Efeito da adubação fosfatada sobre o crescimento e teor de macronutrientes de
mudas de pinhão manso
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Introdução
A composição do substrato é um fator importante para a obtenção de mudas de boa
qualidade. Esterco de animais, torta de mamona, casca de amendoim e mucilagem
de sisal em mistura com solo em proporções iguais (v/v), enriquecidos ou não
com fertilizante mineral, podem propiciar condições adequadas, tanto no aspecto
físico como no nutricional, para a obtenção de mudas com alto padrão de
qualidade (SEVERINO; LIMA; BELTRÃO, 2006).
Dentre os nutrientes necessários ao desenvolvimento da muda, o P é o que requer
maior atenção devido ao baixo teor nos solos das regiões tropicais (PRADO;
VALE; ROMUALDO, 2005) e a alta demanda em mudas de plantas perenes em sua fase
inicial de crescimento (NOVAIS; SMYTH, 1999).
O fósforo está presente em baixas concentrações no solo nas formas aniônicas da
dissociação do ácido fosfórico (H3PO4), principalmente como H2PO-4(fosfato) e
HPO2-4 (fosfito) na faixa de variação do pH dos solos agrícolas (ADAMI;
HEBLING, 2005).
O uso de P na formulação do substrato em mistura com material orgânico é uma
excelente estratégia para a obtenção de mudas mais vigorosas, pois ajudam na
formação do sistema radicular (CRUSCIOL et al., 2005; SANT'ANA et al., 2003;
SILVA; DELATORRE, 2009), aumentando a tolerância das plantas aos fatores
bióticos e abióticos tais como estresse hídrico (LEÃO, 2006; SANTOS et al.,
2004) e doenças (YAMADA, 2002). De acordo com Lacerda et al. (2009) a aplicação
de 12 g dm-3 de superfosfato simples ao substrato contendo 68% de terra vegetal
e 32% de esterco bovino foi eficiente para a produção de mudas de goiabeira
cultivar "Paluma". Para a produção de mudas de Eugenia uvalha em sacos de
polietileno, Souza et al. (2009) recomendam a aplicação de 1,30 kg m-3 de P2O5
ao substrato composto por mistura de terra, esterco bovino e areia na proporção
de 3:2:1. Já para a cultura do mamoeiro (Carica papaya), Mendonça et al. (2006)
recomendam o uso de superfosfato simples na proporção de 10 kg m-3de substrato,
em mistura com 40% de composto orgânico, para a produção de mudas em sacos
plásticos medindo 10 x 20 cm. Para a produção de mudas de pitangueira, em sacos
medindo 10 x 20 cm, Abreu et al. (2005) recomendam o uso de P na proporção de 6
kg m-3 de substrato, aplicado na forma de superfosfato simples, independente da
composição do substrato.
Para a produção de mudas de pinhão manso, Carvalho (2008) recomenda o uso de
600 mg kg-1de P na forma de superfosfato triplo com colonização micorrízica,
enquanto Garcia et al. (2009) recomendam a aplicação de 400 mg kg-1 de P na
forma de superfosfato triplo independente da presença ou ausência de
colonização micorízica.
Segundo Vichiato (1996), o fósforo requerido para o ótimo crescimento das
plantas varia conforme a espécie ou órgão analisado, variando de 0,1 a 0,5% da
matéria seca. Além de ajudar as raízes e as plântulas a se desenvolverem mais
rapidamente, o fósforo aumenta a resistência ao frio, melhora a eficiência no
uso da água, favorece a resistência às doenças em algumas plantas (POZZA et
al., 2002) e aumenta a absorção de nutrientes, especialmente, do nitrogênio
(NOVAIS; SMYTH, 1999). O uso do superfosfato simples tem tido preferência no
fornecimento de fósforo às plantas porque, além do fósforo, contem cálcio e
enxofre em sua composição química (CARMELLO, 1995).
Objetivou-se, com este trabalho, avaliar o efeito da adição de superfosfato
simples à composição do substrato sobre o crescimento e o teor de
macronutrientes na parte aérea de mudas de pinhão manso.
Material e métodos
O experimento foi conduzido em casa de vegetação da EMBRAPA Algodão, em Campina
Grande-PB, no período de novembro a dezembro de 2006. Os tratamentos
constituíram-se de 6 doses de superfosfato simples (0; 2,5; 5,0; 7,5; 10 e 12,5
kg m-3) misturado ao substrato em delineamento inteiramente casualizado com 6
repetições. Utilizou-se como fonte de P o superfosfato simples. A formulação do
substrato e a aplicação do fertilizante fosfatado foram realizadas uma semana
antes do semeio, misturando-se (v/v) 90% de material de solo, 10% de composto
de lixo orgânico (0,92% de N; 3,29% de P2O5; 0,12%de K2O; 0,63% de CaO; 0,36%
de MgO; 0,32% de S e 8,98% de matéria orgânica) e a dose de superfosfato
simples (20% de P2O5,25% de CaO e 12% de S). A mistura foi homogeneizada e
acondicionada em tubetes cônicos com volume de 288 cm3.
Após o acondicionamento dos tubetes na casa de vegetação, o substrato foi
umedecido até atingir a capacidade de campo. Após uma semana de incubação,
sementes de pinhão manso, procedentes da área experimental de Quixeramobim, CE,
foram semeadas. As parcelas foram constituídas por um tubete contendo uma
planta, sendo suspensos em uma grade de tela com armações de ferro. As mudas
foram irrigadas com água de abastecimento duas vezes por dia, em quantidade
suficiente para drenar uma parte.
Aos 30 dias após a semeadura (DAS), mediu-se a altura das plantas, a área
foliar, e a massa seca da parte aérea e das raízes. A área foliar foi estimada
a partir da largura de cada folha, conforme método proposto por Severino, Vale
e Beltrão (2007) para o pinhão manso.
Para a avaliação do estádio nutricional das plântulas, a parte aérea das mudas
foi separada das raízes, lavada e acondicionada em sacos de papel perfurados,
postos em estufa de circulação de ar forçada a 65 °C, até atingir peso
constante. Posteriormente, o material vegetal foi moído em moinho tipo Willey e
submetidas à digestão sulfúrica para a determinação dos teores de N e digestão
nítrico-perclórica para quantificar os teores de P, K, Ca, Mg e S na parte
aérea das mudas, segundo metodologia proposta por Le Poidevin e Robinson
(1964).
Os dados foram analisados por regressão polinomial, testando-se os modelos
linear e quadrático com o nível de significância de 5% pelo Teste F. Três
unidades experimentais foram excluídas da análise por morte das plantas (uma no
tratamento de 5 kg m-3 e duas no tratamento de 10 kg m-3). Os coeficientes da
equação foram testados no nível de significância de 5%. Nos casos em que o
coeficiente quadrático não foi significativo, os dados foram analisados pelo
modelo linear. Os resultados foram apresentados em gráficos com a média dos
valores de cada dose de superfosfato simples, seus respectivos desvios-padrão e
a curva de regressão.
Resultados e discussão
Nas Tabelas_1 e 2 são apresentados os resumos da análise de variância para as
características de crescimento e teores de nutrientes na parte aérea das
plantas, respectivamente. Os resultados da análise da variância indicaram que
as doses de superfosfato simples influenciaram significativamente todas as
características de crescimento e teores de nutrientes na parte aérea das
plantas. As variáveis de crescimento apresentaram comportamento quadrático em
relação às doses de superfosfato simples aplicadas ao substrato. Para os teores
de macronutrientes na parte aérea das mudas somente os teores de N e P
apresentaram aumento linear com as doses aplicadas, sendo que os demais
nutrientes apresentaram comportamento quadrático.
A altura das plantas de pinhão manso atingiu o valor máximo com a dose de
superfosfato estimada em 8,2 kg m-3 (FIG._1A), a área foliar com 7,4 kg m-3
(FIG._1B), a massa seca da parte aérea com 5,7 kg m-3 (FIG._1C) e a massa seca
das raízes com 6,1 kg m-3 (FIG._1D). A altura da planta na dose de máximo
crescimento aumentou 33% e a massa seca da parte aérea 27% quando comparadas ao
substrato sem adição de fósforo. No entanto, a área foliar aumentou 136% e a
massa seca das raízes apresentou incremento de 172% na mesma comparação. Este
efeito do fósforo é importante na produção de mudas de boa qualidade porque
melhora duas características muito importantes da planta que são a capacidade
fotossintética e de absorção de água e nutrientes. Doses de fósforo muito
elevadas, por outro lado, provocaram redução no crescimento da planta,
principalmente da área foliar e das raízes, o que prejudica a qualidade das
mudas.
O crescimento ótimo das mudas de pinhão manso foi obtido com a adição de
superfosfato simples na faixa de 5 a 8 kg m-3. Outros estudos confirmam o
efeito positivo da adição de fósforo sobre o crescimento de mudas de pinhão
manso (CARVALHO, 2008) e de diversas outras espécies como tamarindeiro
(FERREIRA et al., 2008), goiabeira (LACERDA et al., 2009), gravioleira (SOARES;
LIMA; CRISÓSTOMO, 2007; SOUZA et al., 2003) e maracujazeiro (DAVID et al.,
2008; PRADO; VALE; ROMUALDO, 2005). A dose que promove o maior crescimento das
plantas, no entanto, varia numa faixa muito ampla, pois este valor depende
tanto de características específicas da espécie, quanto do substrato utilizado,
cujos atributos químicos e físicos podem influenciar o comportamento do fósforo
e sua absorção pelas raízes das plantas.
Os teores de N e P no tecido vegetal aumentaram linearmente em resposta às
doses de superfosfato simples aplicadas ao substrato (FIG._2A; FIG._B). O
aumento do fósforo é conseqüência direta da maior disponibilidade deste
nutriente no substrato, mas o nitrogênio provavelmente aumentou devido à maior
quantidade de raízes e pela importância do P para a fisiologia da planta,
principalmente em processos demandantes de energia como a absorção e
assimilação do nitrogênio. Os teores de N e P aumentaram inclusive nas doses em
que houve redução no crescimento de raízes e área foliar, o que caracteriza um
consumo de luxo que não se reverte em crescimento. Em geral, as culturas
perenes necessitam de grandes teores de P no substrato na fase de plântulas,
diminuindo essa exigência com a idade (NOVAIS; SMITY, 1999), o que reforça a
importância da adição de fósforo ao substrato para produção de mudas de pinhão
manso.
O teor de potássio aumentou consideravelmente com a adição das doses mais
baixas do fertilizante fosfatado (FIG._2C), mas doses maiores tiveram menor
efeito no aumento do teor de potássio na parte aérea das plantas. A adição de
2,5 kg m-3 de superfosfato simples ao substrato propiciou aumento de 47% no
teor de potássio no tecido vegetal; mas o incremento seguinte do adubo
fosfatado (de 2,5 para 5 kg m-3) propiciou aumento de somente 25% e nas maiores
doses testadas o efeito foi ainda menos expressivo.
Embora o superfosfato simples possua cerca de 25% de cálcio em sua composição,
a adição deste fertilizante provocou redução no teor deste nutriente no tecido
da planta (FIG._2D). Esta redução foi mais intensa no tratamento em que o
substrato possuía fertilização fosfatada em relação àquele que não recebeu
adubação, mas as doses mais elevadas não provocaram redução contínua nos teores
deste nutriente. Por exemplo, entre as doses de 5,0 e 12,5 kg m-3 o teor de
cálcio é praticamente o mesmo.
Os teores de magnésio e enxofre apresentaram aumento expressivo com a adição de
fertilizante fosfatado ao substrato (FIG._2E; FIG._2F). Os teores máximos foram
observados próximos à dose estimada de 8 kg m-3. O enxofre também é um
nutriente presente na composição do superfosfato simples.
Conclusões
1. O crescimento máximo das plantas de pinhão manso foi observado com a adição
de superfosfato simples ao substrato em doses estimadas na faixa de 5 a 8 kg m-
3. O fertilizante fosfatado favoreceu o crescimento principalmente de raízes e
área foliar;
2. A adição do adubo fosfatado propiciou aumento no tecido vegetal do teor de
todos os macronutrientes, exceto o cálcio.
Agradecimentos
À Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ/PB) e Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio
financeiro. Bolsa DCR ao primeiro autor.