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BrBRCVHe0004-28032002000400003

BrBRCVHe0004-28032002000400003

variedadeBr
Country of publicationBR
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0004-2803
ano2002
Issue0004
Article number00003

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Alterações morfológicas e hemodinâmica tardias no território esplênico de pacientes com esquitomosse mansônica hepatoesplênica pós-anastomose esplenorrenal distal . (Estudo com ultra-som Doppler) ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLEINTRODUÇÃO A anastomose esplenorrenal distal (AERD) (operação de Warren) (W) foi proposta para o tratamento da hipertensão portal por cirrose hepática com a finalidade de reduzir a pressão venosa nas varizes esofágicas. Esta operação, que deriva o segmento distal da veia esplênica à veia renal, cria uma via de drenagem portossistêmica setorial, estabelecendo comunicação entre o sistema cardiotuberositário e a veia cava, sem interferir no fluxo mesentérico-portal.

Deste modo, as alterações circulatórias produzidas naquele território vascular teriam a finalidade de evitar o sangramento digestivo alto que é fator complicador na evolução clínica da doença(21). Esta técnica terapêutica também foi aplicada em pacientes com hipertensão portal por esquistossomose mansônica hepatoesplênica (EHE) e que tiveram sangramento pelas varizes esofágicas(17).

Entretanto, nesta doença esplenomegalia mais acentuada do que na cirrose hepática(4), apesar de ambas terem em comum a hipertensão portal e suas complicações(3).

Na gênese desta visceromegalia concorrem dois fatores cuja influência individual não está bem esclarecida: o hemodinâmico (aporte arterial e congestão venosa) e a hiperplasia da polpa esplênica.

Na AERD, o aporte arterial é mantido e a facilitação da drenagem do sangue venoso do baço reduz a congestão venosa esplênica. Deste modo, as alterações residuais observáveis nesta víscera após a realização deste tratamento cirúrgico(8, 13, 20), seriam dependentes da polpa esplênica e têm importância clínica. O escasso comprometimento da função hepática na EHE e a sobrevida prolongada dos pacientes, torna a hipertensão portal desta doença um modelo adequado para avaliar as alterações tardias (morfológicas e hemodinâmicas) que a AERD provoca no setor esplênico.

O ultra-som Doppler (US-Doppler), método não-invasivo de diagnóstico por imagem, é utilizado habitualmente para verificar se a AERD está pérvia(1, 14).

Entretanto, ele também permite a medida de vários parâmetros: volume dos órgãos sólidos intra-abdominais, diâmetro dos vasos, direção do fluxo sangüíneo e velocidade no interior dos mesmos. Além destas medidas, a análise dos índices que resultam da relação entre os valores obtidos, permite que sejam avaliadas as condições morfológicas e hemodinâmicas do setor estudado. Os índices morfológicos foram validados através de várias associações de diâmetros ("cortes") dos órgãos sólidos, medidos pelo US-Doppler que, ao serem comparadas com o tamanho real do órgão, permitiram a escolha dos que melhor exprimissem esta relação(7, 9, 10, 11, 12, 15, 18, 19) .

O objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações tardias que a ERD provoca no território esplênico. Para esta finalidade foram quantificados os aspectos morfológicos e hemodinâmicos desta região em pacientes com EHE com o auxílio da US-Doppler.

CASUÍSTICA E MÉTODO Estudaram-se os resultados do exame US-Doppler de 52 pacientes consecutivos provenientes do Ambulatório do Grupo de Cirurgia do Fígado e Hipertensão Portal da Divisão de Clínica Cirúrgica II do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP. Todos apresentavam EHE e história de sangramento digestivo alto por varizes esofágicas.

Os pacientes estavam distribuídos em dois grupos: 40 sem operação (NO) e 12 operados de AERD (W).

Os pacientes NO estavam em fase de exames pré-operatórios e os operados (período superior a 6 meses) estavam sob acompanhamento no ambulatório e realizando exames rotineiros de controle periódico.

Critério de inclusão dos pacientes operados: AERD pérvia.

Método Através do US-Doppler foram medidos os seguintes parâmetros: três diâmetros do baço ' longitudinal (LGT), transversal (TRV) e ântero-posterior (AP)(7) ' ; o diâmetro da artéria e da veia esplênica; a velocidade de pico sistólico (VPS) na artéria esplênica e a velocidade média de fluxo (Tmax) na veia esplênica. A partir destes resultados, calcularam-se vários índices: o volumétrico (LGT x TRV x AP x 0,523)(7) e o biométrico do baço (LGT x TRV)(10); o de pulsatilidade (IP) e o de resistividade (IR) na artéria esplênica.

Os resultados dos parâmetros e índices foram anotados na forma de média e desvio padrão e comparados entre os dois grupos.

Exame ultra-sonográfico Todos os pacientes foram examinados em condições de jejum de 12 horas e ingestão, prévia ao exame, de 10 mg de simeticona (Luftalâ) para reduzir a interferência dos gases intestinais.

Os exames foram realizados em equipamento de ultra-sonografia de tempo real em modo-B com transdutor convexo de 3,5 MHz (GE - Logic 500 MD, EUA) e Doppler pulsado na freqüência de 3,5 e 2,5 MHz.

Os parâmetros morfométricos do baço, da artéria e veia esplênica foram medidos no modo-B. Em seguida, o feixe Doppler foi direcionado para o vaso estudado com correção do ângulo ao feixe Doppler e posicionada a amostra de volume (cerca de 2/3 do calibre) na luz do mesmo. A Tmaxda veia esplênica, assim como a VPS e os índices IP e IR da artéria esplênica foram calculados automaticamente pelo "software" específico do equipamento (operador-independente) através do traçado espectral.

Tratamento estatístico A comparação dos resultados de parâmetros e índices dos dois grupos de pacientes foi feita mediante análise de variância (P <0.05: significativo).

RESULTADOS Todos os pacientes com AERD (W) apresentavam a anastomose pérvia e os resultados do exame US-Doppler, quando comparados aos dos pacientes NO mostraram que: a) houve redução dos três diâmetros (LGT, TRV e AP) do baço, do índice volumétrico e biométrico esplênico; b) não houve alteração do diâmetro, da VPS, dos índices de resistividade (IR) e de pulsatilidade (IP) na artéria esplênica; do diâmetro na veia esplênica; c) houve aumento da Tmax na veia esplênica.

Todos os parâmetros e índices avaliados no território esplênico dos doentes estão representados nas Tabelas_1 e 2.

COMENTÁRIOS Volume esplênico Comparando os resultados da medida US-Doppler do baço dos doentes com EHE aos dos pacientes normais, verificou-se que nos operados houve redução estatisticamente significativa em todos os diâmetros medidos e, conseqüentemente, dos índices volumétrico e biométrico (Tabela_1).

A grande variedade de tamanho do baço, observada nos doentes com EHE NO e representada pelo desvio padrão no cálculo da média (Tabela_1), dificulta a comparação dos dois grupos de doentes por dois fatos: pacientes não-pareados e reduzido número dos pacientes operados. Entretanto, a análise estatística dos resultados, mostrando significância, permite inferir a possibilidade de comparar os dois grupos.

A avaliação clínica da esplenomegalia pela palpação e percussão, após a realização de AERD em pacientes com EHE, mostrou resultados conflitantes: ausência de variação(20) e redução volumétrica não especificada(8, 13) .

Entretanto, quando a medida foi feita na fase venosa da angiografia esplênica, foi notada redução de aproximadamente 40% do volume, o que é comparável aos resultados que se obteve pelo exame US-Doppler dos doentes desta série.

As eventuais disparidades dos resultados da medida do baço por vários métodos podem ser devidas à forma irregular do órgão. O exame clínico (percussão e palpação) é operador dependente e pouco confiável, pois o órgão se situa no hipocôndrio esquerdo e é protegido pelo gradeado costal, tornando-se perceptível somente quando seu diâmetro longitudinal aumenta(10, 15, 16). Os métodos de imagem invasivos: radiografia(16), angiografia(2), tomografia computadorizada e radioisotopia(22), ainda que apresentem bom índice de correlação com o tamanho físico do órgão(6), expõem os pacientes à radiação e ao uso dos contrastes. A US-Doppler, apesar de se valer de índices(7, 10), pode ser utilizada para avaliar e comparar volumes esplênicos e tem a vantagem de não ser invasiva.

Diferentemente do constatado no presente estudo, não foi observada diferença estatisticamente significativa do único diâmetro (LGT) medido pelo exame com US-Doppler(5) em pacientes cirróticos operados de AERD e NO. Este diâmetro, bem como os demais e também os índices adotados nesta casuística, apresentaram diminuição apreciável nos doentes desta série (Tabela_1).

A diminuição mais acentuada do índice volumétrico (46,64%) do que do biométrico (33,35%) pode ser atribuída à diferença do modo de calcular seus valores.

Entretanto, ambos os índices indicam que houve queda acentuada do tamanho do órgão após a realização da operação.

Interpreta-se este fato como sendo o resultado do efeito hemodinâmico da AERD que, facilitando o escoamento do sangue do baço, eliminou o fator congestão venosa e reduziu o tamanho do órgão.

A mensuração do tamanho do baço, após ter sido eliminada a congestão venosa no território esplênico pela AERD, tornou possível a avaliação da repercussão do componente hemodinâmico venoso sobre a esplenomegalia de longa duração na EHE.

Entretanto a interpretação das discrepâncias fica dificultada pelo número reduzido de estudos realizados e pela falta de homogeneização dos parâmetros e índices estudados.

Velocidade de pico sistólico na artéria esplênica (VPS) Este parâmetro, nunca antes avaliado no setor esplênico de pacientes com EHE ou cirrose hepática, representa o regime circulatório arterial do baço.

Observou-se VPS menor nos pacientes operados, mas que não foi estatisticamente significativa (Tabela_2). O pequeno número de pacientes examinados (n = 12) na presente casuística e a falta de significância estatística da diferença numérica entre ambos os grupos, torna difícil a análise deste resultado.

Entretanto, se esta tendência à diminuição for comprovada, indicaria que o tratamento cirúrgico, ainda que facilitando o escoamento venoso, paradoxalmente reduziria o ritmo circulatório no órgão.

O aumento do número de estudos deste parâmetro US-Doppler em pacientes com EHE e operados de AERD, assim como sua avaliação em outras doenças que tenham resultado em hipertensão portal, talvez torne possível estabelecer seu significado fisiopatológico.

Índices de impedância na artéria esplênica O IR e IP exprimem as condições circulatórias do leito vascular intraparenquimatoso do baço. Estando relacionados com a complacência das paredes vasculares arteriais e com a resistência orgânica ao fluxo, indicam a dificuldade à passagem do sangue pelo leito capilar.

Não se encontrou diferença estatisticamente significativa nos valores destes índices quando se compararam os dois grupos de doentes (Tabela_2). Na EHE, a redução dos parâmetros e índices morfométricos do baço nos pacientes operados de AERD (Tabela_1), pressupõe o adensamento tecidual no órgão, pela remoção da congestão venosa esplênica, com conseqüente aumento da resistência capilar e dos índices de impedância. Entretanto, a falta de mudança nos valores dos índices de impedância arterial, sugere que na EHE a retirada da dificuldade de drenagem venosa não intervém nas condições hemodinâmicas da circulação arteriovenosa esplênica.

Na cirrose hepática foram observados valores significativamente reduzidos destes índices, nos pacientes em que havia alguma forma de derivação portossistêmica que permitisse a descongestão esplênica (anastomose portocava, esplenorrenal distal e derivação portossistêmica transjugular (TIPPS))(5).

Nestes doentes, não foi constatada a redução das dimensões do órgão, devendo- se, no entanto, levar em conta o fato de que naquela casuística foi mensurado um único parâmetro morfométrico do baço (LGT). Esta situação leva a concluir que a facilidade de drenagem do fluxo venoso esplênico na cirrose hepática propicia a redução da resistência capilar à circulação transesplênica.

A discrepância de resultados entre os pacientes com cirrose hepática e EHE, em que pese haver somente um estudo(5), sugere que haja diferenças de resposta biológica esplênica a estas doenças.

Velocidade média de fluxo na veia esplênica (Tmax) O sangue da veia esplênica tem várias origens, sendo o baço a mais importante e em condições normais é drenado para a veia porta. Entretanto, a dificuldade de drenagem transhepática do sangue do território digestivo, na hipertensão portal, promove a congestão esplênica e as conexões anastomóticas naturais entre os sistemas cardiotuberositário com os vasos gástricos breves, gastroomental da esquerda e mesentérico (veia mesentérica inferior), adquirem importância hemodinâmica e clínica.

O aumento significativo da Tmax na veia esplênica, observada nos pacientes operados, provavelmente resultou da redução da resistência à vazão e conseqüente maior facilidade de drenagem venosa. Esta situação torna possível que a AERD promova tanto a redução da congestão esplênica, quanto da pressão no interior das varizes esofágicas, reduzindo o perigo de sangramento nesta região.

CONCLUSÃO Cotejando os resultados morfométricos e hemodinâmicos encontrados, observou-se que na EHE a AERD promove a redução do volume esplênico, sem alterar as condições hemodinâmicas arteriais do baço. Entretanto, os poucos estudos realizados a este respeito e a falta de sistematização na medida dos parâmetros, dificultam a real interpretação destes resultados, abrindo-se assim, perspectivas para novos estudos da fisiologia e fisiopatologia da circulação esplênica.


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