Potencial de propagação de cultivares de marmeleiro por estaquia
PROPAGAÇÃO
Potencial de propagação de cultivares de marmeleiro por estaquia1
Potencial of propagation of cultivars of quince for cuttings
Rafael PioI; João Paulo Campos de AraújoII; João Alexio Scarpare FilhoIII;
Francisco de Assis Alves Mourão FilhoIII; Âgelo Albérico AlvarengaIV; Enilson
AbrahãoV
IEngº. Agrônomo, M.Sc., Doutorando do curso de Fitotecnia, Depto. de Produção
Vegetal - USP/ESALQ. Av. Pádua Dias, nº 11, CEP 13418-900, Piracicaba-SP. Autor
para correspondência: rafapio@esalq.usp.br
IIEngº. Agrônomo, Mestrando do curso de Fitotecnia, Depto. de Produção Vegetal,
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"-
USP/ESALQ. Av. Pádua Dias, nº 11, CEP 13418-900, Piracicaba-SP.
jp.campos@uol.com.br
IIIEngº. Agrônomo, Dr., Prof. de Fruticultura do Depto. de Produção Vegetal -
USP/ESALQ. Av. Pádua Dias, nº 11, CEP 13418-900, Piracicaba-SP.
jascarpa@esalq.usp.br famourao@esalq.usp.br
IVEngº. Agrônomo, Dr., Pesquisador EPAMIG-CTSM, C.P. 176, CEP 37200-000,
Lavras-MG. angelo@epamig.ufla.br
VEngº. Agrônomo, M.Sc., Pesquisador EMBRAPA/EPAMIG-CTSM, C.P. 176, CEP 37200-
000, Lavras-MG. enilson@epamig.ufla.br
INTRODUÇÃO
A cultura do marmeleiro está concentrada principalmente no Sul do Estado de
Minas Gerais, nos municípios de Delfim Moreira, Cristina, Maria da Fé, Virgínia
e Marmelópolis, onde a marmelocultura, na década de 30, exerceu importante
papel no desenvolvimento socioeconômico da região, com a implantação de
indústrias processadoras de marmelos para a fabricação de doces e compotas
(Hiroto, 2002). O Estado de Minas Gerais, embora ainda seja o maior produtor de
marmelos do País, apresenta sérias limitações ao cultivo, destacando-se a falta
de incentivos, problemas fitossanitários e desinteresse do mercado consumidor
(Abrahão et al., 1996). No Estado de São Paulo, marmeleiro, com somente 1.140
plantas cultivadas em 4,3 ha, tem como principal cultivar a Portugal, sendo os
principais municípios produtores de marmelos Tietê e Vargem Grande do Sul.
Mesmo com as diversas pesquisas desenvolvidas, a cultura do marmeleiro não
avançou no Estado de São Paulo (Barbosa et al., 2003), isso provavelmente
devido a problemas fitossanitários (Campo Dall'orto et al., 1986), entre
outros.
Apesar de os frutos de marmeleiros da espécie Cydonia oblonga possuírem
sementes viáveis, estas são em pequena quantidade (menos de 10), produzindo
pela reprodução sexual plântulas desuniformes, o que não é desejado no
estabelecimento de plantios comerciais (Pasqual et al., 2001). Sendo assim, a
estaquia ou enxertia vem a ser a alternativa de propagação mais viável para os
marmeleiros, mantendo assim as características genéticas das plantas-matrizes,
uniformidade, porte reduzido e precocidade de produção (Hartmann & Kester,
1990; Fachinello et al., 1995; Meletti, 2000).
O uso do marmeleiro 'Japonês' (Chaenomeles sinensis L.) via seminífera, como
porta-enxerto para as outras espécies e cultivares de marmelos, tem se mostrado
viável, principalmente pelo elevado número de sementes por fruto
(aproximadamente 150), poder germinativo, uniformidade e afinidade (Abrahão et
al., 1991).
Na propagação do marmeleiro via estaquia, são utilizadas estacas com 30-40 cm
de comprimento retiradas de plantas no final do período de repouso hibernal,
aproveitando o material oriundo da poda de inverno (Ranzolin, 1948; Murayama,
1973). Essas estacas são colocadas diretamente na cova de plantio, deixando-se
apenas duas gemas acima do nível do solo (Souza & Drummond-Gonçalves,
1954). O insucesso desta técnica de propagação pode ser comparado ao da
figueira, que, devido à não-coincidência do plantio das estacas com o período
chuvoso na região Sudeste, tem propiciado baixo índice de enraizamento. Neste
caso, utilizam-se duas estacas por cova, ocorrendo, mesmo assim, baixo
enraizamento, acarretando um plantio desuniforme e a necessidade de replantios
(Gonçalves, 2002).
Uma alternativa na propagação do marmeleiro seria o enraizamento das estacas
previamente em ambiente controlado, podendo utilizar estacas de menor diâmetro
e comprimento. Essa prática facilita o manejo no viveiro, a seleção de plantas
de qualidade e o plantio no período chuvoso através de mudas em torrão,
possibilitando a obtenção de um pomar uniforme e vigoroso (Pio, 2002).
Devido à escassez de estudos que envolvem a propagação do marmeleiro, realizou-
se o presente trabalho com o intuito de verificar a capacidade de enraizamento
de estacas de diferentes espécies e cultivares de marmeleiros.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido na Escola Superior de Agricultura "Luiz de
Queiroz", da Universidade de São Paulo (USP/ESALQ), Piracicaba-SP, no período
de agosto a outubro de 2003.
Coletaram-se estacas lenhosas e lisas de plantas de marmeleiro 'Radiolo',
'Mendoza Inta-37', 'Much Prolife', 'Pineapple', 'Smyrna', 'De Patras',
'Provencia', 'Van Deman', 'Provance', 'Meliforme', 'Portugal' (Cydonia oblonga)
e 'Japonês' (Chaenomelis sinensis L.). As estacas foram padronizadas com 20 cm
de comprimento, efetuando-se um corte reto acima de uma gema no ápice e em
bisel, na base da estaca, abaixo de uma gema. Em seguida, enterrou-se metade do
comprimento das estacas em canteiro constituído por terra, coberto por sombrite
50% e umedecidas diariamente através de regas manuais.
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, totalizando 12
tratamentos (cultivares de marmeleiros), com 4 repetições e unidade
experimental formada por 10 estacas.
Após 75 dias, coletaram-se os seguintes dados biométricos: porcentagem de
estacas enraizadas e brotadas, número de folhas e brotos, comprimento da maior
raiz, comprimento médio das brotações e número de raízes emitidas por estaca.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias ao teste Scott-
Knott, ao nível de 5% de probabilidade (Gomes, 2000). As análises foram
realizadas pelo programa computacional Sistema para Análise de Variância -
SISVAR (Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da análise de variância, constatou-se que houve diferença significativa
para todas as variáveis em estudo, à exceção para o número de brotos (Tabela
1).
As cultivares 'De Patras' e 'Pineapple' apresentaram maior enraizamento (62,5%
e 52,5%, respectivamente); as cultivares 'Provencia' e 'Mendoza Inta-37'
apresentaram 45,0% e 35,0%, respectivamente, e as demais cultivares, os menores
índices de enraizamento, as quais não diferiram entre si (Tabela_2).
Rufato et al. (2001), trabalhando com o enraizamento de estacas de marmeleiros
'Portugal', 'Pineapple', 'Mendoza Inta-37' e 'Meliforme', com 12 cm de
comprimento, obtiveram apenas 5% de enraizamento para a cultivar Portugal, não
ocorrendo enraizamento das demais cultivares. Essa diferença pode estar
correlacionada com a época de estaquia, uma vez que o referido trabalho foi
realizado em abril, fora da época da poda hibernal, conseqüentemente, possuindo
o material propagativo menor quantidade de reservas, substâncias fundamentais
ao enraizamento (Fachinello et al., 1995).
A cultivar Portugal apresentou maior número de raízes emitidas por estaca
(12,12); já as cultivares Radiolo e Pineapple apresentaram 9,15 e 7 raízes, em
média, respectivamente (Tabela_2). As cultivares Portugal (14,57 cm), Pineapple
(13,23 cm), Radiolo (11,5 cm), De Patras (11,01 cm), Provencia (10,71 cm) e
Meliforme (7,87 cm) apresentaram resultados superiores, em comparação às demais
cultivares para o comprimento da maior raiz.
A formação de raízes adventícias em estacas pode ser direta e indiretamente
controlada por genes (Haissig & Reimenschneider, 1988). Segundo estes
autores, os aspectos genéticos que influenciam no processo de enraizamento de
estacas não têm sido investigados. A potencialidade de uma estaca em formar
raízes é variável com a espécie e cultivar, podendo ser feita uma classificação
entre espécies ou cultivares de fácil, médio ou difícil capacidade de
enraizamento, ainda que a facilidade de enraizamento seja resultante da
interação de diversos fatores e não apenas do potencial genético (Fachinello et
al., 1995).
Para a porcentagem de estacas brotadas, as cultivares Portugal (70%), De Patras
(67,5%), Pineapple (57,5%), Mendoza Inta-37 (50%) e Provencia (47,5%)
apresentaram resultados superiores, em comparação às demais (Tabela_3). Pio et
al. (2002) também verificaram que o marmeleiro 'Portugal' apresenta alta
porcentagem de brotação de suas estacas (73,5%). Rufato et al. (2001),
trabalhando com o enraizamento de estacas de marmeleiros 'Portugal',
'Pineapple', 'Mendoza Inta-37' e 'Meliforme', dotados de 12 cm de comprimento,
obtiveram cerca de 10% de brotação. Essa controvérsia pode estar ligada ao
menor tamanho das estacas que, conseqüentemente, possuem menor quantidade de
gemas.
Para o número de folhas, as cultivares Radiolo (23,42), Pineapple (19,84),
Provencia (17,78) e Provance (16,62) se destacaram entre as demais, que não
diferiram estatisticamente entre si (Tabela_3). No referente ao comprimento
médio das brotações, verifica-se que as cultivares Pineapple (25,42 cm),
Radiolo (19,5 cm), Provencia (15,68 cm), Mendoza Inta-37 (15,41 cm) e De Patras
(15,2 cm) apresentaram melhores resultados.
Pio et al. (2002), trabalhando com o enraizamento de estacas dos marmeleiros
'Portugal' e 'Japonês' tratadas com ácido indolbutírico (AIB), verificaram que
a concentração de 2.000 mg.L-1 promoveu maior porcentagem de enraizamento para
o 'Portugal' (45,36%) e a concentração de 1.000 mg.L-1 para o 'Japonês'
(13,4%). Visioli et al. (2003), em outro trabalho desenvolvido com os referidos
marmeleiros, observaram um acréscimo de enraizamento efetuando a estratificação
das estacas em areia, por 45 dias, e posterior tratamento com AIB para o
marmeleiro 'Portugal', onde obtiveram melhores resultados com a concentração de
4.000 mg.L-1 (69,7%). No presente trabalho, obteve-se apenas 25% de
enraizamento para o 'Portugal' e 12,5% para o 'Japonês', sem a utilização de
quaisquer tratamentos nas estacas. Talvez o emprego de técnicas auxiliares ao
enraizamento de estacas das cultivares de marmeleiro possa trazer melhores
resultados.
CONCLUSÕES
As cultivares de marmeleiro Pineapple, De Patras, Provencia e Mendoza Inta-37
apresentaram maior potencialidade de propagação via estaquia.