1 e 2 : 1, respectivamente, para o índice 1 e índice 2. Em cada caso,
selecionaram-se as dez melhores progênies (25%).
O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com 42 tratamentos, 03
repetições e 04 plantas por parcela. Os dados obtidos foram analisados no
aplicativo computacional GENES (Cruz, 2001), versão 2003.
Foi estimada a herdabilidade das características por meio da expressão (Cruz
& Regazzi, 1997):
= componente de variância genética
estimado por meio de:
<formula/>= QMG QMR/r
QMG: quadrado médio do genótipo;
QMR: quadrado médio do resíduo;
r: número de repetições.
Os ganhos por seleção direta e indireta foram estimados por meio de:
GSj = h2j DSj e GSj (j') = h2j DSj (j') em que:
GSj, GSj (j'): ganho na característica j, pela seleção direta e indireta, via
j', respectivamente;
h2j: herdabilidade da característica j;
DSj e DSj (j'): diferença de seleção para as características j pela seleção
direta e indireta, via j', respectivamente.
Também foi estimado o ganho por meio da seleção simultânea considerando o
índice de Smith e Hazel, estabelecido a partir do sistema de equações:
Pb = Ga, em que:
P = matriz de covariâncias fenotípicas;
G = matriz de covariâncias genotípicas;
a = vetor de pesos econômicos (estabelecidos iguais a -1 e 1, ou -2 e 1 para
doença e vigor, respectivamente);
b = vetor de coeficientes do índice de seleção.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias das notas de incidência de verrugose e vigor estão representadas na
Figura_1. A seleção independente para resistência à verrugose e vigor indica
que apenas três progênies (6; 7 e 27) seriam selecionadas com base nos dois
caracteres. Além destas, sete progênies diferentes seriam selecionadas com base
em cada caráter (Tabela_3). Com base nos índices de seleção, serão
selecionadas, além das progênies 6; 7 e 27, aquelas de número 2; 3; 19; 20 e 36
e as de número 15 e 41 (Índice 1) ou 22 e 32 (Índice 2) (Tabela_3).
O índice de seleção 1 (Índice Clássico, de Smith, 1936, e Hazel, 1943)
proporcionou ganho de seleção estimado de 5,79% para resistência à verrugose e
14,48% para vigor. O índice de seleção 2 prevê ganho de seleção mais
equilibrado, em torno de 10% para cada um dos caracteres (Tabela_3) e foi,
portanto, adotado neste trabalho. As progênies selecionadas neste trabalho
serão submetidas à seleção, visando à produtividade e qualidade de frutos.
A herdabilidade estimada foi de 44,68% para resistência à verrugose e 56,53%
para o vigor. Herdabilidades dessa magnitude indicam que a seleção para estes
caracteres deva ser eficiente. Em maracujazeiro, foram encontradas
herdabilidades de 95,93% e 97,29% para a característica número de frutos,
indicando que o ambiente não tem grande influência na expressão do caráter e
que um método simples de seleção pode ser aplicado (Viana, 2001).
As cultivares IAC-273, IAC-275 e IAC-277 foram incluídas no ensaio para efeito
de comparação. As cultivares IAC-273 e IAC-275 estão entre as progênies
selecionadas apenas com base no vigor. Com relação à incidência à verrugose,
nenhuma das cultivares IAC testadas está entre as progênies selecionadas. Na
seleção com base em índice de seleção, IAC 275 está entre as progênies
selecionadas no caso do índice 1 e nenhuma delas em se tratando do índice 2.
Esses resultados indicam que é possível selecionar plantas mais vigorosas e com
maior resistência à verrugose do que as cultivares atualmente disponíveis.
Segundo Simmonds (1932), abundante umidade favorece o aumento da infecção de
verrugose no maracujazeiro. Nesse trabalho, a grande incidência de verrugose
foi favorecida pela grande quantidade de chuvas e conseqüente aumento na
umidade ocorridas no mês de janeiro de 2003 (Tabela_4), sendo os ramos e folhas
jovens as partes mais atacadas.
CONCLUSÕES
1. A seleção de plantas mais vigorosas e resistentes à verrugose mostrou-se
viável.
2. O índice de seleção 2, com peso -2 : 1, para resistência à verrugose e
vigor, foi o mais adequado.
3. As progênies selecionadas para maior resistência à verrugose e vigor, com
base no índice 2, foram 2; 3; 6; 7; 19; 20; 22; 27; 32 e 36.