Comportamento de cultivares de coqueiros anão e híbridos no Distrito Federal
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS
Comportamento de cultivares de coqueiros anão e híbridos no Distrito Federal1
Behavior of dwarf cultivars and hybrids of coconut in Brasília, Federal
District
Víctor Hugo Vargas RamosI; Alberto Carlos de Queiroz PintoII; Wilson Menezes
AragãoIII; Antonio Carlos GomesIV; Nilton Tadeu Vilela
JunqueiraV; Edson LobatoVI; Maria Alice Santos OliveiraVII
IEng. Agrôn., Ph.D., Embrapa Cerrados, Caixa Postal 08223, CEP 73301-970,
Planaltina-DF. (vhugo@cpac.embrapa.br)
IIEng. Agrôn., Ph.D., Embrapa Cerrados, alcapi@cpac.embrapa.br
IIIEng. Agrôn., D.Sc., Embrapa Tabuleiros Costeiros, Caixa Postal 44, CEP
45025-040, Aracajú-SE (aragaowm@cpatc.embrapa.br)
IVMat. Bioest., D.Sc., Embrapa Cerrados,acarlos@cpac.embrapa.br
VEng. Agrôn., Ph.D., Embrapa Cerrados, junqueir@cpac.embrapa.br
VI Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa Cerrados, lobato@cpac.embrapa.br
VIIEng. Agrôn., M.Sc., Embrapa Cerrados, alice@cpac.embrapa.br
O cultivo do coqueiro (Cocos nucifera L) vem-se tornando cada vez mais atrativo
pela crescente demanda por água de coco e pela necessidade de os produtores
buscarem fontes alternativas de renda. A demanda é totalmente atendida pela
oferta de frutos provenientes de outros estados, tendo sido comercializadas
1.700 t via CEASA-DF, em 1994 (Lima, 1995).
Em condições de seca, o crescimento do coqueiro é retardado, e a produtividade,
reduzida (Mahindapala & Pinto, 1991).
Na região Centro-Oeste, baixas temperaturas durante determinados períodos do
ano e elevadas taxas de evapotranspiração, associadas à irregularidade na
distribuição das chuvas, provocam deficits hídricos, fator limitante da
produtividade, com abortamento de flores. Esse deficit constitui o principal
fator limitante no desenvolvimento do coqueiro que, por ter crescimento e
produção contínuos, exige condições de clima muito próximas do ideal durante
todo o ano (Passos,1998 b.).
O objetivo desta pesquisa foi avaliar cultivares e híbridos de coqueiro quanto
ao crescimento vegetativo, visando a indicar os materiais com melhor aptição
para o cultivo no DF.
O trabalho foi desenvolvido na Embrapa Cerrados, em Planaltina, Distrito
Federal (latitude 17°35'03'', longitude 47°42'30'' e altitude de 1.100 m ). O
clima da região tem duas estações: a chuvosa e quente com precipitação de 1.400
a 1.800 mm/ano e temperatura de 25 a 30 °C de setembro a abril, e a seca, com
umidade relativa em torno de 40% e temperatura entre 20 e 23 °C de maio a
agosto. Os experimentos foram instalados em 8-2-2000, numa área de 1,5 ha.
Foram usadas as cultivares anãs: Anão-verde-de-jiqui (AVeJ), Anão-vermelho-de-
gramame (AVG), Anão-vermelho-da-malásia (AVM) e Anão-vermelho-de-camarões (AVC)
e os híbridos: Anão-vermelho-de-gramame x Gigante-do-brasil-da-praia-do-forte
(AVG x GBRPF) e Anão-amarelo-de-gramame x Gigante-do-oeste-africano (AAG x
GOA).
Para as cultivares anãs, o delineamento experimental utilizado foi o de blocos
ao acaso, com quatro tratamentos (cultivares) e três repetições. A unidade
experimental para as cultivares anãs (AVeJ) foi constituída por 12 plantas e 5
plantas para as cultivares (AVG, AVM e AVC). O espaçamento utilizado foi de 7,5
x 7,5 x 7,5 m, em triângulo eqüilátero, em covas de 60 x 60 x 60 cm. Para os
híbridos, foi em blocos ao acaso, com dois tratamentos (híbridos) e três
repetições. A unidade experimental dos híbridos foi constituída por 12 plantas.
O espaçamento utilizado foi de 8,5 x 8,5 x 8,5 m, em triângulo eqüilátero, com
as mesmas dimensões de covas dos anões. Os dois experimentos estão sendo
conduzidos em condições de sequeiro, com a irrigação suplementar por
microaspersão, implantada em nov/2003, em dois turnos de rega de 8 horas por
dia e por semana, com uma vazão de 30 L.h -1. O solo utilizado foi o Latossolo
Vermelho-Amarelo, argilo-arenoso.
A área experimental apresentava variação em suas características químicas
(Tabela_1). Assim sendo, foram aplicadas doses diferenciadas de calcário
dolomítico de 3,2 t/ha (Área 1), 2,7 t/ha (Área 2) e 1,7 t/ha (Área 3) para se
atingir 50% de saturação por bases e doses de P sob a forma de Superfosfato
simples de 900 kg/ha, nas 3 áreas a lanço e incorporadas. A aplicação de gesso
foi de 3,0 t/há, nas 3 áreas, e a adubação na cova de plantio foi de 5 kg de
casca picada de coco no fundo da cova, 10 kg de esterco de curral, FTE BR 12,
50 gr , 800g de superfosfato simples, inseticida clorpirifós 20 gr e misturado
com a terra da superfície para encher a cova.
As avaliações foram realizadas com 1,5; 16,5; 19,0; 23,0 e 26,0 meses após o
plantio no campo: (a) Altura da planta (AP) : da superfície do solo até o ápice
da folha central, com auxílio de uma régua graduada em centímetros; (b)
Circunferência do coleto do estipe (CC): efetuada a 5 centímetros do solo, com
auxílio de uma fita métrica; (c) Número de folhas vivas (NFV): número de folhas
verdes e adultas com mais de 50% da folha aberta; (d) Número de folhas mortas
(NFM): número de folhas adultas com mais de 90% dos folíolos secos;.(e) Número
de folhas emitidas (NFE): número de folhas com abertura superior a 50%,
incluindo as vivas e as mortas, desde a última avaliação; (f) Comprimento da
folha três (CF3): determinado com auxílio de uma régua graduada em centímetros,
contada a partir da primeira folha aberta do centro da planta, em sentido anti-
horário (Aragão, 1998://www.cpatsa.embrapa.br/livrorg/coco.doc);.(g)
Comprimento do pecíolo na folha três (CPF3): comprimento em centímetros entre a
inserção da folha três no estipe até o 1º folíolo.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparados pelo
teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Utilizou-se a análise de variância
repetida no tempo, na análise de regressão, para os parâmetros altura da planta
e circunferência no coleto do estipe.
Verificou-se que houve diferença significativa (p= 0,05) na altura da cultivar
Anão-verde-de-jiqui (Tabela_2) em relação à cultivar Anão-vermelho-de-camarões,
não diferindo do Anão-vermelho-de-gramame e da Malásia. Quanto à circunferência
no coleto do estipe, observa-se que houve diferença significativa da cultivar
Anão-verde-de-jiqui, em relação às outras três cultivares. Isso pode sugerir,
até o momento, o melhor desempenho dessa cultivar nas condições edafoclimáticas
do DF. Não houve interação significativa entre as épocas e as cultivares para
as variáveis altura da planta e circunferência no coleto do estipe. O
crescimento em altura do coqueiro-anão nas épocas estudadas (1,5; 16,5; 19,0;
23,0 e 26,0 meses) após o plantio no campo, independentemente da cultivar,
apresentou resposta quadrática: y = 0,72 - 0,02X + 0,0029 X2 , R2 = 0,99 (p =
0,01), indicando que o crescimento com o tempo (X= número de meses) é igual
para as cultivares anãs. O mesmo acontece com a circunferência do coleto, cuja
resposta foi: y = 10,8 0,417 X + 0,07094 X2 , R2 = 0,98 (p = 0,01), indicando
aumento da circunferência no tempo igual para as cultivares. As cultivares anãs
tiveram crescimento médio em altura de 5,77 cm/mês, enquanto o aumento da
circunferência do coleto foi de 1,45 cm/mês.
Em relação ao desempenho dos dois híbridos (Tabela_3), a CC do híbrido AAG x
GOA com 26,0 meses de idade é 42,8% menor que o relatado por Marcílio et al.
( 2001), com o mesmo híbrido e idade da planta, enquanto a CC do híbrido AVG x
GBRPF é 36,8% menor do que o encontrado por Marcílio et al.( 2001), com o mesmo
híbrido. Esse resultado de menor CC indica menor desenvolvimento vegetativo,
conforme Mahindapala & Pinto (1991).
Quanto aos híbridos, não houve interação significativa entre épocas e híbridos
para as variáveis altura e circunferência do coleto. O crescimento em altura
dos coqueiros híbridos, nas épocas estudadas, independentemente do híbrido,
apresentou resposta quadrática: y = 1,19 0,0134 X + 0,0039 X2 , R2 = 0,99, (p
= 0,01), indicando que o crescimento no tempo (X=número de meses) foi igual
para os híbridos. O mesmo acontece com a circunferência do coleto: y = 15,02
1,0528 X + 0,1351 X2 , R2 = 0,97, ( p= 0,01), indicando aumento da
circunferência no tempo igual para os híbridos. Os híbridos tiveram crescimento
médio em altura de 8,88 cm/mês, enquanto o aumento da circunferência do coleto
foi de 2,49 cm/mês.
As médias obtidas no vigésimo sexto mês, para o número de folhas vivas (Tabela
4), foram significativamente maiores para o Anão-verde-de-jiqui (8,69) em
relação ao Anão-vermelho-de-camarões (7,43), enquanto o número de folhas
emitidas também foi significativamente maior para o Anão-verde-de-jiqui (13,69)
em relação ao Anão-vermelho- da-malásia (11,54) e ao Anão-vermelho-de-camarões
(10,88). Esses valores são menores que os obtidos em condições ambientais
consideradas favoráveis, onde um coqueiro-anão pode emitir até 18 folhas/ano
(Passos, 1998 a.). Ainda se compararmos o NFE (13,69) pela cultivar AVeJ, o NFV
(8,69) e NFM (5,00) às 11 folhas vivas e 1 morta, verificado por Jucá et al.
(2002), com essa mesma cultivar irrigada, percebe-se a necessidade da
instalação de irrigação sob o risco de não explorar o potencial genético das
cultivares estudadas.
Houve diferença no CPF3 da cultivar AVC (31,2 cm) em relação à cultivar AVeJ
(20,1 cm) e AVG (26,0) (Tabela_4). O CF3, com 158,8 cm e o CPF3 com 20,1 cm
para o AVeJ aos 26 meses, neste trabalho, quando comparado ao AVeJ irrigado
estudado por Jucá et al. (2002), com valores de 193 cm e 27 cm,
respectivamente. Esse desempenho menor dessa cultivar em Brasília, das
características em estudo, indicam falta de irrigação.
As médias obtidas no vigésimo sexto mês, para o número de folhas vivas,
variaram de 8,05 para o híbrido AVG x GBRPF a 9,05 para o híbrido AAG x GOA,
não havendo diferença estatística entre eles (Tabela_5).Neste caso, o
desenvolvimento vegetativo foi menor, em relação ao dos híbridos estudados por
Marcílio et al. (2001), que apresentaram valores entre 12,5 para o híbrido AVG
x GBRPF e 12,1 para o híbrido AAG x GOA, aos 26 meses depois do plantio, e isso
também pode ser atribuído à falta de irrigação.
A taxa de produção de folhas emitidas avaliada no período de 26,0 meses pelo
híbrido AAG x GOA foi 14,38 folhas, e não diferiu do híbrido AVG x GBRPF com
12,54 folhas, neste mesmo período.
Das cultivares testadas, o 'Anão-verde-de-jiquí' vem se destacando no
crescimento da planta em altura e circunferência do coleto.
As cultivares anãs apresentam crescimento médio em altura de 5,77 cm/mês e 1,45
cm/ mês na circunferência do coleto.
Os híbridos apresentam crescimento médio em altura de 8,88 cm/mês e 2,49 cm/mês
na circunferência do coleto.